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Excertos de Evangelho Segundo Marcos
Comentado por Ya’aqov, seguidor de Ya’aqov
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Dentro do Gênesis, o sexto dia é o que é descrito com a maior quantidade de versículos e, apesar de, normalmente, ele ser resumido com o dia no qual Adam (אדם), no sentido de Humanidade, foi criado, ele carrega mais informações a respeito do processo criativo-criador.
A primeira informação, que devemos nos atentar, encontra-se no início da descrição do sexto dia: “E Elohim disse: produza a terra [Haarets (הארץ)] alma [Nephesch] vivente conforme a sua espécie [Lemynah (למיןה)]; gado e répteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie [Lemynah (למיןה)]. E assim foi” (Gênesis 1:24). O versículo nos revela que Elohim, inicialmente, atuava naquilo o que foi criado de mais espesso dentro da manifestação, na alma, Nephesch. Essa atuação estabelece que a própria alma produza algo de acordo com a sua espécie, isto é, com a sua natureza, do seu tipo. E este processo de produção vai sendo repetido, constantemente, dentro das atividades criativas-criadoras do sexto dia (Gênesis 1:25).
A produção de algo de acordo com o seu tipo, a sua espécie, está relacionada com a sua atividade correspondente e, consequentemente, em qual mundo da manifestação irá atuar. Neste sentido, extrai-se o entendimento de que Elohim está determinando que a alma crie uma espécie de envoltório para a sua atuação com os elementos da terra, em outras palavras, que o chamado corpo se manifeste de acordo com as qualidades de cada mundo no qual ele se encontra.
A segunda informação se encontra na própria criação do Adam. Uma vez estabelecido que os mundos manifestos (Briah, Yetzirah e Assiah) possuíam os seus envoltórios, “disse Elohim: façamos Adam com a nossa imagem e semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gênesis 1:26). O trecho destacado nos revela que Elohim fez Adam (a Humanidade, no sentido de Homem Universal) com a Sua imagem, isto é, com Atziluth[1] (o Mundo Arquetípico) e, uma vez, estabelecido, que ele passe a ter o domínio nos mundos manifestos seguintes. Para isso, “criou Elohim Adam com a Sua imagem. Na imagem de Elohim, Elohim o criou [Bara (ברא)], macho e fêmea os criou [Bara (ברא)]” (Gênesis 1:27). Ou seja, em sua mente, no processo criativo-criador, Elohim estabelece uma dualidade em Adam, a existência de algo referido como macho e algo referido como fêmea[2].
Estabelecida esta dualidade arquetípica, “Elohim os abençoou, e Elohim lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra” (Gênesis 1:28). Este versículo demonstra que, de Atziluth, Adam, em sua dualidade macho-fêmea, multiplica-se, manifestando-se em Assiah, em Yetzirah e em Briah.
Neste momento, pode haver um estranhamento ao se observar a ordem de manifestação e se verificar que Adam, de Atziluth, manifesta-se, logo em seguida, em Assiah e não em Briah. Contudo, devemos nos lembrar que o processo criativo-criador que gera Adam segue o mesmo processo de toda a manifestação[3]. Ademais, assim como aconteceu no terceiro dia, no qual brotaram ervas e plantas que dão sementes (Gênesis 1:11-13), estabelecendo que as sementes se manifestam, primeiro, na terra, fenômenos similar é encontrado no sexto dia, quando Elohim diz que dá à erva que dá semente de toda árvore que há fruto de árvore que dá sementes, assim como todo animal, toda ave para manter Adam (Gênesis 1:29-30). Isto significa que Adam deve regressar à Atziluth, percorrendo o caminho de Assiah, passando por Yetzirah e por Briah[4].
(29) E logo ao sair da sinagoga, foi à casa de Simão e André, com Jacó e João.
Este versículo demonstra a continuidade da ação criativa-criadora de Jesus em seu processo de emular a manifestação contida no Gênesis, iniciando o sexto dia.
Tal qual Elohim que cria macho e fêmea usando a expressão bara (ברא), Jesus se desloca à casa de Simão e André. Para entendermos esta relação, temos de destacar que a palavra utilizada para designar o processo criativo-criador, Bara (ברא), tem o Bet (ב) como a sua primeira letra.
