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Bertold Mazell
O primeiro zoólogo a acreditar na existência de animais desconhecidos ou ignorados pela história natural foi Ivan Sanderson. Ele passou a infância entre os lagos das Terras Altas escocesas, onde as lendas locais sobre criaturas míticas despertaram seu interesse desde cedo. A região das Highlands é conhecida por suas histórias ricas em folclore, incluindo relatos de monstros aquáticos e outras entidades enigmáticas, que frequentemente figuram nas tradições orais escocesas.
Em 1928, Sanderson ingressou na Universidade de Cambridge, uma das mais prestigiadas instituições de ensino superior do mundo, localizada na Inglaterra. Lá, ele começou a estudar espécimes estranhos encontrados em museus, desenvolvendo um fascínio particular por aqueles que desafiavam as explicações convencionais da zoologia. Com o tempo, essa pesquisa se tornou sua ocupação principal, levando-o a diversas partes do mundo em busca de “animais ocultos”, uma prática que viria a ser conhecida como criptozoologia.
Seu primeiro livro, “Tesouro Animal” (1937), trouxe-lhe popularidade rapidamente. Até sua morte, em 1973, ele escreveu mais de 20 livros, inúmeros artigos e tornou-se uma figura conhecida em rádios e TVs americanas como comentarista de fenômenos inexplicáveis. Seus trabalhos não apenas capturaram a imaginação do público, mas também incentivaram o debate científico sobre a existência de espécies ainda não catalogadas.
Desde 1921, quando a expedição liderada por Howard-Bury ao monte Everest relatou pegadas misteriosas e avistou ao longe criaturas desconhecidas que os tibetanos chamavam de “yeti”, houve um aumento significativo do interesse popular e científico em animais estranhos. Esta expedição é um marco na história da exploração de alta montanha e no estudo de fenômenos criptozoólogos, combinando aventura com investigação científica.
Este interesse foi ainda mais ampliado pela novela “O Mundo Perdido”, de Sir Arthur Conan Doyle (1912), inspirada em outro explorador visionário, o coronel Percy Fawcett. Na obra, uma expedição a um platô isolado na América do Sul encontra pterodáctilos, répteis gigantes e “homens-macacos”, mostrando que a ficção científica pode muitas vezes alimentar o interesse público e acadêmico por descobertas reais. Fawcett, que explorou cidades perdidas e tribos desconhecidas na América do Sul, desapareceu na Amazônia brasileira em 1925, e sua história continua a fascinar e a alimentar teorias sobre o que lhe aconteceu.
Sanderson, seguindo os passos de Fawcett, também buscou animais estranhos e se tornou uma figura central na criptozoologia. Em 1948, seus artigos influenciaram Bernard Heuvelmans, um zoólogo franco-belga, que após corresponder-se com Sanderson, se interessou pela criptozoologia, abandonando os dogmas tradicionais da história natural e adotando uma abordagem mais aberta à pesquisa.
Heuvelmans publicou “No Rastro de Animais Desconhecidos” (1955), tornando-se uma autoridade em criptozoologia. Suas obras subsequentes exploraram o lendário kraken, polvos gigantes e serpentes marinhas. Seu trabalho, culminando no livro “No Rastro da Serpente Marinha” (1968), estabeleceu uma nova área científica, desafiando certas crenças previamente aceitas e abrindo caminho para a aceitação de uma ciência mais inclusiva e questionadora.
Heuvelmans argumentou que grandes animais desconhecidos poderiam habitar locais remotos do planeta e dos oceanos. Anualmente, novas espécies são descobertas, e a lista de espécies conhecidas cresceu de cerca de 4.000 na época de Lineu para mais de um milhão hoje. Estudos recentes estimam que há entre três e quatro milhões de espécies de animais e plantas conhecidas, com dois milhões ainda não descritas, destacando a vastidão do desconhecido no reino natural.
Enquanto Heuvelmans se concentrava em pesquisa baseada em evidências, outro grupo de pesquisadores adotou uma abordagem mais mística à criptozoologia. Diferentemente de Heuvelmans, que se focava em animais reais, esse grupo incluía lendas e mitos em suas pesquisas, explorando o papel das narrativas culturais na compreensão de fenômenos não explicados.
John Keel, em “Criaturas Estranhas no Tempo e no Espaço” (1970), propôs a existência de seres desconhecidos com base em relatos de avistamentos. Ele destacou que algumas criaturas, como o ornitorrinco, desafiam as expectativas científicas e sugerem a possibilidade de outras formas de vida inusitadas, ampliando a discussão sobre a diversidade biológica e a necessidade de uma mente aberta na ciência.
Keel também investigou a conexão entre fenômenos criptozoólogos e ufológicos, sugerindo que ambos poderiam ter origens em “janelas”, pontos no planeta onde ocorrem fenômenos estranhos. Jerome Clark e Loren Coleman, em suas investigações sobre mamíferos desconhecidos, concluíram que lendas sobre tais criaturas persistem até hoje, reforçando a ideia de que a tradição oral pode ser uma fonte valiosa de informação científica.
Janet e Colm Bord, em “Alien Animals” (1980), exploraram a teoria das linhas ley, sugerindo que esses alinhamentos geográficos estão relacionados a avistamentos de criaturas misteriosas e oferecem uma nova perspectiva sobre como fenômenos geológicos e biológicos podem estar interligados.
Assim, a criptozoologia oferece uma visão desafiadora e instigante, convidando a ciência a expandir suas fronteiras e considerar novas possibilidades além das aceitas tradicionalmente. A história da criptozoologia, repleta de investigações e teorias, continua a inspirar aqueles que buscam entender os mistérios do mundo natural e a complexidade da vida na Terra
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