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André Correia (@andrecorreiapaganismo)
Penso que a bruxaria seja plural. Existem algumas definições acadêmicas que nos auxiliam na compreensão dos termos e práticas. Apesar da variedade folclórica inerente a cada povo e período, nomenclaturas teóricas apontam características interculturais comuns, mesmo separadas por continentes de distância.
Olhando mais de perto para o indivíduo, compreender a própria bruxaria é um ponto de extrema importância para o autoconhecimento. Não apenas para classificá-la em uma categoria, mas para entender o significado daquilo em que se crê e o que se faz.
A bruxaria pode ser um ofício. Mas por que nos colocamos a serviço dessa prática, ora sociais, ora divinas? Qual é o seu objetivo pessoal nisso? Está relacionado à sua missão perante os deuses? Ao seu engajamento social? A um trabalho que lhe proporciona sustento? Ou você pratica sem muita reflexão?
E se a bruxaria fizer parte do espectro do estilo de vida, espiritualidade ou religião? Quais são os significados dessas práticas em sua vida? A devoção pela devoção? Uma relação simbiótica de troca entre os deuses, a natureza e você? Um processo de integração com o sagrado e de desenvolvimento espiritual?
Penso que entender quem somos e por que fazemos o que fazemos não nos limita, mas nos orienta pelo caminho que estamos percorrendo na espiral da existência. Mostra-nos o quanto progredimos, nossas limitações, registra nossos avanços, apresenta-nos novos caminhos e também indica quando descansar.
Saber o sim e o não sobre si mesmo nos ajuda a estabelecer novas ideias de relacionamento com o passado e o futuro.
Se somos bruxos e bruxas, senhores e senhoras de nós mesmos em relação às transformações, talvez seja interessante saber em que nos transformamos ao longo da vida. Pois as maiores mudanças para quem pratica bruxaria não são sobre os outros, mas sobre si mesmo.
Um passo para dentro de si
Quantas vezes na vida percebemos que recuar é uma maneira de avançar? E que nem toda conquista ocorre num salto para fora das fronteiras? Posso afirmar que abandonar o caos e retomar o controle sobre si é reencontrar a beleza e a paz de reconhecer-se em essência.
Às vezes, é necessário dar passos para trás e se excluir da equação para compreender que o número 1 é muito importante.
Desde sempre, somos incentivados ao coletivo, à interação e à compreensão da partilha como uma ação generosa, digna e divina. Também aprendemos que as ações solitárias são pouco saudáveis, que a solidão é problemática e que pensar em si mesmo é egoísmo. Mas calma… Olhar para si não só é possível como é necessário.
Gosto de brincar com meus pacientes: “E se você estiver sozinho, qual filme vai escolher e qual sabor de pizza vai pedir?”. O que parece uma pergunta boba é, na verdade, um convite para pensar em si mesmo, na própria escolha livre das influências externas. Esse é o princípio de uma conversa sobre saber quem se é de fato. É um mergulho no esclarecimento da consciência e muitas descobertas sobre a obscura e reclusa sombra.
Se retirar do coletivo não é uma exclusão da vida em sociedade, mas um simbolismo que nos coloca frente a frente com nós mesmos. É uma imersão na própria verdade, tornar-se íntimo do próprio barulho até que ele se torne silêncio novamente.
É nesse estado de parceria consigo mesmo, onde conflitos são lições e alegrias são intervalos saudáveis entre degraus do desenvolvimento, que acessamos pontos de transformação, de magia e de retorno ao sagrado.
Não existe sagrado fora de si, a não ser aquele que expandimos a partir da nossa própria compreensão.
André Correia. Psicólogo atuante em clínica desde 2007, adepto da bruxaria eclética, construtor de tambores ritualísticos. Coordenador do Círculo de Kildare e autor da obra musical Tambores Sagrados.
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