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Em setembro de 1966, trabalhando com advogados da Primeira Emenda, nós formalmente encontramos uma nova religião, chamada “Liga para Desenvolvimento Espiritual”, para prover proteção legal para nossas próprias investigações neurológicas e para encorajar outros a formar suas próprias religiões. Nós deixamos bem claro que a liga não era uma organização de massa, mas sim limitada a 100 pessoas centradas em volta do estado de Hillibrook em Dutchess County, New York. Nós não procurávamos converter, mas sim mostrar aos outros como fazê-lo por si mesmos.
Nossa primeira reunião sacramental, uma celebração religiosa no Village Thatre, no lado leste baixo de New York, foi baseada na seqüência do “Magic Theatre” do Steppenwolf de Hermann Hesse. Era uma performance de multimídia de jogo lacrimosa deliberadamente desenhada para “fundir mentes”, para sobrecarregar sistemas nervosos com formas móveis sempre-mutáveis como Niágara, alguns familiares, outras singulares. A trilha sonora explodia com acid- rock, cânticos orientais, sintetizadores de vórtice, barulhos do corpo, batidas cardíacas, respirações pesadas — tudo altamente amplificado. Uma orquestra em vídeo de 9 performers manipulando projetores de slides colocando filmes sobrepostos 2 ou 3 vezes. Orações psicodélicas e uma narrativa falada guiava espectadores pelo reordenamento da viagem mística de Harry Haller.
UMA SENSAÇÃO
As celebrações psicodélicas eram uma sensação. Publicidade enorme por todo mundo, performances com ingressos esgotados. Eu fui indicado para melhor ator de fora da Broadway do ano. O pessoal dos filmes de Hollywood se aglomerava nos eventos. O drama de Hesse foi seguido por uma celebração da Tentativa de Assassinato e Fuga de Jesus Cristo, que parodiava a Massa Católica. Então, Uma Vida de Buda. Os 50 artistas que produziram esses eventos eram os originadores do que se tornou a Arte Psicodélica, efeitos especiais de Hollywood de 2001, shows de corredores de dança de luz. Nós também fomos culpados por ter inspirado a impressão do boom Hindu de tecido escocês. Quando os comerciais de TV roubaram nossas técnicas, nós sabíamos que era hora de parar. “Ligue-se para o Jato. Sintonize-se com o Gosto. Caia Fora do costume da Cola!” Nós o fizemos.
GENERALIZAÇÕES SELVAGENS
Eu fui citado na entrevista da Playboy, dizendo que se você tomar LSD em um manicômio, você vai ter uma experiência manicomial. Mais tarde um jornalista da Village Voice generalizou com a questão: Se um estudante tomar LSD em um ambiente de corrida de ratos, ele teria uma experiência de corrida de ratos? O repórter estava perguntando por uma generalização selvagem. Ninguém deve tomar LSD a não ser que ele(a) esteja bem preparado, saiba onde está entrando e esteja pronto para sair de sua mente. Sua sessão deve ser em um lugar que facilite uma reação positiva e serena, com alguém que ele(a) confie emocionalmente e espiritualmente.
Ao contrário do que muitos pensam, eu nunca dei drogas a nenhum menor — incluindo graduandos de Harvard. Nós demos drogas psicodélicas a muitos estudantes, jovens professores, e pesquisadores que estavam bem treinados e preparados para a experiência. Eles estavam fazendo isso por um propósito sério; para aprender mais sobre a consciência, o jogo de dominar essa técnica para suas próprias vidas profissionais e pessoais.
PSICOSE DO LSD
Muitas pessoas têm medo da psicose do LSD sem ingestão da droga. Eu não posso concordar com a palavra “psicose”. O objetivo de se tomar LSD é o de desenvolver-se filosoficamente, aumentar
sua inteligência, abrir suas sensibilidades maiores. Depois da sessão, por conseqüência, o processo excitante que você começou deve continuar. Nós ficamos encantados quando as pessoas nos falam depois de suas sessões com LSD que podem voltar para algumas das iluminações, significados e belezas. Nós sabemos que estamos produzindo experiências filosóficas, e nós e nossos estudantes visamos que essas experiências perdurem.
Se ninguém sabe exatamente o que o LSD faz — e eu divido essa preocupação — nós temos que realizar que cientificamente não estamos certos dos efeitos de gás de fumos, DDT, penicilina e tranqüilizantes no indivíduo e na estrutura genética das espécies. Há riscos envolvidos. Ninguém deve tomar LSD a não ser que saiba que está entrando no desconhecido, deitando seus chips na
linha.
