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Tiphareh, A Sexta Sephirah – Cabala Mística (20 de 26)

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Título: Tiphareth, Beleza. (Em hebraico, n-iNDn : Tau, Pé, Aleph, Resh, Tau.)
Imagem: Um rei majestoso. Uma criança. Um deus sacrificado.
Localização na Árvore: No centro do Pilar do Equiliíbrio. Texto Yetzirático: O Sexto Caminho chama-se Inteligência Mediadora, pois nele se multiplicam os influxos das emanações, fluindo essas influências para todos os reservatórios das bênçãos com que se unem. Títulos conferidos a Tiphareth: Zoar Anpin, o Rosto Menor. Melekh, o Rei. Adão. O Filho. O Homem.
NomeDivino: Tetragrammaton Aloah Va Daath. Arcanjo: Rafael.
Coro Angélico: Malachim, mensageiros. Chakra Cósmico: Shemesh, o Sol.
Experiência Espiritual: Visão da harmonia das coisas. Mistérios da crucificação.
Virtude: Devoção à Grande Obra.
Yício : Orgulho.
Correspondência no Microcosmo: O peito. Simbolos: O lámen. A Rosa-cruz. A cruz do Calvário. A pirámide truncada. O cubo.
Cartas do Taró: Os quatro seis: Seis de Paus: vitória; Seis de Copas: alegria; Seis de Espadas: sucesso merecido; Seis de Ouros: sucesso material. Cor em Atziluth : Rosa-claro. Car em Briah : Amarelo. Cor em Yetzirah: Rosa-salmão intenso. Car em Assiah : Ambar-dourado.

1. Há três importantes chaves para a natureza de Tiphareth. Em primeiro lugar, ela é o centro de equilíbrio de toda a Árvore, estando no meio do Pilar Central; em segundo lugar, é Kether num arco inferior a Yesod num arco superior; em terceiro lugar, é o ponto de transmutação entre os planos da força a os planos da forma. Os títulos que lhe são conferidos na nomenclatura cabalística confirmam esses três aspectos. Do ponto de vista de Kether, ela é uma criança; do ponto de vista de Malkuth, é um rei; e, do ponto de vista da transmutação de força, é um deus sacrificado.
2. Macrocosmicamente, ou seja, do ponto de vista de Kether, Tiphareth é o equiliôrio de Chesed a Geburah; microcosmicamente, ou seja, do ponto de vista da psicologia transcendental, é o ponto em que os tipos de consciência característicos de Kether a Yesod são concentrados num foco. Hod a Netzach encontram igualmente sua síntese em Tiphareth.
3. As seis Sephiroth, de que Tiphareth é o centro, são às vezes chamadas de Adão Cadmo, o homem arquetípico; de fato, Tiphareth não pode ser corretamente compreendida senão como o ponto central dessas seis esferas, que ela govema como um rei em seu domínio. São essas seis que, para todos os propósitos práticos, constituem o reino arquetípico que repousa atrás do reino da forma em Malkuth a domina a determina completamente a passividade da matéria.
4. Quando temos de considerar uma Sephirah em relação às suas vizinhas, a fim de tentar interpretá-la à luz de sua localização na Árvore, não é possível proceder a uma exposição inteiramente metódica a ordenada do sistema cabalístico, pois que, se desejamos nos fazer compreendidos, devemos neeessariamente começar por explicações parciais. Devemos, por conseguinte, adiantar algumas explicaçóes sobre as trés Sephiroth inferiores agrupadas em tomo de Tiphareth: Netzach, Hod a Yesod.
S. Netzach relaciona-se com as forças da natureza a com os contatos elementais; Hod, com a magia cerimonial a com o conhecimento oculto; e Yesod, com o psiquismo e o duplo etéreo. Tiphareth, assistida por Geburah e Gedulah, representa a vidência, ou o psiquismo superior da individualidade. Cada Sephirah, naturalmente, tem seus aspectos subjetivos a objetivos – seus fatores na psicologia a seu plano no universe.
6. As quatro Sephiroth sob Tiphareth representam a personalidade ou o eu inferior; as quatro Sephiroth acima de Tiphareth são a individualidade, ou o eu superior, a Kether é a centelha divina, ou núcleo de manifestação.
7. Tiphareth, por conseguinte, jamais deve ser encarada como um fator isolado, a sim como um vínculo, um ponto focal, um centro de transição ou transmutação. 0 Pilar Central relaciona-se sempre com a consciência. Os dois Pilares laterais, com os diferentes modos de operação da força nos diferentes níveis.
8. Em Tiphareth, encontramos os ideals arquetípicos concentrados num foco a transmutados em idéias arquetípicas. Ela é, na verdade, o Lugar da Encarnaçao. Por essa razão, chama-se A Criança. E porque a encamação do ideal de Deus também implica a desencarnaçáo sacrifical, atribuem-se a Tiphareth os Mistérios da crucificação, a todos os deuses sacrificados são colocados nessa Esfera quando se sobrepõem os panteões à Árvore. Deus Pai é atribuído a Kether; mas Deus Filho, pelas razões dadas acima, é atribuído a Tiphareth.
9. A religião exotérica jamais ultrapassa Tiphareth na Árvore. Ela nada compreende dos mistérios da criação representados pelo simbolismo de Kether, Chokmah a Binah, ou dos modos de operação dos Anjos das Trevas e dos da Luz representados no simbolismo de Geburah a Gedulah; nem dos mietérios da consciência a da transmutação de força representados na Sephirah invisível, Daath, que não tem nenhum simbolismo.
10. Em Tiphareth, Deus se manifesta na forma a habita entre nós; isto é, penetra no ámbito da consciência humana. Tiphareth, o Filho, “mostranos” Kether, o Pai.
11. Para que a forma possa estabilizar-se, as forças que a compôem devem estar equilibradas. Por conseguinte, a idéia do Mediador, ou Redentor, é inerente a essa Sephirah. Quando a divindade, seu próprio eu, se manifesta na forma, essa forma precisa estar perfeitamente equilibrada. Poder-seia corretamente inverter a proposição a dizer que, quando as forças que edificam uma forma estão perfeitamente equilibradas, a divindade, seu próprio eu, se manifesta nessa forma de acordo com seu tipo. Deus manifesta-se entre nós quando as condições permitem a manifestaçâo.
12. Vindo à manifestação, nos planos da forma, no aspecto de Criança de Tiphareth, o deus encarnado chega à maturidade a torna-se o Redentor. Em outras palavras, tendo obtido a encamação por meio da matéria num estado virginal, isto é, Maria, Marah, o Mar, a Grande Mãe, Binah, a Suprema, distinta da Mãe Inferior, Malkuth, a manifestação de Deus em desenvolvímento procura para sempre reter o Reino de suas Sephiroth centrais num estado de equilíõrio.
13. Quando se representa na Árvore o hieróglifo da Queda, é interessante notar que as cabeças da Grande Serpente que provém do Caos chegam até Daath a não a ultrapassam.
