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Tão horrendos são os delitos das bruxas que inclusive seus pecados superam a queda dos anjos maus; e se isto é assim devido as suas culpas. Como não haveria de ser no que se refere aos seus castigos no inferno? E não é difícil demonstrar isso, perante os vários argumentos referentes às suas culpas. E primeiro, ainda que o pecado de Satã seja imperdoável, isso não se deve à magnitude de seu delito, levando em conta a natureza dos anjos, com especial atenção, para a opinião de quem diz que os anjos foram criados apenas em estado de natureza, e nunca em estado de graça. E como o bem da graça supera o bem da natureza, o pecado de quem cai de um estado de graça, como as bruxas ao negar a fé que receberam no batismo, superam os pecados dos anjos. E ainda que digam que os anjos foram criados, mas não confirmados, em graça, assim também as bruxas, ainda que não fossem criadas em graça, caíram dela por sua própria vontade, tal como Satã pecou por sua própria graça. Segundo, admite-se que o pecado de Satã é imperdoável por várias outras razões. Porque Santo Agostinho diz que pecou sem a instigação de ninguém e, portanto, e com justiça, seu pecado não é remediado por ninguém. E São João Damasceno diz que pecou em sua compreensão contra o caráter de Deus; e que seu pecado foi maior devido à nobreza de seu entendimento. Como o criado que conhece a vontade de seu amo, etc. A mesma autoridade afirma que, é dado que Satã é incapaz do arrependimento, é também incapaz do perdão; e isso se deve a sua natureza, que por ser espiritual, só podia ser modificada uma vez, quando a modificou para sempre; mas não é assim no caso dos homens, em quem a carne sempre luta contra o espírito. Ou porque pecou nas altas esferas do céu, enquanto o homem peca na terra. Mas a respeito de tudo isso, seu pecado é em muitos sentidos pequeno em comparação com os delitos das bruxas. Primeiro como mostrou São Anselmo em um de seus Sermões, “… pecou em seu orgulho quando, todavia não existia castigo para o, pecado”. Mas as bruxas seguem pecando, mesmo depois da freqüência de castigos infligidos a muitas outras bruxas, e mesmo com os castigos, que como ensina a igreja foram infligidos por causa do demônio e sua queda; ainda assim burlam tudo isso, e se apressam em cometer, não só pecados menos mortais, – como os outros pecadores que pecam por doença ou maldade, mas não por malícia habitual – mas os delitos mais horríveis, pela profunda malícia em seus corações. Segundo, ainda que o anjo mau caísse, da inocência a culpa, e daí ao infortúnio e o castigo, caiu da inocência só uma vez, de tal modo que jamais recuperou a inocência pelo batismo, e volta a cair, e cai mais fundo. E é assim em especial com as bruxas, como demonstram seus delitos. Terceiro, pecou contra o Criador; mas nós, e em particular as bruxas, pecamos contra o Criador e o Redentor. Quarto abandonou Deus, que lhe permitiu pecar, mas não lhe outorgou piedade; enquanto nós, e antes de mais nada as bruxas, nos apartamos de Deus por nossos pecados, enquanto, apesar de sua permissão aos nossos pecados, Ele nos mostra sempre piedade e nos protege em Seus inúmeros benefícios. Quinto, quando pecou, Deus o rechaçou sem lhe mostrar graça, enquanto nós os azarados, corremos ao pecado ainda que Deus nos peça sempre que fujamos dele. Sexto mantém seu coração inflamado contra um castigador, mas nós contra um piedoso persuasor. Ambos pecamos contra Deus, mas ele contra um Deus que ordena, e nós contra um que morre por nos, a Quem, como dissemos, as malvadas bruxas ofendem antes de mais nada. As soluções dos argumentos voltam a declarar a verdade por comparação Aos argumentos. A resposta ao primeiro está clara, pelo o que dissemos no princípio de toda pergunta. Se afirmou que um pecado deveria ser considerado mais intenso que outro, e que os pecados das bruxas são maiores que todos os demais em relação a culpa, mas não em relação aos castigos que implicam. A isso se deve dizer que o castigo de Adão, ou mesmo sua culpa, têm que ser considerado de dois modos: ou bem referido a ele de forma pessoal, ou bem referido ao conjunto da natureza, isto é, da posteridade que veio depois dele. Em quanto ao primeiro, maiores pecados foram cometidos depois de Adão, pois ele só pecou por fazer o que era mau, não por si próprio, mas porque estava proibido; mais a fornicação, o adultério e o assassinato são em ambos sentidos pecados por si mesmos, e porque são proibidos. Pelos quais esses pecados merecem o maior castigo. Em quanto ao segundo, é verdade que o maior castigo resultou do primeiro pecado; mas isso só é verdadeiro de modo indireto, já que por meio de Adão toda a posteridade foi infectada pelo pecado original, e ele foi o primeiro pai de todos aqueles a quem o único Filho de Deus pôde perdoar pelo poder que estava ordenado. Mais ainda, em sua própria pessoa, com a mediação da graça Divina, Adão se arrependeu, e depois foi salvo pelo Sacrifício de Cristo. Mas os pecados das bruxas são muitíssimo maiores, já que não se conformam com seus próprios pecados e perdição, senão que sempre arrastam muitos outros atrás delas. E terceiro, do dito segue que por acidente o pecado de Adão implicou em maior dano. Pois encontrou a natureza não corrompida, e era inevitável, e não por sua vontade, que a deixasse inoculada; pelo qual não procede que seu pecado fosse maior que outros em termos intrínsecos. E uma vez mais, a posteridade haveria de cometer o mesmo pecado se tivesse encontrado a natureza no mesmo estado. Do mesmo modo, como quem não encontrou a graça e não cometeu um pecado tão mortal como quem a encontrou e a perdeu. Esta é a solução de São Tomás (II, 2, art. 2), em sua solução do segundo argumento. E se alguém deseja entender a fundo esta solução, deve considerar, ainda que Adão tenha conservado sua inocência primitiva, não havia a transmitido a toda a posteridade; porque como diz São Anselmo, quem viesse atrás dele também poderia pecar. Veja também São Tomás, 20, onde considera se as crianças recém nascidas haviam sido confirmadas em graça, e em 101, se os homens agora salvos o haviam sido se Adão não tivesse pecado.
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