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A ATRAÇÃO E REPULSÃO UNIVERSAL.
Os eruditos antigos e medievais acreditavam nas doutrinas arcanas da sabedoria. Esta incluíam a Alquimia, a Cabala caldaico-judia, os sistemas esotéricos de Pitágoras e dos antigos magos, e os dos últimos filósofos e teurgista platônicos. Não devemos esquecer de mostrar as grandes verdades que jazem sob as religiões malcompreendidas do passado. Os quatro elementos de nossos pais, terra, ar, água e fogo, contêm para o estudante da Alquimia e da antiga Psicologia – ou, como agora é chamada, magia – muitas coisas com que nossa filosofia jamais sonhou. Não devemos esquecer que o que é agora chamado de Necromancia pela Igreja, e Espiritismo pelos crentes modernos, e que inclui a evocação de espíritos mortos, é uma ciência que, desde a remota Antigüidade, se difundiu quase universalmente pela superfície de nosso globo.
Embora não sendo nem alquimista nem astrólogo, mas simplesmente um grande filósofo, Henry More, da Universidade de Cambridge, um homem de renome universal, pode ser considerado um arguto lógico, cientista e metafísico. Durante toda a vida ele acreditou fortemente na feitiçaria. Sua fé na imortalidade e os hábeis argumentos na demonstração da sobrevivência do espírito do homem após a morte baseiam-se no sistema pitagórico, adotado por Cardan, Van Helmont, e outros místicos. O espírito infinito e incriado que chamamos comumente de DEUS, substância da mais elevada virtude e excelência, produziu todas as coisas pela causalidade emanativa. Deus, portanto, é a substância primária, e tudo o mais, a secundária; se Deus criou a matéria com o poder de mover-se a si própria, ele, a Substância Primária, é ainda a causa desse movimento, tanto quanto da matéria, e podemos dizer acertadamente que é a matéria que se move a si própria. “Podemos definir esta espécie de espírito de que falamos como uma substância indiscernível, que pode mover-se, que pode penetrar-se, contrair-se e dilatar-se, e que também pode penetrar, mover e alterar a matéria”, que é a terceira emanação. Ele acredita firmemente nas aparições, e defendia intransigentemente a teoria da individualidade de toda alma, em que “personalidade, memória e consciência continuarão seguramente num estado futuro”. Ele dividia o corpo astral do homem, após a sua saída do corpo, em dois veículos distintos: e “aéreo” e o “etéreo”. Durante o tempo em que o homem desencarnado se move em suas vestes aéreas, está sujeito ao Destino, ao mal e à tentação, vinculado aos seus interesses terrestres, e por isso não é totalmente puro; é apenas quando abandona esta roupagem das primeiras esferas e se torna etéreo que ele se apresenta seguro de sua imortalidade. “Pois que sombra pode esse corpo projetar que seja luz pura e transparente, tal como o é o veículo etéreo? E é assim que se cumpriu o oráculo, quando a alma ascendeu àquela condição de que já falamos, na qual só ela fora do alcance do destino e da mortalidade”. Ele concluiu sua obra declarando que esta condição transcendente e divinamente pura era o único objeto do pitagóricos.
Descartes, embora um cultor da matéria, era um dos mais devotados mestres da doutrina magnética e, num certo sentido, até mesmo da Alquimia. Seu sistema filosófico assemelha-se bastante ao de outros grandes filósofos. O espaço, que é infinito, é composto, ou antes preenchido, por uma matéria fluida e elementar, e é a única fonte de toda a vida, que enfeixa todos os globos celestiais e os mantém em perpétuo movimento. As correntes magnéticas de Mesmer são por ele disfarçadas nos vórtices cartesianos, e ambos repousam no mesmo princípio. Ennemoser não hesita em afirmar que ambos têm mais em comum “do que as pessoas imaginam, pois não examinaram cuidadosamente o assunto”.
