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Por Lilith Ashtart
excerto de LVX AETERNA: FILOSOFIA, PSICOLOGIA E PRÁTICAS LUCIFERIANAS EM NOSSO COTIDIANO”
” Aqui a Serpente, antes de ser adorada, é a meta a ser alcançada.”
Ao longo da história de sua espécie, o ser humano foi sendo moldado cada vez mais conforme os interesses morais de sua época, internalizando características completamente externas ao seu Self. Aos poucos, porém de forma incessante, estas cascas de personalidades foram se sobrepondo e se condensando de tal maneira que acabaram por aprisionar a verdadeira essência dos indivíduos. Ainda assim, algo mais grave viria a acontecer: a naturalização destes novos padrões, o que impediria uma repulsa ou insubordinação a estas imposições, com o afastamento e até mesmo a completa negação de si mesmo.
Conceitos morais de bem/mal e certo/errado, entre outras polaridades, foram sendo introjetados segundo o interesse daqueles que desejavam uma massa para manipular, o que ditou toda uma série de padrões comportamentais e dogmas que deveriam ser aceitos como os desejáveis ou repudiados. Ao estabelecer estas regras totalmente contrárias à natureza humana, junto instalou-se o sentimento de culpa e de inferioridade por ser impossível corresponder a tais aspirações, totalmente antinaturais à nossa natureza.
Embora neste processo toda a humanidade tenha sofrido prejuízos que se perpetuam até hoje, houve um grupo que foi ainda mais acometido por, ademais, ter tido sua sacralidade condenada e assassinada: o das mulheres. Talvez seja por este motivo que é neste grupo que conseguimos reconhecer, de uma forma ainda mais evidente do que nos homens, aquelas que não permitiram que se apagasse a chama ardente dentro de si: as Mulheres-Serpentes.
A Mulher-Serpente é essencialmente luciferiana: possui como atributo primordial a busca pelo resgate de si mesma, de seu sinistro e sagrado feminino, através do autoconhecimento e do desenvolvimento pleno de seus potenciais. Ela questiona e desafia as normas, estruturas e padrões sociais impostos que a limita, que distorcem seu reflexo no espelho, para assim realmente viver segundo a sua verdadeira essência.
Este despertar apenas acontece quando a mulher permite-se entrar em contato com sua sabedoria interna, sem medos, receios ou julgamentos, e passa a ouvir o seu corpo, aceitar os anseios de sua alma e abandona o comodismo de assumir os papeis já cristalizados em si pela imposição do meio, tomando a frente de seu destino ao abandonar o vitimismo tão naturalizado nos dias atuais. Muitos podem neste momento me questionar: “mas se causa sofrimento, como você pode falar que é cômodo permanecer na posição de assumir papeis impostos pela sociedade?” E eu respondo: “É muito mais fácil tentar perseguir algo que esperam de nós, já que se nos adequarmos seremos ‘amadas e aceitas’, e caso não tivermos sucesso poderemos culpar os outros pelo nosso fracasso; do que lutar por algo que sabemos que se alcançarmos nos tornará libertas, mas indesejáveis, desprezadas e excluídas pela sociedade, e que ainda, se fracassarmos em sua obtenção, mostrará nossas próprias fraquezas com as quais teremos que trabalhar para transpor”. Um adendo importante: isso não se aplica apenas as mulheres, mas a qualquer ser humano.
Apenas estará pronta para encarar estes ordálios aquela que decide arriscar mergulhar em seu abismo mais profundo, que não tolera mais conter sua chama aprisionada e se propõe a despertar a serpente dentro de si. Que passa a compreender o seu verdadeiro propósito e sabe que ele não se encontra na aceitação e conformidade a um mundo ilusório externo a si mesma. A partir deste momento, as correntes iniciais são quebradas: a mulher-serpente assume orgulhosamente seu aspecto ceifador e aniquila a dependência emocional que exige a aprovação e a aceitação pelo outro e, consequentemente, com todas as máscaras utilizadas até então que encobriam sua verdadeira face, cuja beleza se encontra em sua luz e em suas sombras. A aceitação e manifestação dessas duas faces nos proporciona um meio privilegiado para a transmutação, pois permite-nos entrar em contato com nosso inconsciente, não nos restringindo apenas a conhecer o lado consciente de nossa psique. É a possibilidade da integração desses aspectos, inconsciente em consciente, que rege o processo do desenvolvimento psíquico humano.
Seu caminho passa então a ser direcionado para a consecução da Grande Obra, com o Amor e a Vontade como companheiros inseparáveis. Aqui não há mais obrigações e imposições. A mulher-serpente caminha por entre a vida e a morte, os céus e os infernos, não teme os obstáculos e as quedas, pois mesmo que neles caia, conhece e confia em sua força e compreende que há uma sabedoria intrínseca a cada desafio que deve ser aprendida para alçar voos ainda mais altos. Ela não se permite abater até alcançar seu objetivo final: se tornar a própria Palavra.
Compreende que para isso é necessário realizar o sagrado matrimônio entre os opostos que se encontram dentro de si sem demonizar um e enaltecer outro. O masculino, ao contrário do que uma grande parte dos movimentos feministas prega, não é o inimigo. Homens e mulheres possuem em si ambas polaridades, de modo a existir uma complementação dos princípios que deve ser trabalhada internamente para que ocorra a individuação.
A capacidade de unir aspectos essenciais do masculino, como o racionalismo, a objetividade, a rebelião, a separatividade, a força, disciplina, agressividade e competitividade, com expressões do feminino como emoções, sensibilidade, receptividade, intuição, frieza, geração e sexualidade, permite os contrários coexistirem dentro de si, porém sem se confrontarem. É a partir dessa condição que ambos unem-se em suas multiplicidades para compor os aspectos de uma misteriosa Unidade. Ela se reconhece completa em si mesma e não há mais a necessidade e procura por algo externo.
A troca de pele é dolorosa inicialmente até que o processo seja compreendido. A liberdade que este despertar traz, contudo, se torna a própria força motriz da transmutação. A mulher que passa a se permitir ser guiada pela sua essência é capaz de expressar-se em todas as áreas de sua vida, sem medo de julgamentos, sem ilusões coletivas, sem se entregar ao que lhe foi imposto como o ideal a ser perseguido, mas vivendo o seu próprio ideal. É a deusa sendo coroada por si mesma, a máxima potência encontrada neste plano. Ela se autoconhece e reconhece seu valor.
Ela se tornou, através da chama luciferiana, a mulher-serpente que é sábia, fascinante e tentadora.
Lilith Ashtart é psicóloga, taróloga, escritora, pesquisadora e praticante de ocultismo e LHP. Editora da publicação aperiódica Nox Arcana. Autora do livro Lux Aeterna
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