14. O Redentor, portanto, manifesta-se em Tiphareth, a faz um esfor. ço incessante para redimir o seu Reino, reunindo-o às Esferas Supremas através do abismo aberto pela Queda, que separou as Sephiroth inferiores das superiores, a procurando equilibrar as diversas forças do reino sêxtuplo.
15. Para esse fim, sacrificam-se os deuses encarnados, morrendo pelo povo, a fim de que a tremenda força emocional libertada por esse ato possa compensar a força desequilibrada do Reino e, assim, redin-ii-to ou equilibrálo.
16. Essa Esfera da Árvore recebe o nome de Centro Cristológico, e é aqui que a religião cristã tem seu ponto focal. As fés panteístas, tais como a grega e a egípcia, centralizam-se em Yesod; a as fés metafísicas, tais como a budista e a confucionista, visam a Kether. Mas, assim como todas as religiões dignas do nome têm um aspecto esotérico ou místico, a um aspecto exotérico ou panteísta, o Cristianismo, embora seja essencialmente uma fé tipharéthica, tem seu aspecto místico centralizado em Kether, a seu aspecto mágico, como se vê no Catolicismo popular, centralizado em Yesod. Seu aspecto evangélico visa à concentração em Tiphareth como Criança e Deus Sacrificado, a ignora o aspecto do Rei no centro de seu Reino, rodeado pelas cinco Sephiroth sagradas da manifestação.
17. Consideremos, agora, a Árvore do ponto de vista macrocósmico, observando os diferentes arquétipos da força manifestante que entra em ação a edifica o universo, analisando-as apenas remotamente, do ponto de vista microcósmico, em seu aspecto psicológico, como fatores da consciência. Mas, com Tiphareth, nosso modo de aproximação se modifica, pois doravante as forças arquetípicas estão encerradas em formas, a só podemos nos aproximar delas do ponto de vista de seu efeito sobre a consciência; em outras palavras, nosso modo de aproximação deve se fazer por meio da experiência direta dos sentidos, embora esses sentidos não pertençam apenas ao plano físico, mas funcionam tanto em Tiphareth como em Yesod, cada um de acordo com o tipo que lhe corresponde. Enquanto estávamos nos níveis superiores, tivemos de contar com a analogia metafísica a raciocinar por dedução a partir dos primeiros princípios; estamos agora no campo legítimo da ciência indutiva, a devemos nos submeter à sua disciplina e expressar nossas descobertas em seus termos; mas, ao mesmo tempo, devemos manter nosso vínculo com o transcendental através de Tiphareth; podemos fazê-to expressando o simbolismo de Tiphareth nos termos da experiência mística. Todas as experiências místicas do tipo em que a visão termina numa luz cegante são atribuídas a Tiphareth, pois a dissolução da forma no influxo opressivo da força caracteriza o modo transitório da consciência des-
sa Esfera na Árvore. As visões que mantêm claramente a forma definida são características de Yesod. As iluminações que não têm forma, como as descritas por Plotino, dizem respeito a Kether.
18. Em Tiphareth, reúnem-se a recebem iüterpretação as operações da magia natural de Netzach e a magia hermética de Hod. Ambas essas operações realizam-se em termos de forma, embora a forma predomine na operaçáo de Hod num grau maior do que nas de Netzach. Todas as visões astrais de Yesod devem ser traduzidas em termos de metafísica através das experiências místicas de Tiphareth. Se essa tradução não é feita, caímos nas alucinações, pois acreditamos que os reflexos projetados no espelho da mente subconsciénte a traduzidas aqui em termos de consciência cerebral são as coisas reais – de que elas são, na verdade, apenas as representações simbólicas.
19. Kether é metafísica; Yesod é psíquica; a Tiphareth é essencialmente mística, compreendendo-se o termo “místico” como um modo de operação mental em que a consciência cessa de trabalhar nas representaçôes subconscientes simbólicas, ganhando conhecimento por meio de reações emocionais.
20. Os diferentes títulos adicionais e o simbolismo atribuído às várias Sephiroth, a especialmente os nomes divinos, dão-nos uma chave importantíssima para a compreensão dos mistérios da Bíblia, que é essencialmente um livro cabalístico. De acordo com a maneira pela qual a Divindade é referida, sabemos a que Esfera da Árvore o modo particular de manifestação deve ser referido. As referências ao Filho concernem sempre a Tiphareth; as referências ao Pai referem-se a Kether; as referências ao Espírito Santo referem-se a Yesod; a os mistérios mais profundos são secretos, pois o Espírito Santo é o aspecto da Divindade que é adorado nas lojas ocultas; a adoração das forças naturais panteístas a as operações elementais ocorrem sob o governo de Deus Pai; e o aspecto ético a regenerativo da religião, que é o aspecto exotérico destinado à sua época, está sob o governo de Deus Filho em Tiphareth.
21. 0 iniciado, contudo, transcende sua época, a visa à união dos três modos de adoração em seu culto à Divindade enquanto trindade na unidade; o Filho redime o culto panteísta da natureza da degradação a torna o Pai transcendental compreensível à consciência humana, pois “aquele que Me viu viu o Pai”.
22. Tiphareth, contudo, não é apenas o centro do Deus Sacrificado, mas também o centro do Deus Inebriador, o Dador de Iluminação. Dionísio refere-se a esse centro, assim como Osíris, pois, como já vimos, o Pilar Central diz respeito aos modos de consciência; e a consciência humana, elevando-se de Yesod pelo Caminho da Flecha, recebe a iluminaçáo em Tiphareth; por conseguinte, todos os dadores de iluminação nos Panteões são atribuídos a Tiphareth.
23. A iluminação consiste na introdução da mente num modo de consciência mais elevado do que aquele que é edificado a partir da experiência sensorial. Na iluminação, a mente muda de marcha, por assim dizer. Mas, a não ser que o novo modo de consciência seja vinculado ao anterior a traduzido em termos de pensamento finito, esse modo manifesta-se como um raio de luz que cega por seu brilho. Não vemos por meio do raio de luz que brilha sobre nós, mas por meio do reflexo desse raio, que se projeta sobre os objetos de nossa própria dimensão. A não ser que nossas mentes possuam idéias que possam ser iluminadas por esse modo superior de consciência, elas serão simplesmente esmagadas e, após esse experiência cegante com um modo superior de consciência, a escuridão será muito mais intensa para os nossos olhos, do que o era antes. Na verdade, não mudamos exatamente de marcha, mas deixamos o mecanismo de nossa mente como que desembreado. Esse é, de modo geral, o significado da iluminação. Por mais breve que seja o relâmpago, ele é suficiente para convencer-nos da realidade da existência suprafísica, mas não para ensinar-nos algo a respeito de sua natureza.
24. A importância do estágio de Tiphareth na experiência mística reside no fato de que a encamação da Criança ocorre aqui; em outras palavras, a experiência mística engendra gradualmente um corpo de imagens que se ilnminam a se tomam visíveis quando ocorrem as iluminaçôes.