O bem-conhecido Dr. Hufeland escreveu uma obra sobre Magia, em que propõe a teoria magnética universal entre homens, animais, plantas e mesmo minerais. Ele confirma o testemunho de Campanella, Van Helmont e Sérvio, no que se refere à simpatia existente tanto entre as diferentes parte do corpo quanto entre as partes de todas os corpos orgânicos e inorgânicos.
OS FENÔMENOS PSÍQUICOS DEPENDEM DO MEIO FÍSICO.
Kepler – precursor de Newton em muitas grandes verdades, inclusive na da “gravitação” universal, que ele corretissimamente atribui à atração magnética, embora chame a Astrologia de “a filha insana de uma mãe muito sábia”, a Astronomia – partilha da crença cabalística de que os espíritos dos astros não passaram de “inteligências”. Ele acredita firmemente em que cada planeta é a sede de um princípio inteligente e que todos são habitados por seres espirituais, que exercem influência sobre outros seres que habitam esferas mais grosseiras e materiais do que a sua própria e especialmente sobre a nossa Terra. Como as influencias estrelares espirituais de Kepler foram suplantadas pelos vórtices do materialista Descartes, cujas tendências ateístas não o impediram de acreditar que havia descoberto um regime que prolongaria sua vida por mais de quinhentos anos, os vórtices deste último e as suas doutrinas astronômicas poderão algum dia dar lugar às correntes magnéticas inteligentes que são dirigidas pela Anima Mundi.
Batista Porta, o sábio filósofo italiano, não obstante seus esforços para mostrar ao mundo a fala de fundamento das acusações de que a Magia é superstição e feitiçaria, tem sido tratado pelos críticos modernos com a mesma injustiça que os seus colegas. Este célebre alquimista deixou uma obra sobre Magia Natural, em que baseia todos os fenômenos ocultos possíveis ao homem na alma do mundo que une todas as coisas entre si. Ele mostra que a luz astral (* Capítulo V) age em harmonia e simpatia com toda a Natureza; que ela é a essência da qual os nossos espíritos são formados; e que, agindo em uníssono com a sua fonte-mãe, nossos corpos siderais se tornaram capazes de produzir maravilhas mágicas. Todo o segredo depende de nosso conhecimento dos elementos afins. Ele acreditava na pedra filosofal, “da qual o mundo tinha uma tão alta opinião que foi alardeada durante tantos séculos e afortunadamente alcançada por alguns. Finalmente, ele emite muitas sugestões valiosas a respeito de seu “significado espiritual”. Em 1643, surgiu entre os místicos um monge, Padre Kirche, que ensinou uma filosofia completa do Magnetismo universal. Suas numerosas obras abrangem muitos dos assuntos apenas sugeridos por Paracelso. Sua definição do Magnetismo é muito original, pois ele contradisse a teoria de Gilbert, segundo a qual a Terra é um grande imã. Ele afirmava que, embora toda partícula de matéria, e mesmo os “poderes” invisíveis, sejam magnéticos, não constituem em si mesmo um imã. Existe apenas um ÍMÃ no Universo, e dele procede a magnetização de tudo. Este imã é naturalmente o que os cabalistas chamam de Sol Espiritual Central, ou DEUS. Ele afirma que o Sol, a Lua, os Planetas e as estrelas são altamente magnéticos; mas eles se tornaram assim por indução vivendo no fluído magnético universal. Ele demonstra a simpatia misteriosa existente entre os corpos dos três principais reino da Natureza, e reforça o seu argumento com um catálogo estupendo de exemplos. Muitos destes foram verificados pelos naturalistas, mas ainda muitos cuja autenticidade não foi reconhecida; assim, de acordo com a política tradicional e com a lógica equivoca de nossos cientistas, foram negados. Por exemplo, ele mostra uma diferença entre o magnetismo mineral e o zoomagnetismo, ou magnetismo animal. Ele o demonstra pelo fato de que, exceto no caso da magnetita, todos os minerais são magnetizados pela potência superior, o magnetismo animal, ao passo que este o possui como emanação direta da primeira causa – o Criador. Uma agulha pode ser magnetizada sendo simplesmente segura pela mão dotada de uma vontade poderosa, e o âmbar desenvolve seus poderes mais pela fricção da mão humana do que por qualquer outro objeto; assim, o homem pode transmitir a sua própria vida, e, em certa medida, animar objetos inorgânicos. Isso, “aos olhos dos tolos, é feitiçaria”. “O Sol é o mais magnético de todos os corpos”, diz ele, antecipando, assim, a teoria do Gen. Pleasonton em mais de dois séculos. “Os filósofos antigos jamais negaram o fato”, acrescenta ele, “mas perceberam que o Sol prende todas as coisas a si, e também comunica este poder unificante e outras coisas.”
