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Devo aqui, Dr. Gastão, atender um parêntese um pouco prolongado, de forma a estabelecer a maneira pela qual o Catolicismo Romano difere do verdadeiro Cristianismo. Para este fim, começarei por apresentar um dos poucos textos que nos chegaram quase sem alterações cometidas pelos patriarcas de Roma e Alexandria. As modificações relevantes vão comentadas entre parênteses, e o texto, apresento o original, intacto. É o Intróito do Evangelho de “São João”:
“No princípio era o Verbo. E o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
“Ele estava no princípio com Deus.
“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
“A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens.
“A luz resplandece nas trevas, e as trevas não o escondem (isto é, não escondem o fato que a luz brilha nelas!).
“Houve um homem enviado por Deus, cujo nome foi Jonas (Johannes no original em grego).
“Ele veio como testemunha da luz, a fim de todos virem a crer por intermédio dele.
“Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz: a saber, a verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina todo homem.
“Estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dela, mas o mundo não a conheceu (no masculino na Vulgata, para sugerir “Jesús”).
“Veio para o que era seu, e os seus não a receberam (idem).
“E o Verbo se fez carne, e habitou em nós ( a Vulgata aqui põe “entre”, o que muda totalmente o sentido da passagem) cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória, glória como a do primogênito do Pai (o primogênito do Pai é, claro, Chokmah, o Verbo Espiritual, a Primeira Emanação do Ancião dos Dias, Kether. “Primogênito” também traz à lembrança o “mais velho dos filhos de Deus”, Lúcifer ou Satã.”)
Na versão acima, original, desse documento cristão, e nas interpolações introduzidas pelos romanos-alexandrinos, Dr. G., tem o senhor o sumário e a base do dogma católico romano.
Jonas, Apolônio, Simão (Simão Pedro e Simão o Mago; a isto aludiremos depois), Adeptos cristãos, ensinaram todos os três: “Vós sois o Templo do Deus Vivo. Contemplai a Luz dentro de vós, e sabei que sois Filhos da Luz!”
Repetidamente esta mensagem é encontrada nos Evangelhos; mas sempre deformada, condicionada ou “explicada” pelas interpolações e teologismos romano- alexandrinos. O resultado é que, algumas vezes, “Jesus” fala como um santo, como uma verdadeira Encarnação do Verbo; o mais das vezes, porém, como fanático e sectarista. Contradições deste tipo abundam.
Este é o resultado das alterações a interpolações dos romanos e alexandrinos. Copiaram, adaptando-os às suas necessidades político-financeiras, os documentos essênios que descreviam as pregações de Jonas ( entre outros, o “Sermão da Montanha”). Inseriram “milagres” do tipo atribuído a Apolônio de Tyana. Arranjaram um Mistério da Paixão em drama nos moldes dos cultos de Mitras, de Adonis, de Átis, de Diôniso e de Oannes — o que era necessário para tornar o seu “Jesús” numa Encarnação do Logos do Aeon de Osiris, o Deus Sacrificado. Tão cuidadosamente misturaram a verdade e mentira que durante quase mil e seiscentos anos todo cristão que procurou encontrar o Verbo em si mesmo — o único lugar onde pode ser encontrado — deparou, nos portais de sua alma, com este fantasma insidioso, esta blásfema quimera, este pesadelo teológico: “Nosso Senhor Jesus Cristo”.
“Adora-me!” — diz o Egrégora — “Eu sou o filho de Deus. Tu não és nada mais que uma criatura sem valor e pecadora, condenada desde o nascimento e destinada ao inferno não fosse por meu sacrifício; e sem mim nunca alcançarás o céu.”
Talvez o senhor comece a compreender agora, Dr. G., a natureza daquilo a que nós chamamos a Grande feitiçaria?
Após mil e seiscentos anos de vitalização por multidões de adorantes, e a absorção das cascas vazias de padres, freiras e fanáticos que se deixaram vampirizar por ele, o Egrégora existe no assim-chamado plano astral; e é um demônio, quer dizer, uma entidade ilusória. Não é um verdadeiro Microcosmo, mas uma gestalt de cascões vitalizados, um foco para tudo que há de negativo, derrotista, piegas, preconceituoso e introvertido na natureza dos cristãos: um lodaçal completamente hostil ao progresso e á evolução espiritual deles.
Alimente sua alma com mais:
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