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E de onde provem que a prática da bruxaria tenha crescido em tão notável medida? É de alguma maneira uma opinião católica afirmar que a origem e o crescimento das obras de bruxaria procedem da abundância dos corpos celestes, ou da abundante maldade dos homens, e não das abominações dos íncubos e súcubos? E parece que nascem da maldade do homem. Porque Santo Agostinho, diz, no Livro LXXXIII I, que a causa da depravação do homem reside em sua própria vontade, já que peca por sua própria orientação ou pela de outro.
Mas uma bruxa se deprava pelo pecado e, portanto a causa não é o demônio, senão a vontade humana. No mesmo livro fala do livre arbítrio, onde todos são a causa de sua própria maldade. E raciocina assim: Que o pecado do homem procede do livre arbítrio, e o demônio não pode destruí-lo, pois isso iria à contramão da liberdade. Portanto, o demônio não pode ser a causa desse ou de nenhum outro pecado. Além do mais, no livro do Dogma Eclesiástico se diz: Nem todos nossos maus pensamentos são engendrados pelo demônio, mas às vezes surgem do funcionamento de nosso próprio julgamento. Porém afirmam que a verdadeira fonte da bruxaria é a influência dos corpos celestes, e não os demônios. Assim como toda multidão se reduz à unidade, tudo o que é multiforme se reduz a um começo uniforme. Porém os atos dos homens, tanto no vício como na virtude, são variados e multiformes e, portanto parece que podem se reduzir a um começo uniformemente movido e que se move. Mas isto só pode ser atribuído ao movimento dos astros; portanto esses corpos são a causa de tais ações. Além do mais, se os astros não fossem a causa das ações humanas, tanto boas como más, os Astrólogos não prediziam com tanta freqüência a verdade sobre o resultado das guerras e outras ações humanas; portanto, também é uma causa. Por outro lado, os astros podem influir sobre os diabos inclusive na provocação de certos feitiços e; portanto, mais podem influenciar os homens. Apresentamos três provas para esta afirmação.
Pois certos homens denominados Lunáticos são molestados pelos demônios num determinado momento, mais do que em outro; onde eles não agiriam de tal maneira, senão seriam mais bem molestados a qualquer momento; e se não fosse num dado momento profundamente afetados por certas fases da lua. Além do mais, demonstra-se pelo fato de que os nigromantes observam certas constelações para invocar os demônios, coisa que não fariam, a menos, que soubessem que estes se encontram submetidos aos astros. E também o seguinte se apresenta como prova: segundo Santo Agostinho em Cidade de Deus X, os demônios empregam certos corpos inferiores, como ervas, pedras, animais, e alguns sons, vozes e figuras. Mas como os corpos celestes são mais potentes que os inferiores, e os astros têm uma influência muito maior que estas coisas utilizadas. E as bruxas encontram-se mais submetidas, já que seus atos procedem da influência desses corpos, e não da ajuda dos maus espíritos. E o argumento tem seu respaldo em I Reis, XVI, onde Saul foi humilhado por um demônio, mas se acalmou quando David tocou sua harpa diante dele e o mal espírito fugiu. Mas contrario a isso. É impossível produzir um efeito sem uma causa; e tais são as ações das bruxas, que não podem realizar uma ação sem a ajuda dos demônios, como se mostra na descrição delas por São Isidoro, na Ética VIII. As bruxas são assim chamadas pela enormidade de seus feitiços mágicos; pois perturbam os elementos e confundem a mente dos homens, sem nenhuma poção venenosa, senão nada mais, em virtude de seus encantamentos que destroem almas, etc. Mas estes tipos de encantamentos não podem ser provocados pela influência dos astros mediante a ação de um homem. Além do mais, em sua Ética, Aristóteles diz que é difícil saber qual é o começo da operação do pensamento, e mostra que tem que ser algo extrínseco.
