Este texto foi lambido por 528 almas esse mês
“O Homem é capaz de ser e usar qualquer coisa que percebe; porque tudo que ele percebe é, de certo modo, uma parte de seu ser. Ele pode, desta forma, subjugar todo o Universo do qual ele é ciente a sua Vontade Individual.”
“Ele poderá atrair para si mesmo, qualquer força do Universo, tornando-se um receptáculo adequado para isto, estabelecendo a conexão adequada às condições para que a natureza desta força faça fluir através dele.” – O que é Magick?, Aleister Crowley
A popularização da goécia trouxe consigo uma grande remessa de mestres – como tudo em ocultismo, a vontade de poder se torna base sustentável de muitas pessoas. De adolescentes que evocavam seus espíritos as escondidas no banheiro a psicopatas que acreditam que estavam em contato direto com espíritos e usavam isso para seu charlatanismo interpessoal, a década de 2000 trouxe consigo muito mais desinformação do que realmente algo prodigioso.
Eu tenho medo, então você não faz
Qualquer um que tenha se deparado na busca de goétia encontrou diversos avisos – desde os mais kardecistas, “você vai atrair obsessores”, passando para os umbandistas “você vai se encher de egum”, ou os mais cristãos “os espíritos vão se vingar de você”. A verdade é que o medo é o pior inimigo e costuma ser contagioso. Os pretensos mestres e ocultistas poderosos que circulam pela internet pouco sabem ou simplesmente não querem que você saiba. Ou podem ser ainda mais egoístas e desejar ambos ao mesmo tempo.
Quando se obtém sucesso do mais ínfimo ao esplendor, a primeira reação é óbvia – desde o cético “foi pura coincidência” ao melindroso “você vai ver a hora que ele te cobrar”, a pequenez humana não costuma admitir para si a possibilidade de sucesso do outro, ainda mais quando se sente superior aquele outro. “Os meus anos de estudo” costuma ser um escudo eficaz para a covardia.
Eles vão atormentar a sua vida
Devemos ter em mente que magia não encobre burrice. Simplesmente desculpar as suas falhas com “o espírito X está me atormentando” ou “só aconteceu merda comigo depois de evocar Y”, é uma forma simples de desviar da própria culpa. A generalização sempre foi sintoma da estupidez e livrar-se disso deveria ser sua primeira meta como magista.
Um espírito ganha muito mais com você trabalhando a favor dele do que você tentando banir ele. Logo seria contraprodutivo ele “ferrar a sua vida”, simplesmente porque você o evocou – e absurdamente ignorante pensar assim. Qualquer um que realmente já tenha trabalhado com espíritos goéticos, sabe que os mesmos possuem uma inteligência e um conhecimento peculiar. Para os mesmos, é muito mais inteligente produzir toneladas de seguidores do que atormentar qualquer indigente que o evocou por acaso e/ou curiosidade. O próprio anônimo pode ser o canal para trazer mais pessoas para eles.
A ideia comum do ocultismo atual de que os espíritos goéticos estão prontos para atormentar justifica a inutilidade dos próprios ocultistas. Os mesmos são neutros. Assim como anjos causam dor e agonia (vide a bíblia cristã, apocalipse), os demônios podem ter efeitos benéficos. Isso não significa que são “bonzinhos”, significa que foram evocados para esse fim. Nas palavras de Crowley, “toda força no Universo é capaz de ser transformada em qualquer tipo de força pelo uso dos meios adequados. Há deste forma uma inesgotável fonte de qualquer tipo de força que precisemos.”
Interessante relatar também que Crowley e seu discípulo evocaram o espírito Buer para curar seu ex mentor, Allan Bennett. Ele relata isso em Magick – Book 4, sua obra prima em magia. Assim como Bartzabel, um “demônio” do planeta marte, foi evocado por Crowley para que assegura-se o estabelecimento da Lei de Thelema na terra.
Antes de finalizar o calculo dando crédito total ao espírito que está trabalhando por qualquer evento contrario, pense na sua parcela de culpa (isso é se o calculo todo não for culpa sua) e lembre-se de uma máxima: magia não te impede de fazer más escolhas, tampouco te assegura de conserta-las.
Eles querem a sua alma
Essas são as primeiras desculpas plausíveis para interromper alguém. Porém antes de dar credibilidade total a isso, pense um pouco: espíritos precisam se alimentar. De uma simples vela acesa passando por sangue animal e/ou humano, o alimento mantém vivo o espírito. Muitas vezes, o alimento pode ser o próprio operador, que ganha características daquele espírito enquanto o mesmo se mantém sobre ele.
Mas isso não é um fato exclusivo de goécia.
É natural que um operador que entre em contato com Hermes, comece a se comunicar mais com outras pessoas, por mais introvertido que ele seja. Isso se opera porque a energia de Hermes induz ele a isso – e conforme ele se comunica, Hermes se alimenta do mesmo. O mesmo acontece com qualquer espírito/energia, que induzindo uma sensação/sentimento/característica em quem o evoca, acaba por se alimentar disso que está no operador. No Opus Lutentianum, Crowley relata os efeitos que Zeus teve em sua personalidade/vida conforme foi o evocando. A “possessão” e a durabilidade da mesma permaneceu enquanto Crowley manteve o contato com o espírito.
Isso se defini como evocação – evocar para fora – e invocação – chamar para dentro de si. Porém, na pratica os termos se tornam muito mais superficiais. É fato que toda e qualquer evocação vai ter efeitos na sua psique como se fosse uma invocação. E isso não significa ser algo necessariamente ruim.
Enquanto espíritos como Marte podem acentuar sua coragem, outros como Astaroth e Vassago podem potencializar sua intuição e outros dons psíquicos. Não porque você pede isso a ele, mas sim por ser um efeito colateral de se lidar com aquele espírito. Asmodeus acentua tanto sua libido como sua raiva, assim como Belial faz com a sua ganancia. Porém, psicologicamente você se torna igual as pessoas com quem tem mais contato. É natural do ser humano absorver aquela energia e desenvolver características iguais pelo momento. Quantas pessoas já andaram com você e depois que parou de falar com elas, você notou que elas mudaram? E quantas vezes outras pessoas notaram o mesmo em você?
Um pouco de auto controle e um bom auto conhecimento, é suficiente para driblar quaisquer efeitos que um espírito pode ter sobre você. Entenda que evocar um espírito de discórdia, como Haures ou Andras, instiga seu instinto bélico. Mas isso não é desculpa alguma para agir feito um idiota, assim como desculpar sua tara porque está trabalhando com qualquer espírito de luxuria.
Antes de procurar magia, procure o bom senso.
por King
Alimente sua alma com mais:
Conheça as vantagens de se juntar à Morte Súbita inc.