25.0 aspecto de Criança de Tiphareth é também um aspecto muito importante para nós no trabalho prático dos Mistérios relativos à iluminação. Pois devemos aceitar o fato de que a Criança-Cristo não nasceu, como Minerva, da cabeça de Deus Pai, mas começa com uma pequena coisa, deitada humildemente entre os animais a sem mesmo ser admitida na hospedaria com os humanos. Os primeiros raios da experiência mística devem ser obrigatoriamente muito limitados, pois não tivemos tempo para construir, graças à experiência, um corpo de imagens a de idéias que possam representá-las. Precisamos de muito tempo para reunir essas imagens a idéias às experiências transcendentais, acrescentando sua quota e a subseqüente meditação racional que as organiza.
26. Os místicos cometem com freqüência o erro de pensar que estão seguindo a Estrela até o lugar do Sermão da Montanha a não à manjedoura de Belém, onde ocorreu o nascimento. E aqui que o método da Árvore revela toda a sua utilidade, permitindo ao transcendental expressar-se em termos de simbolismo, a que o simbolismo se expresse em termos de metafísica,
unindo assim o psiquismo com o espiritual por meio do intelecto, e iluminando os três aspectos de nossa consciência temária.
27. É em Tiphareth que essa tradução se faz, pois é nessa Esfera que se reúnem as experiências místicas da consciência direta que iluminam os símbolos psíquicos.
28. 0 Pilar Central da Árvore é essencialmente o Pilar da Consciência, assim como os dois Pilares laterais são os Pilares dos poderes ativos a passivos. Quando considerada microcosmicamente, ou seja, do ponto de vista da psicologia a não da cosmologia, Kether, a Centelha Divina em torno da qual se organiza o ser individualizado, deve ser encarada antes como o núcleo da consciência do que como a própria consciência. Daath, a Sephirah invisível, é também o Pilar Central, embora, falando estritamente, ela pertença sempre a um plano diferente daquele em que a Árvore está sendo considerada. Por exemplo, como no momento estamos considerando a Árvore microcosmicamente, Daath seria o ponto de contato com o macrocosmo. É só com Tiphareth que alcançamos a consciência claramente defuvda a individualizada.
29. Tiphareth é o ápice funcional da Segunda Tríade da Árvore, cujos dois ângulos básicos consistem em Geburah a Gedulah (Chesed). Essa Segunda Tríade, emanando da Primeira Tríade das Três Supremas, forma a individualidade evolutiva, a alma espiritual. É ela que perdura a se repete através da evolução, é dela que emanam as sucessivas personalidades, as unidades da encamação, e é nela que a essência ativa da experiência se reabsorve ao final de cada encarnação, quando a unidade encarnada volta ao pé a ao éter.
30. É essa Segunda Tríade que forma a Sobrealma, o Eu Superior, o Santo Anjo da Guarda, o Primeiro Iniciador. É essa voz desse eu superior que com freqüência se ouve, a não a voz de entidades desencamadas, ou do próprio Deus, como pensam aqueles que foram treinados na tradição.
31. Ofuscada a dirigida pela Segunda Tríade, a Terceira Tríade organiza-se através da experiência da encarnação, com Malkuth como seu veículo físico. A consciência cerebral pertence a Malkuth, e é a única de que dispomos enquanto estamos aprisionados em Malkuth. Mas as portas de Malkuth náo estáo rigorosamente fechadas nos dias de hoje, a são muitos aqueles que podem enxergar através dos estalidos da fantasmagoria do plano astral, experimentando a consciência psíquica de Yesod. Quando essa Esfera é alcançada, o Caminho se abre para o psiquismo superior – a verdadeira vidência, que é característica da consciência de Tiphareth.
32. Nossa primeira experiência do psiquismo superior, portanto, expressa-se normalmente, no início, em termos do psiquismo inferior, pois, ao nos livrarmos de Malkuth, contemplamos o Sol de Tiphareth da Esfera lunar de Yesod. Por conseguinte, ouvimos vozes com o ouvido interior a vemos visões com o olho interior, mas elas diferem da consciência psíquica comum porque não são as representações diretas das formas astrais, mas apresentaçôes simbólicas das coisas espirituais em termos de consciência astral. Essa é uma função normal da mente subconsciente, e é muito importante que seja plenamente compreendida, pois a má interpretação desse ponto dá origem a seriíssimos problemas, podendo até mesmo conduzir ao desequilíbrio mental.
33. Aqueles que estão familiarizados com a terminologia cabalística sabem que a primeira das iniciaçóes maiores consiste no poder de desfrutar do conhecimento a da conversação de nosso Anjo da Guarda Sagrado; este, lembremos, é, na verdade, nosso próprio eu superior. A característica desse modo superior de operação mental não consiste em vozes nem visões, mas é consciência pura; é uma intensificação da consciência, a dessa atividade da mente provém um poder peculiar de compreensão a penetração que partilha da natureza da intuição superdesenvolvida. A consciência superior nunca é psíquica, mas intuitiva, a não contém nenhuma imagética sensorial. É essa ausência de imagética sensorial que informa o iniciado experiente de que ele está no nível da consciência superior.
34. Os antigos sabiam disso, a estabeleciam uma diferença entre os métodos mântricos que provocam os contatos ctónicos e a divina inebriação dos Mistérios. As Mênades que dançavam no cortejo de Dionísio pertenciam a uma ordem de iniciação totalmente diferente da ordem das pitonisas; as pitonisas eram sensitivas a médiuns, mas as Mênades, as iniciadas dos Mistérios Dionisíacos, experimentavam uma exaltação da consciência a uma aceleração da vida que lhes permitiam realizar surpreendentes proezas de força.
35. Todas as religiões dinâmicas têm seu aspecto dionisíaco; muitos santos da religiâo cristã relataram que o Cristo Crucificado de sua devoção lhes veio na forma do Esposo Divino; e, quando falam dessa inebriação divina de que participaram, sua linguagem utiliza as metáforas do amor humano como sua expressão apropriada – “Como és adorável, minha irmã, minha esposa”; “Aturdido pelos beijos dos lábios de Deus (. . .)”. Essas coisas dizem muito para aqueles que sabem compreendê-las.
36. 0 aspecto dionisíaco da religião representa um fator essencial na psicologia humana, e é a má compreensáo desse fato que, por um lado, impede a manifestação das experiências espirituais superiores em nossa moderna civilizaçáo e, por outro, permite as estranhas aberrações do sentimento religioso que, de tempos em tempos, dá origem ao escândalo e à tragédia nas posiçáes mais elevadas de movimentos religiosos bastante dinâmicos.
37. Há uma certa concentração a exaltação emocional que possibilita as fases superiores de consciência, a sem a qual é impossível atingi-las. As imagens do plano astral se transformam numa emoção com a intensidade do fogo ardente e, quando toda a escória da natureza se transforma em chamas, a fumaça se clareia, a somos deixados com o fogo branco da consciência pura. Pela própria natureza da mente humana, que tem o cérebro como seu instrumento, esse fogo branco não pode durar por muito tempo; mas, no breve espaço de sua duração, o temperamento sofre mudanças, e a própria mente recebe novos conceitos a experimenta uma expansão que nunca se retrai por completo. A tremenda exaltação da experiência desaparece, mas somos deixados com uma permanente expansão da personalidade, uma capacidade intensificada para a vida em geral a um poder de compreensão das realidades espirituais que nunca seriam nossas se não nos balançássemos forçosamente por sobre o grande abismo da consciência no momento do êxtase.
