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Por Dion Fortune,
tradução por Ícaro Aron Soares.
James Branch Cabell tem uma estória sobre o insípido e comum Felix Kennaston que criou para si mesmo uma personalidade chamada “Horvendile”, através da qual ele experimentou aventuras excitantes. Tal brincadeira é comum entre as crianças, mas as sombras do presídio se fecham sobre a maioria de nós e um campo de fascinantes experiências e experimentações é perdido justamente quando se está tornando produtivo. Nas imaginações substitutivas dos filmes e das novelas, encontramos um sucedâneo para as criações da nossa própria imaginação, na qual já não confiamos mais porque nos tornamos demasiadamente insípidos ou inibidos.
Quando os laços da mente são desatados nos estados psicopáticos, para desgraça nossa, a imaginação criativa produz estranhas imagens. Ela pode aterrorizar-nos com fantasmas do passado primitivo, ou pode transformar-nos em comedores de lótus, esquecidos da realidade. Quando a consciência nuclear mantém o controle, o mesmo elemento destrutivo, que existe na psique, pode ser disciplinado e conduzido para a criação através de formas de arte tão sofisticadas e estilizadas que o seu conteúdo original quase não é discernível, salvo quando está trabalhando e tem como base o material tradicional do mito e do folclore. Através deste elo de ligação, podemos perceber o relacionamento entre a imaginação criativa do artista e a técnica do adepto que usa os mitos como sendo fórmulas. Ambos estão trabalhando com o mesmo nível de consciência subliminal e cada um deles tem em si alguma coisa do outro; talvez o grau de criatividade, quer no ramo da arte, quer no ramo da magia, dependa da proporção na qual um está presente no outro.
No repertório do adepto há uma técnica por meio da qual ele se estrutura como um veículo de experiência exatamente igual ao que Cabell fez o seu insípido herói criar na personalidade imaginária de “Horvendile”. Equipados com um tal tipo de instrumento, feito de um material igual àquele de que são feitos os sonhos, podemos entrar no mundo dos sonhos do plano astral e encenar uma representação dramática das nossas vidas subliminais. Se isto é bom ou não é bom para a nossa saúde mental, irá depender do grau de bom senso com que encaramos o fato. A fuga da realidade para a fantasia pode ser um perigoso artifício psicológico, mas um feriado longe da realidade pode ser muito recomendável na forma de compensação e de repouso.
Todavia, se os planos interiores são, realmente, os planos de causação para este mundo de forma e de matéria, os resultados de tais expedições poderão ter influências sutis cujos resultados finais, em círculos cada vez mais amplos, alcançarão o nosso alvo de tempo e de espaço. Tais empreendimentos não devem ser desprezados e a experimentação paciente e corajosa poderá produzir resultados que bem valerão o esforço e o risco se houver algum. Pessoalmente, creio que há pouco ou nenhum para a personalidade bem integrada, que compreende a psicologia do comportamento; de fato, não há nenhum outro risco a mais além daquele que está ligado a qualquer tipo de imaginação criativa à qual nos entreguemos a casa poderá cair sobre a cabeça de um mau arquiteto, ou a ponte poderá ruir sob o engenheiro incompetente, ou qualquer outra obra do génio humano poderá voar pelos ares e matar o seu criador, se estiver em sua natureza voar pelos ares, mas nem por isso abandonamos o trabalho da invenção mecânica só porque achamos que ele é demasiadamente arriscado para ser um campo de esforço humano justificável.
Portanto, aqui estão algumas notas sobre a questão de tais experimentos, que ainda são tentativas porque o trabalho está nos seus estágios mais iniciais, mas que podem ser úteis no sentido de lançar luz sobre aspectos obscuros da mente humana, tanto normal como anormal.
Já fazia muito tempo que eu me familiarizara com o método de partir em expedições noturnas no corpo de Horvendile, mas não consegui praticar tal coisa com sucesso até que o meu “nome mágico” me foi dado. O nome mágico, quer seja revelado por um mestre, quer seja descoberto por nós mesmos, parece ser um ponto importante na formação do corpo de Horvendile; parece desempenhar o mesmo papel que o grão de areia desempenha na formação da pérola. A psicologia dos usos do nome mágico necessita de mais estudo do que aquele que posso dedicar a ela no momento sem me desviar do assunto. Basta dizer que tais usos são tradicionais e que lhes tenho comprovado, na prática, a eficácia. Como a maioria das pessoas de imaginação vívida, não sou alheia ao prazer de me entregar a voos de fantasia nos quais sou o centro de aventuras românticas, vividas na minha própria pessoa; como a maioria dos escritores de ficção, coloquei alguma coisa de mim mesma nos meus personagens; mas a criação de uma personalidade mágica é um assunto diferente, pois para que possa ter qualquer valor ela deverá ser, em todos os pontos, mais grandiosa do que nós mesmos e como a parte pode ser maior do que o todo que lhe dá origem?
