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Por Rabbi Geoffrey W. Dennis
Uma das crenças folclóricas judaicas menos conhecidas, mas muito persistentes, é a de que existem “Changelings”, isto é, demônios de aparência humana, que são descendentes de relações sexuais de humanos com demônios, que se movem entre nós. O filme Noé de Darren Aronofsky brinca com isso, sugerindo que as linhas de Sete e de Caim são de tipos fundamentalmente diferentes de humanos, embora ele posicione ambos como sendo totalmente humanos.
Esta crença tem suas raízes em uma tradição rabínica que acredita que os demônios (sheidim, criaturas mais semelhantes aos djinn islâmicos do que os terrores da imaginação cristã) são incapazes de procriar sem “semente” humana. Assim, o judaísmo tem uma tradição robusta de súcubas, demônios fêmeas sedutoras que são a causa de sonhos eróticos masculinos e emissões noturnas. Adão foi o primeiro progenitor de demônios:
“Quando Adão, fazendo penitência por seu pecado, separado de Eva por 130 anos, ele, por desejo impuro, fez com que a terra se enchesse de shedim, lilin e espíritos malignos” (Gen. R. 20; Er. 18b).
Já que, como os humanos, os sheidim estão sujeitos à morte (Chagigah 16a), estes “demônios do sêmen”, tais como Lilith, Naamah e Igrat, periodicamente repovoam o reino demoníaco através destas agressões sexuais-espirituais.
O lado oposto desta moeda é uma tradição paralela que as mulheres mortais são ocasionalmente impregnadas por íncubos:
“O rabino Hiyya disse: “filhos da divindade” (Gn. 6:2-4) eram os filhos de Caim. Pois quando Samael montou Eva (Talmud babilônico, Shabbat 146a), ele injetou [sêmen de] sujeira nela, e ela concebeu e deu à luz Caim. E seu aspecto era diferente do dos outros humanos e todos aqueles que vieram de seu lado [da árvore genealógica humana] foram chamados de “filhos da divindade”” (Zohar I:37a; ver também I:54a).
De acordo com esta versão da tradição nefilim, Caim era descendente de um anjo (Samael é chamado de “Príncipe do Céu” em Pirkei de Rabbi Eliezer 13) mas ao mesmo tempo uma “má semente”, como eram seus descendentes. As descendentes femininas de Eva também podem se encontrar periodicamente vítimas de uma espécie de “Síndrome do Bebê de Rosemary”, geralmente sem saber. Os changelings que resultam de tais “violações espirituais” se movem entre nós em grande parte sem serem detectadas, até que sua natureza maligna seja revelada através de crimes grosseiros ou outros empreendimentos malignos.
Dada a fonte espiritual de sua malevolência, às vezes foi considerado necessário combatê-los por meios espirituais ao lado dos métodos policiais e judiciais usuais. Assim, vemos em alguns amuletos hebraicos de proteção que a pessoa que busca proteção angélica contra os espíritos malignos se identificará como “Fulano de tal, filho/filha de Fulano de tal, dentre os filhos de Adão e Eva…”. (Sefer ha-Razim). Isso implica que o amuleto é direcionado contra seres que não estão entre os filhos de ambos os antepassados primordiais.
Esta crença na progênie semidemoníaca persistiu desde os tempos do Talmude até o início da era moderna, sem dúvida porque esta lenda oferece uma explicação pronta para o porquê de certas pessoas serem “más até os ossos”, muito na forma como ainda hoje declaramos os hediondos assassinos em série e outros “monstros” criminosos violentos (e, portanto, de alguma forma, não totalmente humanos).
Sobre o autor:
Geoffrey W. Dennis é rabino da Congregação Kol Ami e ensina Kabbalah e Literatura Rabínica no Programa de Estudos Judaicos da Universidade do Norte do Texas. Ele é autor de The Encyclopedia of Jewish Myth, Magic, and Mysticism, finalista do Prêmio Nacional do Livro 2007, e recebeu uma Menção Honrosa para o Prêmio do Livro do Conselho da Biblioteca Judaica 2007. Ele escreveu numerosos artigos. O mais recente, “Pureza e Transformação: O Desempenho Mimético dos Textos Bíblicos no Ritual de Taharah”, está no Journal of Ritual Studies 26 (1), 2012.
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Fonte:
DENNIS, Geoffrey W. Spawns of Satan, Children of Cain. Jewish Myth, Magic and Mysticism, 2014. Disponível em:
http://ejmmm2007.blogspot.com/
Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.
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