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Métodos de desenvolvimento da Clarividência.

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Charles Leadbeater

Quando um indivíduo se convence da realidade do valioso poder da clarividência, a sua primeira pergunta é geralmente: “Como posso eu, no meu caso, desenvolver essa faculdade, que se diz estar latente em toda a gente?”

Ora o fato é que há muitos métodos pêlos quais ela pode ser desenvolvida, mas um só que se possa seguramente recomendar a qualquer pessoa — aquele que referiremos em último lugar. Entre as nações menos avançadas do mundo o estado clarividente tem sido produzido de várias maneiras menos recomendáveis; entre algumas das tribos não-rias da índia pelo uso de drogas perturbadoras ou de inalações de fumo estonteante; entre os dervixes pelo processo de girar até cair em vertigem e insensibilidade; entre os sequazes das abomináveis práticas do culto do Vudu por horrendos sacrifícios e ritos mágicos. Métodos destes não estão felizmente em uso na nossa raça, e contudo mesmo entre nos alguns praticantes nesta arte antiga adotam qualquer plano de auto-hipnotização, como olhar fixamente para um ponto luminoso ou repetir qualquer fórmula até que se produza um estado de semi-estupefação; ao passo que outra escola pretende chegar a esses resultados pelo emprego de alguns dos sistemas índios de domínio da respiração.

Todos estes métodos devem ser inteiramente condenados como pouco seguros para que os pratique o indivíduo vulgar que não tem bem idéia do que está fazendo — que está simplesmente a fazer experiências num mundo desconhecido. Mesmo o método de obter clarividência deixando-se hipnotizar por um outro indivíduo é de aqueles perante os quais eu recuaria com a maior das repugnâncias; e sem dúvida que nunca deve ser tentado, exceto em condições de absoluta confiança e afeição entre o magnetizador e o magnetizado, e duma perfeição de pureza em coração e alma, em espírito e intenção, difícil de encontrar exceto entre os maiores dos santos.

As experiências em relação ao transe mesmérico são do maior interesse, visto que oferecem (entre outras vantagens) uma possibilidade de provar ao céptico a existência da clarivisão, mas, exceto nas condições que referi — condições, admito, de quase impossível realização — eu não aconselharia a ninguém que se oferecesse para magnetizado.

O mesmerismo curativo (no qual, sem levar o paciente até ao estado de transe, se faz um esforço para aliviar os seus padecimentos, para o curar de qualquer doença, ou para lhe aumentar a vitalidade por meio de passes magnéticos) é uma cousa inteiramente diferente; e se o mesmerizador, ainda que sem instrução nisso, tem saúde e está animado de boas intenções, não é natural que aconteça algum mal ao mesmerizado. Num caso tão extremo como o de uma intervenção cirúrgica, um indivíduo pode razoavelmente submeter-se mesmo ao transe mesmérico, mas é preciso acentuar que não é estado com que se deva fazer experiências. De resto, a alguém que me honrasse pedindo-me a opinião sobre o assunto, eu aconselharia que não tentasse qualquer investigação sobre o que para ele ainda seriam as forças ocultas da natureza sem que primeiro tivesse lido cuidadosamente quanto se tem escrito sobre o assunto ou — o que é ainda melhor — sem que tivesse a guiá-lo um professor qualificado.

Mas onde, dir-se-á, é que existe esse professor qualificado: Não, por certo, entre aqueles que se anunciam como professores, que oferecem por tantas libras ensinar os mistérios sagrados das eras, ou que têm “círculos de desenvolvimento” onde se dá entrada a quaisquer pessoas mediante o pagamento de um tanto por cabeça.

Muito se tem dito neste livro sobre a necessidade de uma instrução cuidadosa — das imensas vantagens do clarividente instruído sobre o que não é; mas isso apenas nos traz outra vez para o mesmo ponto — onde é que se pode ir buscar essa instrução agora?

A resposta é que essa instrução se pode receber onde sempre se pode receber desde o início da história do mundo — às mãos da Grande Irmandade Branca dos Adeptos, que está agora, como sempre esteve, por detrás da evolução humana, guiando-a e auxiliando-a sob o domínio das grandes leis cósmicas que para nós representam a Vontade do Eterno.

Mas como, perguntar-se-á, é que se pode entrar em comunicação com eles? Como é que o aspirante ansioso por conhecer pode fazer-lhes constar o seu desejo de ser instruído?

