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Capítulo 1:
1. Era o décimo segundo ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Assíria, em Nínive, a capital. Nesse tempo, Arfaxad reinava sobre os medos em Ecbátana.
2. Arfaxad cercou Ecbátana com muralhas feitas com pedras de um metro e meio de largura por três de comprimento. A altura da muralha era de trinta e cinco metros, e a largura era de vinte e cinco metros.
3. Sobre as portas, levantou torres com cinquenta metros de altura e trinta metros de largura na base.
4. Fez as portas com trinta e cinco metros de altura e vinte de largura, para que os soldados do seu exército pudessem sair, e a infantaria fazer suas evoluções.
5. Por esse tempo, o rei Nabucodonosor guerreou contra o rei Arfaxad na grande planície, que se encontra no território de Ragau.
6. Os habitantes da montanha, todos os habitantes das regiões do Eufrates, do Tigre, do Hidaspes e os habitantes das planícies de Arioc, rei dos elimeus, aliaram-se a Nabucodonosor. E assim, muitas nações fizeram aliança para guerrear contra os filhos de Queleud.
7. Nabucodonosor, rei da Assíria, enviou embaixadores para a Pérsia e nações do Ocidente, para a Cilícia, Damasco, Líbano e Antilíbano, para os habitantes do litoral
8. e os povos do Carmelo, de Galaad, da Alta-Galileia, da grande planície de Esdrelon,
9. para os habitantes de Samaria e suas cidades, para os que habitam além do Jordão até Jerusalém, em Batana, Quelus, Cades, o rio do Egito, Táfnis, Ramsés e toda a terra de Gessen, 10. até chegar além de Tânis e de Mênfis, e a todos os egípcios, até a fronteira da Etiópia.
11. Todos, porém, desprezaram o convite de Nabucodonosor, rei da Assíria, e não se aliaram com ele. Não respeitavam Nabucodonosor, porque achavam que ele era pessoa sem poder. Mandaram de volta os embaixadores de mãos vazias e humilhados.
12. Nabucodonosor ficou furioso com esses países e jurou, por seu trono e seu reino, vingar-se de todos os territórios da Cilícia, Damasco e Síria, e passar a fio de espada todos os moabitas, amonitas, judeus e egípcios, até chegar à fronteira dos dois mares.
13. No décimo sétimo ano, Nabucodonosor guerreou contra o rei Arfaxad, venceu-o no combate e derrotou todo o exército, cavalaria e carros dele.
14. Tomou posse de suas cidades e, chegando até Ecbátana, tomou suas torres, saqueou suas ruas e transformou sua beleza em humilhação.
15. Depois prendeu Arfaxad nas montanhas de Ragau, o atravessou com suas lanças e o eliminou para sempre.
16. Em seguida, voltou para Nínive com o seu exército, uma imensa multidão de soldados. Ficaram despreocupados, descansando e banqueteando-se por cento e vinte dias.
Capítulo 2:
1. No dia vinte e dois do primeiro mês do ano décimo oitavo, no palácio de Nabucodonosor, rei da Assíria, deliberou-se sobre a vingança contra toda a terra, conforme o rei havia falado.
2. Então ele convocou todos os ministros e conselheiros, expôs seu plano secreto e decretou a destruição de todos esses territórios. 3. Decidiram exterminar todos os que não tinham aceito o convite de Nabucodonosor.
4. Terminada a reunião, Nabucodonosor, rei da Assíria, convocou Holofernes, general do seu exército, o segundo homem no reino, e lhe ordenou:
5. “Assim diz o grande rei, o senhor de toda a terra: Ao sair de minha presença, tome consigo homens experientes, uns cento e vinte mil de infantaria e forte contingente de cavalaria, com doze mil cavaleiros.
6. Marche contra toda a região ocidental, porque não aceitaram o meu convite.
7. Obrigue-os a colocar à minha disposição a terra e a água, porque vou marchar furioso contra eles. Vou cobrir o chão com os pés de meus soldados e entregá-los ao saque.
8. Seus feridos encherão os vales e as torrentes, e os rios transbordarão de cadáveres,
9. e eu levarei os prisioneiros para os confins do mundo.
10. Siga à minha frente e conquiste os territórios deles para mim. Se eles se renderem a você, deixe que eu os castigue.
11. Não tenha consideração para com os rebeldes. Entregue-os à matança e ao saque em toda a terra que você conquistar.
12. Por minha vida e por meu império, vou cumprir o que estou dizendo.
13. Não desobedeça a nenhuma ordem do seu senhor. Faça tudo conforme eu lhe ordenei. Não perca tempo”.
14. Holofernes saiu da presença de seu senhor e convocou todos os chefes, generais e oficiais do exército da Assíria.
15. Em seguida, escolheu um contingente de cento e vinte mil homens e doze mil arqueiros a cavalo, conforme seu senhor tinha mandado.
16. E os organizou para o combate.
17. Tomou então grande quantidade de camelos, jumentos e mulas, para carregar o equipamento, e também inumeráveis ovelhas, bois e cabras para o abastecimento.
18. Cada soldado recebeu farta provisão e muito ouro e prata do palácio do rei.
19. Então Holofernes saiu com todo o seu exército à frente do rei Nabucodonosor, para cobrir toda a região ocidental com carros, cavaleiros e tropas escolhidas.
20. A eles juntou-se ainda um bando numeroso, incontável como os gafanhotos e como a areia da terra.
21. Partiram de Nínive e caminharam três dias em direção à planície de Bectilet. Acamparam fora de Bectilet, perto da montanha, ao norte da Alta-Cilícia.
22. Daí, com todo o seu exército, formado por infantaria, cavalaria e carros, Holofernes partiu para a região montanhosa.
23. Devastou Fut e Lud, e saqueou todos os filhos de Rassis e de Ismael, que vivem na beira do deserto, ao sul de Queleon.
24. Depois costeou o rio Eufrates, atravessou a Mesopotâmia e destruiu todas as cidades fortificadas que estão junto ao riacho Abrona, até chegar ao mar.
25. Tomou posse dos territórios da Cilícia, despedaçou todos os que resistiram e foi até à fronteira sul de Jafé, diante da Arábia.
26. Cercou todos os madianitas, incendiou suas tendas e devastou seus estábulos. 27. A seguir, desceu para a planície de Damasco no tempo da colheita de trigo, e incendiou as plantações, destruiu ovelhas e bois, saqueou as cidades, devastou as plantações e passou todos os jovens ao fio da espada.
28. Um medo terrível caiu sobre os habitantes do litoral, sobre os sidônios e tírios, sobre os de Sur, de Oquina e de Jâmnia. Também os habitantes de Azoto e Ascalon ficaram aterrorizados.
Capítulo 3:
1. Os habitantes do litoral enviaram mensageiros com proposta de paz, nestes termos: “Aqui estamos.
2. Somos servos do grande rei Nabucodonosor e nos prostramos diante de você: faça de nós o que quiser.
3. Aqui estão à sua disposição nossos estábulos, nosso território, os campos de trigo, as ovelhas e os bois, e todos os nossos acampamentos. Sirva-se como achar melhor.