Aparentemente, o problema é solucionado pelo recurso de retrocedermos para o passado da nossa história evolutiva, chegando até o período em que o intelecto não tinha obliterado os níveis primitivos de consciência, e ao mesmo tempo usando a mente de hoje para dirigir as atividades subliminais. Este é, de fato, o método do psicopata, porém usado em sentido inverso, pois neste caso são os níveis primitivos que se erguem e inundam a mente consciente, usurpando o trono do núcleo de consciência.
Pode ser que o uso do nome mágico tenha alguma relação com o processo de retroceder para o tempo que já passou e tornar a despertar o modo de consciência de uma fase de desenvolvimento desde muito tempo deixada para trás. Os nomes primitivos são sons imitativos ou frases descritivas, e sendo assim as sílabas bárbaras dos nomes mágicos poderão servir para despertar lembranças na alma que vagueia tão distante. Nós não podemos desdobrar na evolução aquilo que não foi dobrado na involução; esquecemos que toda a manifestação deve ser antecedida por uma fase de preparação. Nas fases primitivas do nosso desenvolvimento possuíamos poderes que tiveram que ser sacrificados para que pudéssemos conquistar os elevados poderes da mente humana. Se, embora conservando estes poderes, pudermos recobrar os segredos perdidos, então teremos os meios para modelar uma consciência Horvendile que transcenderá os limites do seu criador, pois teremos somado o passado ao presente, ou, se for preferida uma outra terminologia, teremos estendido a consciência até os domínios usualmente ocupados pela subconsciência.
Na minha própria experiência dessa operação, o proferir o meu nome mágico, para mim mesma, levou-me a uma imagem de mim mesma numa forma idealizada, não de tipo diferente, porém numa escala muito mais grandiosa, super-humana, de fato, mas que se podia reconhecer como sendo minha, do mesmo modo como uma estátua muito maior do que o tamanho normal ainda assim pode apresentar uma grande semelhança. Uma vez percebida a imagem, pude tornar a desenhar, sempre que queria, esta versão idealizada do meu corpo e da minha personalidade, mas não podia identificar-me com ela a menos que pronunciasse o meu nome mágico. Tão logo eu afirmava esse nome como sendo meu, a identificação era imediata. A consciência se transferia para a forma assim visualizada e eu passava, nua, para o mundo dos sonhos. Sobre essa nudez, que era como a nudez de uma estátua antiga, eu podia, por um simples ato de imaginação, colocar quaisquer roupagens ou tecidos que quisesse para simbolizar o papei que queria representar.
O nível subconsciente da mente foi construído enquanto a humanidade estava no plano astral, enquanto descia, pelo arco involutivo, para a sua imersão na matéria, e a mente subconsciente ainda conserva os seus métodos astrais de mentação, que são em termos de valores emocionais e de imagens pictóricas; e quando conseguimos compreender o funcionamento da mente inconsciente é que podemos apreciar melhor o funcionamento da consciência elemental. Assim também, voltando a ter acesso aos níveis subconscientes da mente, nos tornamos capazes de operar no plano astral. É por esta razão que as impressões dos domínios astrais são sempre muito confusas por causa da mistura de elementos subconscientes subjetivos. Nas comunidades civilizadas, a mente subconsciente do ser humano é principalmente subjetiva, mas nas raças primitivas o subconsciente humano normal também é em grande parte objetivo, isto é, tem consciência do seu ambiente astral; daí a predominância da magia entre os povos primitivos, pois os primitivos são magos naturais. O ocultista aprende, no decorrer do seu treinamento, a prolongar novamente o limiar da consciência até a mente subconsciente; mas enquanto, na humanidade primitiva, a mentalidade terminou com a subconsciência, no homem evoluído os poderes da mente humana retornam para os planos e se encarregam da operação das faculdades astrais subconscientes.
Todavia, a iniciação no plano astral significa muito mais do que a exploração dos poderes psíquicos. O plano astral é o plano de controle para o grande reservatório de energia etérica, e quando obtemos o direito de entrada no plano astral também ganhamos o acesso e o controle dos subplanos etéricos do plano físico. Destes subplanos provêm as forças vitais dos organismos físicos, e o contato com estes grandes reservatórios naturais de força é que dá a qualidade magnética peculiar e tão evidente nas almas que têm contatos elementais.
