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Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.
O DÉCIMO-SÉTIMO Caminho transmite a influência dos Enamorados. Seu túnel é guardado por Zamradiel que é evocado vibrando-se seu nome na clave de ‘D’. O som deve ser acompanhado por uma rouca cachinnation(???). Seu sigilo deve ser pintado com uma tinta que se aproxime do couro amarelo novo sobre uma vesica (vaso_?) em mauva (púrpura mediano ou violeta pálido).
Seu número é 292, aquele de TzRB, ‘o corvo’, o pássaro negro de Set. TzRB também significa ‘noite’; no ocaso o corvo inicia o seu vôo predatório. BTzR, uma metátese de TzRB, significa ‘ouro’, o metal associado aos gêmeos Set-Horus, sendo que o totem de Set é o pássaro negro e o de Horus é o falcão dourado. Os gêmeros anteriores, contudo, eram Set e Anúbis, o chacal dourado que, com sua sombra escura, assombrava o deserto das múmias, i.e. as conchas astrais deixadas por aqueles que fizeram a travessia e transcenderam o abismo.
O sigilo de Zamradiel é composto de um crescente lunar perfurada por uma flecha atirada de um arco, ambos os lados da qual terminam na letra G. A lua transfixada é a carne crucificada. Os ‘crucificados’ são aqueles que fizeram a travessia do Abismo. A letra G (gimel) significa o ‘camelo’, o navio do deserto, o veículo pelo qual a travessia é realzada. Ela é a letra da Suma Sacerdotisa.
Este túnel concentra a influência de Set via zona de poder Negra (Binah) que recebe sua luz da Esfera Estelar (Chokmah) e a projeta em raios para baixo através do abismo. O 17º kala é portanto fortemente carregado com a atmosfera de Daäth e da Morte, ambos os quais tem forte afinidade com os Enamorados.
O número 292 é também aquele de Chozzar que, como sugerido em Cultos da Sombra, está provavelmente conectado com o nome Choronzon, uma forma corrompida deste. O símbolo de Chozzar lembra o signo astrológico de Netuno e segundo Blavatsky (Doutrina Secreta, II, 356) Chozzar é chamado de Netuno pelos não iniciados. Este é o símbolo da Magia Atlante e sua atribuição à segunda zona de poder, Chokmah, é altamente significativa porque Chokmah recebe um influxo direto de Plutão (Kether).
Michael Bertiaux observa que ‘Plutão sendo correlacionado a Netuno é pura sexualidade’ que na Esfera Plutoniana ‘é psíquica e mágica. Esta energia, que é chamada “libido” é a força mais poderosa do mundo e não pode ser isolada por métodos mágicos . . . Ela é portanto a fundação dos vários campos naturais de força, tais como luz, gravitação, eletromagnetismo, e é fato que a partícula subatômica básica, sendo um fóton funcional, é em realidade libido em uma forma elementar’583 .
Esta é a energia que dá poder aos Enamorados do 17º Caminho, mas, no túnel abaixo deste, ela foi transformada no RPVAH584 ou ‘droga da morte’ que é representada pelo pássaro negro de Set e o porco negro de Tífon. Chozzar significa ‘um porco’. Esta criatura foi adotada como um símbolo da Grande Obra pelos Tifonianos porque ele era o único animal conhecido que devora excremento humano. O porco é simbólico e também o é o excremento, pois não é refugo anal que é velado por este totem, mas o sangue da lua, o fluxo da fêmea humana em sua fase negra. O simbolismo foi mantido dentro dos cultos solares de eras posteriores, e na época do equinócio vernal o deus Khunsu é representado na órbita da lua cheia carregando em seus braços o porco sacrificial.585 A absorção do vinho negro da lua preparou o iniciado para a desintegração, ou crucificação, na época da Páscoa, e isso tornou possível a transição para dentro do mundo do espírito ou Não-ser.
Os gnósticos representavam Chozzar na forma de uma Serpente cujo representante estelar era Draco. A ondulação da serpente era uma imagem do fluxo feminino periódico.
O sigilo deste túnel é glifado pelo sigilo de sua sentinela com o lunar crescente transfixado pela flecha. Como Massey mostrou, ‘o primeiro arco foi esticado pela Geradora’ e isso ‘tornou-se círculo inteiro no ciclo da Gestação, portanto o arco de Neith, e a flecha da Deusa Seti’.