Você está correndo um risco toda vez que respira, toda vez que come a comida que os supermercados estão colocando a venda — toda vez que você se apaixona. A vida é uma série de riscos, por assim dizer. Nós insistimos apenas que a pessoa que está indo saiba que é um risco, saiba o que está envolvido.
Nenhuma proteção paternalística como a medicina tem o direito de nos previnir de conhecer esse desafio. Se você ouvir neurologistas e psiquiatras, você nunca se apaixonaria.
FLASHBACKS
Haverá memórias recorrentes e reações, quando você escutar a mesma música, estiver com as mesmas pessoas, andar no mesmo quarto. Qualquer estimulação pode religar uma memória — um evento ao vivo, químico-molecular, em seu sistema nervoso.
Quando você toma LSD, você está mudando o seu sistema para um grau menor. A maioria das pessoas se encanta quando isso acontece. Mas quando o preocupado profissional de expediente toma LSD, ele vai se perguntar se está ficando louco, se está insano, ele vai se importar com danos cerebrais, germes, perda de fluidos corporais preciosos. Preocupados, é claro, querem tudo sob controle. Mas a vida é espontânea, indisciplinada, e não supervisionada. Sua preocupação vai te deixar cair na máquina de preocupação com o LSD. A experiência psicodélica pode ser filosófica se a pessoa está procurando isso, e até se a pessoa não está procurando. As pessoas usam diferentes interpretações, diferentes metáforas para descrever suas experiências religiosas. Um cristão vai tomar LSD e reportar em termos do vocabulário cristão. Os agentes da CIA vão procurar por comunistas.
COSANGUÍNEO AO HINDUISMO
Nossa filosofia a respeito do significado do LSD vai mais perto do Hinduismo que qualquer outra religião. O Hinduismo é uma filosofia pagã que reconhece a divindade de todas as manifestações de vida, permitido por um grande escopo de sub-escolas filosóficas. Para um Hindu, o Catolicismo é uma forma de Hinduismo. Como muitos notaram, descrições das experiências psicodélicas soam muito mais como o Siddhartha de Hermann Hesse. Eu fui influenciado por sua composição literária — muito por sinal. É claro, em interpretações filosóficas e literais da expansão da consciência, a grande maioria dos maiores escritores basicamente concordam com a necessidade de sair da sua mente, indo para dentro de si, e com o que você encontra quando chega lá. As metáforas mudam de cultura para cultura, mas todo grande místico e visionário reporta o mesmo fluxo eterno, séries sem tempo de evoluções e por ai vai.
Nossa primeira celebração psicodélica em New York endereçou os intelectuais presos em suas mentes. Para aquela primeira celebração estávamos usando Steppenwolf como nossa “bíblia”. A próxima celebração psicodélica foi baseada na vida de Cristo, e para aquela nós usamos o missal católico como o manual. Depois daquilo, nós fizemos celebrações de Sócrates, Einstein, Gurdjieff.
Cada celebração pretendia pegar uma das mais importantes religiões e tradições filosóficas. Nosso objetivo era o de ligar todos para aquela religião. Nós desejávamos que qualquer uma das pessoas que viessem a todas as nossas celebrações descobrisse que cada um dos grandes mitos era baseado em experiências psicodélicas, uma seqüência de morte e renascimento. Mas ainda, nós desejávamos que o Cristão fosse particularmente ligado por nossa massa Católica de LSD < porque isso renovaria a metáfora da ressurreição, que para muitos se tornou ao invés disso uma rotina cansativa. O objetivo era o de ligar não apenas a mente, mas os órgãos sensoriais, e até falar para as células das pessoas e centros ancestrais de sabedoria.
Eu fui ovulado, fertilizado e nascido no século 20. Eu não posso secar meu background pessoal, ou o fato de que quase todas as pessoas com quem converso hoje têm cérebros prejudicados por nossa educação. Eu acho que a educação Americana nos torna um símbolo viciado sem esperança. É desenhada para produzir autómatos dóceis. Mas levará anos antes que você possa urgir os jovens a cair fora da escola sem parecerem ser excêntricos ou loucos.