Mais uma vez se diga: é ainda pêlos métodos de sempre. Não há método novo pelo qual um indivíduo se qualifique sem trabalho para se tornar aluno nessa Escola — não há estrada real para a sabedoria que nela se pode adquirir. Hoje, como nas brumas da antigüidade, o homem que deseja chamar a atenção deles deve entrar no caminho lento e laborioso do desen- volvimento de si próprio — deve aprender antes de mais nada a dominar-se e tornar-se tudo quanto deve ser. Os degraus desse caminho não são segredos nenhum; citei-os em detalhe em Auxiliares Invisíveis, e por isso não preciso aqui repeti-los. Mas o caminho não é fácil de seguir, e contudo todos terão de o seguir, mais tarde ou mais cedo, porque a grande lei da evolução pouco a pouco mas irresistivelmente leva a humanidade para o seu destino.

Daqueles que se estão aglomerando à entrada para este caminho os Mestres escolhem os seus alunos, e é só tornando-se digno de ser ensinado que um indivíduo pode conseguir que o ensinem. Sem essa qualificação, de nada servirá ser membro de qualquer Loja ou Sociedade, secreta ou não. Ë certo, como todos sabemos, que foi a instâncias de alguns destes Mestres que se fundou a nossa Sociedade Teosófica, e que das suas fileiras alguns foram escolhidos para entrar em mais íntimas relações com eles. Mas essa escolha depende da sinceridade e perseverança do candidato, não do fato de ele pertencer à Sociedade ou a qualquer corpo a dentro dela.

É essa, pois, a única maneira absolutamente segura de desenvolver a clarividência — entrar com toda a nossa energia para o caminho da evolução moral e mental, a um estádio da qual esta e outras das faculdades superiores espontaneamente começarão a mostrar-se. Há, porém, uma prática que todas as religiões aconselham — que, se for cuidadosa e reverentemente adotada, não poderá fazer mal a ninguém, e da qual muitas vezes tem saído um tipo muito puro de clarividência; é a prática da meditação.

Escolha um indivíduo uma certa hora em cada dia — hora em que tenha a certeza de que o não perturbarão, ainda que deva ser preferivelmente de dia e não de noite — e dedique-se durante esse tempo a manter o seu espírito inteiramente livre de todos os pensamentos materiais, seja de que espécie forem, e, atingido isso, trate de dirigir toda a força do seu pensamento sobre o ideal mais elevado que conheça. Verificará que a obtenção desse domínio do seu pensamento é imensamente mais difícil do que julga, mas, logo que ele o atinja, não pode deixar de lhe ser de todas as maneiras muito benéfico, e, à medida que ele se torna mais e mais capaz de elevar e concentrar os seus pensamentos, poderá descobrir que, pouco a pouco, ante ele se vão abrindo novos mundos.

Como exercício preliminar para o pleno conseguimento de tal meditação, verá que é útil exercitar-se na prática da concentração nas cousas da vida quotidiana — mesmo nas mais banais e simples. Se escreve uma carta, não pense senão na carta enquanto não a acabar; se lê um livro, trate de ver que o seu pensamento nunca se desvie do sentido do que o autor escreveu. Deve aprender a dominar o seu espírito, a ser dono dele, assim como das suas paixões inferiores; deve pacientemente trabalhar para obter um domínio absoluto dos seus pensamentos, de modo que saiba sempre em que e que está pensando, e por quê — de modo que possa usar o seu espírito como um esgrimista hábil usa o sabre.

E, contudo, se aqueles que tanto desejam ter a clarividência a pudessem ter temporariamente por um dia, ou mesmo por uma hora, é duvidoso que quisessem conservar o dom. É verdade que abre diante deles novos mundos para estudo, novos poderes para ser útil, e por esta última razão muitos de nós achamos que vale a pena; mas não devemos esquecer que, para alguém cujo dever o chama a viver ainda no mundo, a clarividência não é inteiramente agradável. Sobre alguém, em quem se abriu essa visão, a tristeza e a desgraça, o mal e o vício do mundo caem como um fardo constante, até que, nos primeiros dias do seu conhecimento, ele muitas vezes evoca o sentido doloroso daqueles versos vibrantes de Schiller:

Dien Oiakel zu verkünden, warum warfest du mich hin

In die Stadt der ewig Blinden, mit dem aufgeschloss’nen sinn? Frommfs, den Schleiei aufzuheben, wo das nahe Schreckniss dioht? Nur der Irrthum ist das Leben; dieses Wissen ist der Tod.