No sigilo de Zamradiel a lua é jovem e ainda não alcançou a plenitude da gestação que ocorre após os enamorados emergirem da Cidade das Pirâmides (Binah) para dentro do deserto de Set.
O verso relevante do CCXXXI diz:
Então aqui abaixo o Eros alado é jovem, se deleitando em um e no outro. Ele é Asar (Osíris) entre Asi (Isis) e Nephthi (Nephthys).
Osíris é a múmia, o morto que é renascido no mundo espiritual, tendo sido concebido por Isis e trazido ao nascimento por Nephthys.
O siddhi mágico deste kala é – compreensivelmente – a bilocação, aqui simbolizada pela múmia (Osíris) e a jovem erguida (Asi). Esta divindade dual às vezes aparece como Os Irmãos e algumas vezes como Os Amantes.
É deste túnel que emergem as forças negras e vazam dos abismos do não-ser, permeando as zonas de poder da manifestação com as sombras de sua ausência. Esta duplicação ou salpicado com luz e sombra é tipificado por híbridos simbólicos tais como o pega586, o pingum, o pintado(?), o papagaio, a zebra; de fato, todas as criaturas pintadas e do tipo camaleão que tem o aparente poder de transformação.
A Ordem de Qliphoth atribuída a este reino é a Tzalalimiron, ‘Os Mutantes’. O totem supremo deste túnel é a hiena e este reino é assombrado por devotos do Bultu, ou Hiena Espectral. Este culto é conhecido como tendo existido na era paleolítica. Ele trouxe seu totem para fora da África e o propagou secretamente, por toda a terra.587 Ele tinha sua fonte astral no túnel abaixo do Caminho dos Gêmeos (Os Amantes) e foi refletido no plano terreno em um local da África chamado Kabultiloa. O nome significa literalmente ‘a sombra (Ka) do espectro ou espírito (loa) da hiena (bultu)’. A vibração mágica do Culto estava concentrada no mantram ‘Bultungin’, um verbo significando ‘eu me transformo em uma hiena’. Este era o atavismo assumido pela forma espectral que se formava [a partir] dos elementos do 17º kala, quando os poderes gêmeos de Amor e Morte588 eram fundidos em uma imagem. Seu reflexo qlifótico era sugado do espaço na forma desta criatura por um Adepto que ‘conhecia os alinhamentos sagrados’589 e que vibrava o mantram que a evocava. Isso era obtido ao fundir as serpentes gêmeas, Ob e Od, por dentro do corpo de uma sacerdotisa dedicada ao deus negro deste kala cujo nome agora está perdido.
Este Culto da Hiena Espectral persistiu quando todas as outras formas de seu deus haviam perecido, e certos magos e sonhadores receberam intimações de sua existência ao longo dos séculos. Dr.John Dee (1527-1608), quem primeiro a atraiu dos espaços de Daäth em tempos históricos, a chamou de Choronzon. Aleister Crowley, que a contatou em nosso tempo presente, também a chamou de Choronzon, enquanto que H.P.Lovecraft a sentiu como o lodo monstruoso e amorfo conhecido como Yog-Sothoth.590
Segundo um grimório secreto ‘a Besta foi chamada não de espaços conhecidos mas de celas entre eles,591 enquanto que os tambores bultu batiam ritmos excêntricos’. Similarmente, nos ritos posteriores de Petro no Voodoo – no qual o Culto sobreviveu sob outro nome – ‘os alinhamentos dos vevers secretos fluíam entre os pontos cardeais, não através deles. Uma entidade aparecia em resposta ao Chamado e cristalizava próximo a si a anatomia espectral peculiar ao totem Bultu. Ele presidia em um Sabá por entre os túneis da terra, e então ele desaparecia. Nem a Besta apareceu novamente, mesmo durante as dinastias negras de Khem quando o tráfico com entidades não humanas era desempenhado secretamente nos Cultos de Taurt e Set.
‘Tendo concentrado a essência do Bultu dentro de seu eidolon, ou espectro, ele segregava um esperma sutil que combinava com o sangue vital de sua consorte para produzir uma pomada magnética, assim selando o fogo da mulher com aquele da Besta em uma única substância.
