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Por Dion Fortune,
tradução por Ícaro Aron Soares.
A magia negra não é uma coisa que qualquer pessoa estudaria ou seguiria por amor ao que ela é, mas é quase impossível, e dificilmente é aconselhável, estudar os métodos técnicos do ocultismo sem dar atenção às patologias às quais eles estão sujeitos. O tipo de atenção popular que o ocultismo recebe está, em sua maior parte, confinado ao seu aspecto negro; as revelações deste aspecto sempre podem atrair a mesma espécie de atenção que é dispensada a um acidente de rua. Qualquer um que possua algum conhecimento de ocultismo sempre é imediatamente tocado pelo fato de que os pretensos magos nunca chegam a meter seus dedos no verdadeiro mal. Eles sentem o mal do mesmo modo que um animal fareja um matadouro, mas não têm percepção do significado dos fatos que registram e nem têm qualquer compreensão a respeito das razões por que as pessoas envolvidas estão fazendo tais coisas.
A técnica da magia negra não difere em nada daquela da magia branca; os mesmos princípios se aplicam, os mesmos métodos são utilizados; o mesmo treinamento em concentração é necessário; a diferença reside na atitude do operador, no simbolismo empregado e nos poderes com os quais o contato é estabelecido; assim como a mesma educação musical é necessária ao condutor de uma orquestra sinfônica ou ao condutor de uma banda de jazz. E, mesmo quando dizemos que certos símbolos e forças pertencem aos domínios da magia negra, devemos fazer ressalvas porque estes símbolos podem ser usados e estes poderes podem ser evocados com muita legitimidade, do mesmo modo como em certas ocasiões os cirurgiões têm que assumir riscos perigosos. Todavia, podemos afirmar com segurança que, se qualquer um desses métodos mágicos for exibido para uma audiência, eles podem, sem hesitação, ser classificados como negros porque não deixarão de despertar os instintos inferiores dos espectadores, que não estão ali motivados por qualquer propósito útil. Há, também, certas técnicas de magia de sexo e de sangue que, embora possam ser bastante inofensivas entre povos primitivos, certamente estão deslocadas entre povos civilizados e só são empregadas com o fito de provocar um sensacionalismo barato. A estas devemos ajuntar a evocação deliberada do mal; normalmente, porém, isto só é feito com propósitos de vingança.
Todavia, há certos tipos de pessoas que têm um traço inato de crueldade em sua natureza; estas prontamente recorrem à evocação do mal com propósitos de vingança e, tendo tido a experiência dos resultados, passam a gostar disso por amor ao próprio mal e se tornam adeptos da crueldade apenas pelo prazer da emoção que ela proporciona. A menos que reconheçamos esta característica peculiar existente na natureza humana, uma característica que é muito mais comum do que geralmente se percebe e que os psicólogos distinguem pelo nome de sadismo, nós nunca compreenderemos certos aspectos da magia negra, pois é no sadismo que a sua chave deve ser procurada.
A invocação de certos tipos primitivos de forças naturais, embora não intrinsecamente negras, é uma operação que é bem capaz de resultar numa infecção e só deve ser realizada por operadores experimentados e dedicados, trabalhando protegidos por condições de laboratório. Esta é uma parte importante do treinamento de todo o adepto, pois quando as forças cósmicas são invocadas elas sempre vem em pares, ação e reação sendo iguais e opostas; o adepto nunca sonharia em evocar o próprio aspecto desequilibrado ou Qliphótico, pois essa seria uma operação demasiadamente arriscada. Para fins práticos, quando as forças Elementais são manipuladas lida-se com elas em suas formas sublimadas, sendo Sekhmet, por exemplo, a deusa do fogo, de cabeça de leão, uma forma preferível a Kali. Estas grosseiras formas de força, porém, precisam ser compreendidas pelo ocultista, caso contrário elas causarão aborrecimentos.
Qualquer um que faça um estudo sério do ocultismo já tem condições de compreender estas coisas, e as pessoas não devem ser rotuladas como magos negros só pelo fato de estudá-las; na verdade, elas seriam alunos muito superficiais se não as estudassem; todavia, qualquer um que faz uma exibição pública ou uma exposição popular da magia negra certamente merece ser condenado; pois não é necessário que ninguém tome conhecimento dela, exceto os especialistas, e para o bem geral da humanidade é melhor não mexer com ela; pois o pensar nela demoradamente tende a colocar-nos em contato com ela e, a menos que sejam tomadas as precauções que o iniciado toma, estaremos sujeitos à infecção.
Não podemos traçar uma linha divisória bem nítida separando a magia branca da negra; há aquilo que poderia ser descrito como magia cinzenta, com a qual as pessoas se envolvem por ignorância ou por amor à sensação. Devemos, portanto, reconhecer as variedades cinzentas, das quais existe no mundo uma quantidade maior do que qualquer uma das outras duas, branca e negra; mas, com referência a isso também precisamos dizer que enquanto o branco é branco, para o cinza passar a ser negro trata-se apenas de uma questão de graduação. Há um teste ácido que pode ser aplicado a todos os tipos de operação na magia branca, a operação é planejada e realizada com o devido respeito à lei cósmica; qualquer operação que não leva em conta a lei cósmica, mas segue o seu próprio curso sem dar atenção a quais possam ser os princípios espirituais da questão, pode ser classificada como cinza; e qualquer operação que desafia deliberadamente a lei cósmica pode ser classificada como negra.
Esclareçamos este ponto por meio de exemplos. Algumas pessoas, achando que a dieta mental da vida moderna é deficiente em vitaminas espirituais, volta-se para a inspiração dos antigos deuses pagãos. Isto não é magia negra, desde que reconheçamos que Afrodite Anadiômene é uma coisa e Afrodite Cótis é outra. Isto é, de fato, um remédio corretivo muito útil para a mente moderna. Além do mais, é um remédio que vamos tomando, sem perceber, em pequenas doses constantes, pois muito da arte e da poesia vai buscar a sua inspiração nos clássicos. Esta é uma operação que pessoas intolerantes poderiam chamar de magia negra; mas ninguém que tenha qualquer percepção da vida, ou qualquer conhecimento de psicologia, pensará desse modo.
Por outro lado, o patinhar indiscriminável em sessões espíritas, cartomancia, psiquismo e coisas semelhantes, é classificado como magia cinza na nossa definição, porque essa atitude não leva em consideração outra coisa além dos desejos pessoais, e o indivíduo nunca pergunta a si mesmo qual poderá ser a qualidade espiritual daquilo que ele está praticando. Não existindo a presença imediata de qualquer mal óbvio, e havendo, de fato, grande evidência de uma abundante quantidade de devoção capciosa uma devoção na qual Deus é invocado para abençoar o que está sendo feito, mas nunca é perguntado se isso que está sendo feito está de acordo com a Sua vontade têm-se como certo que aquilo que está acontecendo é um divertimento inofensivo ou até mesmo ativamente edificante, pois tende a elevar a consciência acima do materialismo, portanto, fortalecendo a fé. Na magia negra não são considerados os efeitos posteriores, e a experiência mostra que tais efeitos têm um alcance muito longo e embora não provoquem, necessariamente, uma deterioração moral nas pessoas de caráter naturalmente saudável – e nós devemos absolvê-las dessa acusação lançada com tanta frequência eles determinam uma deterioração marcante na qualidade da mente, especialmente na capacidade de lógica e julgamento. Qualquer envolvimento amadorístico e promíscuo com o psiquismo ou o supernormal é decididamente indesejável, na minha opinião, e desqualifica as pessoas que se entregam a isso julgando ser um trabalho sério.
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