38. Os líderes espirituais de hoje não têm qualquer conhecimento da técnica da produção deliberada do êxtase a nenhuma idéia de como dirigilo quando ocorre espontaneamente. Os revivalistas conseguiram produzir uma forma híõrida de êxtase entre as pessoas de pouca instrução, utilizando o magnetismo pessoal, e o valor de um revivalista é medido por seu poder de inebriar os ouvintes. Mas as conseqüências dessa inebriação equivalem às de qualquer outra inebriação, e a vida parece extremamente velha, tediosa e inútil quando o revivalista se volta para outros campos de atividade. Quando a inebriação tem fim, o converso pensa que perdeu Deus; ninguém parece compreender que o êxtase é um relâmpago de magnésio na consciência e que, se fosse prolongado, queimaria o cérebro e o sistema nervoso. Mas, embora ele não possa ser prolongado, a não se pense em prolongá-lo, graças a ele atravessamos o centro morto da consciência a despertamos para uma vida superior.
39. A técnica da Árvore oferece uma definição precisa para essas experiências espirituais, a aqueles que são treinados nessa técnica não tomam o despertar de sua própria consciência superior como a voz de Deuz. Da consciência sensorial de Malkuth, por meio do psiquismo astral de Yesod, às intuições informes e à consciência ativada de Tiphareth, eles sobem e descem suave a habilmente, nunca confundindo os planos ou sofrendo a sua mistura, mas concentrando-os numa consciência centralizada.
40. Os cabalistas chamam Tiphareth de Shemesh, ou Esfera do Sol, e é interessante notar que todas as divindades solares são deuses curadores, e que todos os deuses curadores são deuses solares – fato em que devemos meditar.
a41. 0 Sol é o ponto central de nossa existência. Sem o Sol não haveria o sistema solar. A luz do Sol exerce um papel importantíssimo no metabolismo, ou processo vital, das criaturas vivas, a toda a nutrição das plantas verdes depende dele. Sua influência está intimamente ligada à das vitaminas, o que é comprovado pelo fato de certas vitaminas poderem ser utilizadas para suplementar a sua ação. Vemos, por conseguinte, que a luz solar é um fator muito importante em nosso bem-estar; poderíamos it mais longe e dizer que ele é essencial à nossa existência a que nossa associação com o Sol é muito mais íntima do que compreendemos.
42. 0 símbolo do Sol no reino mineral é o ouro, puro a precioso, que todas as nações concordaram em chamar de metal solar a reconhecer como metal precioso a unidade básica de troca. O papel exercido pelo ouro na política das nações excede bastante a sua utilidade intrínseca como mental. 0 ouro é, ademais, a única substância na Terra que é incorruptível a imaculável. Ele pode embaçar devido à acumulação de impurezas em sua superfície, mas o metal em si, ao contrário da prata a do ferro, não sofre alteração ou decomposição química. Nem a água consegue corroê-lo.
43. 0 Sol é para nós o Dador de Vida e a fonte de todo ser; é o único símbolo adequado de Deus Pai, que pode apropriadamente ser chamado de Sol atrás do Sol, sendo Tiphareth, na verdade, o reflexo imediato de Kether. É por meio da mediação do sol que a vida se originou na Terra, e é por meio da consciência tipharética que entramos em contato com as fontes da vitalidade a as assimilamos, tanto consciente quanto inconscientemente.
44. 0 Sol é, acima de todas as coisas, o símbolo da energia manifestante; são as efusões súbitas a excepcionais da energia espiritual a solar que causam a inebriação divina do êxtase; é o ouro, como base monetária, o representante objetivo da força da vida exteriorizada; pois, na verdade, o dinheiro é vida a vida é dinheiro, pois sem dinheiro não podemos viver plena-
mente a vida. A força vital, que se manifesta no plano físico como energia e no plano mental como inteligência a conhecimento, pode ser transmutada, pela alquimia apropriada, em dinheiro, que é a prova da capacidade ou energia de alguém. 0 dinheiro é o símbolo da energia humana, por meio da qual podemos acumular, hora após hora, o produto de nosso trabalho, recebendo-o como salário no final do mês, a gastando-o em coisas necessárias ou guardando-o para a utilização futura que considerarmos conveniente. 0 ouro que garante as cédulas monetárias é um símbolo da energia humana, a só pode ser obtido por um gasto dessa energia; embora ela possa ser a energia de um pai ou de um marido, transmitida por herança, não obstante é o símbolo da atividade de algum ser humano em alguma esfera, mesmo se esta for apenas a da sociedade de ladrões.
45. Os movimentos secretos a subterrâneos do ouro atuam na política das nações como os hormônios no corpo humano; a há leis cósmicas que lhe governam os movimentos cíclicos a fortuitos, sobre as quais os economistas não fazem a menor idéia.
46. Kether, o Espaço, a fonte de toda existência, reflete-se em Tiphareth, que age como um transformador a distribuidor da energia espiritual primordial. Recebemos essa energia diretamente por meio da luz solar, e indiretamente por meio da clorofila nas plantas verdes, que lhes possibilita utilizar a luz solar, a que ingerimos em primeira mão nos alimentos vegetais e em segundo lugar, nos tecidos dos animais hérbívoros.
47. Mas o deus solar é mais do que a fonte da vida. Ele é também o curador que age quando a vida vai mal. Pois é a própria vida, seus excessos, falta, ou maldirecionamento, que constitui a atividade nos processos da enfermidade; a enfermidade não tem energia, a não ser a que rouba à vida do organismo. É, por conseguinte, pelos ajustamentos na força vital que a cura pode ser realizada, a os deuses solares são os deuses naturais que devem ser evocados a esse respeito, pois a vida e o Sol estão intimamente associados.
48. É por meio do conhecimento da manipulação da influência solar que os antigos sacerdotes-iniciados realizavam suas curas, e a adoração do Sol está na raiz do culto de Esculápio na Grécia antiga.
49. Nós, os modernos, aprendemos o valor da luz solar e das vitaminas em nossa economia fisiológica, mas não compreendemos o papel importantíssimo desempenhado pelo aspecto espiritual das influências solares em nossa economia psíquica, utilizando essa palavra em seu sentido dicionarizado. Há um fator tipliarético na alma humana que, de acordo com a tradição antiga, tem sua correspondência física no plexo solar, não na cabeça ou no coração, que é capaz de recolher o aspecto sutil da energia solar da mesma maneira pela qual a clorofila na folha de uma planta recolhe seu aspecto mais tangível. Se nos privamos dessa energia a somos impedidos de assimilá-la, adoecemos a enfraquecemos, tanto na mente como no corpo, como as plantas que crescem num porão, privadas de sua luz.
50. Essa separação do aspecto espiritual da natureza deve-se às atitudes mentais. Quando recusamos reconhecer nosso papel na natureza, e o papel da natureza em nós, inibimos esse fluxo livre de magnetismo vitalizante que circula entre a parte e o todo; a na falta de certos elementos essenciais à função espiritual, a saúde psíquica é impossível.
