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Doppelgängers e fenômenos de bilocação – Manual dos Caça-Fantasmas

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Assim como um poltergeister pode ser confundido com uma entidade fantasmagórica, um doppelgänger pode ser confundido com uma projeção, um fantasma do presente. Como já vimos, uma projeção e é uma imagem de uma pessoa viva que se manifesta, um doppelgänger, num primeiro momento aparenta ser justamente isto, mas como veremos agora ele apresenta diferenças que começam de maneira sutil e em alguns casos se tornam óbvias.

Como no caso de poltergeisters, o doppelgänger possui um agente, mas sua atividade é bem distinta, enquanto os primeiros parecem ser espíritos invisíveis que causam desordem aleatoriamente, o doppelgänger é uma manifestação de uma pessoa viva. O nome é um termo alemão que surge da combinação de duas palavras: doppel (significa duplo, réplica ou duplicata) e gänger (andante, ambulante ou aquele que vaga). Doppelgängers também são conhecidos como duplos, e assim como as outras entidades e atividades descritas aqui, não existe um consenso de como ela se origina ou mesmo como ela se manifesta.
Existem aqueles que dizem que são mau agouros, sinal de morte certa para a pessoa que vê sua cópia, ou então que é apenas uma cópia da pessoa que mimetiza  seus atos. Alguns pesquisadores dizem que eles só podem ser vistos pela própria pessoa, outros que isso não é regra devia.

Um dos relatos mais conhecidos e mais intrigantes foi relatado pelo escritor norte americano Robert Dale Owen. Robert ouviu um caso curioso sobre uma professora de um colégio interno destinado a meninas, quem lhe contou o caso foi Julie von Güldentubbe, a filha do barão Güldentubbe, que foi enviada para o internato quando  tinha 13 anos. Naquela época havia uma professora francesa de 32 anos que lecionava no lugar, seu nome Emilie Sagée. Aparentemente tanto as
meninas que estudavam lá quanto a diretoria do colégio gostavam de Emilie, mas depois de um tempo coisas estranhas começara a acontecer. Aparentemente pessoas viam Emilie andando pelos corredores do colégio e quando lhe perguntavam o que fazia ela negava que estivesse naquele local quando supostamente a viram. Isso se tornou tão comum que as pessoas começaram a tecer comentários sobre ela, inclusive questionando sua sanidade.  Foi então numa manhã, enquanto dava aula para 13 meninas que seu duplo surgiu ao seu lado, copiando cada movimento que fazia, parecendo escrever as mesmas palavras na lousa, com a diferença de que não segurava o pedaço de giz. Com o susto Emilie se virou mas não havia nada ao seu lado, o duplo havia desaparecido. Outros incidentes semelhantes passaram a ocorrer com certa freqüência, durante um jantar, por exemplo, seu duplo foi visto atrás dela, em pé, mimetizando os movimentos que fazia enquanto comia, novamente com a diferença de não segurar nenhum talher.

Os incidentes começaram a acontecer com uma freqüência cada vez maior, a principio poderia se tratar de um caso extremamente raro de projeção, mas acontece que nem sempre o doppelgänger mimetizava Emilie. Além dos relatos de ser vista em alguma parte da escola enquanto se encontrava em outro lugar haviam casos mais espantosos, um deles presenciados por todos os alunos em um dia de verão. Todas as meninas estavam se preparando para suas aulas de costura e bordado,
enquanto iam se sentando em suas mesas de trabalho viram Emilie no jardim do internato, colhendo flores. Quem supervisionava aquela aula em particular era um outro professor da escola, em determinado momento ele teve que sair da sala pra tratar de um assunto com a diretora, assim que deixou o recinto o doppelgänger de Emilie surgiu sentada na cadeira ocupada pelo professor instantes antes. As meninas ainda podiam ver a professora entretida com as flores fora da sala, no jardim. Duas meninas criaram coragem suficiente e decidiram confrontar a aparição, se ergueram e tentaram tocá-la, elas disseram que sentiram uma estranha resistência no ar ao redor do duplo, mas quando finalmente o tocaram ele desapareceu lentamente.

Emilie disse que nunca conseguiu ver seu próprio doppelgänger, mas que constantemente era tomada por momentos de cansaço extremo, era como sesuas forças fossem drenadas. Eventualmente, por causa dessas aparições, ela foi demitida da escola.

