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Temos tido mais do que o suficiente sobre fatos externos, mais que algum erudito, em algum momento, possa ser capaz de juntar em um todo, o suficiente para manter todos os que lidam com conhecimento ocupados pelo resto de seus dias. Mas, sobre os fatos internos – aquilo que acontece no ponto onde nascem as forças do nosso destino – nós ainda estamos totalmente ignorantes. (W. Barret)
Atualmente, estamos diante de uma mudança na visão científica da ecologia. O ambiente urbano e a interferência do ser humano estão começando a entrar na equação e não mais estão sendo tratados como se fossem estruturas complexas a serem ignoradas ou repudiadas. Já podemos encontrar (principalmente nos países do dito Primeiro Mundo) cursos de pós-graduação em Ecologia Urbana e Ecologia Humana.
Por isso, é preciso enfatizar que a saída do homem (em termos gerais) não parece mais se tratar de tentar voltar a um estado natural e primitivo, de coletores ou caçadores da floresta. É muito comum ainda, uma postura romântica e saudosista em relação ao meio ambiente. Os rios da cidade são importantes, o verde da cidade é importante, sem dúvida, mas a proposta vai muito além disto. A sociedade e cultura evoluíram demais e é dentro do padrão de realidade atual que devemos buscar as respostas.
Se tentássemos imaginar um ambiente urbano rico em vegetação, cursos de água e animais silvestres, ainda assim, restaria a pergunta: o ser humano seria capaz de se relacionar com o meio ambiente e consigo mesmo de forma mais harmônica? Haveria um salto em termos de consciência, atitudes, conhecimento, capacidades, emocionalidade? Haveria alguma mudança efetiva na relação entre os habitantes da cidade, no sentido de aumentar o grau de sensibilidade frente às necessidades e direitos do outro e ao mesmo tempo, uma percepção e maior daquilo que é o dever de cada um?
Sem dúvida, estas perguntas envolvem muitas áreas para serem respondidas de forma ampla e adequada. Mas ainda assim, qual o tamanho da “fatia” que envolve a relação com o meio ambiente?
Os povos indígenas têm um enorme arsenal de informação sobre a natureza, o homem e a relação equilibrada entre ambos. Desde suas crenças acerca do mundo espiritual até seu conhecimento sobre as florestas, agricultura e técnicas de cura, essas sociedades representam uma oportunidade para novas interpretações sobre o mundo e sobre nós mesmos. (Congresso dos EUA)
Os povos antigos podem nos ajudar a compreender muitas coisas. Apesar da realidade atual ter mudado tanto e em tão pouco tempo, ainda assim, alguns elementos essenciais permanecem os mesmos, e se expressam fortemente. Se foram ou não empurrados para o inconsciente, isto abre outra discussão, que será retomada adiante.
O xamanismo pode ser categorizado como a tentativa de situar o indivíduo para além da realidade consensual com a qual a maioria das pessoas está identificada e, deste ponto, sua relação com o ambiente e com os outros seres é, conseqüentemente, mais harmônica e adequada..
O xamanismo está baseado em métodos e técnicas bem precisas. Não se trata portanto, de uma religião com um conjunto fixo de dogmas. Mas, o xamanismo tem como objetivo básico gerar indivíduos que estejam a “serviço”. Ele não lida com jogos de poder e vantagens de qualquer espécie, sejam políticas, monetárias, sexuais, etc.. Isso não acontece devido a um aspecto moralista ou que de alguma forma é imposto ao xamã. Ao contrário, é comum encontrarmos citações onde o xamã se mostra como alguém esperto e que pode ludibriar as pessoas. Ou seja, as regras que norteiam sua conduta não nascem de fora, mas sim, de uma percepção acurada da realidade e seguem um padrão ético determinado por um tipo de sabedoria superior e não por um conjunto de acordos vantajosos que normalmente norteia o modo de agir da maioria dos homens. É bom esclarecer, que falamos aqui do real xamanismo. Casos de embuste estão presentes em todos os campos.
Aprendizado
Você é um Deus?”, perguntaram ao Buda. “Não”, ele respondeu.
“Você então é um anjo?” “Não.”
“Um santo?” “Não.”
“Então o que você é?”
O Buda respondeu: “Eu estou desperto.”