51. Os psicanalistas atribuem grande importância à repressão como uma causa da enfermidade psíquica; eles aprenderam a reconhecer a repressão porque, em sua forma extrema, de repressão sexual, seus efeitos nocivos são evidentes. Eles não compreenderam, contudo, que a repressão sexual, a não ser quando causada pelas circunstâncias, caso em que não dá origem a dissociações, é apenas o resultado de uma causa que reside muito além do sexo, a tem suas raízes numa falsa espiritualidade, um refinamento a um idealismo espúrio, que conduziu à supressão da simpatia, da franqueza a da gratidão numa criatura viva em face do Dador de Vida, o aspecto superior da natureza. Isso tem como causa a sua vaidade espiritual, que considerava indignos os aspectos mais primitivos da natureza.
52. É por causa de nossos ideais espúrios, com seus falsos valores, que temos tantas enfermidades neuróticas em nosso meio. É por não honrarmos a Priapo e a Cloacina como divindades que fomos amaldiçoados pelo deus do Sol a separados de Sua influência benéfica, pois um insulto aos Seus aspectos inferiores é um insulto á Ele.
53. Quando uma criatura não está num estágio adequado para a reprodução, o chamado do sexo lhe é repugnante; essa é a base natural do pudor, que protege o organismo do desgaste a da exaustão. Como uma acumulação dos excrementos decompostos dá origem à enfermidade, o odor de seus excrementos é repulsivo às criaturas vivas, mesmo àquelas de desenvolvimento mais inferior, de modo que elas evitam a sua proxinúdade. Por causa dessas duas repulsas, tão racionais a úteis sob condições naturais, os diversos modos dos tabus irracionais se desenvolveram sob nossas condições artificiais de vida civilizada.
54. Nossa atitude em face dessas duas importantes seçôes da vida natural implica que elas são desnaturais, degradadas, venenosas. Conseqüentemente, privamo-nos dos contatos terrestres; então, o circuito se quebra e os contatos celestes nos faltam. A corrente cósmica provém de Kether, passa por Tiphareth a Yesod, a chega a Malkuth; se o circuito se quebra em qualquer parte, ele não pode funcionar. Certo, é impossível quebrar total-
mente o circuito durante a vida, pois os processos vitais estão tão profundamente enraizados na natureza, que não podemos suprimi-los por completo; mas uma atitude mental pode causar um entupimento do cano, por assim dizer, a pode tanto isolá-la a inibi-la a ponto de permitir que apenas um magro fluxo seja aspirado pelo organismo desesperado.
55. Em Tiphareth, o Sol Central a espiritual se manifesta no natural, a deveríamos reverenciar o deus do Sol como representante da naturalização dos processos espirituais; a espiritualização dos processos naturais teria muito a responder na história do sofrimento humano.
56. Os símbolos atribuídos à Sexta Sephirah tomam-se tema de um estudo muito iluminador quando os examinamos à luz do que agora sabemos sobre o significado de Tiphareth, pois temos aqui um exemplo muito claro da maneira pela qual os símbolos atribuídos a uma dada Sephirah se entrelaçam numa interminável cadeia de associações concatenadas.
57. 0 significado da palavra hebraica Tiphareth é beleza; a das muitas definiçôes de beleza que foram propostas, a mais satisfatória é a que faz a beleza constituir uma relação de proporçôes harmoniosas, qualquer que seja a coisa bela, moral ou material. Por conseguinte, é interessante descobrir a Sephirah da Beleza como o ponto central de equilrõrio de toda a Ãrvore, constatando que uma das duas experiências espirituais atribuídas a Tiphareth é a visão da harmonia das coisas.
58. É curioso que duas experiências espirituais distintas e, à primeira vista, sem relação recíproca, sejam atribuídas a Tiphareth; ela é, de fato, a única Esfera da Árvore em que isso ocorre. É também a única a que se atribuem diversas imagens mágicas; devemos perguntar, por conseguinte, por que é essa Sephirah central que tem esses múltiplos aspectos. A resposta encontra-se no Texto Yetzirático que lhe corresponde, o qual declara: “0 Sexto Caminho chama-se Inteligência Mediadora.” Um mediador é essencialmente um elo unificador, um intermediário; conseqüentemente, Tiphareth, em sua posição central, deve ser encarada como um comutador de duas fases, a devemos considerá-la ao mesmo tempo como receptora dos “influxos das emanaçôes” a como causa das influências que fluem “para todos os reservatórios das bênçãos”. Podemos assim considerá-la como a manifestação exterior das cinco Sephiroth mais sutis, a também como o princípio espiritual que subjaz às quatro Sephiroth mais densas. Se a considerarmos do Iado da forma, ela é força; se a considerarmos do lado da força, é forma. Ela é, de fato, a Sephirah arquetípica em que os grandes princípios representados pelas cinco Sephiroth superiores são formulados em conceitos. “Nele se multiplicam os influxos das emanações”, como declara o Sepher Yetzirah.
59.0 nome Zoar Anpin, o Rosto Menor, antónimo de Arik Anpin, o Rosto Enorme, um dos títulos de Kether, confirma essa idéia. Pois as formulações informes de Kether tomam forma nessa Sephirah, a esfera da mente superior. Como já observamos anteriormente, Kether se reflete em Tiphareth. 0 Velho dos Dias vê-se refletido como num espelho, e a imagem refletida do Rosto Enorme chama-se Rosto Menor a Filho.
60. Mas, embora seja uma manifestação menor a uma geração mais jovem quando vista de cima, Tiphareth é também Adão Cadmo, o Homem Arquetípico, quando considerada de baixo – ou seja, do lado de Yesod e Malkuth. Tiphareth é Malek, o Rei, o Esposo de Malkah, a Noiva, que é um dos títulos de Malkuth.
61. É em Tiphareth que encontramos as idéias arquetípicas que formam a estrutura invisível de toda criação manifesta que formula a expressa os princípios primários emanados das Sephiroth mais sutis. Ela é, por assim dizer, um tesouro de imagens num arco superior; mas, ao passo que o plano astral é povoado por imagens refletidas das formas, as imagens da Esfera de Tiphareth são aquelas que se formulam e, por assim dizer, se cristalizam a partir das emanações espirituais das potências superiores.
62. Tiphareth é o mediador entre o microcosmo e o macrocosmo; “Como em cima, tal é embaixo”, essa é a linha mestra da Esfera de Shemesh, na qual o Sol que está atrás do Sol se concentra na manifestação.
63. Encontramos na anatomia do Homem Divino a interpretação do sentido da organização a da evolução; de fato, o universo material consiste literalmente nos órgãos a nos membros desse Homem Divino; e é através de uma compreensão da alma de Adão Cadmo, formado pelos “influxos das emanações”, que podemos interpretar-Lhe a anatomia èm termos de função, que é o único meio no qual a anatomia pode ser apreciada inteligentemente. É porque a ciência se contenta em ser descritiva, esquivando-se das explicaçôes fmalistas, que lhe falta a profundidade filosófica.
