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Cada uma das visões do Segundo Bardo até aqui descritas era um aspecto da “experienciação da realidade”. O fogo interior ou as ondas exteriores – apreendidos intelectualmente ou emocionalmente – cada visão com suas armadilhas correspondentes. Cada uma das “Deidades Pacíficas” aparece com suas “Deidades Coléricas” auxiliares. Manter quaisquer dessas visões por qualquer período de tempo requer um certo grau de concentração ou “unidirecionidade”[13] da mente, da mesma forma que a capacidade de reconhecê-las e não sentir medo. Assim, para a maioria das pessoas, a experiência pode passar por uma ou mais destas fases sem que o viajante seja capaz de segurá-las ou ficar com elas. Ele pode abrir e fechar os olhos, pode ficar alternadamente absorto em sensações internas ou em formas externas. A experiência pode ser caótica, bela, emocionante, incompreensível, mágica, mutante. [No Bardo Thodol, no sexto dia aparecem as luzes radiantes das Cinco Sabedorias combinadas dos Dhyani-Budhas, as deidades projetivas (guardiãs da mandala) e os Budas dos Seis Reinos do jogo-existência. De acordo com o Lama Govinda: “O Caminho Interior de Vajra-Sattva consiste na combinação dos raios das Sabedorias dos quatro Dhyani-Buddhas e sua absorção pelo próprio coração da pessoa – em outras palavras, no reconhecimento de que todas essas irradiações são emanações da própria mente da pessoa num estado de perfeita tranqüilidade e serenidade, um estado no qual a mente revela sua verdadeira natureza universal.” (Govinda, op. Cit., p. 262)].
Ele viajará livremente através de muitos mundos de experiência – do contato direto com imagens e formas do processo vital, ele pode passar às visões de “papéis” humanos[14]. Ele pode ver e entender com clareza e brilho inimaginados vários scripts sociais e individuais que ele e os outros interpretam. Suas próprias batalhas na existência cármica (de scripts) parecerão deploráveis e risíveis. Liberdade extática da consciência é a tônica desta visão. A exploração de reinos inimagináveis. Aventuras teatrais. Encenações dentro de encenações dentro de encenações. Os símbolos tornam-se as coisas simbolizadas e vice-versa. Palavras tornam-se coisas, pensamentos são música, a música é cheirada, os sons são tocados, completa intercambialidade dos sentidos.
Todas as coisas são possíveis. Todos os sentimentos são possíveis. A pessoa pode “experimentar” vários humores assim como faz com peças de roupa. Os indivíduos e objetos giram, transformam-se uns nos outros, unem-se, fundem-se, dispersam-se novamente. Objetos exteriores dançam e cantam. A mente os toca como a instrumentos musicais. Eles assumem qualquer forma, significado ou qualidade que se lhes ordene. São admirados, adorados, analisados, examinados, trocados, feitos bonitos ou feios, grandes ou pequenos, importantes ou triviais, úteis, perigosos, mágicos ou incompreensíveis. Pode-se reagir a ele com maravilhamento, fascinação, humor, amor, repugnância, espanto, horror, deleite, medo, êxtase.
Como um computador com aceso ilimitado a qualquer programa, a mente vaga livremente. Lembranças pessoais e raciais borbulham à superfície da consciência, misturadas com fantasias, desejos , sonhos e objetos exteriores. Um evento no presente carrega-se de profunda significância emocional, um fenômeno cósmico torna-se idêntico com alguma peculiaridade pessoal. Problemas metafísicos são burlados e jogados de lado. “Processo primário” puro, chuva de associação espontânea, opostos se unindo, imagens se fundindo, condensando, mudando, entrando em colapso, se expandindo, unindo-se, conectando-se.
Essa visão caleidoscópica do jogo-realidade pode ser assustadora e confusa para um indivíduo malpreparado. Em vez de claridade requintada de percepção multinivelada, ele pode experienciar um caos confuso de formas incontroláveis, sem significado. Em vez de deleite ante as acrobacias brincalhonas do intelecto livre, haverá um apego angustiado a uma ordem ilusória. Podem ocorrer alucinações mórbidas e escatológicas, evocando repugnância e vergonha.
Como antes, essa visão negativa ocorre apenas se a pessoa tentar controlar ou racionalizar este panorama mágico. Relaxe e aceite o que vier. Lembre-se de que todas as visões são criadas por sua mente, as alegres e as tristes, as belas e as feias, as deleitosas e as terrificantes. Sua consciência é criadora, intérprete e espectadora do “circo retinal”.
Se o guia sentir que o viajante estiver ou permanecer na visão do “circo retinal”, pode ler-lhe as instruções apropriadas.
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