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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno de Éden, Capítulo Seis.
A TRADIÇÃO de Mistérios mais antiga (i.e. a africana) era dominada por três símbolos principais: a Árvore, a Água, e a Serpente. Estes são três tipos supremos de deidade com várias raças primordiais, e eles estão resumidos na metafísica da qabalah como a Árvore da Vida, a Água do Abismo, e a Serpente que alcançou sua apoteose, ou altura, na profundeza para a qual o Portal é Daäth.
Em vários dos escritos de Crowley aparece a frase o ‘Erro do Início’.153 O início estava com o Abismo que transbordava suas águas em dois rios, aquele da vida e aquele da morte, ou, mais corretamente, aquele da existência (ilusão) e aquele do ser (realidade). O rio positivo é considerado como sendo real, e o rio negativo irreal, enquanto que o oposto é verdadeiro como será mostrado no devido curso.
Na esfera dos fenômenos físicos o rio positivo da onda-de-vida tornou-se incorporado em carne, e os ‘filhos de Deus’ foram seduzidos. A matéria é expressa em termos bíblicos pela frase ‘os filhos de Deus se uniram às filhas dos homens, e elas deram filhos à eles . . .’ 154 De suas cópulas emergiram teratomas Tifonianos tais como aqueles descritos por Berosus em seu relato da criação.155 Destes teratomas o dragão e o macaco foram os arquétipos.Os dragões156 morreram (desapareceram), mas o macaco ainda sobrevive como o símbolo da degradação dos deuses em seu tráfico com força-de-vida incorporada. O tema se caracteriza proeminentemente em antigos escritos tais como o Livro de Enoch, o Épico de Gilgamesh sumeriano, o Zend Avesta, o Bundahish, os Vedas, e no mais antigo Livro de Dzyan.
Segundo a doutrina secreta estas bestas são o resultado de experimentos mágicos pré-humanos por parte de extraterrestres que copularam com mulheres primitivas. O fato de que tais uniões também ocorreram entre o simia superior e o humano mais baixo foi mencionado por P.B.Randolph como prova da possibilidade de tais inter cruzamentos, em apoio do que ele cita ‘Os ”homens” de cauda da Terra Namaqua; os povos anões da terra dos gorilas, e os filhos das mulheres Hotentote capturadas e impregnadas pelos macacos gigantes de Nigritia’.157
Porém o “Erro do Início” pertencia à ligações vastamente anteriores àquelas mencionadas por Randolph. Uma das razões da aversão na qual o Caminho da Mão Esquerda tem sido mantida através de aeons de tempos até os dias atuais é devido ao tipo de miscigenação cósmica implicada pela intrusão de influências do lado posterior, esquerdo, ou infernal, da Árvore, com sua consequente perichoresis (?) do não-ser para dentro do reino da existência manifesta. Um mal entendido sobre a função de Daäth e sobre a natureza de Choronzon (o Portal do Abismo) tem sido a causa desse erro de interpretação. O Caminho da Mão Esquerda é anterior àquele da direita no sentido, e apenas neste sentido, de que o Esquerdo é o primeiro (o Ain) que é simbólico do verdadeiro ser (i.e. o não-ser) como distinto da existência aparente ou fenomenal, que, como a palavra indica ‘existe do lado de fora’. Aquilo que é numênico (i.e. interno) é anterior àquilo que está fora (i.e. fenomenal). Não existe realidade objetiva, mas existe a manifestação de não-manifestação; a sombra do ser que é projetada pelo não-ser. Esta corrente, quando aplicada à fisiologia da encarnação, produz os teratomas Tifônicos que se tornaram os tipos das Qliphoth como simbólicas das influências que emanam do ‘outro mundo’; na terminologia da metafísica cabalística, o outro lado da Árvore.
Choronzon se manifesta como a Mulher Escarlate, uma forma de Babalon158 como a primeira abertura ou portal, o início representado pelo sangue, o fluido escarlate da encarnação. Babal ou Bab-el significa o ‘Portal de Deus’ e, como tal, é equalizado com o portão Norte do Éden (céu) interpretado cabalisticamente como Daäth. AL ou EL é 31, o número chave do Novo Aeon, como totalmente explicado na Trilogia.