4. Nossas cidades e seus habitantes são seus escravos. Venha e trate-as como quiser”.
5. Então os mensageiros se apresentaram a Holofernes, e transmitiram a mensagem.
6. Holofernes desceu com seu exército para o litoral, deixou guarnições nas cidades fortificadas e recrutou homens escolhidos para servirem de tropas auxiliares.
7. Os habitantes das cidades e arredores o receberam com coroas, danças e tamborins.
8. Mas Holofernes destruiu os santuários deles, cortou suas árvores sagradas e exterminou todos os deuses da terra, para que todas as nações só adorassem a Nabucodonosor, e todas as tribos o invocassem como deus, cada uma na própria língua.
9. Quando chegou à vista de Esdrelon, perto de Dotaia, aldeia que está diante da grande serra da Judeia,
10. Holofernes acampou entre Geba e Citópolis, e aí ficou por um mês, recolhendo provisões para o exército.
Capítulo 4:
1. Os israelitas da Judeia ficaram sabendo de tudo o que Holofernes, general de Nabucodonosor, rei da Assíria, tinha feito às nações, atacando seus templos e entregando-os ao saque. 2. Então ficaram aterrorizados com Holofernes e temeram por Jerusalém e pelo Templo do Senhor seu Deus.
3. Eles tinham voltado do exílio fazia pouco tempo, e todo o povo da Judeia se havia reunido novamente. Os utensílios, o altar e o Templo haviam sido recentemente purificados da profanação. 4. Então mandaram mensageiros por todo o território da Samaria, a Cona, Bet-Horon, Belmain, Jericó, Coba, Aisora e ao vale de Salém.
5. Ocuparam o topo dos montes mais altos, fortificaram as aldeias da região montanhosa e ajuntaram provisões para a guerra, pois nesse tempo tinham acabado de fazer a colheita.
6. O sumo sacerdote Joaquim, que nessa ocasião se achava em Jerusalém, escreveu aos habitantes de Betúlia e Betomestaim, que estão diante de Esdrelon, em frente da planície vizinha de Dotain.
7. Ele mandou que ocupassem as passagens da serra, porque era por aí que passava o caminho para a Judeia. Desse modo, era fácil impedir que o inimigo avançasse, porque o desfiladeiro era tão estreito que somente se podia passar dois a dois.
8. Os israelitas obedeceram ao sumo sacerdote Joaquim e ao conselho dos anciãos do povo de Israel, que tinham sede em Jerusalém.
9. Ao mesmo tempo, cada israelita suplicou insistentemente a Deus, e todos se humilharam diante dele.
10. Eles e suas mulheres, seus filhos e rebanhos, e todos os imigrantes, mercenários e escravos se vestiram com pano de saco.
11. Os que viviam em Jerusalém, inclusive mulheres e crianças, se prostraram diante do Templo, com cinzas na cabeça, e estenderam as mãos diante do Senhor.
12. Cobriram o altar com panos de saco e clamaram, a uma só voz e com ardor, para que o Deus de Israel não entregasse seus filhos ao saque, nem suas mulheres ao exílio, nem à destruição as cidades que tinham herdado, nem o Templo à profanação e caçoadas humilhantes das nações.
13. O Senhor ouviu-lhes o grito e tomou conhecimento da tribulação deles. O povo jejuou por dias seguidos em toda a Judeia e em Jerusalém, diante do Templo do Senhor Todo-poderoso.
14. O sumo sacerdote Joaquim, junto com todos os sacerdotes e ministros do culto do Senhor, ofereciam o holocausto diário, as ofertas e os dons voluntários do povo. Vestidos com panos de saco
15. e com cinza sobre os turbantes, eles clamavam com toda força ao Senhor, para que protegesse a casa de Israel.
Capítulo 5:
1. Holofernes, general do exército assírio, foi informado de que os israelitas estavam se preparando para a guerra. Contaram-lhe que eles tinham fechado as passagens das montanhas, fortificado o topo dos montes mais altos e preparado obstáculos nas planícies.
2. Holofernes ficou enfurecido e convocou todos os chefes moabitas, generais amonitas, governadores do litoral,
3. e lhes perguntou: “Cananeus, digam-me: Que gente é essa que vive na serra? Em que cidades moram? Qual é a potência do exército deles? Em que ponto está seu poder e sua força? Que rei os governa?
4. Por que não se dignaram vir ao meu encontro, como fizeram todos os povos do Ocidente?”
5. Aquior, chefe de todos os amonitas, respondeu: “Escute, meu senhor, o que este seu servo vai dizer. Vou contar-lhe a verdade sobre esse povo que vive na serra, aqui perto. Não direi mentiras.
6. Esse povo é descendente dos caldeus.
7. Primeiro estiveram na Mesopotâmia, porque não quiseram seguir os deuses de seus antepassados, que viviam na Caldeia.
8. Eles abandonaram a religião de seus antepassados e adoraram o Deus do céu, que reconheceram como Deus. Os caldeus, porém, os expulsaram da presença de seus deuses, e eles tiveram que fugir para a Mesopotâmia, onde ficaram por longo tempo.
9. O Deus deles ordenou que saíssem daí e fossem para a terra de Canaã. Instalaram-se aí e ficaram muito ricos em ouro, prata e rebanhos numerosos.
10. Em seguida, foram para o Egito por causa de uma fome que atingia o país de Canaã. E aí ficaram enquanto havia alimento. No Egito, multiplicaram-se muito e se transformaram num povo numeroso.
11. O rei do Egito, porém, ficou contra eles e os explorou no trabalho de preparar tijolos, e eles foram humilhados e tratados como escravos.
12. Então eles clamaram ao seu Deus, e este castigou todo o país do Egito com pragas incuráveis. Os egípcios, então, os expulsaram do país.
13. Deus secou diante deles o mar Vermelho
14. e os conduziu pelo caminho do Sinai e de Cades Barne. Eles expulsaram todos os habitantes do deserto,v 15. instalaram-se na terra dos amorreus, e exterminaram pela força todos os habitantes de Hesebon. Depois atravessaram o Jordão, tomaram posse de toda a serra, 16. expulsaram os cananeus, ferezeus, jebuseus, siquemitas e todos os gergeseus, e aí viveram por muito tempo.
17. Enquanto não pecaram contra o seu Deus, a prosperidade estava com eles, porque o Deus deles odeia a injustiça.
18. Mas quando se afastaram do caminho que Deus lhes havia marcado, uma parte deles foi completamente exterminada em guerras, e a outra foi exilada num país estrangeiro. O Templo do Deus deles foi arrasado e suas cidades foram conquistadas pelo inimigo.
19. Mas agora eles se voltaram para o Deus deles, regressaram da dispersão, ocuparam Jerusalém, onde está o Templo deles, e repovoaram a serra que tinha ficado deserta.
20. Agora, meu soberano e senhor, se essa gente se desviou, pecando contra o Deus deles, comprovemos essa falta, e subamos para atacá-los.
21. Contudo, se eles não tiverem pecado, é melhor que o senhor os deixe em paz. Caso contrário, o Senhor e Deus deles vai protegê-los, e nós ficaremos envergonhados diante de todo o mundo”.