Como este, muitos casos de pessoas que tiveram contatos com seus duplos existem, e aparentemente cada um é único. Temos o caso da rainha Elizabeth I que ficou chocada ao ver seu Doppelgänger deitado em sua cama. A rainha morreu pouco tempo depois e o acontecido chegou a circular pelos jornais do país. Johann Wolfgang von Goethe viu seu doppelgänger enquanto cavalgava por uma estrada rumo a Drusenheim, ele o viu cavalgando na direção oposta, mas vestindo uma roupa que Goethe não possuía, oito anos mais tarde quando cavalgava de volta de Drusenheim, pelo mesmo caminho lhe chamaram a atenção de como ele
naquele momento vestia uma roupa semelhante à que descrevera oito anos antes. John Donne, poeta Inglês do século XVI, recebeu a visita de umdoppelgänger, mas não o seu. Ele estava em paris e diante dele surgiu o duplo de sua mulher que veio lhe mostrar um bebê recém nascido. Sua esposa estava grávida na época e no mesmo momento que o doppelgänger de sua mulher surgia ela dava a luz a uma criança natimorta. Ainda um caso bem mais recente, registrado em agosto de 2004 aconteceu na Rússia, na cidade de Beslan. Uma garotinha de 11 anos de idade começou a perguntar para a mãe se ela teria uma irmã gêmea que não conhecia, a
mãe lhe disse que não. A menina continuava insistindo que sempre que voltava da casa de sua avó via uma menina idêntica a si mesma que a seguia, caminhando junto com ela na calçada do outro lado da rua. Esta cópia, dizia a menina, não apenas a imitava, mas era comum que a encarasse e fizesse caretas, sorrindo de forma zombeteira, assustando muito a garota. A insistência dela na existência desta “irmã gêmea” chegou a um ponto em que a mãe preocupada a levou a um psiquiatra, o doutor Viktor Gushniev que diagnosticou a menina como portadora de um problema neurofisiológico e a medicou de acordo.

Assim não há como saber qual o propósito desta aparição, às vezes ela surge como um espelho, imitando as ações da pessoa de que é cópia, outras vezes parece ter uma personalidade própria, como no caso da Rainha e de Donne muitos acreditam que ela tem a ver com a morte, se uma pessoa enxerga seu próprio doppelgänger é sinal que morrerá em breve, Percy Shelley, o poeta e marido Mary Shelley, morreu afogado na baia de Spezia, no mediterrâneo, duas semanas após ter visto seu doppelgänger surgir e silenciosamente apontar para o mar. Até mesmo a garota russa acabou morrendo algum tempo depois das visitas que
recebeu, ela foi uma das vítimas do atentado terrorista de Beslam que resultou na morte de 331 pessoas, em sua maioria crianças.

Existem também relatos de doppelgängers que surgem representando um aspecto negativo de uma pessoa, lhe incitando a cometer crimes ou agir de forma oposta à que agiria normalmente ou ainda como um tipo de “conselheiro” invisível para a pessoa, seja dando avisos ou implantando idéias.

Como não poderia deixar de ser criaram-se inúmeras explicações médicas para a existência desses seres, é provocado pelo mau funcionamento da junção temporo-parietal, uma região do cérebro responsável pela integração de várias sensações (táteis, visuais e de posicionamento do corpo) que constantemente chegam ao cérebro, “montando” a forma pela qual se entende o mundo e o posicionamento do corpo em relação ao que está ao redor. O mau funcionamento dessa região pode, portanto, acarretar o desacoplamento da percepção inconsciente do corpo e da sua representação no espaço. Quando as sensações táteis, de equilíbrio e
visuais não coincidem entre si, a compreensão da localização do corpo e do que é pessoal ou extra pessoal se perde, e tem-se a origem da intrigante sensação autoscópica ou extracorpórea.

Em setembro de 2006 foi publicada no Nature, um dos mais prestigiosos jornais científicos, uma experiência realizada por Shahar Arzy e alguns colegas do Hospital Universitário em Geneva, na Suíça, que de maneira inesperada reproduziu efeitos que lembravam em muito o efeito doppelgänger. Arzy e o grupo estavam realizando experiências com estímulos eletromagnéticos no cérebro de uma paciente quando subitamente ela começou a dizer que sentia a presença de outra pessoa
junto dela. Diferentes experimentos com ela causaram diferentes sensações que iam de apenas sentir a presença, como poder descrever a pessoa que surgia ao seu lado e dizer que a pessoa interferia nas atividades que realizava. Apesar dos resultados interessantes das experiências isso só mostra novamente a  necessidade das pessoas de tentar explicar não logicamente ou racionalmente, mas cientificamente algo e de se contentarem com efeitos semelhantes ou inferiores
causados através de experimentos. Todos esses casos assim como o da garota russa são vistos como disfunções do indivíduo que vê o doppelgänger, mas como vimos no caso de Emile Sagée ou do escritor Donner, outras pessoas viam o doppelgänger, assim esse fenômeno não pode ser explicado satisfatoriamente simplesmente como uma disfunção do indivíduo. Para se ter uma idéia o próprio doutor Gushniev, que diagnosticou a garotinha que posteriormente foi vítima do atentado terrorista tinha conhecimento sobre o fenômeno doppelgänger, e depois da morte da garota se recusou a falar com quem quer que fosse sobre o
assunto, recusou entrevistas com a revista Der Spiegel e até hoje reage com violência quando é abordado sobre o assunto. Assim podemos dizer que o fenômeno não pode ser simplesmente uma disfunção cerebral ou psíquica. E para complicar ainda mais, existem casos de duplos de pessoas que parecem ter vida e vontade própria.