Berosus e outras antigas autoridades tem preservado registros sobre as criaturas monstruosas que se aglomeravam em criação e que eram refletidas na mitologia como os ‘gigantes’159. O nome genérico para eles é Oza, 78, um número de Aiwass e da influência a partir de Kether (Mezla). O Oz é a entidade que lança sua sombra monstruosa e parecida com um símio sobre O Magista no desenho de Crowley do baralho de Taro. 160 O ego, 78, como o ‘macaco’ do Self preenche uma função similar àquela do cinocéfalo em relação ao deus da Lua, Thoth. O macaco, kaf, era a mão de Thoth, o executor dos decretos do deus, como o ego é o executivo do Self (Ser verdadeiro) no mundo da ilusão (i.e. o universo lunar). A Mão e o Olho estão combinados no simbolismo de Daäth como o Símio de Thoth, o Falo de Set, e o Olho de Tífon (Babalon), o Ain do Abismo.
O Véu do Abismo que separa a tríada superna, Kether-Chokmah-Binah, do centro solar, Tiphareth, é equilibrado pelo Véu de Paroketh que divide aquele centro dos mundos lunar e sublunar 161. O mundo das emanações do Ain compreende as zonas de poder supernas. O mundo solar ou criativo é caracterizado pelo segmento mediano da Árvore, e o mundo da formação162 é representado pelo centro Yesodiano abaixo do Véu de Paroketh. O Duplo Véu oculta um mistério da Qabalah não menos importante do que aquele do Horizonte Duplo e o Mistério do Senhor da Baqueta de Duplo Poder na Tradição Egípcia. No misticismo judaico, Paroketh ou Parakah era o véu que dividia o Templo. Seu número, 305, é aquele de Yetzirah, o Mundo da Formação, e como o Véu do Abismo separa o Mundo das Emanações do Mundo da Criação, assim o Véu de Paroketh separa o Mundo da Criação do Mundo da Formação. O Véu do Abismo oculta Daäth; o Véu de Paroketh obscurece Yesod, e estas duas zonas de poder geram o glamor e ilusão que constituem o mundo das aparências.
O véu separa. No macrocosmo o horizonte divide o ano, e o signo da divisão tem sido depositado no signo astrológico de [libra] (vide glifo no livro) que mostra o sol nascendo ou se pondo no horizonte duplo e dividindo o círculo do ano em verão e inverno, como o nascer e o por do sol dividem a rotação do dia em luz e escuridão. No microcosmo o véu separa a donzela da mulher. É no sentido psicológico que a serpente é identificada com o véu da divisão de um inteiro.163 A cavidade ou Tepht da Serpente164 é composta de duas metades; a potencialidade negativa ou latente da Donzela, e o poder positivo ou patente da Mulher. Assim a Serpente, a Árvore165, e o Abismo166 estão resumidos na décima-primeira sephira, Daäth. Sua posição setentrial na Árvore equilibra a nona sephira167, que é a manifestação meridional do ain, via Aquele da dupla baqueta (11), Daäth. Esta equação cabalística expressa o inter- relacionamento entre Nuit (Tífon) e Hadit (Set) nos termos da polaridade dualista da manifestação.
A fórmula de IHVH168 está implícita neste simbolismo, pois, segundo a sabedoria rabínica Jehovah denota uma entidade dividida, metade serpente, metade mulher. Ihuh é Chavvah ou Eva. Uma tradição judaica diz que Eva começou a menstruar numa terça-feira, em cuja ocasião ela [se] transformou numa serpente. Na tradição indiana, a terça-feira é consagrada à Kali, a deusa do Tempo169 e do Sangue. Um de seus glifos é o Dragão das Profundezas. Na tradição Arcana Ocidental, a terça-feira é atribuída a Marte que é preeminentemente a divindade do derramamento de sangue, não – primariamente – de batalha, mas de sexualidade.170 Marte representava o que abre, e o sangue que fluía da fenda materna era o tipo mais anterior de Marte como a energia mística da deusa. Isto nos capacita a interpretar o símbolo da espada e do verso em AL que diz:
Que a mulher seja cingida com uma espada ante mim: que sangue flua em meu nome171.