22. Quando Aquior acabou de falar, todos os que estavam ao redor da tenda protestaram. Os oficiais de Holofernes, os habitantes do litoral e os moabitas queriam matar Aquior.
23. E diziam: “Não vamos ficar com medo dos israelitas. É um povo sem exército e sem forças para aguentar um combate duro.
24. Por isso, vamos lá. Serão presa fácil para todo o seu exército, senhor Holofernes”.
Capítulo 6:
1. Quando se acalmou o alvoroço dos que assistiam à reunião, Holofernes, general do exército assírio, disse a Aquior, na frente de toda a tropa estrangeira e de todos os moabitas:
2. “Quem é você, Aquior, e esses mercenários de Efraim, para profetizarem dessa forma, aconselhando-nos a não lutar contra os israelitas, porque o Deus deles vai protegê-los? Quem é deus, além de Nabucodonosor? Nabucodonosor enviará sua força e exterminará os israelitas da face da terra. E o Deus deles não conseguirá salvá-los.
3. Nós, servos de Nabucodonosor, os esmagaremos como se fossem um só homem. Não poderão resistir à nossa cavalaria.
4. Nós os queimaremos de uma só vez. Seus montes ficarão embriagados com o sangue deles, e suas planícies transbordarão de cadáveres. Eles não poderão ficar de pé diante de nós. Todos morrerão, diz o rei Nabucodonosor, o senhor de toda a terra. Ele assim falou, e suas palavras não serão desmentidas.
5. Quanto a você, Aquior, mercenário amonita, você disse essas frases num momento de loucura. Por isso, não voltará a me ver até que eu castigue essa gente que escapou do Egito.
6. Então a espada de meus soldados e a lança de meus oficiais atravessarão suas costelas, e você cairá entre os feridos deles.
7. Meus servos vão levar você para a montanha e deixá-lo em alguma cidade dos desfiladeiros.
8. Você ficará vivo para ser morto junto com eles.
9. Se você confia que eles não serão capturados, não fique de cabeça baixa. Nada do que eu disse ficará sem se realizar”.
10. Holofernes ordenou aos servos, que estavam na tenda, para pegarem Aquior, o levarem a Betúlia e o entregarem aos israelitas.
11. Os servos agarraram Aquior e o levaram para a planície, fora do acampamento. Daí se dirigiram para a serra e chegaram às fontes que estão abaixo de Betúlia.
12. Quando os homens da cidade os viram no alto dos montes, pegaram suas armas, saíram da cidade e foram para lá, enquanto os atiradores jogavam pedras sobre os homens de Holofernes, para impedir que subissem.
13. Então estes desceram pela encosta do monte, amarraram Aquior e o deixaram ao pé do monte. E voltaram para junto do seu senhor.
14. Então os israelitas desceram da cidade e foram até Aquior. Eles o desamarraram e o levaram a Betúlia para apresentá-lo aos chefes da cidade.
15. Nesse tempo, os chefes eram Ozias, filho de Micas, da tribo de Simeão; Cabris, filho de Gotoniel, e Carmis, filho de Melquiel.
16. Eles convocaram todos os anciãos da cidade. Também os jovens e as mulheres foram para a assembleia. Colocaram Aquior no meio de todos, e Ozias lhe perguntou o que havia acontecido.
17. Então Aquior contou-lhes o que haviam falado no conselho de Holofernes, o que ele próprio tinha dito aos chefes assírios e as vantagens que Holofernes tinha contado contra Israel.
18. Então o povo se prostrou, adorou a Deus e suplicou:
19. “Senhor Deus do céu, olha do alto o orgulho deles e tem piedade da humilhação de nossa gente. Acolhe hoje com boa vontade a presença daqueles que são consagrados a ti”.
20. Depois, animaram Aquior e o elogiaram muito.
21. Ozias o levou para sua casa e ofereceu um banquete aos anciãos. E durante toda essa noite, ficaram invocando o auxílio do Deus de Israel.
Capítulo 7:
1. No dia seguinte, Holofernes ordenou ao exército e às tropas aliadas que levantassem acampamento, avançassem contra Betúlia, ocupassem as passagens das montanhas e atacassem os israelitas.
2. Nesse mesmo dia, todos os soldados levantaram acampamento. O exército contava com cento e setenta mil soldados de infantaria e doze mil cavaleiros, sem contar a bagagem e a multidão que os acompanhava a pé.
3. Formaram-se em ordem de batalha no vale perto de Betúlia, junto à fonte, e se estenderam ao largo, na direção de Dotain, até Belbaim, e de Betúlia até Quiamon, que está diante de Esdrelon.
4. Quando os israelitas viram essa multidão, ficaram aterrorizados e comentaram: “Eles vão engolir toda a face da terra. Nem os montes mais altos, nem os precipícios, nem as colinas suportarão tanto peso”.
5. Cada um empunhou suas armas, acenderam fogueira nas torres e ficaram em guarda a noite inteira.
6. No segundo dia, Holofernes fez a cavalaria avançar diante dos israelitas que estavam em Betúlia.
7. Inspecionou as subidas para a cidade, examinou as fontes e ocupou-as, deixando aí destacamentos militares. Depois voltou para junto do exército.
8. Os oficiais edomitas, os chefes moabitas e os generais do litoral disseram a Holofernes:
9. “Senhor, ouça o nosso palpite, e o exército não sofrerá um só arranhão.
10. Esses israelitas não confiam tanto nas armas. Eles confiam na altura dos montes onde vivem, porque não é fácil escalar o topo desses montes.
11. Por isso, senhor, não os combata como se faz em campo aberto, e não haverá nenhuma baixa em seu exército.
12. Fique no acampamento com todo o exército e deixe que ocupemos a fonte que brota ao pé do monte.
13. É dela que os habitantes de Betúlia tiram água. A sede os forçará a entregar a cidade ao senhor. Nós subiremos com nossos soldados ao topo dos montes vizinhos e montaremos acampamento, para impedir que alguém saia da cidade.
14. A fome tomará conta deles, com suas mulheres e crianças. O senhor nem precisará usar a espada: eles cairão sozinhos pelas ruas da cidade.
15. Desse modo, o senhor os fará pagar bem caro por não terem ido pacificamente ao seu encontro”.
16. Holofernes e seus oficiais gostaram da proposta, e ele deu ordem para agir de acordo.
17. Então uma tropa de moabitas e cinco mil assírios avançaram. Acamparam no vale e ocuparam as minas e fontes dos israelitas.
18. Os edomitas e os amonitas subiram a serra, acamparam diante de Dotain e mandaram destacamentos para o sul e para o leste, diante de Egrebel, perto de Cuch, sobre a torrente de Mocmur. O grosso do exército assírio acampou na planície, cobrindo toda a região. As tendas e equipamentos formavam um acampamento enorme, pois a multidão era imensa.
19. Vendo-se cercados pelo inimigo e sem possibilidades de escapar, os israelitas ficaram desanimados e clamaram ao Senhor seu Deus.
