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Texto de Edmundo Pellizari escrito para o Jornal de Umbanda Sagrada.
A Linha do Oriente é parte da herança da Umbanda brasileira. Ela é composta por inúmeras entidades, classificadas em sete falanges e maioritariamente de origem oriental. Apesar disso, muitos espíritos desta Linha podem apresentar-se como caboclos ou pretos velhos.
O Caboclo Timbirí (caboclo japonês) e Pai Jacó (Jacob do Oriente, um preto velho bastante versado na Cabala Hebraica), são os casos mais conhecidos. Hoje em dia, ganha força o culto do Caboclo Pena de Pavão, entidade que trabalha com as forças espirituais divinas de origem indiana.
Mas nem todos os espíritos são orientais no sentido comum da palavra. Esta Linha procurou abrigar as mais diversas entidades, que a princípio não se encaixavam na matriz formadora do brasileiro (índio, português e africano).
A Linha do Oriente foi muito popular de 1950 a 1960, quando as tradições budistas e hindus se firmaram entre o povo brasileiro. Os imigrantes chineses e japoneses, sobretudo, passaram a frequentar a Umbanda e trouxeram seus ancestrais e costumes mágicos.
Antes destas datas, também era comum nesta Linha a presença dos queridos espíritos ciganos, que possuem origem oriental. Mas tamanha foi a simpatia do povo umbandista por estas entidades, que os espíritos criaram uma “Linha” independente de trabalho, com sua própria hierarquia, magia e ensinamentos. Hoje a influência do Povo Cigano cresce cada vez mais dentro da Umbanda.
Existem muitas maneiras de classificar esta Linha e este pequeno artigo, não pretende colocar uma ordem na maneira dos umbandistas estudarem esta vertente de trabalho espiritual. Deixo a palavra final para os mais velhos e sábios, desta belíssima e diversificada religião. Coloco aqui algumas instruções que colhi com adeptos e médiuns afinados com a Linha do Oriente.
Namaste e Salve o Oriente!
CARACTERÍSTICAS DA LINHA DO ORIENTE:
• Lugares preferidos para oferendas: As entidades gostam de colinas descampadas, praias desertas, jardins reservados (mas também recebem oferendas nas matas e santuários ou congás domésticos).
• Cores das velas: Rosa, amarela, azul clara, alaranjada ou branca.
• Bebidas: Suco de morango, suco de abacaxi, água com mel, cerveja e vinho doce branco ou tinto.
• Tabaco: Fumo para cachimbo ou charuto. Também utilizam cigarro de cravo.
• Ervas e Flores: Alfazema, todas as flores que sejam brancas, palmas amarelas, monsenhor branco, monsenhor amarelo.
• Essências: Alfazema, olíbano, benjoim, mirra, sândalo e tâmara.
• Pedras: Citrino, quartzo rutilado, topázio imperial (citrino tornado amarelo por aquecimento) e topázio.
• Dia da semana recomendado para o culto e oferendas semanais: Quinta-feira.
• Lua recomendada (para oferenda mensal): Segundo dia do quarto minguante ou primeiro dia da Lua Cheia.
• Guias ou colares: Colar com cento e oito contas (108), sendo 54 brancas e 54 amarelas. Enfiar sequencialmente uma branca e uma amarela. Fechar com firma branca. As entidades indianas também utilizam o rosário de sândalo ou tulasi de 108 contas (japa mala). Algumas criam suas próprias guias, segundo o mistério que trabalham.
CLASSIFICAÇÃO DA LINHA DO ORIENTE:
Suas Falanges, Espíritos e Chefes:
01 – Falange dos Indianos:
Espíritos de antigos sacerdotes, mestres, yogues e etc. Um de seus mais conhecidos integrantes é Ramatis. Está sob a chefia de Pai Zartu.
02 – Falange dos Árabes e Turcos:
Espíritos de mouros, guerreiros nômades do deserto (tuaregs), sábios marroquinos, etc… A maioria é muçulmana. Uma Legião está composta de rabinos, cabalistas e mestres judeus que ensinam dentro da Umbanda a misteriosa Cabala. Está sob a chefia de Pai Jimbaruê.
03 – Falange dos Chineses, Mongóis e outros Povos do Oriente:
Espíritos de chineses, tibetanos, japoneses, mongóis, etc. Curiosamente, uma Legião está integrada por espíritos de origem esquimó, que trabalham muito bem no desmanche de demandas e feitiços de magia negra. Sob a chefia de Pai Ory do Oriente.
04 – Falange dos Egípcios:
Espíritos de antigos sacerdotes, sacerdotisas e magos de origem egípcia antiga. Sob a chefia de Pai Inhoaraí.