Ra-Hoor-Khuit, a criança, está falando; sua manifestação é dependente da divisão em dois172 característica da fórmula de criação. Há também uma implicação mais profunda. Em hebraico a palavra para espada, zain, está atribuída aos Gêmeos, Set-Horus. Zain é o número sete, o número de Sevekh, a forma mais anterior de Set como o filho da Mãe (Tífon), um de cujos símbolos era o crocodilo, a serpente da água ou dragão das profundezas. Como a progênie de Tiamat,173 Sevekh assumiu o totem de sua mãe, o crocodilo. Segundo uma tradição, ele era o sétimo filho e, junto com sua mãe, o oitavo poder; o poder que representava a altura ou ápice. Ele era de fato a realização de sua mãe. Nesse papel, a mãe e seu filho homem (Set) receberam um lugar permanente no planisfério, onde eles ocupam a posição central no ápice ou polo.174
A Mãe e a Criança constituem o Dragão com 8 cabeças que forma o tema do Ritual da Golden Dawn.175 Sete das cabeças podem ser identificadas com os sete planetas, e as sete sephiroth inferiores da Árvore da Vida, as sete que tem seu ápice ou altura em Daäth.
O Véu que oculta o Dragão do Abismo divide a tríada das Supernas, o veículo do Ain,176 das sete zonas de poder inferiores que são veículos do zain, o poder dual dos gêmeos – Set-Horus – negativo e positivo, Hoor-paar-Kraat e Ra-Hoor-Khuit. Além do mais, a espada é um símbolo da pomba cujo glifo é a yoni e, como Massey observa, ‘ambos se unem em uma imagem sob um nome’177 devido à sua origem no Grande Poder Mágico178 ou Olho Secreto. Um dos símbolos deste poder combina em uma imagem ambas a espada e a cauda da pomba. A pomba era uma imagem de Tífon longas eras antes de ter sido associada com a virgem ou ‘a velada’ de tradições posteriores. É a pomba Tifoniana que é retratada mergulhando no cálice no grande selo da Ordo Templi Orientis. O cálice porta o signo da cruz que também é pré-cristã como o signo do X, o dez ou total. Uma forma do total é a cruz décupla da Árvore da Vida. Porém é a cruz undecupla [11 partes] que Crowley, como um Gnóstico, identificou com o Octinomos ou nome óctuplo, BAPHOMET, o antigo Chefe adorado pelos Templários. Daäth é a décima-primeira zona de poder, e a cruz undécupla denota o Cruzamento do Abismo, embora não – como Crowley supunha – no sentido no qual aquele evento é descrito em Uma Estrela à Vista,179 porém mais no sentido de uma travessia de um lado da Árvore até o ‘outro lado’ – ou seja: a Árvore da Morte. Isto é confirmado pelo próprio nome, pois a raiz de Baphomet é Mete,180‘um e sete’, i.e. o oitavo (Set), com toda a riqueza de simbolismo implicada pela fórmula de Hoor-paar-Kraat, o Deus Oculto.