20. O exército assírio, com infantaria, cavalaria e carros, manteve o cerco por trinta e quatro dias. A provisão de água dos habitantes de Betúlia se esgotou,
21. e os poços ficaram vazios. Ninguém tinha como saciar a sede nem por um dia sequer, porque a água estava racionada.
22. As crianças desmaiavam e as mulheres e jovens desfaleciam de sede. Caíam pelas ruas e saídas das portas da cidade, completamente esgotados.
23. Então todo o povo se reuniu contra Ozias e os chefes da cidade, junto com jovens, mulheres e crianças, gritando e dizendo a todos os anciãos:
24. “Que o Senhor seja o nosso juiz, porque vocês causaram um grande mal, não querendo negociar a paz com os assírios.
25. Agora não temos a quem recorrer, porque Deus nos entregou nas mãos deles e estamos morrendo de sede e grande destruição.
26. Agora chamem os assírios e entreguem a cidade inteira, para que o exército de Holofernes a saqueie.
27. É preferível sermos saqueados. Seremos escravos deles, mas salvaremos a nossa vida, e não veremos nossas crianças morrer e nossas mulheres e filhos expirar.
28. Se vocês não fizerem isso hoje mesmo, nós convocaremos o céu e a terra como testemunhas contra vocês diante do nosso Deus, Senhor de nossos antepassados, que nos está castigando por causa de nossos pecados e os pecados de nossos antepassados”.
29. Então levantou-se da assembleia um pranto geral, e todos gritaram súplicas ao Senhor Deus.
30. Então Ozias procurou animá-los: “Tenham confiança, irmãos. Vamos resistir por mais cinco dias. O Senhor nosso Deus terá compaixão de nós. Ele não vai nos abandonar até o fim. 31. Depois desse prazo, se ele não nos socorrer, farei o que vocês estão propondo”.
32. Então dispersou o povo, cada um para seu lugar: os homens voltaram para as muralhas e torres da cidade, e mandaram as mulheres e crianças para casa. A cidade estava tomada pela angústia.
Capítulo 8:
1. Nesses dias, a notícia chegou até Judite. Ela era filha de Merari, filho de Ox, filho de José, filho de Oziel, filho de Elquias, filho de Ananias, filho de Gedeão, filho de Rafaim, filho de Aquitob, filho de Elias, filho de Helcias, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Salamiel, filho de Surisadai, filho de Israel.
2. Seu marido Manassés, da mesma tribo e parentela, tinha morrido durante a colheita da cevada.
3. Ele estava dirigindo os que amarravam feixes no campo, e teve uma insolação. Caiu de cama e morreu em Betúlia, sua cidade. E foi enterrado na sepultura da família, que ficava em sua propriedade, entre Dotain e Balamon.
4. Judite era viúva fazia três anos e quatro meses. Vivia em sua casa,
5. num quarto que mandara fazer no terraço. Vestia pano de saco e usava roupas de viúva.
6. Desde que ficou viúva, jejuava diariamente, menos no dia de sábado e na véspera, no primeiro e último dia do mês, nas festas e comemorações israelitas.
7. Era muito bonita e atraente. Manassés, seu marido, lhe havia deixado ouro e prata, servos e servas, rebanhos e terras. E ela vivia disso.
8. Ninguém podia fazer-lhe a mínima crítica, pois era muito temente a Deus.
9. Judite ficou sabendo das palavras desesperadas que o povo tinha dito ao governador, porque estava desanimado com a falta d’água. Soube também que Ozias tinha jurado entregar a cidade aos assírios dentro de cinco dias.
10. Então Judite mandou a serva, que administrava seus bens, chamar Cabris e Carmis, anciãos da cidade.
11. Quando chegaram, ela disse: “Ouçam-me, chefes do povo de Betúlia. O que vocês disseram ao povo hoje foi um erro. Vocês juraram, obrigando-se diante de Deus a entregar a cidade ao inimigo, caso o Senhor não socorra vocês dentro de cinco dias.
12. Quem são vocês para tentar a Deus, colocando-se hoje publicamente acima dele?
13. Vocês, que nunca entenderão nada, estão pondo à prova o Senhor Todo-poderoso.
14. Se são incapazes de sondar a profundidade do coração humano e entender as razões dos pensamentos dele, como podem sondar a Deus, criador de tudo, e compreender sua mente e entender seu projeto? Não, irmãos, não queiram irritar o Senhor nosso Deus.
15. Ainda que não nos queira socorrer nesses cinco dias, ele tem poder para nos proteger no dia que quiser, ou nos destruir diante de nossos inimigos.
16. Não pretendam exigir garantias sobre os planos do Senhor nosso Deus, porque Deus não é um homem que possa ser intimidado, nem algum ser humano que possa ser pressionado.
17. Por isso, enquanto esperamos pacientemente que ele nos salve, vamos suplicar-lhe que venha em nosso auxílio. Se ele quiser, vai ouvir a nossa voz.
18. É verdade que em nosso tempo, e hoje mesmo, não tem havido entre nós nenhuma tribo, família, povo ou cidade que tenha adorado deuses feitos por mãos humanas, como acontecia outrora.
19. Foi por isso que nossos antepassados foram entregues à espada e ao saque, e caíram miseravelmente diante de seus inimigos.
20. Nós, pelo contrário, não conhecemos outro Deus além dele. Por isso confiamos que ele não nos vai desprezar, nem se afastar de nossa gente.
21. Se formos capturados, o mesmo acontecerá com toda a Judeia, e o santuário será saqueado. Então deveremos pagar essa profanação com o nosso próprio sangue.
22. Nas nações onde estivermos como escravos, seremos responsáveis pela morte de nossos compatriotas, pelo exílio do povo da terra e pela desolação de nossa herança. Seremos assim motivo de caçoada e desprezo diante de nossos dominadores.
23. Nossa escravidão não nos fará ganhar o favor de nossos dominadores. Pelo contrário, o Senhor nosso Deus a transformará em desonra para nós.
24. Portanto, irmãos, mostremos aos nossos irmãos que a vida deles depende de nós, e que de nós depende a segurança do santuário, do Templo e do altar.
25. Agradeçamos ao Senhor nosso Deus por tudo isso, porque ele nos está pondo à prova, como fez com os nossos antepassados.
26. Lembrem-se do que ele fez com Abraão, como provou Isaac, e o que aconteceu com Jacó na Mesopotâmia da Síria, quando ele apascentava os rebanhos de Labão, seu tio materno.
27. Deus os provou com fogo para avaliar o coração deles, e está fazendo o mesmo conosco. O Senhor açoita os que dele se aproximam, não para se vingar, mas para torná-los conscientes”.
28. Então Ozias lhe disse: “Tudo o que você disse é muito sensato, e ninguém poderá dizer o contrário.
29. Não é de hoje que todo mundo percebe que você é sábia. Desde pequena, todos conhecem a sua inteligência e o seu bom coração.
30. Mas o povo estava morrendo de sede e nos obrigou a fazer o que fizemos, forçando-nos a um juramento que não podemos violar.