Nimm, O nimm die tiaui’ge Klarheit mir vom Aug’den blut’gen Schein! Schrecklich ist es deiner Wahrbeit sterbliches Gefass zu seyn!

que talvez assim possam ser traduzidos:

“Por que me lançaste assim para a cidade dos eternamente cegos, para proclamar o teu oráculo através do sentido aberto? De que serve levantar o véu quando as trevas próximas ameaçam? Só a ignorância é a vida; esta sabedoria é a morte. Leva outra vez esta triste clareza de vista; tira aos meus olhos esta luz cruel! É horrível ser o canal mortal da tua Verdade!” E mais adiante ele exclama: “Torna a dar-me a minha cegueira, a feliz escuridão dos meus sentidos; torna a levar o teu dom terrível!”

Mas este não passa, é claro, dum sentimento que desaparece, porque a visão superior breve mostra ao aluno qualquer cousa para além da tristeza cedo traz à sua alma a certeza esmagadora de que, seja o que for o que as aparências pareçam indicar, todas as cousas estão sem dúvida trabalhando juntas para a vitória final do bem de Ele pondera que o pecado e o sofrimento ali estão, quer ele os veja ou não, e que, afinal, quando os pode ver, sempre está em melhor situação para poder auxiliar os outros do que se estivesse trabalhando às escuras, e assim, pouco a pouco, aprende a tomar a sua parte do pesado carma do mundo.

Há alguns tristes mortais que, tendo a boa sorte de possuir alguma cousa deste poder superior, são porém tão destituídos do verdadeiro sentimento que se deve ter em relação a ele, que o empregam para os fins mais sórdidos — chegando mesmo a anunciar-se como “clarividentes demonstra- tivos e comerciais”! Escusado é dizer que este uso da faculdade é uma mera prostituição e degradação dela, mostrando que o seu infeliz possuidor de qualquer modo dela se apoderou antes que o lado moral da sua natureza esteja suficientemente desenvolvido para poder suportar o esforço que ela impõe. Uma noção da quantidade de mau carma que pode ser originado por uma ação destas dentro em pouco transforma em compaixão o nojo que há pelo infeliz que perpetra essa loucura sacrílega.

Por vezes se objeta que a posse da clarividência destrói toda a intimi- dade e dá um poder ilimitado de explorar os segredos dos outros. Não há dúvida que dá esse poder, mas, em todo o caso, a idéia é ingênua e ridícula para quem saiba qualquer cousa do assunto. Pode ser que tal objeção colha quando se trate dos limitados poderes do “clarividente demonstrativo e comercial”, mas o homem que a assaca contra aqueles que adquiriram essa visão no decurso dos seus estudos, e que por conseqüência, a possuem completamente, esquece três fatos fundamentais: primeiro, que é inteiramente inconcebível que qualquer pessoa, que tenha diante de si o vasto campo para a investigação, que a clarividência lhe abre, tenha o mais pequeno desejo de espreitar para os segredos pequeninos de qualquer indivíduo; segundo, que, mesmo que por qualquer acaso impossível o nosso clarividente tivesse essa curiosidade indecente a propósito de assuntos de senhora vizinha, há, contudo, uma cousa chamada a honra de um cavalheiro, que, tanto, nesse plano como neste, o inibiria de dar largas a uma tal curiosidade; e terceiro, que, se por um acaso e uma possibilidade inimaginável, se encontrasse qualquer variedade de baixo pitai com quem essas considerações não pesassem, plenas instruções são sempre dadas a cada aluno, logo que ele comece a revelar sinais da faculdade, sobre as limitações impostas ao seu uso.

Em poucas palavras, essas restrições são que não haja curiosidade indiscreta, que não haja uso egoísta da faculdade, e que não haja demons- trações de fenômenos. Quer dizer, as mesmas considerações que guiam as ações de um indivíduo reto e nobre no plano físico devem valer também nos planos astral e mental; que o aluno de modo algum e em circunstância alguma deve usar o poder, que o seu conhecimento maior lhe dá, para fins de vantagens mundanas, ou, de qualquer forma que seja, para ganhar dinheiro; que nunca deve dar aquilo a que se chama entre espíritas uma “demonstração” — isto é, qualquer cousa que prove aos descrentes no plano físico que ele possui aquilo que lhes parecerá um poder anormal.