Uma confirmação adicional à esta leitura pode ser encontrada na alusão aos ‘cães da razão’ associados à Daäth, a Esfera da Ruach que as tradições posteriores alteraram metafísicamente (?) e reservaram à faculdade da razão. Mais tarde, isso é, no sentido de que a ‘pomba de Maria’ é a versão metafisicamente alterada de um símbolo que pode ser traçado até o Grande Poder Mágico resumido sob o glifo do Ain e do Zain: o sete e o um.181 O Ru (mais tarde Lu) era o emanador como o Ain, ou olho secreto. Devido à fusão de dois níveis de linguagem o Ru e Lu tornaram-se idênticos. Foi depositada a palavra hriliu, um termo Gnóstico que Crowley restaurou e incorporou em sua Missa Gnóstica.182 Ele definiu hriliu como o ‘êxtase metafísico’, i.e. o êxtase além do físico, e portanto além do manifesto. A palavra hebraica ruach é derivada de Ru, significando uma ‘yoni’ ou ‘roda’ cujo movimento de revolução, espiral ou giro a identificava com espírito. No Livro dos Mortos a ruach aparece como Ru-hak o que segundo a gnose primitiva denota a boca ou vulva de Hak.183 Massey nota que Ru-Hak era ‘uma serpente enganadora . . . o réptil que faz uso de seu poder mágico (hak) para atrair a vítima na direção de sua boca’.184 O ponto de importância é que a palavra ‘boca’, quando não interpretada segundo a gnose primitiva ou fisiológica, denota Daäth como a saída ou útero que pronuncia a Palavra ou logos. A contraparte mística desta atividade é o Visuddha chakra185 que está associado à zona de poder na base do cerebelo, o assento das energias reprodutivas. À esta zona os cabalistas atribuíram a letra qoph.186
A palavra Hak é uma forma primitiva de Hag, Hexe, Witch (bruxa). Hekau em egípcio significa ‘magia’, ou ‘encantar’; ela também significa ‘cerveja’, que contém o resultado da fermentação, a saber: espíritos alcoólicos (substâncias etílicas_?). Massey cita a palavra chinesa Hak, um nome para ‘espíritos destilados’, que, como ele observa, é ‘também um modo de magia’, porque a intoxicação, resultante de Hak, abre o portal do mundo espiritual e facilita a visão astral. E assim, no Livro dos Mortos surge a exortação: ‘Volte Ruhak! Frio fascinante ou contundente com os olhos’(ch.Cl.) O simbolismo do olho já foi explicado, mas o epíteto ‘frio’, à parte de sua óbvia conexão com o sangue do réptil e a paralisia induzida por seu olhar, também sugere os ‘reinos gelados do nada’ 187 que caracterizam o ‘outro’ Universo, Universo ‘B’, e o ‘frio agreste de Kadath’ que H.P.Lovecraft associou com influências de ‘fora’, isso é, o outro lado da Árvore.
O simbolismo de qoph188 é também relevante. Qoph é um desenvolvimento, poder-se-ia dizer quase um refinamento da idéia de Kaph, a décima-primeira letra dos antigos alfabetos, a letra que identifica o símio-kaf (cinocéfalo) que apes (imita por mímica) ou reflete a Palavra através do mecanismo da reprodução sexual. O macaco era um símbolo de experimentos mágicos primitivos envolvendo o uso da Corrente Ofidiana em conexão com as energias simbolizadas por qoph, que significa a ‘parte posterior da cabeça’ (nuca). A cabeça é Resh, a letra ‘R’ hebraica (mais tarde ‘L’).