31. Agora, você que é mulher piedosa, suplique por nós. O Senhor mandará chuva para encher os poços, e nós não morreremos”.
32. Judite respondeu: “Escutem-me com atenção. Vou fazer uma coisa que será comentada de geração em geração pelos filhos de nossa gente.
33. Esta noite vocês ficarão vigiando na porta da cidade. Eu sairei com minha serva e, antes do prazo que vocês estabeleceram para entregar a cidade ao inimigo, o Senhor virá socorrer Israel através de mim.
34. Quanto a vocês, não perguntem o que vou fazer. Só contarei depois que tiver feito”.
35. Ozias e os chefes lhe disseram: “Vá em paz. Que o Senhor Deus acompanhe você, para que possa vingar-se do nosso inimigo”.
36. E deixando o aposento dela, eles voltaram para seus postos.
Capítulo 9:
1. Era o momento em que acabavam de oferecer o incenso da tarde, no Templo de Jerusalém. Judite colocou cinza sobre a cabeça, tirou as roupas e prostrou-se no chão, vestida apenas com o pano de saco. Levantou a voz e gritou ao Senhor, dizendo:
2. “Senhor, Deus de meu pai Simeão, em cuja mão colocaste uma espada, para vingar-se dos estrangeiros que violentaram vergonhosamente uma jovem, tiraram suas roupas para a estuprar, e profanaram o seio dela para sua desonra. E tu havias dito: ‘Não façam isso’. Mas eles o fizeram.
3. Por isso, entregaste seus chefes à morte. E o leito deles, manchado pelo engano, pelo engano ficou ensanguentado. Feriste os servos junto com os chefes, e os chefes junto com seus servos.
4. Entregaste suas mulheres ao rapto e suas filhas à escravidão. Entregaste seus despojos à partilha,
em proveito dos filhos que amavas, e que, ardendo de zelo por ti, abominaram a mancha do sangue deles e invocaram o teu socorro. Deus, meu Deus, ouve esta pobre viúva.
5. Tu fizeste o passado, e o que vem agora e o que virá depois. Tu projetas o presente e o futuro, e o que desejas acontece.
6. Teus projetos se apresentam e dizem: ‘Aqui estamos’. Pois teus caminhos estão todos preparados, e teus projetos foram feitos de antemão.
7. Aí estão os assírios! Eles se apoiam em sua força, orgulhosos de seus cavalos e cavaleiros, e se gabam com a força de sua infantaria. Eles confiam no escudo e na lança, no arco e na funda, e não sabem que tu és o Senhor que acaba com as guerras.
8. Teu nome é: ‘o Senhor’! Quebra a força deles com teu poder, e, com tua cólera, despedaça o domínio deles. Porque decidiram profanar o teu santuário, manchar a tenda onde repousa o teu Nome glorioso e derrubar a ferro as pontas do teu altar.
9. Olha a soberba deles e descarrega tua ira em suas cabeças. Dá força a esta viúva, para fazer aquilo que ela decidiu.
10. Através de minha língua sedutora, fere o servo junto com o chefe e o chefe com seu servo. Quebra a altivez deles pela mão de uma mulher.
11. Tua força não está no número, nem tua autoridade nos guerreiros. Tu és o Deus dos humildes, o socorro dos oprimidos, o protetor dos fracos, o abrigo dos abandonados, o salvador dos desesperados.
12. Sim, Deus de meu pai, Deus da herança de Israel, Senhor do céu e da terra, Criador das águas, Rei de toda a criação. Ouve a minha súplica,
13. e concede-me falar com sedução, para ferir mortalmente os que planejaram uma vingança cruel contra teus fiéis, contra tua morada santa, o monte Sião, e a casa de teus filhos.
14. Faze que todo o povo e todas as tribos reconheçam que tu és o único Deus, o Deus de toda força e de todo poder, e que o povo de Israel só tem a ti como protetor”.
Capítulo 10:
1. Quando parou de suplicar ao Deus de Israel e terminou o que estava dizendo,
2. Judite se levantou, chamou a serva e foi para a casa em que ficava nos dias de sábado e de festa.
3. Tirou o pano de saco e o vestido de viúva, tomou banho, passou perfume caro, penteou os cabelos, colocou um turbante na cabeça e se vestiu com a roupa de festa, que usava enquanto seu marido Manassés era vivo.
4. Calçou sandálias e enfeitou-se com braceletes, colares, anéis, brincos e todas as suas joias. Ficou belíssima, capaz de seduzir os homens que a vissem.
5. Depois entregou à serva uma vasilha de vinho e uma jarra de óleo, encheu uma sacola com farinha de cevada, bolos de frutas secas e pães puros. Embrulhou as provisões e as entregou à serva.
6. Em seguida, saíram para a porta da cidade de Betúlia e encontraram aí Ozias, Cabris e Carmis, dois anciãos da cidade.
7. Ao vê-la com o rosto transformado e outros vestidos, ficaram pasmos com tanta beleza, e lhe disseram:
8. “Que o Deus de nossos antepassados ajude você e permita que seja bem-sucedida em seus planos, para a glória dos israelitas e a exaltação de Jerusalém”.
9. Judite adorou a Deus, e lhes disse: “Mandem abrir para mim a porta da cidade. Sairemos para realizar o que vocês estão desejando”. Eles ordenaram que os soldados lhe abrissem a porta, conforme ela tinha pedido.
10. Assim fizeram, e Judite saiu com a serva. Os homens da cidade a seguiram com o olhar, enquanto ela descia a encosta, até que atravessou o vale e desapareceu.
11. Estavam caminhando direto pelo vale, quando as sentinelas dos assírios foram ao encontro delas.
12. Detiveram Judite e lhe perguntaram: “De que lado você está? De onde vem? Para onde vai?” Judite respondeu: “Sou hebreia, e estou fugindo do meu povo, porque falta pouco para ele ser devorado por vocês.
13. Gostaria de apresentar-me a Holofernes, general do exército de vocês, para dar-lhe informações seguras. Vou mostrar a ele o caminho por onde poderá passar e conquistar toda a serra, sem arriscar um só de seus homens”.
14. Enquanto a escutavam, as sentinelas ficaram observando o rosto dela, admirados com tanta beleza. E lhe disseram:
15. “Você salvou a vida, vindo ao encontro do senhor nosso general. Pode ir até a tenda dele; alguns dos nossos vão escoltar você até lá.
16. Quando estiver diante dele, não tenha medo, diga-lhe o que disse a nós, e ele a tratará bem”.
17. Então eles destacaram cem homens, que escoltaram Judite e sua serva até a tenda de Holofernes.
18. Ao correr pelas tendas a notícia da chegada de Judite, o acampamento ficou em alvoroço. Judite estava do lado de fora da tenda de Holofernes, esperando ser anunciada, e todos a rodearam.
19. Estavam admirados com sua beleza e, olhando para ela, ficavam admirando os israelitas. E comentavam: “Não podemos desprezar uma nação que tem mulheres tão bonitas. Não podemos poupar nenhum homem deles. Os que ficassem, seriam capazes de conquistar o mundo inteiro”.