Pois tudo o que começa desde o princípio tem uma causa. Um homem começa a fazer o que deseja; e começa a desejar devido a alguma sugestão prévia, e se esta é uma sugestão precedente, deve proceder do infinito, ou de fato existe um começo extrínseco que leva primeiro as sugestões aos homens. E em verdade é assim, a menos que se argumente que esta é uma casualidade, da qual se seguiria que todas as ações humanas são fortuitas, o que é um absurdo. Portanto, diz-se que o começo do bem no bem é Deus, Quem não é a causa do pecado. Mas para os malvados, quando um homem começa a ser influenciado para o pecado, e deseja cometê-lo, também deve haver uma causa extrínseca a isso. E esta não deve ser outra que o demônio, e em especial no caso das bruxas, como se mostrou mais acima, pois os astros não podem influir sobre tais atos. Portanto, a verdade é singela. Mais ainda, aquele que tem poder sobre o motivo também o tem sobre o resultado provocado por este. Veja bem, o motivo da vontade é algo que se percebe com os sentidos e o intelecto, ambos submetidos ao poder do demônio. Porque Santo Agostinho diz no Livro 83: este mal, que é do demônio, se insinua por todos os acessos sensuais; localiza-se em figuras, se adapta as cores, une-se aos sons, se intromete em conversas coléricas e equivocadas, mora em odores, se impregna de sabores e preenche com certas exalações todos os canais da compreensão. Portanto, vê-se que o demônio tem o poder de incluir sobre a vontade, que é a causa direta do pecado. Além do mais, tudo que pode escolher entre dois caminhos precisa de um ator determinante antes de passar à ação. E o livre arbítrio do homem pode escolher entre o bem e o mal; portanto, quando se embarca no pecado, é necessária a determinação de algo que se oriente para o mal. E isto consiste nos afazeres principais do demônio, em especial nas ações das bruxas, cuja vontade é feita para o mal. Portanto parece que a má vontade do demônio é a causa da má vontade do homem, em especial nos bruxos. E o argumento pode respaldar-se assim: tal como um anjo bom se apega ao bem, um anjo mau se orienta para o mal; mas o primeiro leva ao homem à bondade, enquanto o segundo o leva à maldade. Pois, diz Dionísio: a lei inalterável e fixa da divindade é, que o inferior possui sua causa no superior. Resposta. Quem afirmar que a bruxaria tem sua origem na influência dos astros esta sujeito a cometer três erros.
Em primeiro lugar, não é possível que se origine em astromânticos e traçadores de horóscopos ou adivinhadores da sorte. Pois questione se o vício da bruxaria nos homens é provocado pela influência dos astros. Então, em consideração à variedade dos semblantes dos homens, e para a defesa da verdadeira fé, é preciso estabelecer uma distinção, a saber, que existem duas maneiras de justificar se a personalidade dos homens pode ser influenciada pelos astros. Primeira, de forma total e por necessidade, e segunda, por disposição e contingência. E quanto a primeira justificativa, não só é falsa, mas tão herética e contrária à religião cristã, que a verdadeira fé não pode se manter em semelhante erro. Por tal razão, quem argumentar que por necessidade tudo prove dos astros, elimina todos os méritos, e em conseqüência todas as culpas; e ao mesmo tempo elimina a Graça e, portanto, a Glória. Pois a retitude do caráter prejudica-se com este erro, já que a culpa do pecador recai sobre os astros, concede-se licença para pecar sem culpa, e se entrega ao culto e adoração dos astros.