Retornamos novamente ao hriliu ou êxtase metafísico induzido ao se atravessar o Portal do Abismo para dentro de um reino que não é apenas além da matéria, mas que é positivamente antimatéria. A cabeça como o resh é o sol (Tiphareth), e a nuca como o qoph, é a lua representada por Yesod na Árvore. Sol e Lua, Resh e Qoph; estes conceitos quando misturados são uma expressão do Espírito: Resh (200) + Qoph (100) = Shin (300). Shin é a forma triádica do Um, Ain, ou Yoni, que é Nenhum. A letra shin derivou da forma ideográfica da Besta como a coxa de Pasht a leoa, a grande gata Bâst, a cortada ou fendida. A natureza sexual do corte ou divisão foi continuada em O Livro da Lei.189 Massey afirma que a coxa, simbólica do Grande Poder Mágico, hekau, ‘tornou-se a letra Sin (Shin)’.190 Segundo o AL: ‘A palavra de Pecado é Restrição’.191 Por causa de sua identidade com o divisor feminino em [duas partes], o Shin tornou-se um símbolo do Espírito em sua fase negativa ou não-manifesta. Pesh, Peh, ou Pasht, forneceu o tipo da coxa feminina ou poder mágico do hekt, hecate, bruxa, ou mulher sábia associado com o oráculo do tempo periódico e, em um estágio adiante o peh ou coxa-símbolo do Aeon, ou fim de um período de tempo.192 Sin (pecado) como restrição na esfera moral está relacionado aos ‘cinco dias negros ou negativos do período intercalado do Epagomenae’. Massey cita um mito australiano no qual ‘considera-se que a serpente cortou a Árvore da Vida, de forma que ela pudesse caminhar na forma humana como o masculino e o feminino’. Nisso a Serpente é o divisor porque ela era um tipo de menstruação. Esta é a ‘divisão próxima à direção da casa (origem)’ (?) como que implicando o caminho de retorno à não -manifestação. Este tipo do término de um aeon, e portanto de restrição no sentido de terminação, é algumas vezes representado pelo lagarto que é uma outra forma da serpente. Seu nome, Tzab tem o valor de 93 o que o equaciona cabalisticamente com a manifestação especificamente Thelemica da Corrente Ofidiana. Seu glifo cognato é Nakaka (também 93), o nome da Serpente da Escuridão, a noite de Nuit que pode se manifestar apenas pela virtude de Har (Horus), a criança que é o resultado do amor (agapé, 93), sob vontade (thelema, 93). A criança é o divisor da Mãe-Escuridão (Nuit); ela é seu fogo193 que a revela, assim como o brilho do relâmpago ilumina o céu noturno. Portanto é dito: ‘Had! a manifestação de Nuit’.194
Na página 56 as sete cabeças do dragão foram identificadas com os sete planetas e as sete zonas de poder inferiores da Árvore da Vida. Antes de tentarmos traçar esta identificação é necessário compreender que nas mitologias mágicas mais primitivas, tais como a egípcia, as zonas de poder primais estavam concentradas nos 8 deuses que governavam em Am-Smen, o Local de Chaos.195 Estes oito poderes primários foram mais tarde rebaixados e identificados com as zonas de poder cósmico inferiores: O Sol, Júpiter, Terra, Lua, Marte, Mercúrio, e Vênus. Estes poderes foram identificados com a pirâmide básica da Árvore da Vida que culminava no ápice ou altura, a oitava zona de poder tipificada por Daäth, o local de Choronzon ou Chaos no Abismo.196 Am-Smen também era conhecido como o local de purgação e preparação, o que ele é por virtude de sua associação com o aspecto Babilônico de Choronzon como anteriormente explicado. O Smen, sêmen, ou semente, era originalmente o sangue frutificante considerado como feminino antes de o espírito criativo ter sido atribuído à masculinidade.
Na fase Sumeriana de mitologia, as sete cabeças do dragão devorador197 eram representadas como segue:
A primeira por um escorpião
A segunda por uma Cruz ou Raio Giratório198
A terceira por um Leopardo ou Hiena A quarta por uma Serpente
A quinta por um Leão Enfurecido A sexta por Gigante Rebelde
A sétima por Tífon, Anjo do Vento Fatal.
Embora não possamos esperar por uma perfeita concordância de simbolismo, estes sete tipos equacionam quase precisamente com os poderes dos planetas acima relacionados. Devido a em sua fase mitológica mais primitiva o Sol ter sido identificado, não com o céu mas com o inferno e com os ardentes ferrões do escorpião; eis o porquê, nos mitos primais, o sol não é celebrado e abençoado por seus raios doadores de vida, porém amaldiçoado e abominado por seu calor explosivo. Foi após os criadores de mitos terem deixado seu lar mais primitivo199 que o sol começou gradualmente a assumir o papel beneficente que o mesmo desempenhou nas mitologias posteriores.