Kirches explica todos os sentimentos humanos como resultado das modificações de nossa condição magnética. Raiva, ciúme, amizade amor e ódio, tudo são modificações da atmosfera que se desenvolve em nós e que emana continuamente de nós. O amor é uma das variáveis, e por isso as suas manifestações são incontáveis. O amor espiritual, o de uma mãe por seu filho, o de um artista por uma arte particular, o amor como pura amizade são manifestações simplesmente magnéticas de sistemas em natureza congênitas. O magnetismo do amor puro é a origem de toda coisa criada. Em seu sentido ordinário, o amor entre os sexos é eletricidade, e ele o chama amor febris species, a febre das espécies. Há duas espécies de atração magnética: simpatia e fascinação; uma é santa e natural, e a outra, má e não natural. À última, a fascinação, devemos atribuir o poder do sapo venenoso que, simplesmente abrindo a boca, atrai o réptil ou o inseto que se precipita nela para a sua destruição. O veado, assim como outros animais menores, são atraídos pelo hálito da jibóia, e são irresistivelmente compelidos a vir ao seu alcance. O peixe torpedo entorpece o braço do pescador por algum tempo, com suas descargas. Para exercer um tal poder com fins benéficos, o homem requer três condições: 1º) nobreza de alma; 2º) vontade poderosa e capacidade imaginativa; 3º) um paciente mais fraco que o magnetizador, senão ele resistirá. Um homem livre dos estímulos e da sensualidade mundanos pode curar dessa maneira as doenças mais “incuráveis”, e a sua visão pode tornar-se lúcida e profética.
A ALMA DO MUNDO, E SUAS POTENCIALIDADES.
Especialmente nos países que não foram abençoados com a civilização que deveríamos buscar uma explicação da Natureza, e observar os efeitos daquele poder sutil, que os antigos filósofos chamavam de a “alma do mundo”. Apenas no Oriente, e nas imensas regiões da África inexplorada, encontrará o estudante de Psicologia alimento abundante para a sua alma sedenta de verdade. A razão é óbvia. A atmosfera nas regiões populosas está nocivamente viciada pela fumaça e pelas emanações de fábricas, máquinas a vapor, estradas de ferro e barcos a vapor, e especialmente pelas exalações miasmáticas dos vivos. A Natureza depende, tanto quanto o ser humano, das condições antes de poder agir, e sua poderosa respiração pode, por assim dizer, ser facilmente estorvada, impedida e interrompida, e a correlação de suas forças ser destruída num dado ponto, como se ela fosse um homem. Não apenas o clima mas também influências ocultas tendem diariamente não só a modificar a natureza físico-psicológica do homem, mas também a alterar a constituição da chamada matéria inorgânica num grau não facilmente compreendido pela ciência européia.