As técnicas que levam o xamã a atingir o conhecimento que lhe é característico, passam necessariamente através da experiência pessoal, e este conhecimento diz respeito a si mesmo, ao homem e a relação deste com a terra. Essas tecnologias formativas envolvem rituais, iniciações, sonhos, cânticos, “jornadas” feitas através de técnicas sofisticadas de visualização e imaginação ativa, etc. Elas conduzem à uma jornada em direção ao mundo interior em busca de sua origem ou raiz. Começam por um nível pessoal, depois social, tribal e vão em direção aquilo que é chamado de “mundo subterrâneo”. Essa dimensão tem uma influência transformadora no desenvolvimento do indivíduo, pois utiliza imagens universais, acerca da origem e destino do homem, o que termina por gerar um conhecimento e emocionalidade bastante específicos e o desenvolvimento de capacidades especiais.
Alguns aspectos básicos de seu treinamento podem ser aqui apresentados de forma resumida. Esse treinamento apresenta duas dimensões: uma dela é pessoal, onde o xamã desenvolve capacidades e qualidades e a outra é “relacional”, ou seja, envolve o ambiente onde ele vive, seja a floresta ou a cidade.
Inicialmente, o xamã é levado a desenvolver uma atitude básica que o diferencia fortemente do meio social: ele é capaz de exercer e manter uma maior capacidade de atenção. Assim sendo, ele consegue obter informações do ambiente que são mais objetivas, ou dizendo de outra forma, menos poluídas por seus aspectos pessoais internos. É a partir dessa apreensão limpa e intensa da realidade que ele começa o seu aprendizado. Ele pode, observando e interagindo com o meio, obter conhecimento. Ou seja, ele é treinado a buscar no ambiente uma atuação mais interativa e isso se torna possível graças ao seu poder de atenção. O desenvolvimento da capacidade de atenção e observação voltadas para si permite ao xamã ter consciência de seus limites que o separam da realidade, e também de seus potenciais, que devem ser despertados para que ele possa interagir de forma adequada com o meio. Por outro lado, esta atenção, quando voltada para o ambiente, permite ao praticante o uma percepção da vitalidade aparente e do conjunto de forças e símbolos sutis que atuam de forma consciente ou inconsciente sobre os indivíduos e sobre a própria terra.
O segundo componente apoia-se num tipo de sensibilidade, que desenvolve-se a partir de uma atitude que poderíamos chamar de “identificação”. Os xamãs possuem uma maior capacidade de identificação com a meio ambiente e não se distraem facilmente com seus próprios conteúdos internos ou com eventos socialmente impostos ou valorizados. Geralmente, ele é treinado a buscar estabelecer relações com elementos que transcendem a realidade ordinária com a qual a humanidade normalmente se identifica, que na maioria das vezes, resume-se em constructos mentais formados internamente.
A partir disso, numa escala crescente, ele é direcionado a sensibilizar-se a blocos de eventos, onde existe a busca por apreender totalidades ou padrões mais globais e unitivos. Disso nascem as histórias onde o xamã é descrito como aquele que consegue prever os acontecimentos por causa do canto de um determinado pássaro, ou que é capaz de fazer chover, etc. O pressuposto aqui é de que o xamã mantenha uma postura onde a relação com a realidade, seja sempre nova. Ele relaciona-se com o evento que está ocorrendo no momento presente e não com uma memória formada anteriormente.
O passo seguinte consiste em aprender a entrar em contato com a natureza das coisas ou dos eventos, ou de outra forma, com a sua realidade essencial. Isso somente é possível se a pessoa em treinamento é capaz de se “transformar” no objeto ou assumir a sua característica de “ser”. Neste campo surge o trabalho já bem conhecido com o “animal de poder”, que não necessariamente é um animal “real”, mas sim um estado ao qual o xamã tem acesso e capacidade de expressar e controlar.
Desse treinamento básico, associado com muitas outras técnicas paralelas, surge aos poucos, a capacidade de entrar em contato com algo que transcende os próprios elementos da realidade, mas que é a causa deles. Disso nasce um conhecimento objetivo e sofisticado que envolve as relações e modo de atuação, as causas e conseqüências dos eventos da realidade, como se tudo estivesse unido em uma totalidade e cada ato fizesse toda essa “totalidade” modificar-se delicadamente. Disso nasce também a capacidade de estar a “serviço”. Ela repousa nesse conhecimento e apreensão sofisticada da função e da necessidade de cada pequeno elemento da realidade.
