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O que é o Manuscrito Voynich
O manuscrito, hoje referido como “Beinecka MS 408”, faz parte do acervo da universidade de Yale. É um códice in-octavo de pergaminho que mede 23.5 x 16.2 cm. Ele tem aproximadamente 5cm de grossura, e possui uma capa desgastada de pergaminho que não oferece nenhuma indicação de suas origens (ano, título ou autor). Esta capa foi adicionada em data postareior à conclusão do manuscrito, provavelmente no século XVII ou mesmo depois. Existem algumas anotações na parte interna da capa, mas foram feitas por donos tardios do volume.
Um códice é um livro manuscrito, organizado em cadernos costurados ao longo da dobra e protegidos por uma encadernação. Esta forma de de livro foi a que começou a ser usada substituindo à do rolo (volumen) e começou a ser adotada em Roma durante o século I, a partir do século XV o livro manuscrito foi gradualmente sendo substituido pelo livro impresso, mas durante algum tempo esse tipo de livro continuou a ser produzido como veículos de textos de circulação restrita, como por exemplo literaturas clandestinas, ou de caráter provisório, versões manuscritas de textos que mais tarde seriam impressos. Quando o códice é composto de pergaminho, pele de animais curada e preparada, ele é chamado membranáceo, eram comuns até o início da idade média, sendo substituídos por códices de papiro e posteriormente, por volta do século XII, pelos de papel. Já o formato in-octavo diz respeito à forma que se criaram as páginas do códice. Um livro é formado por cadernos, que são um conjunto de folhas dobradas uma ou mais vezes sobre si mesmas. Na época dos códices membranáceos a técnica de se obter cadernos regulares era escolherse o pergaminho e através de fórmulas de dobragem se criar uma sucessão ordenada de grupos de cadernos. Então de uma folha era dobrada ao meio, uma dobra, teríamos um caderno de duas folhas e quatro páginas, se recebesse duas dobras o caderno teria quatro folhas e oito páginas, se uma folha ressebesse três dobras ela teria oito folhas e dezesseis páginas, esses são os formatos mais comuns que encontramos em livros antigos e respectivamente são chamados de: in-folio, in-quarto e in-octavo, o in-octavo significa que o livro tinha um oitavo do tamanho da folha original. Assim, a dobragem simples ou múltipla da pele, ou da folha inteira de papel, era que determinava não apenas a extensão do caderno, mas também o formato do livro. A evolução da produção de livros estabeleceu uma relação direta entre os formatos do livro a diferentes contextos de leitura. Os livros in-folio, que possuiam metade do tamanho total da folha de papel, produzidos eram destinados ao ofício divino, bíblias e afins. Já os in-quarto e in-octavo eram destinados a produzir livros de preços mais acessíveis ou para o consumo privado. Historicamente os códices de pequeno formato se generalizaram no ocidente, durante os séculos XIV-XV, quando a leitura silenciosa começou a ser praticada, já os códices in-quarto e in-octavo serviram, no século XVII, para os impressores de Paris iludirem uma crise causada pela proliferação de oficinas de livros. E como cuidado final, para se garantir que a organização dos cadernos fosse realizada de forma ordenada, desenvolveu-se a norma da assinatura, que era escrever a letra ou número da ordem na margem superior ou inferior da primeira página de cada caderno sucessivo, e do reclamo, a palavra inicial do texto de cada caderno ser inscrita no fim do caderno anterior.
Originalmente ele possuia 272 páginas, formado por 17 cadernos com 16 páginas cada; dessas, 32 páginas foram arrancadas antes de Voynich ter acesso ao livro. Uma pena foi usada para escrever e desenhar o seu conteúdo. A caligrafia do texto é muito elegante, mas apresenta um alfabeto completamente desconhecido e quase todas as págians contém ilustrações de plantas, igualmente desconhecidas, constelações, sistemas de tubos transportando líquidos e pequenas ninfas rechonchudas. Essas ilustrações parecem ser únicas, não sendo encontradas nenhuma outra como elas em outros manuscritos conhecidos. Pesquisadores e estudiosos do manuscrito afirmam que as cores usadas nas ilustrações foram acrescentadas numa data posterior à composição da obra, muitas das pinturas tem um aspecto amador, além disso existem evidências de que as páginas do manuscrito hoje se encontram rearranjadas em uma ordem diferente da original de quando ele foi escrito.