O5 – Falange dos Maias, Toltecas,Astecas e Incas:
Espíritos de xamãs, chefes e guerreiros destes povos. Sob a chefia de Pai Itaraiaci.
06 – Falange dos Europeus:
Não são propriamente do Oriente, mas integram esta Linha que é bastante sincrética. Espíritos de sábios, magos, mestres e velhos guerreiros de origem europeia: romanos, gauleses, ingleses, escandinavos, etc. Sob a chefia do Imperador Marcus I.
07 – Falange dos Médicos e Sábios:
Os espíritos desta Falange são especializados na arte da cura, que é integrada por médicos e terapeutas de diversas origens. Sob a chefia de Pai José de Arimateia.
ALGUNS PONTOS CANTADOS E SUA MAGIA:
Aqui reproduzo alguns Pontos Cantados, mas destaco a sua eficácia mântrica e não somente invocatória. Ou seja, nesta Linha os Pontos podem ser usados como mantras com finalidades específicas, independente de servirem para chamar as entidades para o trabalho de caridade no Centro ou Terreiro. Neste caso, os Pontos devem ser acompanhados das respectivas oferendas (veja abaixo).
PONTO DO POVO HINDU:
• para afastar energias negativas diversas.
Oferenda: velas amarelas – 3, 5 ou 7, flores amarelas ou brancas e incenso de flores (rosa, verbena, etc…), colocados dentro de uma estrela de seis pontas, hexagrama, traçada no chão com pemba amarela.
Ory já vem,
Já vem do oriente
A benção, meu pai,
Proteção para a nossa gente.
A benção, meu pai,
Proteção para a nossa gente.
PONTO DO POVO TURCO:
• para afastar os inimigos pessoais ou da religião umbandista.
Oferenda: velas brancas – 3, 5 ou 7 e charutos fortes, dentro de uma estrela de cinco pontas, pentagrama, traçado no chão com pemba branca. Jamais ofereça bebida alcoólica a este Povo.
Tá fumando tanarim,
Tá tocando maracá.
Meus camaradas, ajudai-me a cantar,
Ai minha gente, flor de orirí
Ai minha gente, flor de orirí.
Em cima da pedra
Meu pai vai passear, orirí.
PONTO DO POVO ESQUIMÓ:
– para afastar os inimigos ocultos e destruir forças maléficas.
Oferenda: velas rosas – 3, 5 ou 7, pedacinhos de peixe defumado em um alguidar, tudo dentro de um círculo traçado no chão com pemba rosa.
Salve o Polo Norte,
Onde tudo tudo é gelado,
Salve Povo Esquimó,
Que vem de Aruanda dar o recado.
Salve a Groenlândia,
Salve Povo Esquimó,
Que conhece a lei de Umbanda.
PONTO DO POVO GAULÊS:
• para as lutas e necessidades diárias.
Oferenda: velas brancas – 3, 5 ou 7, cerveja branca ou vinho tinto, tudo dentro de uma cruz traçada no chão com pemba verde.
Gauleses, Oh gauleses,
Somos guerreiros gauleses.
Gauleses, Oh gauleses
São Miguel está chamando.
Gauleses, Oh gauleses,
Somos guerreiros de Umbanda,
Gauleses, Oh gauleses,
Vamos vencer demanda.
PONTO DO POVO ASTECA:
• para buscar a sabedoria espiritual.
Oferenda: nove velas alaranjadas, milho, fumo picado, tudo dentro de um círculo traçado no chão com pemba branca.
Asteca vem, Asteca vai,
Nosso povo é valente,
Tomba, tomba e não cai…
(cantar nove vezes)
PONTO DO POVO CHINÊS:
• para proteção diante de situações muito graves.
Oferendas: sete velas vermelhas (é a cor preferida deste Povo), arroz cozido sem sal, vinho branco, tudo dentro de um círculo traçado no chão com pemba vermelha.
Os caminhos estão fechados,
Foi meu povo quem fechou,
Saravá Buda e Confúcio,
Saravá meu Pai Xangô.
Saravá Povo Chinês,
Que trabalha direitinho,
Saravá lei de Quimbanda,
Saravá, eu fecho caminho.
Curioso Ponto Cantado do Caboclo Timbirí – onde ele afirma sua origem japonesa.
ANTIGO PONTO DE TIMBIRÍ:
Marinheiro, marinheiro,
olha as costas do mar…
É o japonês, é o japonês !
Olha as costas do mar.
Que vem do Oriente!
***
Revisão final: Ícaro Aron Soares.
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