DEPOIS QUE “LIGAR-SE”
Há três processos envolvidos que todo professor espiritual passou para a humanidade pelos últimos milhares de anos. Primeiro, olhe pra dentro de si, glorifique-se na revelação. Segundo, então expresse isso em atos de glorificação no seu externo e terceiro, desligue-se da sua tribo atual. Depois que você se ligar, não perca o resto da sua vida contemplando perguntas internas. Comece imediatamente a expressar sua revelação em atos de beleza. Isso muito faz parte de nossa religião — a glorificação, o agir além, a expressão do que você aprendeu. Isso é o que estávamos fazendo no Village Theatre. Toda terça à noite as pessoas iam lá, e nós os apedrejávamos pra fora de suas mentes — tudo sem LSD.
Para fazer qualquer coisa nova, você tem que mudar seu sistema nervoso. Você pode fazer isso respirando, jejuando, flagelando-se, dançando, isolando-se, fazendo dieta; você pode fazer isso por qualquer órgão sensorial-visual, auditivo e por ai vai. Há centenas de maneiras de se ligar. Mas no presente, muitas poucas pessoas podem usar esses métodos, então as drogas são quase que as únicas
formas específicas pelasquais um americano vai ter uma experiência religiosa. Nossas celebrações da terça à noite não tomaram o lugar do sacramento. Na nossa religião o processo sacramental é o uso de maconha e LSD; e nada pode substituir isso.
LSD PARA ESTÍMULOS
Quando sou acusado de promover o uso do LSD para estímulos, eu me pergunto o que eles querem dizer com isso. Para mim, o estímulo significa uma revelação extasiante. Para você, um estímulo pode significar ir a uma festa de cocktail e flertar com alguém. Um estímulo para mim significa um flerte pagão com Deus — Gaia. É claro, na nossa sociedade Puritana, nós pensamos que devemos trabalhar ter poder, e usar esse poder para controlar outras pessoas. Em qualquer sociedade sã, a palavra estímulo poderia ser o ideal, o extasiante, isso significa ir além, sair da sua mente, confrontrando Deus. Um confronto com a divindade, sua própria inteligência mais elevada, vai te mudar, e algumas pessoas não querem mudar. Eles devem ser avisados de que se você entrar nesse templo, você vai enfrentar a brilhante ativação do seu cérebro. Você nunca mais será o mesmo.
Nos mistérios Eleusinianos, eles sempre avisariam as pessoas, “se você vier aqui, seu ego irá morrer. Você vai ter que confrontrar todos os seus perdures passados, despi-los, e ser uma pessoa mudada”. Um imperador de Roma que queria ser iniciado aos mistérios Eleusinianos disse, “Isso é interessante, eu aprovo o que fazem, mas não quero ser mudado”.
MEDO DO LSD
Todas as pessoas de alguma forma têm medo de tomar LSD porque todos querem manter seu próprio joguinho de xadrez egocêntrico. Há tudo a se ter medo. Você vai sair de sua mente. Mas se o LSD realmente funcionou da forma como os comerciantes amedrontados disseram, seria fácil pegar o criminoso e o alcoólatra, o viciado em drogas, e uma pessoa medíocre qualquer e mudá-los(as).
Mas nossos processos mentais condicionados são altamente resistentes à mudança. Se você tomar LSD, ainda vai voltar falando português e sabendo como amarrar seus sapatos.
O problema é que você de fato pisa novamente em suas formas rotineiras de pensar. Por isso que se você tomar LSD, você deve planejar calmamente a mudança de seu ambiente, harmonizar os seus compromissos externos aos alcances internos. É um trabalho muito difícil mudar a psicologia humana. Isso deve confortar os amedrontados e desafiar os rápidos e empolgados otimistas como eu.
A viagem também como a contemplação dela, logo após, são igualmente importantes. Uma sem a outra é de fato sem significado. Depois de uma sessão, nós devemos ir plantar em um novo jardim, mudar um quarto na casa, ou jogar fora as comidas congeladas e enlatadas. Eu devo gastar as próximas 5 horas falando calmamente com meu filho.
LEI DO JIU-JITSU
Eu não uso o termo “martírio”; o jogo em que estou envolvido é como o jogo de Harvard-Yale. Harvard não está martirizando Yale. O jogo entre o establishment e os visionários utópicos vai inevitavelmente existir em qualquer era histórica. É justo que eles queiram me submeter a não existir, assim como o time defensivo de Harvard quer jogar o atacante de Yale a perder. Eu não tenho reclamação sobre isso.
Quanto mais energia for direcionada contra mim, mais energia estará disponível para mim – essa é a lei do Jiu-Jitsu. Para nós, o governo e o dinamismo do establishment profissional contra o que estamos fazendo era apenas um sinal de que estávamos indo bem.
Timothy Leary
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