Mas quanto à afirmação de que as feições dos famintos são modificadas de modo condicionado pela disposição dos astros, até este momento, é certo que não resultam contrárias à razão ou a fé. Pois é evidente que a diversa disposição de um corpo provoca muitas variações no humor e características da alma; porque em geral a alma imita a contextura do corpo, como se diz nos Seis Princípios. Portanto os coléricos são carrancudos, os sangüíneos são bondosos, os melancólicos são invejosos e os inflamados são preguiçosos. Mas isso não é absoluto; porque a alma é dona de seu corpo, em especial quando tem ajuda da Graça. E vemos muitos coléricos que são doces, e melancólicos bondosos. Portanto, quanto a virtude dos astros influir sobre a formação e qualidade do humor de um homem, se admite, que há alguma influência sobre seu caráter, mas muito pequena; porque a virtude da natureza inferior tem mais efeito sobre a qualidade dos humores, que a virtude dos astros. Pelo qual Santo Agostinho em Cidade de Deus V, onde resolve a questão de dois irmãos que adoeceram e se recuperaram ao mesmo tempo, aprovando o pensamento de Hipócrates, do que, o de um Astrônomo. Porque Hipócrates respondeu que isso se devia a similaridade de seus humores; e o Astrônomo afirmou que se devia a identidade de seus horóscopos. Pois a resposta do médico era melhor, já que alegava a causa mais poderosa e imediata. Assim, portanto, se deve afirmar que a influência dos astros é até certo ponto conducente da maldade das bruxas, e se admite que existe essa influência sobre seus corpos, que as predispõe a esse modo de abominação, antes que a qualquer outro tipo de obras, viciosas ou virtuosas: mas não deve se dizer que esta disposição seja necessária, imediata e suficiente, senão remota e contingente. Também não é válida a objeção baseada no livro dos Filósofos sobre as propriedades dos elementos, onde diz que os reinos se despovoam e os países ficam desertos perante a conjunção de Júpiter e Saturno; sobre isso argumentamos que tais coisas se devem entender como existentes fora do livre arbítrio dos homens e que, portanto a influência dos astros tem poder sobre o livre arbítrio. Portanto responde ao afirmar tal coisa o Filósofo, sem implicar que os homens não pudessem resistir à influência dessa constelação no que tange a deserção, mas que simplesmente não o fariam. Como diz Ptolomeo, em Almagesto: “Um homem sábio será patrão dos astros”. Porque considerando que Saturno tem uma influência melancólica e má, e Júpiter uma muito boa, a conjunção de ambos pode dispor aos homens a pendências e discórdias; mas por meio do livre arbítrio, os homens podem resistir essa inclinação, e com suma facilidade, com a ajuda da graça de Deus. E mais uma vez, não é válida a objeção de citar São João Damasceno, quando diz no Livro II, cap. VI que os cometas são com freqüência um sinal da morte dos reis. Pois respondemos que ainda que sigamos sua opinião, que, como parece evidente no livro mencionado, é contrária à opinião do Caminho Filosófico, isso não prova a inevitabilidade das ações humanas. Porque São João Damasceno considera que um cometa não é uma criação natural, nem é um dos astros localizados no firmamento, com o qual sua significação e sua influência não são naturais. Porque diz que os cometas não pertencem aos astros criados desde o começo, mas que se originam para determinadas ocasiões, e depois se dissolvem por mandato Divino. Esta é a opinião de São João Damasceno. Mas DEUS prenuncia com esse signo a, morte de reis, antes que de outros homens, tanto porque o rei é uma pessoa pública, como porque desse fato pode surgir uma confusão num reino. E os anjos são mais cuidadosos em sua vigilância sobre os reis em bem de todos; e os reis nascem e morrem sob o ministério dos anjos. E não há dúvidas na opinião dos Filósofos, quando dizem que um cometa é um conglomerado quente e seco, engendrado na parte superior do espaço, perto de queimar, e como um globo acumulado desse vapor quente e seco, adota a aparência de um astro. Mas as partes não incorporadas desse vapor se estendem em longas extremidades unidas a esse globo, e é uma espécie de adjunto dele. E segundo esta concepção, não em si mesma, mais por acidente, prediz a morte que provêm das doenças quentes e secas.