A emocionalidade é um fator fundamental e também é treinada e desenvolvida ao longo do processo, em vários níveis de sofisticação. Ela deixa de ser reativa e passa a ser ativamente gerada, com a intenção de ampliar a qualidade do contato com o ambiente. Além disso, as emoções servem como um tipo de “combustível” para que o praticante possa entrar em contato de forma harmônica, com as reais necessidades do momento e também, seja capaz e agir de forma eficiente. Elas são também, em grande parte, portas de acesso aos níveis inconscientes, tendo um papel fundamental no trabalho que envolve os “mundos subterrâneos”. A emoção se associa ao conhecimento acima referido, conferindo a ele uma coloratura onde não mais há divisão entre ambos. Podemos dizer que nesse ponto o xamã atinge aquilo que dentro do Sufismo é chamado do “conhecimento do coração”. Não é um conhecimento intelectual, mas sim uma qualidade de ser e agir, que permanece totalmente integrada com os processos.
As sensações, pensamentos, emoções e decisões de um indivíduo com este grau de consciência levam em conta informações de vários níveis, que são englobadas em totalidades crescentes e é disso que resulta a capacidade de interagir consigo mesmo e com o meio de forma responsável, respeitosa e harmônica.
Os tópicos acima consistem em apenas uma pequena pincelada sobre um assunto que é vasto demais para ser detalhado aqui. Mas, em linhas gerais, eles conduzem nossos olhos para uma outra direção. E essa direção é para dentro de cada um de nós, no sentido de nos perguntarmos: quais são as forças que puxam os fios de nossa existência, crença, atitude, emocionalidade e que na maior parte das vezes, nos fazem passar a vida toda como nada mais que marionetes? Será que algum de nós alguma vez teve um vislumbre do que é a realidade, do significado que existe por trás da relação que temos com o meio e com os outros seres que nos cercam? O quanto estamos fazendo no sentido de sermos capazes de atingirmos uma qualidade maior em temos de nossa compreensão e atitude para com o ambiente que nos cerca?
Atuação
Isto nós sabemos: todas as coisas estão conectadas como o sangue que une uma família. O que recair sobre a terra, recairá sobre os filhos da terra. O homem não tece a teia da vida. Ele é apenas um de seus fios. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo. (Índio norte-americano).
O xamã, originalmente, busca ajudar a realidade como um todo, mas num sentido que transcende a própria realidade comum. Ele está a serviço do Grande Espirito ou da Mãe Natureza e, como conseqüência disto, ele pode interferir na evolução de sua comunidade e de seu meio ambiente.
O caráter mais comum de sua atuação geralmente relaciona-se com o aspecto terapêutico, onde a cura de doenças físicas ou psíquicas é conseguida através de vários métodos bastante bem descritos na bibliografia. Porém, a cura não se restringe ao aspecto individual. A cura pode voltar-se à toda a comunidade, onde por exemplo, o xamã sonha com eventos do futuro ou com elementos de risco que podem envolver mudanças na hierarquia da tribo ou até mesmo na sua localização. Pode também envolver uma interferência na geografia do lugar, por exemplo, a criação de um tótem em um ponto determinado, a alteração de um curso de água, a mudança em relação aos pontos cardeais, o aterramento de pedras grandes ou pequenas, devidamente trabalhadas, em pontos específicos, etc. Toda essa atuação consciente sobre a paisagem lida com fluxos de energia telúrica de diferentes intensidade e qualidade, e que afetam toda a comunidade. O xamã é capaz de “perceber” essas correntes energéticas e atuar no sentido de harmonizá-las. Disto nasce o que poderíamos chamar de “mitologia da paisagem” onde alguns pontos especiais (comumente chamados de pontos de poder) passam a ser reverenciados ou protegidos pois são pontos que mantém a “saúde” da tribo e do lugar.
Mas, o aspecto da cura pode ir ainda mais além, quando adentra o campo das deidades e seus mitos, muitas destas acessadas pelo xamã e passadas para a tribo através de cantos, estórias, etc. Esses mitos e deuses plasmam o caráter da tribo, desenvolvem comportamentos e emoções que são frutos de um conhecimento superior, “incorporado” na deidade. O próprio aspecto do desenvolvimento espiritual pode ser aqui retomado e redirecionado, seja em termos da comunidade, ou de indivíduos especialmente selecionados.