20. Os guarda-costas de Holofernes e os oficiais saíram e introduziram Judite na tenda.
21. Holofernes estava descansando em sua cama, debaixo de um mosquiteiro de púrpura, bordado a ouro e recamado com esmeraldas e pedras preciosas.
22. Anunciaram Judite. Então ele saiu para a parte da frente da tenda, precedido de portadores de lâmpadas de prata.
23. Quando Judite ficou na frente de Holofernes e dos oficiais, todos ficaram admirados com a beleza do rosto dela, que se prostrou diante de Holofernes. Mas os escravos a levantaram.
Capítulo 11:
1. Holofernes disse a Judite: “Coragem, mulher. Não tenha medo. Nunca maltratei ninguém que estivesse disposto a servir a Nabucodonosor, rei do mundo inteiro.
2. Até seu povo que mora na serra: se ele não me tivesse desprezado, eu não estaria lutando contra ele. Eles é que provocaram isso.
3. Agora, diga-me: Por que fugiu e passou para o nosso lado? Vindo até nós, você salvou a própria vida. Pode confiar. Você não correrá perigo, nem esta noite, nem depois.
4. Ninguém vai maltratá-la. Pelo contrário, nós a trataremos bem, como fazemos com os servos do rei Nabucodonosor, o meu senhor”.
5. Então Judite lhe falou: “Permita-me falar-lhe e acolha as palavras desta sua serva. Esta noite não vou dizer mentira nenhuma.
6. Se o senhor seguir os conselhos desta sua serva, Deus o ajudará em sua campanha, e seus planos não falharão.
7. Viva Nabucodonosor, rei de toda a terra, que enviou o senhor para colocar todos em ordem. Viva o seu poder! Graças ao senhor, não são apenas os homens que servem o rei. Graças ao seu poder, também as feras, os rebanhos e as aves do céu viverão à disposição de Nabucodonosor e do seu palácio.
8. Ouvimos falar da sabedoria e astúcia que o senhor tem. Todos comentam que o senhor é o melhor em todo o império, o conselheiro mais hábil e o estrategista mais admirado.
9. Nós ficamos sabendo do relatório que Aquior fez em seu conselho. Os habitantes de Betúlia o pouparam, e ele contou tudo o que havia dito diante do senhor.
10. Por isso, senhor poderoso, não despreze a opinião dele. Pode crer nela, porque é verdadeira: nossa gente não sofrerá castigo, nem as armas poderão submetê-la, a não ser que ela cometa pecado contra Deus.
11. Agora, para que o meu senhor não fique decepcionado e de mãos vazias, saiba que a morte cairá sobre eles, porque são réus de um pecado com que irritam seu Deus toda vez que o cometem.
12. Quando lhes faltaram víveres e água, resolveram lançar mão do rebanho e consumir tudo o que Deus, por suas leis, tinha proibido a eles de comer.
13. Resolveram consumir até os primeiros frutos do trigo e os dízimos do vinho e do azeite, coisas consagradas aos sacerdotes que ministram diante do nosso Deus em Jerusalém, e que nenhum leigo pode jamais tocar.
14. E como os habitantes de Jerusalém já estão fazendo o mesmo, mandaram até lá uma comissão, para que o conselho permita fazer isso.
15. Logo que receberem a permissão e a puserem em prática, nesse mesmo dia cairão em seu poder, meu senhor, e serão aniquilados.
16. Quando percebi tudo isso, tratei de fugir. Deus me mandou para realizar com o senhor uma façanha que assombrará todos os que dela ficarem sabendo.
17. Esta sua serva é piedosa e serve ao Deus do céu dia e noite. Agora, eu gostaria de ficar junto com o senhor. Sairei toda noite pelo vale, rezarei a Deus, e ele me dirá quando a minha gente cometer o pecado.
18. Eu contarei ao senhor, e então o senhor sairá com todo o seu exército, e nenhum deles lhe poderá resistir.
19. Eu guiarei o senhor através da Judeia, até chegar a Jerusalém, e colocarei seu trono bem no meio da cidade. Então o senhor os manejará como ovelhas sem pastor, e não haverá nem mesmo um cão para latir diante do senhor. Já estou prevendo todas essas coisas. Tudo foi anunciado a mim, e eu fui enviada para contá-las ao senhor”.
20. As palavras de Judite agradaram a Holofernes e seus oficiais. Admirados com a sabedoria dela, disseram:
21. “De um extremo a outro da terra, não existe mulher tão bonita e que saiba falar tão bem”.
22. Holofernes lhe disse: “Deus fez bem mandando você na frente do povo, para colocar o poder em nossas mãos e destruir todos os que desprezaram o meu senhor.
23. Você é bela e eloquente. Se fizer o que me disse, o seu Deus será o meu Deus, você viverá no palácio do rei Nabucodonosor e será famosa no mundo inteiro”.
Capítulo 12:
1. Holofernes mandou levar Judite para o lugar onde era colocada sua baixela de prata, e ordenou que servissem a ela a mesma comida e o mesmo vinho que ele tomava.
2. Judite, porém, disse: “Não provarei nada disso, para não cair em pecado. Eu trouxe minhas provisões”.
3. Holofernes lhe perguntou: “E se acabar o que você trouxe, onde poderemos arrumar comida igual? Entre nós, não há ninguém da sua gente”.
4. Judite respondeu: “Pela sua vida, meu senhor, o que eu trouxe comigo não acabará antes que o senhor realize seu plano através de mim”.
5. Os oficiais de Holofernes levaram Judite para a tenda, e ela repousou até a meia-noite. Depois se levantou antes do amanhecer,
6. e mandou dizer a Holofernes: “Senhor, ordene que me deixem sair para rezar”.
7. Holofernes ordenou aos guardas que a deixassem sair. E assim Judite passou três dias no acampamento. De noite, ela ia em direção ao vale de Betúlia e tomava banho na fonte, no posto avançado do acampamento.
8. Depois do banho, ela suplicava ao Senhor Deus de Israel que dirigisse o plano dela, para reerguer o seu povo.
9. Depois de purificar-se, voltava para a tenda e aí ficava até que lhe trouxessem o alimento à tarde.
10. No quarto dia, Holofernes ofereceu um banquete somente para o seu pessoal de serviço, sem convidar nenhum oficial.
11. Disse a Bagoas, seu mordomo: “Vá e veja se você consegue convencer essa mulher hebreia, que está a seu cuidado, para que venha comer e beber conosco.
12. Seria uma vergonha não aproveitar a ocasião de ter relações com essa mulher. Se eu não a conquistar, vão caçoar de mim”.
13. Bagoas saiu da presença de Holofernes, foi até Judite, e lhe disse: “Que esta bela jovem não tenha medo de se apresentar ao meu senhor como hóspede de honra. Você beberá conosco, se alegrará e passará o dia como uma das mulheres assírias, que vivem no palácio de Nabucodonosor”.
14. Judite respondeu: “Quem sou eu para contrariar o meu senhor? Farei tudo o que lhe agradar, e isto será para mim uma lembrança agradável até o dia de minha morte”.