Os contatos do Raio Verde também são citados como sendo a Iniciação Céltica, e por esta razão as iniciações operadas pelos gregos e pelos druidas eram do Astral Superior, em contraste com as iniciações de uma época mais remota, que eram iniciações do Astral Inferior, como dão testemunho as terríveis divindades de Acádia e da Babilônia. Os gregos na arte, e os Celtas na música e na dança, foram os verdadeiros iniciados do Raio Verde, e hoje em dia a influência dos contatos astrais pode ser claramente vista no temperamento das raças célticas.
O Raio Verde é, essencialmente, o raio do artista, pois â mente subconsciente, ou astral, é que é o fator criativo nas artes, e o grau de inspiração sempre está de acordo com a proporção predominante desta mentação. A técnica pertence à mente humana consciente, mas o verdadeiro impulso artístico criativo pertence â antiga mente astral da raça, que está oculta embaixo do limiar da consciência sobreposta. Sem a técnica tão penosamente adquirida por meio da disciplina da mão e do olho, não pode haver manifestação, na matéria, do impulso astral criativo. Existem muitos que, tendo os contatos astrais, não podem reduzi-los a formas do plano físico. Estas pessoas tendem a se afastar cada vez mais deste plano e penetrar no astral, e nelas deparamos aqueles extremos do temperamento artístico que tende para o desequilíbrio mental.
De maneira idêntica, há certos tipos de insanidade, além de sintomas de doenças de origem puramente física, os quais podem ser explicados à luz do conhecimento dos domínios astrais, tanto quanto existem certas drogas, da variedade do haxixe, que abrem artificialmente os centros psíquicos, facultando-lhes a percepção do astral, assim como há também certas condições tóxicas do sangue que agem da mesma maneira, e isto tudo explica muitas das alucinações dos loucos. Na realidade, estão experimentando um psiquismo patológico e estão vendo, ao seu redor, os habitantes do astral e as suas próprias formas-pensamento pululando nas suas próprias auras. A psicologia explica muito satisfatoriamente este último fenômeno, mas não compreende o primeiro, portanto, vê-se obrigada a recorrer a explicações forçadas a fim de colocá-los em linha com a classe anterior de fenómenos, os quais ela é capaz de explicar satisfatoriamente. A psicologia da insanidade pode lançar luz sobre muitos dos fenómenos da experiência psíquica e isto não é dito com nenhuma intenção depreciativa, mas simplesmente porque é a pura verdade, uma vez que as alucinações da loucura são um tipo de fenômeno astral que tem sido comprovado por meio da ciência moderna. Muitos outros fenômenos aguardam esse mesmo processo para a sua elucidação; e quando a ciência – e especialmente as ciências que lidam com a personalidade humana, tanto mental quanto física – tiver percepção da função e da natureza das influências astrais que estão agindo dentro e sobre a matéria densa, terá sido dado um grande passo e terá sido aberta uma nova era de descoberta científica. Na hora atual estamos pairando nos minutos que antecedem esta percepção, tal como uma gota de água que fica pendurada no bico de uma jarra; quando a força de gravidade superar a atração capilar, a inundação começará. Quando houver uma percepção das realidades imponderáveis, invisíveis, uma nova era de descoberta científica e de conquista terapêutica se abrirá. É a falta desta percepção que está desnorteando a ciência no momento atual e que está tornando abortivas linhas de pesquisa tais como a investigação do câncer e das glândulas endócrinas, que, como o ocultista sabe, estão ambas intimamente relacionadas com o plano astral. Podemos muito bem perguntar por que qualquer estudante sério do ocultismo (e nenhum outro é desejado nos Mistérios) deverá, nos dias atuais, procurar os contatos do Raio Verde quando ambos os contatos, o hermético e o cristão, estão abertos para ele. O estudante hermético procura-os para completar suas iniciações, para tornar-se capaz de fazer as forças descerem através dos planos até a sua manifestação final no plano físico. Este contato é especialmente necessário para ele, se também for um terapeuta esotérico, pois os processos das duas coisas, doença e cura, estão intimamente associados às condições astrais que influenciam a consciência diretamente e o corpo físico indiretamente, por meio do seu efeito sobre o duplo etérico. Por conseguinte, o terapeuta esotérico deve, necessariamente, ter os contatos do plano astral.
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