Existe, porém, alguns conceitos básicos e primordiais e um deles é o conceito da terra, ou do contato com a terra. O canto com tambor, por exemplo, pode ser considerado uma forma bastante simples de contato. Nas formas mais sofisticadas busca-se o contato com a origem ou com a essência dos fenômenos. O termo “terra” pode ser correlacionado com o próprio universo; não é apenas terra em um sentido “mineral” ou relativo aos povos indígenas ou aos animais selvagens ou à floresta e rios. Engloba tudo isso, mas é mais que isso.
Partindo desse ponto básico podemos tentar especular mais diretamente o que poderia ser um xamanismo voltado ao ambiente urbano. Seus objetivos e premissas básicas seriam as mesmas do xamanismo tradicional, porém a formação do xamã e seu modo de atuação seriam algo diferenciados, pelo menos no aspecto externo ou aparente.
Poderíamos dizer que o xamanismo urbano consiste no desenvolvimento de uma sensibilidade e de certos potenciais que possibilitem ao ser humano entrar em hamonia com as forças que orientam a vida urbana, com o intuito de obter uma maior qualidade de vida e um aior grau de consciência, tanto em nível pessoal com em nível natural urbano, ou seja, em nível das informações conscientes e inconscientes da cidade.
Inicialmente, a tecnologia do xamanismo urbano é também “natural”. Todas as cidades são construídas a partir de pontos de poder e se desenvolvem segundo elementos estruturais (ruas, caminhos, monumentos) de forma a manter uma relação harmônica com o todo. Cidades como São Paulo começaram assim e depois perderam essa capacidade por causa de seu crescimento aleatório, exacerbado e em muitos aspectos, totalmente desprovido de conhecimento. Não podemos omitir aqui que esta cidade, especificamente, foi fundada por jesuítas que segundo muitos estudiosos, possuíam algum conhecimento em mapear e utilizar as energias telúricas.
Basicamente, o xamanismo busca a cura da terra, da cidade e do homem da cidade. Curando a cidade o homem pode voltar a viver em um ambiente saudável e harmonioso. Curando o homem a cidade pode viver agradecida dando ao homem seu lar e sustento e este, numa relação de amor e respeito, pode conferir à ela as qualidades realmente humanas, que se refletirão desde a sua limpeza, passando pela relação entre seus habitantes e indo até sua administração que então poderá cumprir seu papel de servir ao homem e ao ambiente social, e não a interesses pessoais, políticos e econômicos de elites.
Portanto, o que um xamanismo urbano propõe é um restabelecimento de uma relação saudável e equilibrada dentro de um contexto urbano. Considerando que a cidade é a nossa Terra, onde vivemos, nos relacionamos socialmente, e tiramos, através do trabalho o sustento, é à ela que devemos nosso amor e respeito, é nela que devemos colocar nossa atenção e empenho para restabelecer o equilíbrio entre homem e ambiente.
O xamanismo urbano seria uma forma de trabalho que visaria, basicamente, três formas de atuação: a) identificar os “pontos de poder” da cidade através de um levantamento que, a princípio, baseia-se na história e geografia e depois, num segundo momento, envolve verificações in loco através de alguns trabalhos práticos; b) restaurar e equilibrar os canais de energia ou as “Linhas Ley”, termo bastante antigo e bem documentado na literatura; esta harmonização já poderia começar a gerar um campo energético de maior equilíbrio que provocaria alterações em alguns aspectos básicos da relação do homem com o meio ambiente. c) a partir disso, o trabalho se sofistica e pode envolver, por exemplo, a interferência em pontos específicos, a geração de um padrão energético geométrico, o estabelecimento de conexões ou ancoramentos de energias, normalmente feito através de imagens geradas e trabalhadas de forma consistente e que poderia culminar na geração consciente de um arquétipo ou “deus protetor” que passaria então, a direcionar e manter o processo.
Tudo isso depende da qualidade, capacidade e formação das pessoas que se propõem a interferir. Não devemos esquecer da afirmação colocada acima de que o xamã está a serviço de uma força de qualidade superior e não a serviço de seu ego ou desejos pessoais. Discernir isso já é, em muitos casos, quase impossível para a maioria das pessoas.