‘Os “tempos estando corretos” e as “marcas do espaço” sendo estabelecidas, uma tempestade mágica violenta irrompia na região de Kabultiloa onde este rito monstruoso era encenado. Diz-se que chuvas incessantes teriam caído em lugares onde raramente chovia, e violentos distúrbios elétricos na atmosfera apagava todos os traços do evento. Durante o dilúvio constantes relâmpagos luziam e, penetrando nas cavernas abaixo da terra, atingiam a noiva da Besta enquanto ela se contorcia em seu abraço. Seu corpo era instantaneamente queimado em cinzas e uma pequena pedra negra deslizava de suas coxas. Os dois óleos vitais, fundidos num calor incrível, produziam um talismã de poder incalculável. O fogo que matizava as serpentes gêmeas da vida, a bestial e a divina592, afixava seu selo sobre a pedra na forma de um emblema curioso não diferente do sigilo de Zamradiel e um certo símbolo secreto conhecido por ter sido usado nos tempos da Atlântida em conexão com a adoração de Chozzar.’593
Esta keraunografia mística daí em diante se tornou o sigilo do Bultu, o selo adotado pelo Culto através de sucessivos aeons, e dizem que existe no tempo atual num santuário secreto de Voodoo conhecido como Ville-aux-champs.594
O túnel de Zamradiel está sob a égide das forças de Shugal-Choronzon em suas formas voodoo de Baron Samedhi e Guéde-Nibho. O Baron representa o aspecto Saturnino595. Outro de seus nomes é Cimitière, o lugar dos mortos ou daqueles que fazem a travessia até o não-ser. Então, Baron Samedhi é também conhecido como Maitre Carrefour ou Carfax, Mestre das Encruzilhadas, pois na junção dos quatro caminhos596 os espíritos dos vivos atravessam para dentro do reino do não-ser, e vice-versa. 597 Guéde, por outro lado, concentra o elemento Eros-Libido da corrente representada por Os Enamorados. Seu veículo estelar é Gêmeos, seu assento planetário, Mercúrio, o deus que guia os mortos no submundo sob a forma de Shugal, seja como raposa, cão, chacal ou lobo, conforme o tipo de fauna local apropriado.
Guéde Nibho representa as polaridades duais Ob e Od nas formas da força Ódica doadora da vida, e do Obeah ou corrente Ofidiana manifesta através da morte e tipificada pelo horroroso Ganin-Gub.598 Guéde aproxima-se do egípcio Khonsu que está associado ao porco negro ou javali de Set, como anteriormente mencionado. O nome Nibho, significando ‘senhor’, deriva do egípcio Neb (nosso Nib ou Nob). O Senhor Guéde é atribuído ao quadrante Norte que, no presente contexto, está sobre Saturno e a esfera das estrelas599 no lugar de Daäth, profundamente enterrado nos golfos do deserto habitado pelo chacal de Set e o porco de Khonsu.
O Bultu não é nem humano nem animal mas uma manifestação astral que se alimenta como um vampiro sobre os óleos essenciais de suas vítimas. Como a hiena espectral ela fascina por seu olhar e então sacia seu desejo por sangue. Como o Ganin-Gub,600 ou Serpente de Ob, ela bebe o plasma real da vitalidade de sua vítima, misturado com o mênstruo da sacerdotisa que o drenou para dentro de seu cálice.601 Similarmente, Baron Samedhi retira alimento de suas vítimas de muitas formas, assim perpetuando uma prolongada vida parcial em dimensões fora do alcance da consciência normal, porém acessíveis àqueles que ‘conhecem os alinhamentos sagrados’ e que sabem como vivificar o sigilo do Bultu, de cujo mantram o som pode abrir os Pylons de Shugal.
A natureza dual do simbolismo associado à Zamradiel confere com a natureza do Bultu que, sendo de outra dimensão, não é carne nem espectro, branco ou preto, humano ou animal, mas uma combinação de entidades híbridas ultrapassando de longe em horror aqueles descritos pelos antigos como os produtos de união não natural. No ritmo excêntrico dos tambores Bultu o ouvido sensível pode detectar o mantram da última abominação, o símbolo horrível do qual se assemelha a hiena lendária por ter resultado da união do voraz chacal do deserto com a leoa da Etiópia.
