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Apesar de magia e psicologia não se confundirem, a psicologia pode fornecer subsídios ao mago, uma vez que estuda arquétipos das camadas internas da mente humana. Psicologia é ciência, mas magia não é só ciência, também é arte. Qualquer definição é imperfeita, mas um dos conceitos de arte é “Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, em geral de caráter estético, mas carregados de vivência íntima e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de renovar ou prolongar” (Aurélio). Esta definição é genérica, serve para qualquer tipo de arte, mas, tal como a poesia é o canal de expressão do poeta, a magia é do magista, ambos trabalhando com estados internos de quem os realiza, através de vivência íntima e profunda.
Além disso, a Psicologia não trabalha apenas em nível individual, muito se fala também acerca do inconsciente coletivo. Neste sentido, poderá haver, no futuro, um estudo direcionado psicologicamente acerca da ação magica de Fulano em Beltrano, ou mesmo de Fulano sobre um grupo, mas, por enquanto, é pura especulação da minha parte. A possibilidade existe.
Na verdade, qualquer tipo de conhecimento não é totalmente separado. Relacionaria o conhecimento global como uma casa de cômodos, em que cada quarto seria um tipo de conhecimento determinado, como psicologia, outro a magia, e assim vai. É óbvio que, na elaboração de uma prática mágica, não se usa apenas estes dois, mas também outros tipos de conhecimento, até a matemática, que é usada nos cálculos da hora mágica. Daí a possibilidade de livre entrada e saída dos cômodos, sempre somando subsídios ao que se quer. É também a importância de inúmeros estudos como Magick, Qabalah, Tarot, Astrologia, pois todos fornecem informações correlatas, que fortalecem o estudo de magia em geral. Refere-se em buscar alimento na Historia, Geografia, Física, Química etc., fornecendo fatos, localização, elementos etc. Nenhum conhecimento é totalmente estanque. De uma forma ou de outra, tudo se relaciona e interpenetra.
Na elaboração de um dado ritual, existem os seguintes fatores:
Cognição – O mago estuda de forma o mais abrangente possível inúmeros dados relacionados com a prática que vai criar. Nesta fase, que é intelectual, a psicologia pode ajudar nos estudos de arquétipos e inclusive na elaboração de uma prática. Os ensaios junguianos trazem luz a vários arquétipos e, inclusive, como se trabalhar com alguns deles. A programação neuro-linguística possui alguns dados relevantes na consecução de algumas obras magicas, apesar de não se referir explicitamente à magia. O mesmo ocorre em outros ramos da Psicologia. Concordo que as diversas abordagens, ou melhor, os diversos ramos dizem muito das tendências dos seus próprios criadores, bem como daqueles que se apegam a estudos específicos. A variedade é sempre boa, pois são diversas formas de se ver um mesmo tema, principalmente o tão imensamente debatido do interior humano.
Preparação – O mago cria ou adquire os apetrechos mágicos. Nem sempre é possível criá-los, já que demandaria certo conhecimento de ourivesaria, marcenaria, metalurgia e outros na fabricação de pedras, altar, espada e assim por diante. Confesso que nunca vi um curso especifico para a criação de apetrechos mágicos e nem sei se alguma ordem dispõe do mesmo. Nos famosos cursos exotéricos que pululam por aí, também nunca vi nada neste sentido. Contudo, o importante é sempre a comunhão do mago com o apetrecho, afinal este vai se tornar um dos modos de expressão daquele. O melhor parâmetro é sempre o próprio mago, pois ele vai buscar afinidade no que cria ou adquire, vai “namorá-lo”, por fim consagrá-lo da sua maneira. Neste sentido, a psicologia explica que a exteriorização de objetos mágicos é uma espécie de projeção. A própria idéia de deus como ente sobrenatural, como no Cristianismo, também é uma projeção de um estado que o homem tem dentro de si. Osho disse que deus não é o CRIADOR, mas sim a CRIATIVIDADE.
Consecução – Chegado o momento da prática ritual, a intelectualização fica de fora. É o momento da ação, expressa no rito formalizado e na carga emocional induzida. Em primeira linha, um ritual pode ser considerado uma terapia, pois a sua dramatização possibilita uma centralização ou integração do mago, principalmente se ele trabalha a Sombra com consciência. Por outro lado, se o trabalho for bem feito, o que se revela numa espécie de exaustão, o subconsciente não distingue a fantasia da realidade, é como se o objetivo pretendido realmente tivesse se concretizado e, então, eliminado o escolho da ânsia de resultado, que se tornaria uma quarta fase, bem nociva, impedindo a concretização da obra.
Alienação – Em relação a possibilidade da quarta fase, o ideal é o mago “esquecer” de tudo. LaVey diz que uma boa forma de esquecer um objetivo é achar outro de imediato. Esta pode ser uma boa saída para quem não complementou adequadamente a dramatização da fase anterior e se acha na compulsão de vigiar os seus efeitos.
É óbvio que um estudo psicológico sempre vem a somar. Não se trata de “psicologização da magia”, mas do uso de mais uma ferramenta, de suma importância, como também o é a matemática, na preparação de diversos cálculos na confecção de mapas astrais, no acerto de horas mágicas, na gematria e muitos outros. Como também é a história, correlacionando fatos e dados, como o advento do Liber Al Vel Legis; estudando a ausência de relatos sobre o nascimento de Jesus, apesar da existência de inúmeros autores de peso, interessados nas diversas questões religiosas da época em que viviam.
Aqui eu faço um parênteses. É importante o fator de equilíbrio. Assemelho, no tocante ao aspecto de justiça, a magia a uma arte marcial. Um mago normal não sai usando e abusando da magia ao seu bel-prazer. Isto seria similar a um faixa branca que, após algumas aulas, resolve mostrar que sabe tudo e provoca brigas para auto-afirmação, exercitando simples egolatria. Há todo um consenso cósmico quanto à concretização do trabalho mágico, se esta for fundada na livre expressão do Self. Quero dizer que os arquétipos da Sombra também são arquétipos de justiça, que é uma das imagens simbólicas de Exu na Umbanda, por exemplo. Logo, é impossível uma pessoa que inconscientemente odeia o dinheiro – porque fincou raízes em sua mente a falácia de que “dinheiro não traz felicidade” – realmente ficar com situação financeira privilegiada, enquanto não mudar o paradigma auto-imposto dentro de si. Do mesmo modo, é o caso de um cara porco e desdentado fazer um ritual para que uma gata “a la Sharon Stone” se apaixone por ele (a não ser que esta seja a sua tara, o que não é nem provável, nem razoável). Nunca vai funcionar. O fator de equilíbrio revela-se um pouco nisso tudo.
Lord Ahriman
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