64. Na psicologia transcendental, que é a anatomia do microcosmo, o peito é a correspondência atribuída a Tiphareth. No peito estão os pulmões e o coração; imediatamente abaixo desses órgãos, intimamente relacionados com eles a controlando-os, está a maior rede de nervos do corpo, conhecida como plexo solar, nome que foi convenientemente cunhado pelos
antigos anatomistas. Os pulmões mantêm um relacionamento singularmente íntimo entre o microcosmo e o macrocosmo, detemminando a entrada e a saída do movimento periódico da atmosfera, que jamais cessa de dia ou de noite, até que o vaso de ouro se quebre e o fio de prata se rompa a cessemos de respirar. 0 coração determina a circulação do sangue, e o sangue, como afirmou acertadamente Paracelso, é um “fluido singular”. A medicina modema sabe muito bem o que a luz solar significa para o sangue. Ela descobriu também que a clorofila, a substância verde das folhas das plantas a que lhes permite utilizar a luz solar como sua fonte de energia, tem uma poderosa influência sobre a pressão do sangue.
65. As três imagens mágicas de Tiphareth são curiosas, pois, à primeira vista, são tão díspares que cada uma parece invalidar as outras. Mas, à luz do que agora sabemos a respeito de Tiphareth, seu significado a relacionamento aparece claramente, através da linguagem do simbolismo, especialmente quando a estudamos à luz da vida de Jesus Cristo, o Filho.
66. Tiphareth, sendo a primeira coagulação das Supremas, é adequadamente representada como a Criança recém-nascida na manjedoura, em Belém; como Deus Sacrificado, ela se toma o mediador éntre Deus e o homem; e, quando ressuscita dos mortos, Ele o faz como um rei em seu reino. Tiphareth é a Criança de Kether e o rei de Malkuth, a em sua própria esfera Ele é sacrificado.
67. Não compreenderemos corretamente Tiphareth se não tivermos algum conceito do sentido real do sacrifício, que é muito diferente do sentido popular, que o concebe como a perda voluntária de algo querido. O sacrifício é a tradução da força de uma forma a outra. Não existe uma destruiçáo total da força; por mais que ela desapareça de nosso alcance, ela se mantém em alguma outra forma, de acordo com a grande lei natural da conservação da energia, que é a lei que mantém nosso universo em existência. A energia pode ser encerrada na forma, tornando-se, por conseguinte, estática; ou pode ser libertada dessa prisão da forma a posta em circulação. Quando fazemos um sacrifício de qualquer espécie, tomamos uma forma estática de energia e, quebrando a forma que a aprisiona, colocamo-la em livre circulação no cosmo. 0 que sacrificamos numa forma retoma novamente, no devido tempo, sob outra forma. Aplicando esse conceito às idéias religiosas a éticas do sacrifício, obtemos algumas pistas muito valiosas.
68.0 Nome divino dessa Esfera é Aloah Va Daath, que a associa estreitamente com a Sephirah invisível que se encontra entre ela a Kether. Essa Sephirah, como já observamos, explica-se antes como apreensão – a alvorada da consciência; a podemos interpretar a frase “Tetragranunaton Aloah
Va Daath” como “Deus manifesto na esfera da mente”.
69. No microcosmo, Tiphareth representa o psiquismo superior, o modo de consciência da individualidade, o eu superior. Ela é essencialmente a Esfera do misticismo religioso, que se distingue da magia a do psiquismo de Yesod; lembremos que as Sephiroth do Pilar Central da Árvore representam poderes a modos de funcionamento. Tiphareth é também a Esfera dos Grandes Mestres; é o templo edificado por mãos não-humanas, eterno nos céus, e a Grande Loja Branca. É aqui que o adepto iniciado opera quando está na consciência superior; é aqui que ele entra em contato com os Mestres, e é por meio do Nome a por uma compreensâo do significado do Nome de Aloah Va Daath que ele se abre a essa consciência superior.
70. Notemos que é apenas na proporção do significado que uma palavra tem para nós que ela se toma uma Palavra de Poder. 0 nome de sua vítima é uma Palavra de Poder para o assassino. Tal é seu poder que, em alguns países, a polícia, enquanto interroga um suspeito, registra com aparelhos as alteraçôes de sua pressão sangüínea; o nome da vítima a outras palavras relacionadas ao crime são subitamente sussurradas em seu ouvido e, se essas forem “palavras de poder” para ele, o instrumento as registrará sem margem de erro.
71. Acredita-se popularmente que os Nomes de Poder exercem influéncia direta sobre espíritos, anjos, demônios a outros seres, mas isso não é verdade. 0 Nome de Poder exerce sua influência sobre o mago e, exaltando-lhe a dirigindo-lhe a consciência, torna-o capaz de entrar em contato com o tipo escolhido de influência espiritual; se ele teve experiência desse tipo particular de influência, a Palavra de Poder agitará poderosas lembranças subconscientes; se ele não as teve, abordando o assunto com o espírito sem imaginação a incrédulo do erudito, o “bárbaro Nome de Evocação” será como o hocus-pocus para ele. Notemos, porém, que, para o católico crente, hocus-pocus – que é o nome protestante para a fraude a para a superstição, e de onde deriva a palavra hoax (logro) – significa Hoc est Corpus, o que é uma história totalmente diferente. É o ponto de vista que importa nesses assuntos.
72. É por essa razão que se atribui uma experiência espiritual definida a cada Sephirah; e, enquanto o aspirante não tiver a experiência correspondente, ele não será um iniciado dessa Sephirah, a não poderá utilizar os seus Nomes de Poder, mesmo que os conheça. Segundo a tradição, não basta conhecer um Nome de Poder; é preciso também saber como vibrá-lo. Acredita-se geralmente que a vibração de um Nome de Poder é a nota justa
pela qual o cantamos; mas a vibração mágica é algo muito mais que isso. Quando experimentamos uma profunda emoção e, ao mesmo tempo, somos devocionalmente exaltados, a voz desce muitos tons abaixo de seu normal a toma-se ressoante a vibrante; é esse tremor de emoção, combinado com a ressonãncia e a devoção, que constitui a vibração de um Nome, a essa experiência não pode ser aprendida ou ensinada, devendo antes ser espontãnea. É como o vento que sopra onde lhe apraz. Quando ele ocorre, somos sacudidos dos pés à cabeça com uma onda de calor, a todos os que o ouvem prestam-lhe atenção involuntariamente. É uma experiência extraordinária ouvir uma Palavra de Poder vibrada. É uma experiência ainda mais extraordinária vibrá-la.
73. 0 arcanjo de Tiphareth é Rafael, o “espírito que está no Sol”, e que é também o anjo da cura.
74. Quando o iniciado “trabalha” na Árvore, ou seja, quando edifica em sua imaginação um diagrama da Árvore da Vida em sua aura, ele formula Tiphareth em seu plexo solar, entre o abdome e o peito; se desejar trabaIhar na Esfera da sexta Sephirah, a concentra o poder nesse centro, descobrirá que ele próprio se tomou um espírito imerso no Sol, rodeado pela flamejante fotosfera. Uma coisa é formular a Sephirah na aura, a outra completamente diferente é achar-se situado dentro dessa Sephirah. Embora se possa receber a influência de uma Sephirah por meio da primeira operação -, e esse é um bom método rotineiro para a meditação diária, – somente depois de “virarmos pelo avesso”, de modo que a posição se inverta, ficando não a Esfera dentro de nós, mas nós dentro da Esfera, é que poderemos trabalhar com o poder de uma Sephirah. É essa experiência que constitui a culminação iniciática de uma Sephirah.