Vejamos, “Três espíritos vivem no homem e o animam”, ensina Paracelso; “três mundos projetam seus raios sobre ele; mas todos os três apenas como a imagem e o eco de um único e mesmo princípio de produção que constrói e une todas as coisas. O Primeiro é o Espírito dos Elementos [corpo terrestre e força vital em seu estado bruto]; e Segundo, o Espírito dos Astros [corpo sideral ou Astral]; o Terceiro é o Espírito Divino [Augoeides]. Estando nosso corpo humano de posse da “matéria terrestre primeva”, como Paracelso a chama, podemos aceitar facilmente a tendência da moderna pesquisa científica “para encarar os processos da vida animal e vegetal como meramente físicos e químicos”. Essa teoria corrobora ainda mais as afirmações dos filósofos antigos e a Bíblia mosaica, segundo as quais os nossos corpos foram feitos de pó e para o pó voltarão. Mas devemos lembrar que:
“`És pó e ao pó voltaras’,
não é da alma que se falou”
O homem é um pequeno mundo – um microcosmo dentro do grande macrocosmo. Como um feto, ele está suspenso, por três espíritos, na matriz do macrocosmo; e enquanto seu corpo terrestre está em simpatia constante com a terra, sua mãe, a sua alma astral, vive em uníssono com a anima mundi sideral. Ele está nela, como ela está nele, pois o elemento que impregna o universo enche todo o espaço, e é o próprio espaço, só que sem bordas e infinito. Quanto ao seu terceiro espírito, o divino, o que é ele senão um raio infinitesimal, uma das incontáveis radiações que procedem da Causa Superior – a Luz Espiritual do Mundo? Tal é a trindade na natureza orgânica e inorgânica – a Espiritual e a Física, que são Três em Um, e a respeito da qual diz Proclus que “A Primeira Mônada é o Deus Eterno; e Segunda, a Eternidade; a Terceira, o Paradigma, ou o padrão do Universo”; constituindo as três a Tríada Inteligível. Tudo neste universo visível é Emanação dessa Tríada, e uma Tríada microcósmica em si. E assim elas se movem em majestosa procissão nos campos da Eternidade, em torno do Sol Espiritual, do mesmo modo como no sistema heliocêntrico os corpos celestiais se movem em redor dos Sóis visíveis. A Mônada pitagórica, que vive “na solidão e nas trevas”, pode permanecer sobre esta terra para sempre invisível, impalpável e indemonstrada pela ciência experimental. Contudo, todo o universo estará gravitando ao seu redor, como o fez desde o “começo do tempo”, e a cada segundo o homem e o átomo aproximam-se desse solene momento na eternidade, em que a Presença Invisível se revelará à sua visão espiritual. Quando cada partícula de matéria, mesmo a mais sublimada, for rejeitada da última forma que constitui o derradeiro elo daquela cadeia de dupla evolução, que, através de milhares de séculos e sucessivas transformações, impulsionou o ser para a frente; e quando ela for revestida pela essência primordial, idêntica à de seu Criador, então esse átomo orgânico impalpável terá terminado sua marcha, e os filhos de Deus “regozijar-se-ão” uma vez mais com a volta do peregrino.
“O homem”, diz Van Helmont, “é o espelho do universo, e a sua tripla natureza está em relação com todas as coisas”. A vontade do Criador, por cujo intermédio todas as coisas foram e receberam seu primeiro impulso, é a propriedade de todo ser vivente. O homem, dotado de uma espiritualidade adicional, tem a parte maior dela sobre este planeta. Depende da proporção de matéria nele existente a capacidade de exercer a sua faculdade mágica com maior ou menor sucesso. Dividindo essa potência divina em comum com todo átomo inorgânico, ele a exerce durante toda a vida, conscientemente ou não. No primeiro caso, quando em plena posse de seus poderes, ele se tornará o seu mestre, e o magnale magnum (a Alma Universal) será controlado e guiado por ele. No caso dos animais, plantas e minerais, e mesmo da média Humanidade, esse fluído etéreo que impregna todas as coisas quando não encontra nenhuma resistência, e é abandonado a si mesmo, os move seguindo seus impulsos diretos. Todo ser criado nesta esfera sublunar foi formado deste magnale magnum (ou Alma Universal), e relaciona-se a ele. O homem possui um poder celestial duplo, e está unido ao céu. Este poder existe “não apenas no homem exterior, mas, num certo grau, também nos animais, e às vezes em todas as outras coisas, pois as coisas no universo estão em relação umas com as outras; ou, pelo menos, Deus está em todas as coisas, como os antigos já observaram com uma correção admirável. É necessário que a força mágica seja despertada tanto no homem exterior quanto no interior. (…) E se o chamamos de poder mágico, só os ignorantes podem se assustar com essa expressão. Mas, se preferis, podeis chamá-lo de poder espiritual – spirituale robus vocitaveris. Existe um tal poder no homem interior. Mas, como existe uma certa relação entre o homem interior e o exterior, essa força deve ser difundida por todo o homem”.