15. Então Judite se levantou e se enfeitou com suas roupas e joias. Sua serva foi na frente e estendeu no chão, diante de Holofernes, as peles que Bagoas lhe tinha dado, para que se reclinasse enquanto comia.
16. Judite entrou e se acomodou. Ao vê-la, Holofernes ficou arrebatado, e a paixão o agitou com o desejo violento de se unir a ela. De fato, desde a primeira vez que a viu, ele espreitava uma ocasião para seduzi-la.
17. E Holofernes disse a Judite: “Vamos, beba e se alegre conosco”.
18. Judite respondeu: “Claro que vou beber, meu senhor. Hoje é o dia mais feliz de toda a minha vida”.
19. E Judite comeu e bebeu diante de Holofernes, servindo-se do que a sua serva tinha preparado para ela.
20. Holofernes, entusiasmado com ela, bebeu muitíssimo vinho, como nunca havia feito antes, em toda a vida.
Capítulo 13:
1. Quando ficou tarde, o pessoal de Holofernes se retirou. Bagoas fechou a tenda por fora, depois de fazer com que todos os servos saíssem. Todos foram repousar, entregues pelo excesso de bebida.
2. Na tenda, ficaram apenas Judite e Holofernes caído na cama, completamente embriagado.
3. Judite tinha dito à serva que ficasse do lado de fora do quarto, esperando que ela saísse, como nos outros dias. Tinha dito que sairia para rezar, e já havia falado disso com Bagoas.
4. Todos saíram. Não ficou mais ninguém no quarto, nem pequeno nem grande. Então, de pé e junto ao leito de Holofernes, Judite rezou interiormente: “Senhor Deus de toda a força, volta agora o teu olhar para o que eu estou para fazer em favor da exaltação de Jerusalém.
5. Chegou o momento de ajudar a tua herança e dar sucesso ao meu plano, ferindo o inimigo que se levantou contra nós”.
6. Então Judite se aproximou da coluna da cama, que ficava junto à cabeça de Holofernes, e pegou a espada dele.
7. Depois chegou perto da cama, agarrou a cabeleira de Holofernes, e pediu: “Dá-me força agora, Senhor Deus de Israel”.
8. E com toda a força, deu dois golpes no pescoço de Holofernes e lhe cortou a cabeça.
9. Rolou o corpo do leito e tirou o mosquiteiro das colunas. Depois saiu, entregou a cabeça de Holofernes para a serva,
10. que a colocou na sacola de alimentos. E saíram juntas, como de costume, para rezar. Atravessaram o acampamento, rodearam o vale, subiram a encosta de Betúlia e chegaram à porta da cidade.
11. Judite gritou de longe para as sentinelas das portas: “Abram! Abram a porta! O Senhor nosso Deus está conosco, demonstrando ainda sua força em Israel e seu poder contra o inimigo. Isso acaba de acontecer hoje”.
12. Os homens da cidade ouviram, desceram logo até a porta e convocaram os anciãos.
13. Adultos e crianças, todos foram correndo. Parecia-lhes incrível que Judite estivesse de volta. Abriram a porta e as receberam. E logo fizeram uma grande fogueira para clarear, e se ajuntaram ao redor delas.
14. Judite começou a gritar: “Louvem a Deus! Louvem a Deus! Louvem a Deus que não retirou sua misericórdia da casa de Israel. Nesta noite, ele matou o inimigo através da minha mão”.
15. Então Judite tirou a cabeça de Holofernes que estava na sacola, mostrou-a e disse: “Esta é a cabeça de Holofernes, general do exército da Assíria. Este é o mosquiteiro, debaixo do qual ele dormia embriagado. O Senhor o matou pela mão de uma mulher.
16. Viva o Senhor, que me protegeu no meu plano. Juro a vocês que meu rosto seduziu Holofernes, para a sua ruína, mas ele não me fez pecar. Minha honra está intacta”.
17. Todos ficaram assombrados e, inclinando-se em adoração a Deus, disseram a uma só voz: “Bendito sejas, nosso Deus, porque hoje aniquilaste os inimigos do teu povo!”
18. E Ozias disse a Judite: “Que o Deus Altíssimo abençoe você, minha filha, mais que a todas as mulheres da terra. Bendito seja o Senhor Deus, criador do céu e da terra, que guiou você para cortar a cabeça do chefe dos nossos inimigos.
19. Os que se lembrarem dessa façanha de Deus, jamais perderão a confiança que você inspira.
20. Que Deus a exalte sempre e lhe dê prosperidade, porque você não vacilou em expor a própria vida por causa da humilhação de nossa gente, mas vingou a nossa ruína, indo diretamente ao alvo, diante do nosso Deus”. E todo o povo aclamou: “Amém! Amém!”
Capítulo 14:
1. Judite falou ao povo: “Escutem, irmãos. Peguem esta cabeça e a pendurem no parapeito da muralha.
2. Quando a aurora raiar e o sol sair sobre a terra, cada um de vocês pegue suas armas, e todos os homens fortes saiam da cidade. Coloquem à frente um chefe, como se fossem descer para a planície contra as sentinelas dos assírios. Mas não desçam.
3. Eles pegarão em armas, e irão ao acampamento para despertar os oficiais do exército assírio. Irão correndo à tenda de Holofernes e não o encontrarão. Aí ficarão apavorados e fugirão de vocês.
4. Nesse momento, vocês e todos os que vivem no território israelita os perseguirão para abatê-los na fuga.
5. Antes, porém, chamem Aquior, o amonita, para que ele veja e reconheça aquele que caçoava dos israelitas e que o mandou até nós como réu de morte”.
6. Então chamaram Aquior, que estava na casa de Ozias. Quando ele chegou e viu a cabeça de Holofernes na mão de um homem na assembleia do povo, desmaiou e caiu de bruços.
7. Quando o levantaram, Aquior se lançou aos pés de Judite e, prostrando-se diante dela, disse: “Bendita seja você em todas as tendas de Judá e entre todos os povos! Os que ouvirem sua fama, ficarão perturbados.
8. Agora, conte-me o que foi que você fez nesses dias”. Judite, no meio do povo, contou tudo o que havia feito, desde o dia em que saíra de Betúlia até esse momento.
9. Quando terminou, todos gritaram vivas e encheram a cidade com gritos de alegria.
10. Aquior, vendo tudo o que o Deus de Israel tinha feito, acreditou firmemente em Deus, apresentou-se para a circuncisão e foi definitivamente admitido entre os israelitas.
11. Ao raiar do dia, penduraram a cabeça de Holofernes na muralha. Os homens empunharam armas e saíram, em esquadrões, para as encostas do monte.
12. Ao vê-los, os assírios informaram seus chefes, e estes informaram os generais, os comandantes e os oficiais.
13. Quando chegaram à tenda de Holofernes, disseram ao mordomo: “Acorde o nosso chefe, porque esses escravos se atreveram a descer para nos atacar. Estão querendo ser completamente destruídos”.
14. Bagoas entrou e bateu palmas diante da cortina, pensando que Holofernes estivesse dormindo com Judite.
15. Como ninguém respondesse, Bagoas afastou as cortinas, entrou no quarto e encontrou Holofernes morto, jogado na entrada; tinham-lhe cortado a cabeça.