A hiena é simbólica de todas as vidas parciais, todo ocaso e estados de consciência crepusculares, todas as raças cruzadas entrelaçando, enrolando, deslizando suas imagens ambíguas em carne e rotulando com a marca do Bultu as miríades de formas que ela escolhe como seus veículos. Atavismos primordiais são liberados pela batida dos tambores Bultu e, se usados em conexão com o túnel de Zamradiel,602 na clave de ‘D”, apanhará a mente na teia escura de seus ritmos. Quer sejam ouvidos de perto ou de longe, aqueles que o ouvem são compelidos à comparecer ao Sabá sobre o qual Choronzon preside.
Isso explica, em um sentido fenomênico, as ‘aparências sinistras’ e as ‘fadas’, os seres legendários atribuídos à este caminho no Liber 777.
Nos mitos africanos mais antigos, Oro, a tempestade, tem afinidades com o 17º kala. Em seu dia de celebração ele aparece na forma de um ‘monstro em forma humana’ com face e lábios cobertos com sangue. Ele ruge e grita como um vento feroz; o sacerdote celebra sua missa em arvoredos sagrados onde, oculto dos olhos dos não iniciados, eles simulam seus uivos [de criatura sobrenatural] pelo giro rápido de um chocalho de madeira amarrado a uma corda.603
No sistema Voodoo os Marassas, ou Gêmeos, são simbolizados por um vever que incorpora os três pilares da Árvore da Vida. No Cultos da Sombra eu reproduzi uma ilustração deste vever feito por Michael Bertiaux que adicionou o ‘bastão cruzado do Saturno mágico, ou Guéde Nibho, de forma a produzir o modelo para os caminhos dos voltigeurs, também como caminhos para as escolas secretas de iniciação Voodoo’.604 Isto é de importância vital pois isto demonstra os pontos nos quais os saltadores por trás da Árvore atravessam os golfos de espaço sem utilizar os túneis de Set, assim saltando pelos interstícios quando eles saem de uma dimensão e entram em outra.
A cor especial deste caminho é verde avermelhado tendendo para o mauva. Cinza tingido com vermelho sugere a Esfera das Estrelas605 salpicado com o sangue de Isis (Kali/Marte); a tendência ao mauva ou lavanda mostra o movimento da corrente estelar feminina na direção de Daäth. Segundo Crowley, lavanda é atribuída a Daäth.
583 Vide Michael Bertiaux: Papéis Graduados do 2º Ano do Monastério dos Sete Raios. Vide também Cultos da Sombra capítulo 11.
584 RPVAH = 292, significa ‘uma droga’. APRVH, também 292, e uma metátese de RPVAH, significa ‘um pássaro jovem’.
585 Vide o planisfério de Denderah.
586 Nota do Tradutor: Ave europeia.
587 Remanescentes da hiena e vários objetos de culto encontrados em Tir Iarll (a moderna Glamorgan) sugerem que o Culto se propagou até mesmo na Bretanha.
588 Eros = Libido, e Daäth = Morte.
589 A frase é de Austin Spare.
590 Um amálgama dos nomes de deus Set e Thoth.
591 i.e., as Celas das Qliphoth.
592 A mulher era uma sacerdotisa de Choronzon.
593 Foi sugerido (página 9) que Chozzar era a forma original do nome Choronzon.
594 Assento da Ordem da Sombra, e local da verdadeira Shamballah. Vide Bertiaux, Papéis Graduados, MSR.
595 Saturno é atribuído a Binah.
596 O centro da cruz representa a interseção do plano do ser por aquela outra dimensão que podemos apenas chamar de não-ser.
597 De acordo com Plutarco (De Isis e Osíris, capítulo 49) entre os significados do nome Set-Typhon são “voltar atrás” e “ultrapassar” (i.e. passar ou atravessar).
598 Vide A Gênese Natural (Vol.1, p.300).
599 Binah e Chokmah respectivamente.
600 Uma de suas formas posteriores, quando o Culto alcançou sua fase Voodoo.
601 i.e., a vulva.
602 i.e., após Zamradiel ter sido invocado.
603 O primitivo touro-rugidor que apareceu mais tarde, no Egito, como o sistro nos Mistérios de Isis.
604 Cults, página 171.
605 Chokmah, a zona de poder cósmico do Magus associada com Netuno.
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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