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Satanarquia – Satanomicon

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O termo satanarquia foi criado pelo diácono satânico Maskim Xul, para distingui-lo das várias correntes anárquicas existentes. De modo geral, o anarquismo postula a acracia, ou seja, a total ausência de governo ou classe dominante. Tudo deve ser livre, mas não irresponsável. Em linhas simples, a liberdade é plena, desde que não haja invasão no circuito de terceiros. Assim, uma violência intencional e gratuita não é admissível na anarquia.

Na Grande Enciclopédia Delta Larousse, anarquia é o “sistema político ou social segundo o qual o indivíduo deve ser emancipado de toda tutela governamental”. Anarquismo é a “doutrina política que preconiza a abolição total do Estado e de todas as autoridades temporais e espirituais, esperando eliminar as injustiças sociais e garantir a paz e a felicidade do gênero humano pelo estabelecimento da associação livre dos cidadãos e para fins produtivos”.

Informa, ainda, a mesma fonte que os ideais anárquicos “foram pela primeira vez sistematizadas pelo romancista inglês Godwin e pelo filósofo alemão Max Stirner. Mas o verdadeiro teórico do anarquismo é Proudhon, que encontrou numerosos adeptos da classe operária francesa; e o primeiro grande líder foi o russo Bakunin, cujo coletivismo e propaganda da destruição violenta de todas as ordens estabelecidas converteram ao anarquismo os trabalhadores da Espanha, Itália, Suíça francesa e Áustria; um anarquismo menos violento é a doutrina do russo Kropotkin, que exerceu influência sobre a não-violência de Tolstoi e Gandhi. Os proudhonistas participaram, em 1871, da revolta da Comuna de Paris. Proudhonistas e bakunistas entraram na Primeira Internacional, que estourou em 1872 entre o marxismo e o anarquismo”.

Para atingir este estado social, deve haver uma emersão, que é um movimento de baixo para cima, ou seja, a partir do próprio povo esclarecido, criando o caos até que haja o resultado desejado, o fim de qualquer regência sobre a vida do cidadão. Os anarquistas que não adotam a violência como meio de ação pleiteiam pela manifestação não-violenta, que também não é pacifista, já que qualquer agressão deve ser reprimida à mesma altura, ainda que sob a capa da autoridade, uma vez que esta nem devia sequer existir. Portanto, é bem diferente de terrorismo, em que inocentes pagam a conta da subversão de esquerda.

Uma das maiores distinções entre a anarquia e a satanarquia assenta-se no fato de aquela pregar a paz e o amor universal, enquanto esta, como fruto do Satanismo, ciente está que o conflito é uma lei natural, por causa da cadeia alimentar, não apenas em sentido gástrico, mas socialmente considerado também. Torna-se passível de observação que a existência de um ser sempre depende de outro, daí a explicação curial para as guerras.

Outra discordância da satanarquia, segundo Maskim Xul, é que sempre haverá pessoas que preferem se submeter aos desígnios do forte a lutarem pelo auto-domínio. Portanto, o rebanho sempre existirá, mas tal fato dar-se-á naturalmente, pois seres inferiores realmente precisam ser regidos por terceiros e, neste caso, reflete o exercício da própria escolha espontânea de cada um, e não mera imposição.

Um terceiro erro das correntes anárquicas é a pura e simples eliminação do capital, preconizada por Karl Marx, que o associa a um vampiro. Na realidade, o capital não é um vampiro, e sim quem dele se utiliza para controle de massa, ditando normas às quais ninguém consegue escapar. No estabelecimento da anarquia, o capital continua necessário, caso contrário as comunidades não terão um parâmetro (no caso, a moeda) para fazer negócios. O escambo (troca de mercadoria) pura e simplesmente faliu desde a antigüidade, porque nem sempre determinado bem é aceito para troca, mas o dinheiro é universal. Por outro lado, a gratuidade dos bens numa comunidade pode favorecer o parasitismo, em que uma só pessoa recolhe, por exemplo, inúmeros remédios desnecessários, para fazer um estoque hipocondríaco, impedindo que outras pessoas usufruam do mesmo. Tendo de pagar o preço, tal pessoa pensará duas vezes antes de recolher o produto aleatoriamente. Não obstante, torna-se imperativa a eliminação das instituições mantenedoras de megariquezas que permitem o domínio de determinada elite sobre o povo, como é o caso do infame FMI, bem como o estabelecimento de uma moeda única, aceita em qualquer lugar. Neste sentido, em alguns escritos anarquistas não se tenta destruir a idéia do capital, mas direcioná-lo a um uso mais adequado, tipo “empresa familiar”, no qual tudo seria distribuído eqüitativamente. Também é risível esta idéia, pois favoreceria quem pouco produz e desfavoreceria quem muito labora. “O ideal é o capitalismo voltado para um darwinismo social verdadeiro”, conforme ensina Beto Pataca.