Um caso Típico
Basicamente, toda a cidade nasce a partir da relação entre dois elementos: a geografia, ou seja, o relevo, rios, áreas férteis e de fácil acesso e a interferência humana que plasma lugares para onde convergem e se estabelecem os núcleos humanos.
São Paulo, assim como muitas outras grandes cidades foram fundadas de modo muito especial. Foram definidas como cidades que teriam um destaque e importância, por isso a sua localização, assim como a de seu marco inicial e as direções de seu crescimento foram definidos após um estudo cuidadoso. Como dito acima, sabemos que a ordem dos jesuítas possuía conhecimento e sensibilidade para estas constatações.
Porém após seu crescimento inicial, a velocidade e a direção de seu crescimento saiu do controle e adquiriu uma forma mais caótica. Fato que não ocorreu em certas cidades Européias como Paris, Roma e outras que obedeceram um plano diretor.
Como dissemos acima, a terra, da mesma forma que o corpo humano, possui fluxos de energia em toda a sua extensão. Tais energias, geralmente têm origem interna; nascem basicamente do movimento do magma e das rochas no interior do planeta. Porém, essa energia aflora em alguns pontos e flui por canais e linhas condutoras. Estes pontos e linhas podem existir de forma ativa ou em estado de latência, possíveis de serem ativados. Além dos fatores naturais, sua existência é devida também à interferências do homem sobre a terra, seja de forma consciente ou não.
Em uma cidade estes pontos e linhas encontram-se muitas vezes ativados por construções, igrejas, monumentos, avenidas e etc. A construção de uma igreja, por exemplo pode ser feita a partir de um conhecimento prévio da qualidade energética do lugar. Um ponto de poder pode também ser ativado sem um conhecimento prévio, mas por um tipo de sensação intuitiva de que “aquele lugar parece ser o ideal”. Ou pode ocorrer também que linhas e pontos de poder possam ser estabelecidos a partir de um fluxo energético constante desencadeado pela passagem ou visitação de um número muito grande de pessoas. E, finalmente, podem ser também ativados consciente e voluntariamente por pessoas sensibilizadas e treinadas na arte do xamanismo.
Apenas como exemplo, poderíamos citar alguns pontos chaves dentro da evolução urbana e histórica da cidade de São Paulo. Destacam-se, principalmente as igrejas antigas e alguns monumentos específicos. Estes seriam o Pátio do Colégio, a Igreja do Largo São Francisco, a do Largo São Bento e a do Largo Paissandu. Dos monumentos, um dos que mais chama a atenção é o que existe no Largo da Memória. Este tópico será melhor detalhado em um outro artigo.
Associado ao caráter geográfico e histórico da cidade está o próprio ser humano, pois é ele que molda ou atua sobre o ambiente. Em termos humanos ou sociais vemos que São Paulo enfrenta problemas muito acentuados, característicos de uma cidade grande demais e que atrai cada vez mais pessoas de todo o país.
Dentro da crescente expansão populacional que vivemos e das dificuldades econômicas que a população passa podemos observar alguns problemas básicos: a ansiedade e tensão constantes, o trânsito caótico, a pobreza, a violência, as crianças ignoradas pelo sistema que consomem e traficam drogas, a degeneração de lugares históricos, a banalização e comercialização da sexualidade, a poluição auditiva que mostra claramente o grau de insensibilidade dos habitantes, a poluição visual causada por uma quantidade infinita de propaganda inútil e não conscientizada, e por hábitos grosseiros como o de pichar a cidade inteira, sem nenhum critério, escondendo lugares de beleza arquitetônica e lugares históricos, etc. Por mais que tentássemos mapear a relação do homem urbano comum com uma cidade como São Paulo, sempre deixaríamos escapar uma infinidade de aspectos. Por isso, a discussão deve necessariamente, ser conduzida para uma visão mais globalizante.
A partir do conhecimento obtido por uma análise global, pode-se atingir uma “visão diagnóstica” da cidade, que resulta em um “mapa” que engloba os aspectos físico, emocional, psicológico e espiritual. Dessa forma, podem ser estabelecidos quais os aspectos a ser trabalhados de modo localizado ou global dentro da cidade. A atuação seja sobre o lugar ou sobre a povo conduz aos mesmos resultados, pois ambos estão interligados.