Com respeito a esta última condição, muitas vezes se tem perguntado. “Mas por que não? Seria tão fácil confutar e convencer o descrente, e isso seria tão bom para ele!” Estes críticos perdem de vista o fato de que, em primeiro lugar, nenhum daqueles que sabem qualquer cousa tem o mínimo desejo de confutar ou convencer descrentes, ou se importa de qualquer maneira com a atitude do descrente; e, em segundo lugar, não compreendem como é muito melhor para esse descrente que ele gradualmente obtenha uma apreciação intelectual dos fatos da natureza, do que os conheça de repente, como que com uma pancada que o abata. Mas este assunto foi tratado plenamente há muitos anos em O Mundo Oculto do sr. Sinnett, e é desnecessário repetir os argumentos que ali se empregaram.

Ë muito difícil a alguns dos nossos amigos compreender que a curiosidade ociosa e as conversas de senhoras vizinhas, que enchem plenamente as vidas da descerebrada maioria dos homens, já não podem ter lugar na vida mais real do discípulo; e por isso às vezes perguntam se, mesmo sem querer ver, não pode acontecer ao clarividente observar casualmente algum segredo que outro indivíduo quisesse guardar, exatamente como o nosso olhar pode cair casualmente sobre uma frase numa carta de outra pessoa que esteja sobre a mesa. Está claro que isso pode acontecer; mas isso que importa? O homem de honra desviaria imediatamente os olhos, num caso como noutro, e seria como se não tivesse visto nada. Se quem faz estas objeções compreendesse que nenhum aluno se importa com a vida das outras pessoas, exceto quando lhe compete auxiliá-las, e que tem muitíssimo trabalho seu a que dar atenção, não estaria tão espantosamente longe de compreender os fatos da vida mais ampla do clarividente instruído.

Mesmo do pouco que disse a respeito das restrições impostas ao aluno, se concluirá que muitas vezes ele saberá muito mais do que se sinta com liberdade para dizer. Isto, é claro, é verdade, ainda que num sentido muito mais vasto, a respeito dos próprios grandes Mestres da Sabedoria, e é por isso que aqueles que têm o privilégio de ocasionalmente estar na sua presença dão tanta atenção às suas mínimas palavras, mesmo em assuntos inteiramente fora do que eles diretamente ensinam. Porque a opinião dum Mestre, ou mesmo dum dos seus alunos superiores, sobre qualquer assunto é a de um homem cujas oportunidades de acertar estão inteiramente fora de proporção com as nossas.

A sua posição e as suas faculdades alargadas são na realidade a herança de toda a humanidade, e, por longe que estejamos ainda desses grandes poderes, nem por isso é menos certo que um dia eles serão nossos. E que diferente que será este velho mundo quando toda a humanidade possuir a clarividência superior! Refleti na diferença que fará para a história quando todos puderem ler os registros; para a ciência quando todos os processos, a respeito dos quais os homens hoje teorizam, puderem ser vistos em operação; para a medicina, quando o médico e o paciente puderem ambos ver, com clareza e justiça, tudo o que se está fazendo; para a filosofia, quando já não for possível qualquer discussão quanto à sua base, porque todos podem ver um mais largo aspecto da verdade; para o trabalho, quando todo o trabalho será uma alegria, porque cada indivíduo só terá de fazer aquilo que melhor possa fazer; para a educação, quando os espíritos e os corações das crianças estiverem patentes ao professor que está tentando da formação dos seus caracteres; para a religião, quando já não houver possibilidade de discussão sobre os seus dogmas fundamentais, visto que a verdade a respeito dos estados depois da morte e da Grande Lei que rege o mundo estará aberta aos olhos de todos.

E, acima de tudo, quão mais fácil não será aos homens evoluídos desse tempo auxiliarem-se uns aos outros, em condições tão mais livres! As possibilidades que se abrem ante os nossos olhos são como visões gloriosas que de todos os lados nos cerquem, de modo que a nossa sétima volta deve na verdade ser uma verdadeira idade de ouro. Bem é para nós que essas grandes faculdades não serão possuídas pela humanidade inteira senão quando ela tiver evoluído até um nível muito superior de moralidade, assim como de sabedoria; se assim não fosse, iríamos apenas repetir, em condições muito piores, a terrível derrocada da grande civilização da Atlântida, cujos membros não compreenderam que o aumento do poder implica o aumento da responsabilidade. E contudo nós próprios estivemos, na grande maioria, entre esses homens; oxalá que tenhamos aprendido alguma cousa com essa derrocada, e que, quando as possibilidades da vida maior se abrirem diante de nós, possamos, desta vez, haver-nos mais nobremente.


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