O PODER DA IMAGINAÇÃO.
O célebre escocês Maxwell oferecia-se para provar às várias faculdades de Medicina que com certos meios magnéticos à sua disposição ele poderia curar qualquer uma das doenças abandonadas por elas como incuráveis, tais como epilepsia, insanidade, coxeadura, hidropisia e as febres obstinadas ou intermitentes.
A história familiar do exorcismo do “espírito mau procedente de Deus” que obsediava Saul, ocorrerá a todos a este propósito. Ela é assim relatada: “E sucedeu que, quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, tomava a harpa, e a dedilhava; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele”.
Maxwell, em sua De medicina magnética, expõe as seguintes proposições, que não são outras senão as mesmas doutrinas dos alquimistas e dos cabalistas:
“O que os homens chamam de alma do mundo é uma vida, como o fogo, espiritual, ligeira, luminosa e etérea como a própria luz. É um espírito de vida que existe em toda parte, e que é em toda parte o mesmo. (…) Toda matéria é desprovida de ação, exceto quando é animada pelo espírito. Esse espírito mantém todas as coisas em seu estado peculiar. Encontra-se na natureza livre de todos os grilhões; e aquele que sabe como uni-lo a um corpo harmônico possui um tesouro que ultrapassa todas as riquezas”.
“O espírito é o vínculo comum de todos os quadrantes da Terra, e vive em tudo e por tudo.”
“Aquele que conhece este espírito da vida universal e as suas aplicações pode prevenir todas as injúrias”.
“Se sabes utilizar este espírito e fixá-lo sobre algum corpo particular, realizará o mistério da Magia”.
“Aquele que sabe como agir sobre o homem por meio desse espírito universal pode curar, e à distância que lhe aprouver”.
“Aquele que pode fortificar o espírito próprio com este espírito universal continuará a viver até a eternidade”.
“Existe um vínculo que une os espíritos ou as emanações, mesmo quando eles estão separados uns dos outros. E qual é esse vínculo? É um fluxo eterno e incessante dos raios de um corpo em outro”.
“Entrementes”, diz Maxwell, “não é sem perigo ocupar-se dele. Muitos abusos abomináveis podem ocorrer”.
Vemos agora quais são esses abusos dos poderes mesméricos e magnético sem alguns médiuns curadores.
Curar, para merecer tal nome, requer a fé do paciente ou uma saúde robusta unida a uma vontade poderosa do operador. Com paciência suplementada pela fé, pode o homem curar-se de quase todos os estados morbíficos. O túmulo de um santo; uma relíquia sagrada; um talismã; um pedaço de papel ou de tecido que foi manuseado pelo suposto curador; uma panacéia; uma penitência ou uma cerimônia; a imposição das mãos, ou algumas palavras pronunciadas de modo emocionante – um ou outro o fará. É uma questão de temperamento, imaginação, auto-sugestão. Em milhares de casos, o médico, o sacerdote ou a relíquia obtiveram o crédito por curas que eram devidas única e simplesmente à vontade inconsciente do paciente. À mulher com perda de sangue que se espremia pela turba a fim de tocar a túnica de Jesus, assegurou-se-lhe que foi a “fé” que a curou.
A influência da mente sobre o corpo é tão poderosa que ela realizou milagres em todos os tempos.