O fogo do inferno foi baseado sobre experiência direta do Har como o filho-sol do céu, o har ou hell causado pelo fenômeno elemental de calor secante. Em tempos posteriores, o Har ou Horus se tornou o glorioso deus criativo tipificado pelo falcão solar. Ainda assim a concepção primordial persistiu dentro das fases posteriores do pensamento egípcio quando a negrura elemental (a negrura do calor chamejante) foi metafisicalizada no mal moral, pois os egípcios afirmavam que todo mal emanava do local do nascimento do sol, enquanto que todas as forças boas e curativas irradiavam da terra no Oeste.200 Massey demonstrou através de uma lista comparativa de nomes que em 36 linguagens africanas o nome para o inferno é o mesmo que para fogo, que por sua vez é freqüentemente sinônimo para o sol. Albert Churchward também faz esta observação.201
À Júpiter é atribuído o raio ou suástica giratória. O Leopardo e a Hiena são tipos de transformação. A última em particular é conhecida como a ‘besta de sangue’ e portanto uma forma lunar deste elemento em sua fase formativa é atribuída ao elemento e ao planeta Terra. Na versão egípcia das Sete Cabeças do Dragão, a hiena é trocada pelo touro que, como um tipo, corresponde ao elemento terra.
A Serpente é atribuída à Lua por motivos que já foram citados. Na Lista Egípcia dos Sete, a Serpente é descrita como ‘indo comer sua hora’(?). A hora é uma divisão de tempo e o ato de consumo é uma alusão ao dragão devorador do eclipse e os cinco dias negros quando a luz é obscurecida. É significativo que em um texto egípcio ‘Ela’ (a Serpente) seja denominada ‘A Que Faz a Existência Invisível Aparente’, uma alusão ao ato da encarnação ou entificação, e portanto de identificação através da carne (encarnação) que é a função peculiar à corrente lunar em sua fase Ofidiana.
O Leão Enfurecido por ser identificado com o planeta Marte, e isso é confirmado na Lista Egípcia através do epíteto ‘Olhos Vermelhos’.
O Gigante ou Macaco Rebelde, o veículo de Thoth, identifica o próximo membro dos Sete com o planeta Mercúrio. O simbolismo do Macaco e do Gigante já foi explicado.202
A cabeça final é chamada de o ‘mensageiro do vento fatal’ e ela é identificada com o sopro do fogo, com Serk, Scorpio, Sirocco, e Tífon, o Tufão. Na Lista Egípcia esta cabeça é descrita como ‘silvo que se aproxima e retorna; olhando à noite e trazendo ao dia’(?), uma descrição perfeita do tipo Bennu ou Fênix daquele que retorna.
As Sete cabeças que culminam na Oitava (a Altura) são as zonas de poder203 cósmicas mais Daäth, o Lugar de Purgação ou Preparação para a experiência final tipificada pela Tríada Superna, portanto somando onze centros no total.