Quanto à língua universal, muitos anarquistas defendem o esperanto, que nunca vingou, porque não há praticidade no estudo do mesmo. O inglês, desde o século XIX, pela expansão britânica, é falado correntemente no mundo inteiro. Em qualquer hotel, agência de viagens, clube, restaurante, sempre há quem fale o inglês. Inúmeros livros são escritos também neste idioma permitindo uma compreensão global. Nos primeiro e segundo graus escolares, é estudado praticamente no planeta inteiro. Contudo, dizem que o inglês é fruto do imperialismo americano, o que é uma falácia, não só por já ser universal antes do advento desse xerifado, mas também por que uma língua é apenas uma ferramenta de comunicação. O uso dela pode se dar por vínculos de amizade, de cultura, de arte, de ciência e mesmo para dominação política e religiosa, mas não exclusivamente. Além disso, o esperanto é utilizado por católicos e espíritas, o que revela a nódoa da dominação religiosa. Portanto, é uma estupidez tentar trabalhar com o esperanto, que é apanágio de uns poucos lingüistas, literatos e entusiastas, quando o inglês está suficientemente universalizado e aceito por todos.

Em relação às leis, o anarquismo prega a total extinção das mesmas, revendo a frase altamente imbecil do senhor Jean-Jacques Rousseau, que “o homem nasce bom, a sociedade o corrompe.” Destarte, o homem totalmente livre seria naturalmente bom, e não precisaria de nenhuma lei. A satanarquia adota justamente a posição contrária, ao se servir da famosa frase de Plauto, repetida por Bacon e Hobbes, que Homo homini lupus, “o homem é um lobo para o homem”. A verdade é que vemos a predação na natureza inteira, e nunca foi diferente com o bicho-homem em toda a história da humanidade. O conflito sempre foi regra; a ausência do mesmo, exceção. Querer uma sociedade totalmente sem crimes é o mesmo de aceitar que nunca haja blecaute num sistema de energia elétrica. Portanto, algumas leis são necessárias, mas não como forma de dominação, e sim para defesa do próprio indivíduo ou grupo. O que forçosamente deve ocorrer é uma minimização dos delitos, desde que implante-se a liberdade, MAS elimine-se a impunidade, o maior incentivador de curto-circuitos sociais.

Uma solução para o advento de uma sociedade anárquica seria o de irmandades ou comunidades, pessoas ligadas por alta sintonia e afetividade, como é o caso do kibutz, em Israel, que é um estabelecimento coletivo. É óbvio que, neste caso judaico, há ainda o ranço da religião, mas tal não eiva a validade da idéia, pois é perfeitamente possível criar uma comunidade cooperativa em termos de auxílio mútuo, no sistema de trabalho, produção, consumo e educação. De qualquer forma, cada um deve ter sua própria propriedade, e não uma propriedade totalmente comum, caso contrário, até as cuecas e escovas de dente acabarão sendo comunais também. Uma família ter de dividir seu espaço com outra é totalmente antinatural, eis que na natureza é o contrário que acontece. Cada família de pássaros possui seu próprio ninho na árvore.

Os princípios da satanarquia são:

  • Autonomia. Cada ser humano é totalmente livre e independente para tomar suas decisões.   Se uma decisão é tomada por um grupo, os membros discordantes não são obrigados a participar  da mesma, exceto se for uma decisão vital, como ocorre, por exemplo, num condomínio em que a maioria dos membros vota pela aquisição de um sistema de segurança mais eficiente.
  • Apoio mútuo. Numa irmandade satânica, fortalecida pela afinidade entre os membros, seria tremendamente prazeroso o auxílio mútuo de forma a haver o fortalecimento e a melhoria da qualidade de vida dos membros, já que não há submissão a ninguém. O mesmo não ocorre na sociedade, pela situação nefasta em que se acha. De qualquer forma, é perfeitamente possível que ocorra o mesmo em comunidades não-satânicas, como é o caso do kibutz.
  • Autogestão. Todos teriam o poder de gerir a comunidade, como acontece no caso do condomínio citado anteriormente, em que o síndico depende da avaliação dos demais moradores para a administração do prédio no tocante às decisões mais importantes. Daí os periódicos editais de convocação para reuniões, onde se debate cada idéia até haver uma espécie de consenso. Note-se que, mesmo nas questões de administração, prevalece o sistema de rodízio. Portanto, o síndico é um mero funcionário, exercendo sua função, e não um governante. O mesmo é possível na sociedade como um todo.
  • Autodefesa. É necessária de forma a preservar a comunidade, tanto de ingerência externa, quanto de elementos perniciosos que eventualmente estejam nela. É o que havia nos clãs primitivos, em que se defendiam de outros clãs e eliminavam ou baniam os membros indesejáveis.
  • Aceitação unânime. Para se entrar numa comunidade satânica deve haver aceitação total dos irmãos, de forma a evitar dissonância entre o grupo. Num sistema secreto de votação, uma bola branca (símbolo da destruição) basta para eliminar o pretendente. Outros métodos podem ser igualmente invocados, conforme seja a postura do grupo.
  • Apolitismo. Política é sinônimo de regência, manipulação e corrupção. Com o advento da internet torna-se plenamente possível a regência do próprio indivíduo, pela discussão e votação nas questões mais importantes. Diga-se de passagem, o apolitismo é um grande passo para a eliminação da pátria, outro conceito de subserviência idiota.

Termino este ensaio, postando uma famosa frase anárquica: “Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.”


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