Qual é o sonho?
Abandonamos apenas os aspectos verbais, e não os fatos psíquicos responsáveis pelo nascimento dos deuses… Os deuses tornaram-se doenças. Zeus não mais governa o Olimpo, mas o plexo solar e produz espécimes curiosos que visitam o consultório médico; também perturba os miolos dos políticos que desencadeiam pelo mundo verdadeiras epidemias. (C. G. Jung)
Se as necessidades básicas do ser humano forem devidamente mapeadas, muitas pessoas se surpreenderiam em perceber que elas esbarram em algo que poderíamos chamar de “verdades absolutas” ou mais vulgarmente, de “necessidades essenciais”. Ainda dizem respeito aos valores humanos básicos, tais como, o belo, a dignidade, o valor real e único de cada ser humano, o sentido de pertencer a um lugar, ou a busca pela compleitude, a sensação de fazer parte de um momento histórico único que nunca mais se repetirá e ao mesmo tempo, pertencer a uma realidade que está muito além desta e ter a liberdade e as oportunidades de buscar por ela da forma que lhe parecer melhor, ou seja, a busca pelo sagrado ou transcendente, etc.
Estes sentimentos não desapareceram mas parecem ter sido empurrados para o inconsciente, pois não mais são valorizados pelo meio social. Quando não mais possuem liberdade para serem vividos, esses sentimentos ou necessidades, formam um tipo de campo de informação não processada. Atuam como a “sombra” da cidade e de seus habitantes. Enquanto não forem reconhecidos e permitidos, eles se manifestam através das “doenças” mais variadas, desde doenças físicas até violência, desemprego, racismo, sujeira, depredação, miséria, fome, corrupção, superpopulação, alterações climáticas exacerbadas, etc..
O xamã é aquele que é capaz de mapear esse mundo inconsciente e traze-lo à superfície. Ele pode transformar esse mundo inconsciente num mundo “sonhado” ou desejado pela comunidade. Pois, apesar das dificuldades apontadas, esta ainda é a “casa” de cada um de nós e estamos unidos ao lugar onde nascemos por laços mais fortes do que imaginamos. Por isso, caberia a cada um dos habitantes a responsabilidade de tornar possível aquilo que seria o “sonho” em termos do ambiente em que vivem.
Em um primeiro momento é preciso que a maioria das pessoas se torne mais sensível e “unida” ao lugar onde vive. Esta atitude poderia iniciar um canal pelo qual, o “mundo das idéias” poderá se expressar. Idéias e atitudes emocionais que surgirão a partir de uma constatação das necessidades e realidades objetivas, de cada um e do “outro”. A invocação e canalização das idéias, necessidades, posturas emocionais e atitudes que estejam relacionadas diretamente ao “mundo das idéias” poderá possibilitar a atuação de forças transformadoras na realidade.
O fluxo dessas forças ocorrerá de várias formas. Passa pelas linhas de energia da terra, por seus pontos de entrada e saída e canais de fluxo. Envolve também a qualidade das relações inter-pessoais, como numa espécie de contágio, através de conversas, atitudes e pela própria presença de pessoas que possuem uma qualidade especial pois estão envolvidas no trabalho. Ou seja, passa pelas entranhas da terra e pelo inconsciente coletivo; povoará os sonhos, fantasias, e desejos da alma humana até que se torne realidade.
Passa também através dos canais por onde fluem as informações: mídia, telefone, Internet, pensamentos, etc. A tecnologia ganha grande importância, pois se desejamos estar em harmonia com a terra temos que estar familiarizados com a sociedade industrial e informatizada que vivemos.
Cabe ressaltar que só agora graças a tecnologia, estamos ligados à todos os povos do mundo a toda a cultura do mundo de uma forma que nunca antes havia acontecido, e que isto pode significar uma união e simbiose em uma forma de relação com o planeta que venha a superar e transcender a qualquer forma mais particular ou unilateral de relação.
Portanto não cabe aqui escolher um ou outro caminho mas buscar o caminho atual e do futuro que una os povos, indo para além das formas, que externamente são superfícies diferenciadas por épocas e lugares diferentes, mas internamente, são a expressão de algo que é essencial a todo o ser humano e comum a qualquer época e lugar.
Nokhooja
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