16. Bagoas soltou um grito e, rasgando as roupas, começou a chorar, soluçando e gritando.
17. Correu para a tenda onde Judite se alojava. Não a encontrando, precipitou-se para a tropa, gritando:
18. “Os escravos nos traíram. Uma só mulher hebreia desonrou a casa do rei Nabucodonosor. Holofernes está atirado no chão, com a cabeça cortada”.
19. Ao ouvirem isso, os oficiais assírios rasgaram os mantos e ficaram completamente perturbados. Seus gritos e clamores ressoaram por todo o acampamento.
Capítulo 15:
1. Os soldados que ainda estavam nas tendas, ao ouvirem, ficaram espantados com o que acontecera.
2. Entraram em pânico e, sem esperar um pelo outro, fugiram todos pelos caminhos da planície e da serra, numa debandada geral.
3. Os que estavam acampados na serra, ao redor de Betúlia, também fugiram. Então todos os guerreiros israelitas se lançaram contra eles.
4. Ozias enviou mensageiros a Betomestaim, a Bebai, a Cobe, a Cola e a todo o território de Israel, comunicando o acontecido e pedindo que todos caíssem sobre o inimigo e o exterminassem.
5. Informados disso, os israelitas caíram sobre todos eles, matando-os até Coba. Os habitantes de Jerusalém e todos os da serra, informados do que acontecera no acampamento inimigo, vieram ajudar. Também os de Galaad e da Galileia os atacaram pelos flancos, causando-lhes muitas baixas, até mais além de Damasco e suas fronteiras.
6. Os que ficaram em Betúlia caíram sobre o acampamento assírio e o devastaram, recolhendo imensos despojos.
7. Ao voltar da matança, os israelitas se apossaram do resto. Os habitantes das aldeias e dos lugares da serra e da planície tomaram posse de muitos despojos. O saque foi enorme.
8. O sumo sacerdote Joaquim e o conselho de anciãos israelitas de Jerusalém foram contemplar os benefícios que o Senhor tinha feito por Israel e também para conhecer Judite.
9. Chegando à casa dela, todos a elogiaram, dizendo: “Você é a glória de Jerusalém! Você é a honra de Israel! Você é o orgulho da nossa gente!
10. Você fez essas coisas com sua própria mão, realizando benefícios para Israel, e Deus se alegrou com isso. Que o Senhor Todo-poderoso abençoe você para todo o sempre!” E todos aclamaram: “Amém”.
11. O saque do acampamento durou trinta dias. Deram a Judite a tenda de Holofernes, com toda a sua prataria, leitos, vasilhas e móveis. Judite recolheu tudo e o carregou sobre sua mula. Atrelou os carros e empilhou tudo em cima deles.
12. Todas as mulheres israelitas correram para ver Judite e dar-lhe uma boa recepção. Algumas organizaram uma dança em sua honra. Judite pegou ramos e os repartiu com as companheiras,
13. que fizeram coroas com folhas de oliveira para Judite e para si mesmas. Depois Judite foi na frente de todos, dirigindo a dança das mulheres. Os israelitas iam logo atrás, armados, coroados e cantando hinos.
14. No meio de todos os israelitas, Judite entoou este cântico de ação de graças, enquanto todo o povo a acompanhava com refrães:
Capítulo 16:
1. “Louvem o meu Deus com pandeiros, celebrem o Senhor com címbalos. Componham para ele um salmo de louvor. Exaltem e invoquem o seu nome.
2. O Senhor é um Deus que acaba com as guerras. Do seu acampamento no meio do povo, ele me livrou da mão dos perseguidores.
3. A Assíria chegou das montanhas do norte, com seus milhares de soldados. Sua multidão cercou as torrentes e seus cavalos cobriram as colinas.
4. Ameaçou incendiar meu território e matar meus jovens à espada. Ameaçou jogar no chão meus nenês, tomar minhas crianças como presa e raptar as minhas jovens.
5. Mas o Senhor Todo-poderoso os deixou frustrados pela mão de uma mulher.
6. Seu chefe não caiu diante de soldados, nem foi ferido por filhos de titãs ou atacado por gigantes enormes. Foi Judite, filha de Merari, que o desarmou com a beleza de seu rosto.
7. Ela deixou as vestes de viúva, para levantar os aflitos de Israel. Ungiu o rosto com perfume,
8. prendeu os cabelos com turbante e se vestiu de linho para seduzi-lo.
9. Sua sandália cativou o olhar dele. Sua beleza lhe escravizou a alma, e a espada lhe cortou o pescoço!
10. Os persas se assustaram com a audácia dela, e os medos se perturbaram com sua ousadia.
11. Então meus pobres lançaram o grito de guerra, e eles ficaram assustados. Meus fracos lançaram seu grito, e eles se encheram de terror. Levantaram a voz e eles recuaram.
12. Filhos de escravos os transpassaram e os feriram como a desertores. E eles pereceram na batalha do meu Senhor.
13. Cantarei a meu Deus um cântico novo: Senhor, tu és grande e glorioso, admirável e invencível em tua força!
14. Que toda a criação sirva a ti, porque ordenaste, e os seres existiram. Enviaste o teu espírito, e eles foram feitos. E nada pode resistir à tua voz.
15. As ondas sacudirão o alicerce das montanhas e, diante de ti, as rochas derreterão como cera. E tu serás favorável aos teus fiéis.
16. Os sacrifícios de odor agradável pouco valem, e a gordura dos holocaustos é um nada, mas quem teme o Senhor sempre será grande.
17. Ai das nações que atacam o meu povo! O Senhor Todo-poderoso as castigará no dia do julgamento. Ele porá fogo e vermes na carne deles, e eles chorarão de dor para sempre”.
18. Chegando a Jerusalém, adoraram a Deus e, quando todos terminaram de purificar-se, ofereceram holocaustos, sacrifícios espontâneos e ofertas votivas.
19. Judite consagrou ao Senhor todos os objetos de Holofernes, que o povo lhe tinha dado, e também o mosquiteiro que ela mesma pegara do leito dele.
20. O povo continuou a festejar em Jerusalém, perto do Templo, durante três meses. E Judite ficou entre eles.
21. Depois disso, cada um voltou para a sua herança. Judite retornou para Betúlia e continuou vivendo em sua propriedade. Durante toda a vida, ficou muito famosa em todo o país.
22. Teve muitos pretendentes, mas, desde que seu marido Manassés morreu e se reuniu com os seus, ela nunca mais se casou.
23. E a fama de Judite crescia sempre mais. Viveu na casa de seu marido até a idade de cento e cinco anos. Deu liberdade à sua serva e morreu em Betúlia, sendo enterrada na sepultura de seu marido Manassés.
24. Os israelitas fizeram luto por sete dias. Antes de morrer, Judite repartiu seus bens entre os parentes de seu marido Manassés e entre seus próprios parentes.
25. Em seu tempo e depois, durante muitos anos, ninguém mais molestou os israelitas.
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Fonte: http://mucheroni.br.tripod.com
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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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