Como já vimos dois cadernos do manuscrito foram perdidos, arrancados. Dos cadernos restantes, alguns não consistem dos 8 fólios padrão. Um fólio, em sentido estrito, é uma folha de papiro, pergaminho ou papel resultante da dobragem ao meio de uma folha maior, inteira: um bifólio. Mas com o tempo se generalizou o termo fólio para designar as unidades de qualquer dimensão de um caderno manuscrito. Assim, enquanto os pares de páginas dos livros manuscritos constituem os seus fólios, já os dos livros impressos são as suas folhas. Assim, no caso do Manuscrito Voynich um caderno in-octavo tem 8 fólios e 16 páginas. No livro manuscrito apenas o rosto dos fólios recebe numeração, designando-se cada uma das respectivas páginas mediante o recurso aos símbolos r (anverso, rosto ou recto) e v (verso); assim o primeiro caderno do manuscrito começa com as páginas f1r, f1v, f2r, f2v, f3r, etc, e termina com f7v, f8r, f8v. As páginas f1r, f1v, f8r e f8v um bifólio, a numeração dos fólios é chamada de foliação. O manuscrito originalmente possuía 116 fólios e a última página está numerada como 116v. O que o torna extremamente incomum é que um número muito incomum de bifólios é muito mais largo do que o tamanho padrão das folhas, fazendo com que eles tenham novas dobras, imagine o poster central de revistas masculinas, que deixam o bifólio com o tamanho de três ou mesmo quatro páginas. E existe ainda um bifólio que mede 45x45cm que possui uma dobra horizontal.
Quanto à foliação do manuscrito, existem números escritos nas margens direitas superiores de cada página direita, com as dobras extras dos fólios fechadas. Essa foliação claramente foi feita depois que o códice foi encadernado na sua forma atual. O lado da folha em que o número do fólio aparece não é necessariamento o lado recto, isso porque diferentes dobras extras foram fechadas de maneiras diferentes quando o livro foi fechado, havendo apenas uma excessão para esta regra, que provavelmente ocorreu quando mudaram a direção da dobra depois que os números foram escritos. Existe um grande questionamento sobre a origem da foliação, se teria sido feita pelo autor ou escriba original ou por algum dono posterio do manuscrito, isso será discutido mais para frente. Quando todas as páginas grandes são desdobradas, podemos ver os lados recto dos folios, à esquerda estão os lados verso, do fólio anterior. Se o número do fólio for n as páginas recto estão numeradas da esquerda para a direita: fnr1, fnr2, etc. No lado verso, as páginas verso estão numeradas da direita para a esquerda: fnv1, fnv2, etc. A excessão a esta regra é o par de fólios f85 e f86, que formam a já mencionada dobra horizontal, esta excessão será explicada mais para frente também.
As assinaturas dos cadernos aparecem em algumas páginas. Não está claro até hoje quem foi o responsável por elas. Elas estão indicadas por um número escrito de uma maneira antiga, seguido por um 9 e às veves um “m” entre eles. As assinaturas dos cadernos 16 e 18 não existem, mas como existem páginas faltando entre os cadernos 15 e 17 e entre os cadernos 17 e 19 é seguro supor que esses cadernos eram formados por um bifólio cada, que podia se desdobrar em páginas extras ou não, que foram perdidos. Além disso, já que a numeração dos cadernos mostram a falta desses cadernos desaparecidos, podemos supor, novamente, que quando os números dos fólios foram feitos esses cadernos estavam presentes. Quase todas as marcações foram feito no último verso de cada caderno, mas existem excessões, em especial o caderno 9, cuja marcação foi feita em tal lugar que poderia nos levar à conclusão que este caderno de página de dobras múltiplas foi encadernado de forma incorreta no manuscrito. O caderno 20 possuiu a numeração na primeira página recto, a única explicação encontrada para justificar isso é de que a marcação foi feita de forma deliberada para indicar que este era o último caderno.
Quase todas as páginas do manuscrito possuem ilustrações e baseadas nelas o manuscrito foi dividido em seis “seções”, cada uma com estilos e assuntos bem distintos. A não ser pela última seção, que é composta quase que exclusivamente de texto, quase todas as páginas contém ao menos uma ilustração.
As seis seções definidas pelas ilustrações ficaram conhecidas hoje como:
– Botânica: Cada página mostra uma planta (em alguns casos duas) e alguns parágrafos de texto escritos de forma a cuidadosamente evitarem os desenhos, uma forma comuns aos tratados de botânica europeus da época compreendida entre o final da antiguidade e o início da renascença. Algumas partes destes desenhos são cópias ampliadas e mais limpas de rascunhos que aparecem na sessão de “farmaceutica”. Nenhuma das plantas retratadas podem ser claramente identificadas e algumas chegam a apresentar um aspecto fantasmagórico.
