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Sabendo que a figura de Jesus Cristo consta mesmo entre documentos não-cristãos já no século I e considerando seu impacto na história, somos obrigados a perguntar. A história contada no chamado Novo Testamento é histórica? Trata-se de algo que realmente aconteceu cerca de dois mil anos atrás? Falamos de história ou mitologia? Seriam eles realmente fontes primárias de testemunhas oculares? Em outras palavras, sabendo agora que Jesus realmente existiu, precisamos descobrir se podemos confiar no relato bíblico sobre sua vida e ensinamentos.
Os critérios para definirmos como autênticos um documento histórico é o próprio coração da Historiografia. Para resumir bastante essa questão – os positivistas do XIX entendiam como documento histórico apenas aqueles que eram oficiais e comprovadamente gerados por algum tipo de órgão oficial (governo). A função do historiador era apenas a de levantar esses documentos oficiais e elencar dadas, nomes e supostos fatos. Foi a época da História Factual. Usando este critério podemos confirmar muitos dos fatos dos evangelhos e , o que é mais importante, dele nada podemos negar. Confirmamos a existência dos grandes líderes políticos mencionados no evangelho.
O Palácio e Tumba de Herodes, dão testemunha de sua existência, e sabemos por registros oficiais que ele matou uma de suas dez esposas, três de seus próprios filhos, dois de seus cunhados e diversos de seus servos. Um perfil condizente com o responsável pelo infanticídio descrito no evangelho de Matheus.
A Tumba de Caifás é outro ótimo exemplo, pois até 1990 não tinhamos nenhuma prova de que este personagem, tão relevante na história contada pelo Novo Testamento, realmente existiu. neste ano foi encontrada em Israel uma tumba ricamente decorada, como cabia a uma família importante com seguinte inscrição: “José filho de Caifás”. Para corroborar esta descoberta Flavio Josefo (visto acima) também identifica “José Caifás” como Sumo Sacerdote Fariseu entre os anos 18 e 37 d.c.
Estas é outras descobertas arqueológicas dão credibilidade ao relato bíblico, mas a História Factual apresenta um problema em seus critérios, que passaram a ser criticados durante pela chamada Escola dos Annales dos anos 1920 em diante. A principal crítica é que a História produzida pelos positivistas acabava obviamente tendo como lentes a oficialidade dos órgãos produtores dos documentos, gerando assim uma História dos “vencedores”. Com o movimento dos Annales a noção de documento histórico se estendeu – chegando até o que hoje chamamos de História das Mentalidades. Essa apresenta uma busca mais abrangente do que pode ser chamado de documento histórico. Isto é especialmente relevante para o caso dos evangelhos porque ele não é de forma alguma um relatório oficial do governo, mas o relato feito por homens comuns da época, e a escola da História Factual só poderia corroborar os evangelhos de forma indireta.
Existem três condições para saber se um documento, seja ele uma carta de amor ou uma nota fiscal é genuíno retrato de seu tempo. Ele deve ser:
- Autêntico – deve ser escrito na época e pelo autor que se atribui;
- Íntegro – deve ter chego aos dias de hoje sem alterações substanciais.
- Verídico – deve ser honesto e não querer enganar seus leitores;
Vejamos se os evangelhos passam nesta prova:
Autenticidade
Muito dificilmente um autor posterior aquele momento histórico poderia ter feito as narrativas dos evangelhos. O evangelho mais antigo, de Marcos foi escrito por volta de 70 dc e o mais recente de João em torno de 95dc. Note que em 70dc. Jerusalém foi destruída e a nação judaica foi desterrada em massa. Qualquer escritor posterior não poderia ter feito uma descrição tão boa dos lugares, geografias e detalhes culturais que só seriam desterrados séculos depois. João 5:1-15 por exemplo fala de uma piscina pública de Betesda dando sua localização precisa e sua descrição como sendo de 5 partições. Ora, essa piscina só foi encontrada em 1872 nas escavações do arqueólogo alemão Conrad Schick em Jerusalem, correspondendo exatamente com a descrição e localização bíblica. O mesmo aconteceu com a piscina de Siloam citada em João 9:7 e descoberta em 1897. Este lugares eram certamente conhecidos pelos habitantes da cidade e só foram redescobertos séculos depois.
Outro caso que não pode ser esquecido é o da cidade de Nazaré. Por muito tempo os céticos alegaram que esta cidade não existia nos tempos de Jesus e que portanto todo evangelho era falso. O consenso era que a Nazaré que conhecemos hoje foi fundada pelo Imperador Constantino no século IV e tornou-se então um centro de peregrinação. De fato, a primeira menção histórica a Nazaré tirando os evangelhos só apareceu no século VII. Contudo o século XX mudou esta história com a descoberta de uma lista de relocação encontrada em Jerusalem. Com a destruição do templo em 70 dc muitas famílias de fariseus foram relocadas para outras localidades. E destas 24 famílias uma foi registrada como oficialmente enviada para… Nazaré.
Estes e outros exemplo que poderiam ser citados são testemunhos de que os evangelhos foram escritos na época e na região em que alegam ter sido escritos “No décimo quinto ano do reinado de César Tibério”. Mas além destes temos ainda a análise linguística que revelam diversos hebraismos, que são formas de expressões muito próprias dos hebreus daquela época e que transparecem no grego vulgar no qual os evangelhos foram escritos.