Na representação simbólica da Queda204 as cabeças do Dragão levam os nomes dos oito Reis Edomitas205, e seus chifres os nomes dos onze duques: ‘E porquê em Daäth estava a máxima ascensão da Grande Serpente do Mal; portanto existe como existia outra Sephira, fazendo oito cabeças de acordo com o número dos oito reis;206 e para as Sephiroth Infernais e Opostas onze ao invés de dez,207 de acordo com o número dos onze duques de Edom.208
No corpo humano as oito zonas de poder formam a Cruz Magnética mostrada no diagrama 1 de Cultos da Sombra (q.v.) e em um sistema tão amplamente divergente como o Taoísta, nós encontramos Han Shan (1546-1623) falando detalhadamente sobre estes 8 centros básicos, aos quais ele se refere como as ‘Oito Consciências’:
Se alguém atravessar o ninho das Oito Consciências, e com um grande salto passar diretamente através delas, então não haverá nada mais para ele alcançar209 . . . Por quê? Porque se as Oito Consciências não forem atravessadas, tudo o que se vê e se faz são meramente obras da consciência e sentidos samsaricos.210
É quando tivermos dado este salto ou pulo através do Abismo – e apenas então – que ‘sabemos que não somos . . . Naquele momento percebemos que somos vazios, que o vazio é subjetividade, e que a subjetividade é nós – não nós como si-mesmos individuais mas nós como todos os seres sencientes (?), não como qualquer tipo de ser senciente mas como ser senciente como tal. Aquele é o caminho negativo . . . eis o porque nós devemos saber que não somos, de modo que possamos compreender em qual modo nós podemos ser’.211
A vivificação destes 8 centros pela ação da Serpente de Fogo ou Kundalini é o objetivo de todos os sistemas esotéricos de realização mágica e mística. Não até que a Serpente de Fogo tenha sido trazida até a altura, a oitava zona de poder, pode o salto ser empreendido com sucesso. A natureza peculiar deste salto tem sido indicada nos escritos dos antigos, ainda assim a pista tem sido quase totalmente ignorada pela maioria dos modernos expoentes dos Mistérios. São exceções H.P.Blavatsky, que mais ocultou a verdade do que a revelou; Aleister Crowley, que em O Livro das Mentiras (Liber 333212) tratou o assunto reservadamente, e Michael Bertiaux cujas generosas pitadas de alusões ao assunto são, até hoje, disponíveis apenas aos poucos que são admitidos na organização oculta conhecida como O Culto da Serpente Negra.213 Estes Adeptos aludem à natureza expressamente sexual da chave para este Mistério definitivo, mas quer eles o tenham apresentado como misticismo ou como magia ou – como no caso de Blavatsky – como a obra do próprio demônio, eles deixam o leitor com pouca dúvida em relação à sua potência como um meio de realização. E de modo a compreender como esta chave opera é necessário compreender o mito da expulsão do homem do Jardim do Éden e o significado mágico da assim chamada ‘Queda’.
Notas:
153 Vide, por exemplo, Liber LXV, capítulo IV, verso 56. Este Livro foi reimpresso com um Comentário na Revista
Sothis, Vol.I.No.V.
154 Gênesis, VI, 4.
155 Vide Criação Mágica, de Kenneth Grant, Carfax Monograph No.IX.
156 O símbolo do Dragão da Profundeza, do qual Dagon (777) é o tipo, pode ter sido depositado na mitologia por encontros reais na terra entre extraterrestres anfíbios e a humanidade primitiva. Vide Temple, O Mistério de Sirius , Sidgwick & Jackson, 1976.
157 Eulis de P.B.Randolph (Toledo, Ohio, 1896.) p.173.
158 A ortografia Babalon, como distinta de Babylon, se originou em O Livro da Lei. Vide os Comentários sobre AL, para uma explicação total.
159 Mencionado em Genesis .
160 Atu II, atribuído a Mercúrio e portanto ao Símio de Thoth. Vide O Livro de Thoth por Aleister Crowley.
161 Os mundos sublunares são o astral, o etérico, e o qlifótico. Eles estão especificamente relacionados às zonas de poder Yesódica e Malkuthiana.
162 i.e. o mundo astral.
163 O ciclo total representado pelas 10 sephiroth.
164 i.e. o Abismo.
165 As 10 sephiroth ou ciclo total do manifesto e do imanifesto; cada um dos lados do véu.
166 A fonte de emanação de ambos.
167 A zona de poder Yesod, atribuída a Teth, i.e. Set.
168 Tetragrammaton. Vide O Renascer da Magia para uma interpretação iniciada desta fórmula.
169 Kali também divide, pois Ela corta o Tempo em kalas; períodos.
170 Vide Aleister Crowley e o Deus Oculto, capítulo 4, nota 20.
171 AL III, 11. Note o número do verso, onze, o número de Daäth e da magia(k), i.e. ‘energia tendendo à mudança’.
172 Two’s day (dia do dois), portanto a manifestação de Eva naquele dia tipifica a fórmula de criação.
173 A ‘Mãe do Tempo’ no relato Berosiano da criação.
174 Vide o Zodíaco de Denderah.
175 Vide o frontispício deste livro.
176 Kether-Chokmah-Binah. Esta tríada domina tudo e corresponde às letras Aleph, Beth, Gimel que, por analogia, comportam o mundo inteiro.