Bet, além de ser a segunda letra do alfabeto hebraico e ter valor numérico igual a 2 (dois), está associada à ideia de uma tenda, uma morada, um lugar de habitação, uma casa. Ademais, a segunda letra que forma a palavra Bara é o Resh (ר), que significa tanto o princípio, quanto a cabeça, além de ter valor numérico igual a 200 (duzentos). Enquanto a terceira e última letra, Aleph (א), tem o valor numérico igual a 1 (um) e é a própria expressão de Yahweh. Desta forma, Bara transmite essa ideia de uma ação mental (o processo criativo-criador) que se manifesta em uma morada, também encontrada em Bereshit.
Assim, a ida à casa de Simão e André, acompanhado por estes e por Jacó e João, indica essa introspecção de Jesus, no sentido de manifestar a dualidade macho-fêmea em si, percebendo-se como dual para poder se manifestar plenamente em todos os mundos e iniciar o caminho de retorno determinado por Yahweh.
(30) A sogra de Simão estava na cama com febre, e eles imediatamente a mencionaram a Jesus.
Como falamos na introdução deste tópico, é justamente no sexto dia da criação que se faz a distinção entre macho e fêmea. Da mesma maneira, é no versículo em análise que aparece a primeira distinção entre macho e fêmea, representada duplamente na figura da sogra de Simão. Além de ser mulher, a existência da sogra de Simão indica que Simão, representação de Assiah, possui uma contraparte feminina, sua esposa. Isto é, por intermédio da figura da sogra, temos a informação de que um corpo manifesto se encontra em Assiah.
1 Coríntios 11 : 8-10
Pois o homem não foi tirado da mulher, mas a mulher, do homem. E o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. É por isso que a mulher deve ter autoridade sobre a sua cabeça, por causa dos anjos.
Essa dualidade entre essência e forma, espírito lato sensu e corpo, pode ser encontrada na passagem transcrita. Embora escrita com a denominação homem e mulher, caso realizemos a substituição das expressões por “espírito” e “corpo”, passamos a compreendê-la melhor. Desta forma, verificamos que o espírito não tem origem no corpo, mas o corpo é feito do espírito. Da mesma maneira que o espírito não foi criado para satisfazer as demandas do corpo, mas o corpo foi criado para as demandas do espírito. E, no final da passagem, ainda encontramos um alerta sobre a importância de vigiar os pensamentos (coração) a fim de criar uma boa ponte com a cabeça, local da nossa manifestação essencial e por onde os mensageiros de Yahweh (anjos) nos conectam a Ele.
Dando continuidade à análise do versículo, o próximo ponto de destaque se encontra na condição da sogra de Simão, “estava na cama com febre”. Apesar de parecer ser uma informação corriqueira, ela guarda, em si, pelo menos, 2 (duas) informações de grande valia ao nosso estudo.
A primeira informação faz referência à sua posição. Pelo fato de a sogra de Simão se encontrar na cama, automaticamente, 2 (duas) informações se revelam: sua posição mais horizontalizada e que ela apenas realizava ações de manutenção da sua própria vida. Enquanto esta informação é uma referência a Nephesch, aquela aponta a distinção entre a horizontalidade e a verticalidade, isto é, entre a vida na matéria, dominada pelos impulsos de manutenção, e a elevação necessária para se subir a Árvore da Vida e regressar a Yahweh.
Números 21 : 8-9
e Yahweh respondeu-lhe: “Faze uma serpente abrasadora e coloca-a em uma haste. Todo aquele que for mordido e a contemplar viverá”. Moshé, portanto, fez uma serpente de bronze e a colocou em uma haste; se alguém era mordido por uma serpente, contemplava a serpente de bronze e vivia.
A segunda informação decorrente do estado da sogra de Simão, encontra-se no fato de ela estar com febre. A expressão para informar o estado da sogra de Simão é pyréssousa (πυρέσσουσα), que significa “ter febre”, mas também significa “estar em calor ardente”. O radical da palavra em koiné é pyr (πυρ), que significa “fogo”. Sabendo disso, podemos tanto utilizar, numa interpretação literal do texto bíblico, que a sogra de Simão se encontrava febril, quanto fazer uso de uma interpretação de natureza esotérica de que ela estava tomada pelo fogo. Com esta segunda informação, verificamos que a presença do fogo é algo considerado sagrado, isto é, o fogo é um indicativo da presença de Yahweh ou de suas forças.