75. 0 coro angélico de Tiphareth são os Malachim, ou Reis. São os princípios espirituais das forças naturais – e ninguém pode controlar, ou mesmo fazer um contato seguro com princípios elementais, a não ser que experimente a iniciação de Tiphareth, que é a de um adepto menor. É preciso que sejamos aceitos pelos Reis Elementais, ou seja, é preciso que compreendamos a natureza espiritual última das forças naturais antes de podermos manipulá-las em sua forma elemental. Em sua forma elemental subjetiva, elas aparecem no microcosmo como poderosos instintos de combate, de reprodução, de autodegradação, de autoexaltação, a todos aqueles fatores emocionais conhecidos pelo psicólogo. É óbvio, portanto, que, se agitamos a estimulamos essas emoções em nossas naturezas, devemos fazê-to para que possamos utilizá-las como servos do eu superior, dirigido pela razão e por princípios espirituais. É necessário, por conseguinte, que, quando operamos as forças elementais, o façamos por meio dos Reis, sob o governo do Arcanjo a pela invocação do Santo Nome de Deus, apropriados à Esfera. Microcosmicamente, isso significa que as poderosas forças elementais motrizes de nossa natureza estão relacionadas com o eu superior, a não dissociadas no submundo qliphótico da inconsciência freudiana.
76. As operações elementais não são, naturalmente, realizadas na Esfera de Tiphareth, mas é essencial que elas sejam controladas da Esfera de Tiphareth, se desejamos nos manter no âmbito da Magia Branca. Não havendo esse controle superior, as operações descambarão rapidamente para a Magia Negra. Afirma-se que, na Queda, as quatro Sephiroth inferiores se desligaram de Tiphareth a foram assimiladas pelas Qliphoth. Quando as forças elementais se desligam de seus princípios espirituais, tomando-se fins em si mesmos ainda que não se vise à experimentação maligna, a Queda tem lugar, e a degradação logo se lhe segue. Mas, quando compreendemos claramente o princípio espiritual que subjaz a todas as coisas naturais, estas permanecem num estado de inocência, para utilizar um termo teológico com uma conotação definida; elas não caem, a podemos operá-las com segurança e desenvolvê-las vantajosamente em nossas próprias naturezas, produzindo, assim, a liberdade e o equilíbrio tão necessários à saúde mental. Essa correlação do natural com o espiritual, que evita a queda deste último, mantendo-o num estado de inocência, é um ponto muito importante em todos os trabalhos práticos em qualquer forma de Magia.
77. Como já vimos, duas experiências espirituais concorrem para a iniciação de Tiphareth: a visão da harmonia das coisas e a visão dos Mistérios da Crucificação. Já vimos também que são dois os aspectos de Tiphareth, a que, por conseguinte, duas devem ser as experiências espirituais em sua iniciação.
78. Na visão da harmonia das coisas, percebemos mais profundamente o lado espiritual da natureza; em outras palavras, encontramos os reis angélicos, os Malachim. Por meio dessa experiência, compreendemos que o natural é apenas o aspecto denso do espiritual, o “Manto Exterior do Ocultamento”, que cobre o “Manto Interno da Glória”. É a falta dessa compreensão do significado espiritual do natural que se faz sentir tão lamentavelmente em nossa vida religiosa atual, a que é responsável por tantas enfermidades neuróticas a tanta infelicidade conjugal.
79. É por meio dessa visão da harmonia das coisas que nos unimos à natureza, não por meio dos contatos elementais. Os seres humanos que, pela cultura, se elevaram de uma ou outra maneira acima dos primitivos, não podem unir-se à natureza no nível elemental, pois fazê-to implica a degeneração, a eles se tomariam bestiais, nos dois sentidos da palavra. Os contatos naturais se fazem por meio dos reis angélicos dos elementos na Esfera de Tiphareth – em outras palavras, por meio da compreensão dos princípios espirituais que subjazem às coisas naturais -, e o iniciado encontra, assim, os seres elementais em nome de seu rei governante. Ele desce aos reinos elementais, vindo de cima, por assim dizer, trazendo consigo a sua humanidade; é, portanto, um iniciador para os elementais; mas, se o iniciado os encontra no nível deles, ele abre mão de sua humanidade a retoma a uma fase primitiva de evolução. A força elemental, não-limitada a não-mantida em xeque pelas limitaçôes de um cérebro animal, converte-se numa força desequilibradora quando flui através dos vastos canais de um intelecto humano, e o resultado é o caos, que é um dos reinos das Qliphoth.
80. Os Mistérios da Crucificação são macrocósmicos a microcósmicos. Em seu aspecto macrocósmico, encontramo-los nos mitos dos grandes redentores da humanidade, que nascem de um deus a de uma mãe virginal, enfatizando, assim, a natureza dual de Tiphareth, em que forma a força estão reunidas. Mas não esqueçamos seu aspecto microcósmico, enquanto experiência de consciência mística. É por meio da compreensão dos Mistérios da Crucificação, que diz respeito ao poder mágico do sacrifício, que somos capazes de transcender as limitaçôes da consciência cerebral, limitada à sensaçIo a condicionada à forma, a adentrar a consciência mais ampla do psiquismo superior. Tomamo-nos, assim, capazes de transcender a forma e, por conseguinte, realizar a força latente, transformando-a de estática em cinética a tomando-a disponível para a Grande Obra, que é regeneração.
81. A virtude característica da Esfera de Tiphareth é a devoção a essa Grande Obra. A Devoçáo é um fator muito importante no Caminho da Iniciação que conduz à consciência superior, a devemos, por conseguinte, examiná-to cuidadosamente, analisando-lhe os elementos constitutivos. Poderíamos definir a devoção como o amor por algo que é superior a nós; por algo que evoca nosso idealismo; por algo que, embora não possamos igualar, não obstante nos faz desejar ser como ele; “Contemplando como num espelho a glória do Senhor, eles se transformam na imagem da glória”. Quando um conteúdo emocional mais forte é infundido na devoção, tornando-se adoração, ele nos transporta por sobre o grande abismo existente entre o tangível e o intangível, a nos permite apreender coisas que os olhos não vêem nem os ouvidos ouvem. É essa devoçáo, que se eleva à adoração, na Grande Obra, que nos inicia nos Mistérios da crucificação.
82. 0 vício atribuído a Tiphareth é o orgulho, a nessa atribuição ternos uma importantíssima verdade psicológica. O orgulho tem suas raízes no egoísmo e, na medida em que estamos centrados em nós mesmos, não podemos nos unir com as coisas do mundo. No verdadeiro desprendimento do Caminho, a alma supera seus limites a penetra a Esfera das coisas por meio da simpatia ilimitada a do amor perfeito; mas no orgulho a alma tenta estender seus limites até possuir tudo o que estiver ao seu alcance, e é uma experiência muito diferente possuir uma coisa para com ela se unir, desejando que ela nos possua igualmente em perfeita reciprocidade. E esse arranjo unilateral é o vício do adepto. Ele deve tanto dar quanto receber, a deve dar-se sem reservas se quiser participar da união mística, que é o fruto do sacrifício da crucificação. “Que aquele que for o maior dentre vós seja o servo de todos”, disse o Senhor.