E como em sua maior parte os ricos se alimentam de coisas de natureza quente e seca, nessas ocasiões morrem muitos deles; entre os quais, a morte dos reis e príncipes é a, mais notável. E esta opinião não está distante da de São João Damasceno, se lhe considerar com cuidado, salvo no diz respeito ao funcionamento e cooperação dos anjos, que, nem sequer os filósofos podem ser desconsiderados. Pois na verdade os vapores, em sua secura e calor, nada têm haver com a criação de um cometa, ainda então, por razões já expostas, um cometa pode se formar pela ação de um anjo. Deste modo, o astro do presságio da morte do sábio São Tomás não foi um dos situados no firmamento, mas formado por um anjo com algum material conveniente, e depois de executada sua função dissolveu-se. Perante isto, vemos que, seja qual for a opinião que sigamos, os astros não têm uma influência intrínseca sobre o livre arbítrio, ou, portanto, sobre a malícia e caráter dos homens. Também se deve assinalar que os Astrônomos pressagiam com freqüência, a verdade, e que na maior parte, seus julgamentos são eficazes numa província ou nação. E a razão de tomarem seus julgamentos dos astros, é segundo a opinião mais provável, uma influência maior, ainda que não inevitável, sobre as ações do gênero humano em geral, isto é, sobre uma nação ou província, mais do que sobre um indivíduo; e isso se deve na maior parte, pela nação obedecer à disposição natural do grupo, mais do que a ação de um único homem. Mas isto mencionamos de passagem. E a segunda das três maneiras pelas quais reivindicamos o ponto de vista católico é mediante a refutação dos erros de quem traça Horóscopos e os Matemáticos porque ambos adoram à deusa da fortuna. A respeito deles, São Isidoro na Ética VIII diz que quem faz o traçado dos Horóscopos são assim chamados por seu exame dos astros em seu nascimento, e geralmente são denominados Matemáticos; e no mesmo Livro, Capítulo 2, diz que a, Fortuna toma seu nome do Fortuito, como uma espécie de deusa que se burla dos assuntos humanos de forma casual e fortuita. Motivo pelo qual lhe chamam de cega, já que ocorre aqui e acolá, e vai com indiferença aos bons e os maus. Isto no que se refere a Isidoro. Mas achar que existe semelhante Deusa, ou que o dano inferido a corpos e criaturas, que se atribui à bruxaria, não procede verdadeiramente desta, mais da deusa Fortuna, é pura idolatria; e também afirmar que as próprias bruxas nasceram com o fim de executar esses atos no mundo, é da mesma forma alheio à Fé, e em verdade aos ensinamentos gerais dos Filósofos. Aquele que desejar, pode remeter-se a São Tomás, no Livro III de sua Summa: A Fé contra os Gentios*, pergunta 87, etc., e encontrará muito nesse sentido. (*) Gentios: Pagãos; pessoas sem batismo e não convertidas ao catolicismo. (NT-Pt)
Mas não devemos omitir nenhum ponto, em benefício de quem talvez não possua uma grande quantidade de livros. Assim assinalamos ali, que é preciso considerar três coisas no homem, dirigida por três causas celestiais, a saber, o ato da vontade, do intelecto e do corpo. O primeiro está governado única e diretamente e por Deus, o segundo por um anjo e o terceiro por um corpo celeste. Pois a eleição e a vontade e governada por Deus de forma direta para as boas obras, como dizem as escrituras em Provérbios 12: O coração do rei está nas mãos do Senhor; este o volta para onde quer. E quando diz “o coração do rei”, significa que assim como os grandes não podem se opor a Sua vontade, também os outros não podem fazê-lo. E também diz São Paulo: Deus faz que desejemos e executemos o que é bom. A compreensão humana está governada por Deus, pela mediação de um anjo. E as ações corporais, sejam exteriores ou interiores, naturais ao homem, são reguladas por Deus, – “É por mediação dos anjos e dos corpos celestes”. Pois o Beato Dionísio em Diun IV, diz que os corpos celestes são as causas do que ocorre neste mundo, ainda que não sugiram nenhuma fatalidade. Mesmo quando o corpo do homem é governado pelos corpos celestes, seu intelecto pelos anjos, e sua vontade por Deus, pode acontecer que recuse a inspiração de Deus para a bondade, e a orientação de seu bom anjo da guarda. Isto, por suas afeições corporais para as coisas que o inclina na influência dos astros, de modo que sua vontade e entendimento fiquem enredados na malícia e no erro.
