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Se a paz e o amor pudessem ser obtidos através de bilhões de orações diárias, há muito a violência teria sido erradicada deste planeta. Existe uma enorme carga de fervor religioso neste sentido, mas o efeito desejado não ocorre; a egrégora é enorme, mas está altamente corrompida, porque se tornou parcial. A guerra e a paz devem ser trabalhadas em conjunto, não isoladamente. Enfatizar a paz não elimina a guerra, apenas cria uma pausa entre duas guerras. Já dizia Woodrow Wilson: “Não sou daqueles que acreditam que um grande exército seja um meio de preservar a paz, porque se formas uma grande profissão, os membros desta profissão vão querer exercê-la”. Note-se que até o Vaticano possui a sua guarda suíça. As guerras são necessárias, não só para evitar o superpovoamento, mas também para mudar estruturas sociais apodrecidas e desgastadas, sem valor algum. Se não houvesse a Revolução Francesa e o advento de Napoleão, a Santa Inquisição ainda estaria levando uma infinidade de pessoas à fogueira.
Em todas as guerras, as maiores vítimas são os indefesos. Então, a bondade divina não passa de uma falácia. Dizem que o reino de Deus não é deste mundo, mas este mundo não foi criado por ele? Ou será que a vingança contra Adão e Eva continua até hoje?
A própria “não-violência” de Gandhi não passa de uma forma mais sutil, refinada e esperta de violência, pois ele constrangeu os ingleses a deixarem a Índia. Ele apelou para os pontos fracos deles, revelando a contradição entre a crença cristã e a usurpação do território alheio. Não havia outra alternativa, senão os ingleses deixarem o País definitivamente. É evidente que houve baixas em prol desta “não-violência”. De Gandhi é o seguinte pensamento: “Onde não há escolha senão entre a covardia e a violência, aconselharei a violência. Cultivo a coragem tranqüila de morrer sem matar. Mas quem não possui tal coragem, deve cultivar a arte de matar e ser morto antes do que fugir vergonhosamente do perigo.”
Além disso, a martirização em prol de um ideal não revela coragem, mas estupidez baseado num altruísmo hipócrita. É pretencioso quem pensa que, sacrificando a sua vida, vai mudar o quadro. Em toda a história da humanidade o quadro foi sempre o mesmo, guerra pelo poder e pela posse de terras. Quem ganhou com isso? Uma elite privilegiada. Quem perdeu com isso? Todos: a grande massa de soldados, seus familiares e os povos em geral. Por conseguinte, todos deveriam se reunir e dar um basta nisso. Nem motivos políticos nem religiosos pagam o preço.
Atualmente, a OTAN (leia-se EUA) servem excelentemente à elite do poder dominante, buscando moralizar as guerras, daí se ouvir falar em bombardeios cirúrgicos, ataques humanitários e outras imbecilidades semelhantes. Anteriormente, os soldados se confrontavam nas guerras, atualmente a OTAN poupa os seus próprios soldados, enquanto infligem baixas pesadas nos seus inimigos, não só nos combatentes, mas também na população, haja vista os fatos recentes em relação aos sérvios e albaneses na Iugoslávia,[1] inclusive com mortes na Embaixada Chinesa, o que levou a um clima alto de tensão entre os dois países.
No interesse desta minoria privilegiada, o Armagedon se distancia cada vez mais, pois eles mesmos se tornariam vítimas disso, daí se falar ao longo destas décadas em desarmamento nuclear e na busca de um acordo com os russos, chineses e, principalmente, os árabes, que já dispõem também desta tecnologia. Se nenhum fanático apertar um botão, tudo deve continuar como está.
Ouvi uma piada.
Um amigo chega para o outro e pergunta:
– Você sabe como será a Terceira Guerra Mundial?
– Não, mas eu sei como será a Quarta.
– E como será?
– Por meio de arco e flecha.