Além disso as cópias mais antigas que temos dos evangelhos nos apontam todos para o oriente médio do século primeiro. Se o comparamos essas datações com as que temos de outras figuras da antiguidade podemos dizer que temos muito mais certeza da historicidade de Jesus do que a de Júlio César. Compare os personagens abaixo com suas respectivas documentações:
Personagem Cópia documental mais antiga que o mencione
Virgílio 500 anos depois
Horácio 900 anos depois
Júlio César 1100 anos depois
Platão 1400 anos depois
Homero 1900 anos depois
Jesus Cristo 300 anos depois (Códice Alexandrino)
200 anos depois (Códice Sinaítico)
130 anos depois (Papiro de Chester Beatty)
100 anos depois (Papiro de Bodmer
25 anos depois (Fragmento de Rylands)
Integridade
Se não podemos duvidar que os evangelhos foram escritos no tempo e espaço que dizem ter sido, talvez possamos duvidar que seu texto tenha chegado até nos sem distorções. Em outras palavras, sendo autênticos questionamos se são íntegros. Afinal sendo tão antigos talvez os copistas fizeram omissões e interpolações que comprometessem a historicidade dos evangelhos.
O problema deste tipo de ataque é que o número de cópias dos evangelhos sempre foi muito abundante, mesmo muito antes da invenção da imprensa. Cristãos desde o século I fizeram suas cópias para usarem em seu culto, meditação e liturgia. Assim temos hoje milhares de transcrições antiquíssimas dos evangelhos. São cerca de 6 mil manuscritos gregos e mais de 40 mil traduções para o latim, copta, armênio, e outras línguas da época. Some a isso mais 1500 lecionários que são citações do evangelho organizada por dias para serem estudadas em um ano e as citações dos evangelhos em outros manuscritos antigos.
Com tantas e tantas cópias o evangelho que temos hoje esta em uma posição privilegiada para garantir sua integridade, pois é extremante fácil desmascarar o copista que alterar o texto. O desvio da norma de fato apareceu ao longo dos séculos e sempre foram detectados diante do testemunho dos copistas fiéis que são a maioria.
Ademais a integridade é garantida pelo processo histórico de descobrimento de manuscritos mais antigos. No século XVI houve uma profussão de descobertas de cânones do século VIII, que eram os mais antigos conhecidos até então. Séculos depois foram descobertas novas cópias dos séculos V e IV que concordavam com o que já se conhecia até então. No século XIX em diante foram encontrados, principalmente no Egito, papiros do século IV e II com os mesmíssimos textos.
Veracidade
Hoje estamos certos que os evangelhos foram escritos pelos cristãos no século I, não podemais haver dúvida quanto a sua autenticidade e a espantosa coincidência textual de milhares de manuscritos espalhados por mais de dois mil anos de história é uma garantia sem igual para a integridade. Desta forma a maioria dos argumentos contra a história de Cristo do século XIX para frente tem sido contra a veracidade, honestidade se quiser, de seus autores.
Um argumento pela veracidade é o fato dos evangelistas não se calarem diante de seus próprios defeitos e de fatos embaraçosos para os cristãos. Estas passagens não são sequer suavizadas. A traição de Judas, discipulo que foi escolhido pessoalmente por Jesus. O abandono por parte dos apóstolos na hora da crucificação. A negação e reprimendas que Pedro tomou, considerando que Pedro era o mestre de Mateus e mesmo a exclamação na cruz “”Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” A única explicação para a presença destes fatos vergonhosos é que eles realmente ocorreram. Se um evangelista os omiti-se ou deturpa-se ele sabia que seria denunciado pelos seus contemporâneos. Todos estes fatos são embaraçosos e a tentação de omití-los foi sem dúvida maior do que o desejo de escreve-los. Contudo estão lá. Este ponto deveria bastar para lhes darmos ouvidos e garantir sua veracidade, mas existem outros.Não podemos esquecer que os cristãos do primeiro século não deixaram apenas o testemunho de sua tinta, mas também de seu sangue. Você já ouviu falar de alguém que deu sua própria vida por uma mentira? Esse pensamento levou Pascal a dizer: “Creio com mais facilidade nas histórias cujas testemunhas se deixaram martirizar em comprovação de seu testemunho”. É inegável que os milhares de martírios deste período, inclusive os de Mateus e Marcos atestam a veracidade da história, ou no mínimo a fé intensa nesta verdade.
Objetividade
Tudo isso visto resta apenas o argumento da insanidade na tentativa de invalidar a mensagem do evangelho. Os evangelistas realmente escreveram de boa fé, e sua mensagem chegou até nos sem erro, mas eles estavam delirando. De alguma forma interpretaram mal os fatos ou estavam enganados. Todavia assim fosse, teríamos que considerar que tratou-se de uma das maiores ilusões coletivas da história da humanidade pois os autores dos evangelhos não estavam sozinhos, mas acompanhados dos milhares de cristãos e em especial mártires do século primeiro que deixaram seu próprios testemunhos na história.
Já é difícil acreditar que duas pessoas (Mateus e João) compartilhassem alucinações idênticas com tantos detalhes quanto mais aceitar que cinco mil pessoas tiveram a mesma alucinação ao mesmo tempo e cressem nela a ponto de darem suas próprias vidas para não negarem essa fé. Ademais não teria sido uma única grande alucinação mas diversas alucinações coletivas espalhadas pelos 3 anos e meio que compõem o ministério de Jesus. Mais do que uma impossibilidade estatística, isto seria por si só um outro milagre a ser explicado.
Conclusão
Assim podemos dizer com segurança que os evangelhos são autênticos, íntegros, honestos e falaram de coisas que realmente aconteceram. De certo não são coisas comuns e por isso mesmo demandam uma reflexão profunda. Um amigo lhe telefona. Você sabe que é ele. Você sabe que não há ruído na mensagem. Você sabe que ele é honesto e não está delirando (outros três amigos lhe contaram a mesma coisa.). Sua opção é ouvir a mensagem e enfrentar o impacto dela na sua vida ou simplesmente desligar o telefone e torcer para não ser algo muito importante.
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