Mas não é possível que ninguém seja influenciado pelos astros, de modo a cair no tipo de erro, em que ficam presas as bruxas, tais como derramamentos de sangue, furtos e roubos, ou inclusive a perpetração das piores incontinências, e isso serve para outros fenômenos naturais. Além do mais, como diz Guilherme de Paris em seu do Universo: “a experiência demonstra que se uma rameira (prostituta) plantar uma oliveira esta não dará frutos, enquanto será frutífera se à plantar uma mulher casta…” E um médico em suas curas, um agricultor em suas tarefas ou um soldado no combate podem fazer muito mais, com a ajuda da influência dos astros, do que podem fazer outros que possuem as mesmas habilidades, sem tal influência. Nosso terceiro caminho vem da refutação da crença no Destino. E aqui é preciso assinalar que a crença no destino é, num sentido muito católico, mas de outro, herético de todo ponto de vista. Pois dá a entender que o Destino, como entendem certos Gentios e Matemáticos, que crêem que as diferentes expressões de um homem, têm sua causa na inevitável força da posição dos astros. De modo que um predestinado a ser mago, ainda que fosse de bom caráter, devido à disposição dos astros sob a qual foi concebido ou nasceu, o tornou no que é. E a essa força davamlhe o nome de Destino. Mas essa opinião não só é falsa, como herege, e de todo ponto de vista detestável, devido à privação que deve implicar, como se mostrou mais acima, na refutação do primeiro erro. Pois com isso se eliminaria toda razão de mérito ou culpa, de graça e glória, e Deus seria transformado no autor de nosso mal e outras incongruências. Portanto, é preciso rechaçar plenamente essa concepção de Destino, já que não existe tal coisa. E a respeito desta crença, São Gregório diz em sua Homilia sobre a Epifania: “Longe dos corações dos fiéis a afirmação de que existe um Destino”. Contudo devido à mesma incongruência que se percebe em ambas, esta opinião pode parecer igual à referente aos Astrólogos, no entanto, são diferentes na medida em que se contradizem a respeito da força dos astros e da influência dos sete Planetas. Mas pode considerar-se que o Destino é uma espécie de segunda disposição ou um ordenamento de segundas causas para a produção de efeitos Divinos previstos. E em verdade, o Destino é algo desta maneira… Pois a providência de Deus consegue Seus efeitos através de causas mediadoras, em assuntos submetidos a segundas causas, ainda que isto não prevaleça em assuntos como: a criação da alma, a glorificação e a aquisição da graça.
Também os anjos podem colaborar na infusão da Graça, esclarecendo e orientando a compreensão e capacidade da vontade, e de tal modo podemos afirmar que de certo ordenamento dos resultados advém a mesma Providência ou inclusive o Destino. Pois consideremos do seguinte modo: Que existe em Deus uma qualidade que pode se denominar Providência, ou podemos dizer que Ele ordenou as causas intermediárias para, a realização de alguns de Seus objetivos; e nessa medida o Destino é um fato racional. E de tal modo fala Boecio sobre o Destino em Consolação, IV: “O Destino é uma disposição intrínseca das coisas móveis, por meio da qual a Providência abriga todas as coisas que tem ordenado”. Não obstante a isso, os santos sábios se negaram a usar a palavra Destino em contraposição aqueles que distorciam seu significado e lhe davam o da força da posição dos astros. Portanto Santo Agostinho em Cidade de Deus V, diz: “Se alguém atribui os assuntos humanos ao Destino, entendendo por Destino a Vontade e o Poder de Deus, que mantenha sua opinião, mas corrija sua língua”. Ficou claro, que o que foi dito oferece resposta suficiente à pergunta: Se todas as coisas, incluídas as obras de bruxaria, estão submetidas ao Destino? Pois se dissemos que este é o ordenamento das causas segundas dos resultados Divinos previstos, isto quer dizer, que quando Deus quer realizar Seus propósitos pelo intermédio de segundas causas, nessa medida estão submetidas ao Destino, ou seja, antes das causas ordenadas por Deus; e a influência dos astros é uma dessas segundas causas. Mas as coisas que provem de Deus de forma direta, como a Criação das coisas, a Glorificação das coisas substanciais e espirituais, e outras deste tipo, não estão submetidas ao Destino. E Boecio, no Livro que citamos respalda esta concepção quando diz que as coisas mais próximas à Deidade primitiva se encontram mais além da influência dos decretos do Destino. Portanto, as obras das bruxas estão fora do curso e da ordem comum da natureza não estando submetidas a estas segundas causas. Isto é, no que se refere a sua origem, não estão submetidas à força do Destino, mais por outras causas.
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