É o problema da devastação total. Pior do que isso, o planeta não passa de uma enorme laranja e, se alguém fica dando tiro nela, em dado momento explode por completo. A pessoa é capaz de acordar com a Terra transformada num meteorito.
Como xerife do mundo, os EUA há muito vêm se metendo nos problemas internos dos países, o que causa imensa revolta. O Presidente Bill Clinton, no caso dos sérvios e albaneses, sugeriu à OTAN indiciar o Presidente Milosevick como criminoso de guerra, então nada mais justo que ele mesmo também fosse indiciado devido aos inúmeros erros militares dos seus comandados. Aliás, esta história de criminoso de guerra… Ou qualquer um que participa de uma guerra é criminoso, ou ninguém é. Ninguém cita os americanos como responsáveis pelo holocausto de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que ceifou instantâneamente 120000 vidas, o assunto foi praticamente esquecido sem nenhuma menção pejorativa aos autores deste crime covarde e hediondo contra civis, mas o dos judeus é eternamente relembrado e o número foi forçosamente aumentado, pois seria impossível Hitler matar seis milhões de judeus em seis anos de guerra, o que equivaleria a 50 vezes a hecatombe japonesa[2]. Em resumo: a história é sempre escrita pelos vencedores.
Antigamente, a guerra possuía realmente sentido. Se você fazia parte de uma tribo pequena, tinha o maior interesse em defender a sua família e os seus amigos do ataque de invasores, bem como estender os seus domínios. Os líderes eram respeitados pela bravura e inteligência, não pela corrupção esperta. A comunidade era muito unida. Hoje, em cidades do interior, por exemplo com 5000 habitantes, ainda sobrevive este resquício, todos se conhecem, se respeitam, há laços de amizade muito fortes. Quem é pernicioso passa a viver à margem da comunidade e acaba mesmo mudando-se de cidade. Este era o sentido do banimento e do ostracismo, que corria até de forma natural, devido à forte desaprovação social. Hoje, as guerras não interessam a ninguém, a não ser na preservação dos interesses desta elite, em nível mundial. O verdadeiro patriotismo descambou para as torcidas de futebol, de escolas de samba e de galeras funk, sendo um caso de transferência de valores, porque é impossível existir o patriotismo assentado apenas na emoção de um hino nacional (o torcedor de futebol conhece perfeitamente a história e o hino do seu clube, mas e o hino e história do país?), enquanto o território brasileiro é imenso demais para haver uma afinidade sentimental da população, razão por que se explica plausivelmente a violência dos grandes centros urbanos, enquanto no interior é raro tais acontecimentos.
A solução para o problema da guerra está no egoísmo. O egoísmo ou filáucia, segundo o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete, significa, entre outras definições: a) amor-próprio; b) conjunto de propensões ou de instintos adaptados à conservação do indivíduo. Em outros dizeres, o egoísmo não se confunde com o egocentrismo, que é a “tendência exagerada de uma pessoa em referir tudo a si próprio, considerando-se como o centro do universo”, o que se trataria de uma doença mental, um subjetivismo na doutrina de Lombroso.
Se as pessoas tivessem egoísmo, não haveria guerras, pois nunca se comprazeriam em seguir os seus líderes em prol de abstrações coletivas, como patriotismo, interesse religioso, etnia e outras anomalias semelhantes. Símbolos de “valor”, como medalhas, poderiam muito bem ser jogados no lixo, pois só servem para tornar o “herói” um pavão. Todo o sofrimento desnecessário causado nos conflitos, em prol de pretensos ideais assenta-se na idéia de martirização, na imbecilidade de “morrer pela pátria”, quando são as “pátrias” que enviam os seus filhos para a morte. O autor se pergunta porque os presidentes, os políticos e os generais não ficam na linha de frente, junto com os soldados, como na época de César.
[1] Dados do momento em que o autor escreve, no primeiro semestre de 1999.
[2] Antes que um idiota me acuse de ser anti-semita ou nazista, afirmo que escrevo apenas a verdade e não endosso nenhum preconceito religioso.
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