Muitos associam o caso de doppelgänger com o fenômeno de bilocação, que é a capacidade de uma pessoa estar em vários lugares ao mesmo tempo. Apesar de serem muito comuns quando envolvem a fé, existindo relatos de pessoas muito religiosas surgindo em diferentes lugares para catequizaram, levarem a mensagem de Deus ou mesmo curarem outros, a pessoa que sofre a bilocação tem consciência do que está fazendo. Um exemplo de caso de bilocação ocorreu no ano de 1622, quando o padre Alonzo de Benavides recebeu a missão de catequizar os índios no estado que hoje é conhecido como Novo México. As Américas acabavam de ter sido descobertas, ao chegar no local que lhe havia sido designado o padre ficou perplexo de encontrar índios Jamanos que, mesmo sem nunca
haverem visto um europeu, já conheciam todos os rituais e liturgias católicas, eles possuíam altares e crucifixos e realizavam todas as orações em sua língua nativa.

O padre escreveu para o Papa Urbano VII e para o Rei Filipe da Espanha para saber quem havia sido enviado para aquele lugar antes dele para catequizar os índios, ambas as respostas foram negativas, ninguém jamais havia sido enviado para aquele lugar. Quando questionou os índios, estes lhe disseram que haviam sido instruídos por uma bela mulher que era jovem e sempre surgia vestida de azul muitos anos antes. Ela vivera entre eles e lhes ensinara esta nova religião na
língua que eles falavam. Além disso a jovem lhes disse que em breve pessoas de pele branca chegariam às suas terras. Os índios diziam que “ela veio aqui para baixo das alturas, nos ensinou a nova religião, permanecendo entre nós por algum tempo, ela nos disse que viriam e para que vocês fossem bem recebidos por nós, em seguida ela se foi para longe. Isso tudo que nos quer ensinar nós já sabemos, a jovem vestida de azul nos ensinou”.

O Padre Benavides ficou estupefato com esses relatos e decidiu descobrir quem era a jovem. Ele sabia que as freiras do convento das Pobres Clarissas usavam hábitos azuis, procurou por uma imagem delas e logo encontrou uma, que mostrou para os índios. Eles afirmaram que o vestido era o mesmo, mas a mulher que os visitou era diferente daquela retratada na pintura. Quando retornou para a Espanha o padre estava decidido a desvendar o mistério. As freiras Clarissas eram
enclausuradas no convento no dia que aceitavam seus votos, não podiam sair de lá e menos ainda viajar através do oceano rumo ao novo continente. Foi então que em Agreda, entrou em contato com a irmã Maria de Jesus que assumiu a responsabilidade pela conversão dos nativos americanos. Ela disse que os converteu sem sair de seu convento, na época ela tinha 29 anos de idade e disse ter visitado os índios não em seu corpo material, mas na sua essência, “espiritualmente”. A irmã Maria dizia que era comum cair em um estado de transe cataléptico e que depois se recordava dos “sonhos” que tinha quando entrava nesses estados, de como ela era levada para um lugar estranho e selvagem onde ensinava o evangelho para os nativos, ela foi capaz de dar descrições detalhadas da aparência, roupas e costumes dos índios Jamano. Quando lhe perguntaram como havia aprendido a língua nativa deles para se comunicar ela respondeu que nunca a havia
aprendido. “Eu simplesmente falei com eles, e Deus permitiu que nos compreendêssemos mutuamente”.

Diferente dos casos de doppelgänger e fantasmas do presente a bilocação gera uma imagem da pessoa em outro local, às vezes muito distante de onde se encontra, mas a pessoa que sofre o fenômeno tem consciência disso, ou pelo menos do estado que teve que entrar para que o fenômeno ocorresse, algumas pessoas o controlam, outras simplesmente caem em transe e “saem por ai” deixando seu corpo para trás. Em ambos os casos, esses acabam sendo fenômenos que fogem um pouco da alçada do caçador de fantasmas. Como no caso de poltergeisters pode parecer interessante e atraente encontrar um caso desses, mas tenha em mente que ele envolve fenômenos que dizem mais respeito à parapsicologia do que à atividades fantasmagóricas.


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