Aproximadamente metade das páginas do manuscrito são de natureza botânica, especificamente o caderno 1, com excessão do fólio 1r que contém apenas texto, todo o caderno 2, caderno 3, caderno 4, caderno 5, caderno 6, caderno 7, fol. 57r, fol. 66v, fol. 87, fol. 90 e todo o caderno 17.
– Astronomia: Contém diagramas circulares, alguns com sóis, luas e arranjos de estrelas, sugerindo um conteúdo astronômico e astrológico. Uma série de 12 páginas contém diagramas que mostram os símbolos convencionais para as constelações zodiacais (dois peixes para Peixes, um touro para Touro, um caçador com um arco para Sagitário, etc.) Cada um desses é rodeado por uma sequência de 30 mulheres arranjadas em duas ou mais sequências concêntricas. A maiorias das mulheres está ao menos parcialmente nua, e cada uma segura o que parece ser uma estrela com uma legenda ou então tem a estrela ligada ao braço por uma corda. As últimas duas páginas desta seção (Aquário e Capricórneo, que podem ser ligadas de certa forma a Janeiro e Fevereiro) foram perdidas, enquanto Aries e Touro foram divididas em quatro diagramas colocados em pares com quinze mulheres e quinze estrelas cada. Alguns desses diagramas aparecem em páginas duplas que se desdobram. Essas páginas são conhecidas como páginas astrológicas.
As páginas astronônicas são fol. 67, com excessão do f67v2 e fol. 68, com excessão do f68v3.
As astrológicas são fol. 70v2, 1, fol. 71, fol. 72 and fol. 73.
– Biologia: Talvez esta seja a seção mais enigmática de todo o volume. Ela é composta por um texto contínuo e denso interrompido por figuras, em sua maioria de pequena mulheres nuas dentro de banheiras ou bacias conectadas por uma intrincada rede de canos, alguns deles criados com formas de órgãos. Algumas das mulheres usam coroas. Muitos apontam para a impressão causada por esse conjunto de textos e imagens de representaram um processo químico/alquímico ou natural.
A seção biológica é formada pelo caderno 13.
– Cosmologia: O uso do termo “cosmológicas” para descrever estas páginas foi usado pela primeira vez por William Romaine Newbold em seu livro ‘The Cipher of Roger Bacon’ (o código de Roger Bacon) publicado em 1928. Esta sessão apresenta mais diagramas circulares, mas sua natureza é obscura. Esta sessão também possui páginas duplas que se desdobram, uma delas quando desdobrada atinge o tamanho de seis páginas e contém um mapa ou diagrama, com nove “ilhas” conectadas por braços de terra, castelos e o que parece ser um vulcão.
As seguintes páginas são cosmológicas: fol. 67v2, fol. 68v3, fol. 69, fol. 70r1,2, fol. 85r2, a rede interligada de rosetas e o fol. 86v4,3
– Farmaceutica: Composta por muitos desenhos de partes de plantas (raízes, folhas, etc.), todos com legendas, possui também desenhos de objetos que lembram os utilizados por boticários, como potes e jarras, nas margens das folhas, e alguns parágrafos de textos.
As páginas farmaceuticas são as fol. 88, fol. 89 e todo o caderno 19.
– Receitas: Composta de vários parágrafos curtos, cada um com uma ilustração de uma estrela ou flor como marcação. Algumas estrelas foram coloridas com cores escuras e algumas possuem uma cauda.
As páginas de receita são fol. 58 e todo o caderno 20 com excessão do fol. 116v.
Além dessas, as páginas f1r, f76r, f85r1 e f86v6, v5 possuem apenas textos, sem nenhum tipo de ilustração.
Como já vimos algumas páginas foram arrancadas do manuscrito, deixando algumas lacunas na numeração:
– O fólio 12 foi arrancado do livro, mas é possível ver ainda as bases das folhas rasgadas.
– Os fólios 59 ao 64 foram removidos ou deixados de fora do miolo do caderno, mas supostamente estavam ainda no manuscrito na época de Newbold, provavelmente fora de ordem.
– Fólio 74 foi arrancado, mas é possível se ver as bases das folhas rasgadas.
– Caderno 16 provavelmente era formado pelos fólios 91 e 92.
– Caderno 18 era provavelmente formado pelos fólios 97 e 98.
– Fólios 190 e 110 foram removidos ou deixados de fora do miolo do caderno.
por Obito
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