Êxodo 3 : 2
Um mensageiro de Yahweh apareceu a Moshé em uma essência[5] (בלבת) de fogo, no meio de um espinheiro. Ao olhar, [Moshé] percebeu que o arbusto estava em chamas, mas não estava sendo consumido.
Com essa questão em mente, podemos compreender que a sogra de Simão se encontrava tomada pelas energias de Yahweh e, portanto, demonstrava se encontrar apta a romper os véus, elevando-se e deixando Assiah em direção à Atziluth, passando por Yetzirah e por Briah.
(31) Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e ela pôs-se a servi-los[6].
Como a sogra de Simão se encontrava pronta, Jesus, agindo tal qual Yahweh, a conduz pelos mundos superiores, deixando a terra, passando pelos mares, pelos Céus e alcançando o Reino de Deus. Neste momento, assim como aconteceu com Adam, a sogra de Simão simboliza toda a humanidade em sua manifestação, elevando-se pelos mundos e colocando-se em Atziluth.
Ao alcançar Atziluth, a ação impulsionadora de Yahweh, no versículo, representada por Jesus, cessa, pois há uma nova determinação. O sexto dia é a véspera do cessar da ação de Yahweh, então, ele determina que Adam deverá atuar no mundo, como seu representante, pois é feito com a Sua imagem e semelhança.
Desta forma, entendemos que, assim como os 4 (quatro) mundos se encontram prontos, todos os corpos manifestos também se encontram, e, portanto, estão habilitados a cumprir as suas funções e, consequentemente, Jesus poderá cessar o seu primeiro trabalho criativo-criador.
Isaías 43 : 1
Mas agora, diz Yahweh, aquele que te criou, ó Jacó, aquele que te modelou, ó Israel.
Isaías 43 : 7
todos os que são chamados pelo meu nome, os que criei para a minha glória, os que formei e fiz.
Os trechos transcritos do capítulo 43 do livro de Isaías apontam as informações que estamos trabalhando até aqui. No versículo primeiro, percebemos a ocorrência da dualidade, na qual Jacó representa aquilo o que é essencial e foi criado por Yahweh, enquanto Israel é o corpo, a forma, posto que foi modelada. E, no versículo 7, a fala de Yahweh revela os 4 (quatro) mundos, os que são chamados pelo meu nome revela o “Reino de Deus”, Atziluth; os que criei revela Briah, o Mundo da Criação; os que formei revela Yetzirah, o Mundo da Formação; e, por fim, fiz, revelando Assiah, o Mundo da Ação, no qual as coisas são feitas.
Notas
[1] Atziluth (אצילות) é traduzido como “emanação”, mas o seu significado literal é “nobreza”.
[2] A expressão utilizada no Gênesis não tem conotação sexual, mas se refere a uma parcela que dá forma e uma que anima. Assim, a fêmea seria uma espécie de envoltório, enquanto o macho é a parcela do Adam que anima o envoltório.
[3] Vide comentários aos versículos de 16 a 20.
[4] No próprio Gênesis, todo este processo de manifestação e jornada de retorno à Atziluth é representada na expulsão do Jardim do Éden, com a Árvore da Vida e a do Conhecimento.
[5] Em algumas traduções, é possível encontrar em chamas, mas a palavra em hebraico transmite a ideia de algo essencial, como um coração, um núcleo.
[6] 31. καἱ προσελθὡν ἤγειρεν αὐτἡν κρατἠσας τῆς χειρὀς. καἱ ἀφῆκεν αὐτἡν ὸ πυρετὀς, καἱ διηκὀνει αὐτοῖς. Colocamos aqui o versículo em koiné, pois, apesar de a tradução utilizada em português fornecer ideia de que a ação é realizada por Jesus, o que se corrobora com o contexto dos versículos anteriores, o texto, de maneira isolada, transmite também a ideia de que a ação de tomar a sogra pela mão e levantá-la é realizada por todos.
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