83. Os símbolos associados a Tiphareth são o lámen, a Rosa-cruz, a cruz do calvário, a piràmide truncada e o cubo.
84. 0 lámen é o símbolo que o adepto ostenta sobre o peito para indicar uma determinada força. Um adepto que opera na Esfera de Shemesh, por exemplo, utilizará sobre o peito uma imagem do Sol resplandecente. Um lámen é a arma mágica de Tiphareth; por conseguinte, toma-se necessário dizer algo a respeito da natureza das armas mágicas em geral, a fim de que a função de um lámen possa ser entendida.
85. Uma arma mágica é algum objeto adequado, como veículo, para a força de um tipo particular. Por exemplo, a arma mágica do elemento Água é uma taça ou um cálice; a arma mágica do elemento Fogo é uma lamparina acesa. Esses objetos são escolhidos porque sua natureza é congênita à da força a ser invocada; ou, em linguagem moderna, porque sua forma sugere a força à imaginação pela associação de idéias.
86. Tiphareth associa-se tradicionalmente com o peito, tanto em virtude da rede de nervos que se chama plexo solar como pela sua posição quando a Árvore é edificada na aura. Conseqüentemente, a jóia peitoral do adepto é o foco da força tipharética, qualquer que seja a operação realizada. A força real, operando em sua própria Esfera, é representada pela arma mágica que se lhe atribui. Por exemplo, um adepto que realiza uma operação do elemento Água teria como arma mágica a taça, a executaria todos os signos sobre a taça, nela concentrando a força obtida pela invocação. Mas, sobre seu peito, estaria o selo do elemento Água, representando o fator espiritual da operação e o arcanjo que governa esse reino particular. Se o adepto
não compreender o significado de seu lámen, que é diferente do de sua arma mágica, ele não será um adepto, a sim um mago.
87. A Rosa-Cruz e a cruz do Calvário são ambas símbolos da Esfera de Tiphareth. Para compreendermos seu significado, cumpre dizer algo a respeito das cruzes em geral, a de como elas são utilizadas nos sistemas simbólicos. Embora a cruz com que tenhamos mais familiaridade seja a cruz do Calvário, devido à sua associação com o Cristianismo, há muitas outras formas de cruz, a cada uma tem o seu próprio significado. A cruz de braços iguais, tal como a cruz vermelha do serviço médico militar, recebe dos iniciados o nome de cruz da natureza, a representa o poder em equilíbrio. Ela costuma figurar no topo de algumas cruzes célticas, encerrada com freqüência num círculo, de modo que a cruz céltica consiste realmente numa haste afilada que termina numa cruz natural, nada tendo em comum com a cruz do Calvário, que é a cruz do Cristianismo. A haste afilada da cruz céltica é, na verdade, uma pirâmide truncada, a os exemplares ainda existentes desse tipo de cruz confirmam essa interpretação. Algumas formas arcaicas sugerem a imposição da cruz a do círculo sobre a pedra fálica cõnica, que é um objeto tão universal na adoração primitiva.
88. A suástica tem também a natureza da cruz, sendo chamada às vezes de “cruz de Thor”, ou “martelo de Thor”, supondo-se que sua forma indique a ação rodopiante de seus relámpagos.
89. A cruz do Calvário é a cruz do sacrifício, a sua cor verdadeira é o preto. A haste deve ser três vezes mais comprida do que os braços. A meditação sobre essa cruz conduz à iniciação por meio do sofrimento, do sacrifício e da auto-abnegação. 0 crucifixo é, naturalmente, uma elaboração da cruz do Calvário.
90. 0 círculo sobre a cruz é um símbolo iniciático, especialmente quando a cruz se assenta sobre três pés, como deveria ser neste caso. 0 círculo indica a vida eterna, a também a sabedoria; o emblema da Sociedade Teosófica, que tem como insígnia a “serpente que morde a própria cauda”, apresenta uma variação dessa forma. Uma cruz do Calvário com o círculo superposto indica a iniciação pelo Caminho da cruz, a os três pés são os três graus de iluminação. É essa cruz que recebe o nome de Rosa-cruz. 0 objeto de fantasia em que figuram sarças não é um símbolo iniciático. A rosa associada à cruz no simbolismo ocidental é a Rosa Múndi, e é uma chave para a interpretação das forças naturais. Sobre suas pétalas estão gravados os trinta e dois sinais das forças naturais; esses sinais correspondem às vinte a duas letras do alfabeto hebraico a às Dez Sephiroth Sagradas; estas, por sua vez, são atribuídas aos Trinta a Dois Caminhos da Árvore da Vida, a essa é a chave
para a compreensão da Rosa Múndi. Os curiosos desenhos que constituem os selos dos espíritos elementais são feitos desenhando-se continuamente as letras de seus nomes sobre a rosa.
91. À luz dessa explicação, podemos compreender o valor das alegações daquelas organizações que tomam um emblema floral como seu símbolo. Elas assemelham-se àquele cavalheiro que pediu ao seu camiseiro uma gravata de magistrado salpicada com um pouquinho de vermelho.
92. 0 cubo é comumente atribuído a Tiphareth por constituir uma figura hexaédrica, a seis é o número de Tiphareth. Mas o simbolismo do cubo não se limita a esse aspecto. 0 cubo é a forma mais simples do sólido e, como tal, é o símbolo apropriado de Tiphareth, em cuja Esfera se encontra o primeiro prenúncio da forma. 0 símbolo de Malkuth é o cubo duplo, que simboliza o axioma “Como em cima, tal é embaixo”.
93. A pirâmide simboliza o homem perfeito, solidamente apoiado na Terra a esforçando-se por unir-se com os céus; em outras palavras, o Ipsissimus. A pirãnnide truncada simboliza o adepto iniciado, ou Adeptus Minor, que atravessou o Véu, mas ainda não completou os seus graus. Essa pirãmide a cujos seis lados correspondem as seis Sephiroth centrais que formam Adão Cadmo, ou o homem arquetípico, é completada pela adição das Três Supremas, que culminam na unidade de Kether.
94. Os seis do baralho Tarô são atribuídos também a Tiphareth e, nessas cartas, a natureza harmoniosa a equilibrada dessa Sephirah se revela claramente. 0 Seis de Paus é o Senhor da Vitória. 0 Seis de Copas, o Senhor da Alegria. Mesmo o naipe maléfico de Espadas transforma-se em harmonia nessa Esfera, e o Seis de Espadas é conhecido como o Senhor dos Sucessos Merecidos – ou seja, o sucesso obtido após a batalha. 0 Seis de Ouros é o Sucesso Material; em outras palavras, o poder em equilíbrio.

A Cabala Mística – Dion Fortune


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