177 Z-ain.
178 O Grande Poder Mágico (Ur-Hekau) tipifica a faculdade de visão clarividente, que os antigos representavam pelo glifo do Olho.
179 Vide Magick p.327.et seq.
180 A Gênese Natural, II, 14.
181 Zain = 7; ain é nossa palavra ‘um’ originalmente derivada do Nenhum que era primeiro, e portanto um como o conceito primordial.
182 Vide Magick, p.423 et seq.
183 O poder mágico; compare Ur-Hekau, Hekt, Hecate, Hexe, Hag, como a feiticeira ou manipuladora do glamour ou ilusão.
184 Itállicos do presente autor.
185 O centro da garganta. Note que à ele os hindus atribuem um lótus com 16 pétalas.
186 Vide Cultos da Sombra, capítulo 1.
187 MSR. Papéis Graduados. Estudante Grau I, por Michael Bertiaux.
188 Qoph pode ser considerada como um Kaph metafisicalizado.
189 AL.I.29: ‘Pois estou dividida por causa do amor, para a chance de união’. Também, AL.III.2: ‘Há divisão daqui de volta ao lar . . . ‘
190 (vide ilustração) O ideograma egípcio do quadril ou coxa que se torna mais tarde a letra hebraica (vide ilustração) (Shin) atribuída ao Espírito.
191 AL.II, 41.
192 A letra Shin é atribuída, no antigo baralho do Taro, ao Trunfo entitulado O Anjo do Julgamento Final; ela tipifica destruição pelo Fogo e é agora aplicada ao simbolismo do Novo Aeon onde o Trunfo é entitulado O Aeon. Vide O Livro de Thoth.
193 Har não significa apenas criança, mas também fogo; ela é a raiz de Hal ou Hellfire.
194 Note que um significado da palavra Nuit é Não.
195 Crowley equaciona Chaos com Therion (a Besta). Vide Magick, Liber XXV e compare o mesmo com o capítulo 25 de O Livro das Mentiras.
196 A base quádrupla e a elevação triangular ou tripla.
197 i.e. Apophis. Vide ideograma retratando as oito – não sete – voltas, portanto colocando em uma categoria mais abrangente as 8 zonas de poder primárias e os 16 kalas. Página 137.
198 A suástica.
199 i.e. África Equatorial.
200 O local do pôr do sol.
201 Vide O Renascer da Magia, p.71.
202 Vide página 53.
203 Representadas pelas sete Sephiroth inferiores de Malkuth a Chesed.
204 Vide Frontispício.
205 Edom é um outro nome para Esau que significa ‘vermelho’. Segundo Kuhn ( Luz Perdida, pp.257, 275) ‘Esau era chamado ‘vermelho’ porque ele sugava o sangue de sua mãe antes de seu nascimento. Vendeu seu direito de nascença por um punhado de ‘vermelho’. ‘A tradição apresenta Esau refletido pelo falcão solar, que simbolizava sangue [Hor-Apollo. Bk. I. 6].’ Os Reis de Edom portanto eram Reis da Terra Vermelha ou local de sangue.
206 Centros ou Zonas de Poder.
207 Onze ao invés de Dez Sephiroth.
208 O número das Qliphoth é 11.
209 i.e. o mundo fenomenal.
210 Citado em Pergunte aos Despertos, p. 182 (Wei Wu Wei).
211 Wei Wu Wei comentando sobre as palavras de Han Shan. Ibid, p.182-83.
212 Como era de se esperar, já que 333 é o número de Choronzon.
213 La Coulevre Noire. A Ordem Interna do Monastério dos Sete Raios sob a liderança de Michael Bertiaux. Vide Cultos da Sombra, capítulos 9 e 10.
Revisão geral: Ícaro Aron Soares.
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