“Quantas curas inesperadas, súbitas e prodigiosas foram realizadas pela imaginação”, diz Salvete. “Nossos livros de Medicina estão repletos de fatos dessa natureza, que passariam facilmente por milagres.”
Mas, se o paciente não tem fé, o que acontece? Se ele é fisicamente negativo e receptivo, e o curador forte, saudável, positivo, determinado, a doença pode ser extirpada pela vontade imperativa do operador que, consciente ou inconscientemente, chama a si e se fortalece com o espírito da natureza universal, e restaura o equilíbrio perturbado da aura do paciente. Ele pode empregar como um auxiliar um crucifixo – como fazia Gassner; ou impor as mãos e a “vontade”, como o zuavo francês Jacob, como o nosso célebre americano Newton, que curou muitos milhares de sofredores, como muitos outros; ou como Jesus, e alguns apóstolos, ele pode curar com uma palavra de comando. O processo em cada caso é o mesmo.
Em todos estes casos a cura é radical e real, e sem efeitos danosos secundários. Mas quando alguém que está fisicamente doente tenta curar, ele não apenas falha como também comunica muitas vezes a sua doença ao paciente, e lhe rouba o pouco de força que tenha. O decrépito rei Davi reforçava o seu vigor combinado com o magnetismo sadio da jovem Abisague; e as obras de Medicina falam-nos de uma senhora idosa de Bath, Inglaterra, que arruinou sucessivamente, da mesma maneira, a constituição de duas criadas. Os velhos sábios, e também Paracelso, removiam as doenças aplicando um organismo sadio à parte afligida, e nas obras do filósofo do fogo acima mencionado sua teoria é clara e categoricamente exposta. Se uma pessoa doente – médium ou não – tenta curar, sua força pode ser suficientemente robusta para deslocar o mal, fazê-lo sair do presente lugar, e fazê-lo mudar-se para outro, onde brevemente reaparecerá; o paciente, entrementes, acredita-se curado.
Mas, que acontece se o curador está moralmente doente? As conseqüências podem ser infinitamente mais nocivas; pois é mais fácil curar uma doença física do que purificar uma compleição infeccionada pela torpeza moral. O mistério de Morzine, Cévennes e dos jansenistas ainda o é para os filósofos e os psicólogos. Se o dom da profecia, assim como a histeria e as convulsões, podem ser transmitidos pelo “contagio”, por que não todos os outros vícios? O curador, neste caso, comunica ao seu paciente – que é agora sua vítima – o veneno moral que infecta sua própria mente e coração. Seu toque magnético é contaminação; seu olhar, profanação. Contra sua tara não existe proteção para o paciente passivelmente receptivo. O curador o mantém sob seu poder, enfeitiçado e impotente, como, a serpente mantém um pobre e frágil pássaro. O mal que um desses “médiuns curadores” pode causar é incalculavelmente grande; e tais curadores se contam às centenas.
Mas, para fechar uma lista de testemunhas que se poderia prolongar indefinidamente, bastará dizer que, da primeira à última, de Pitágoras a Éliphas Lévi, da mais ilustre mais humilde, todas ensinam que o poder mágico jamais foi possuído por aqueles inclinados a prazeres viciosos. Apenas o puro de coração “vê Deus” ou exerce dons divinos – apenas ele pode curar as doenças do corpo e deixar-se guiar com relativa segurança pelos “poderes invisíveis”. Apenas ele pode dar paz aos espíritos perturbados de seus irmãos e irmãs, pois as águas curativas não provêm de uma fonte envenenada; uva não crescem em espinheiros, e cardos não produzem figos. Mas, apesar disso, “a Magia nada tem de supremo”; ela é uma ciência, e mesmo o poder de “expulsar demônios” era um ramo seu, de que os iniciados fizeram um estado especial. “A arte que expulsa demônios dos corpos humanos é uma ciência útil e salutar aos homens”, diz Josefo.
AS ORIGENS DAS MANIFESTAÇÕES MEDIÚNICAS.
Indubitavelmente, os que acreditam nos fenômenos modernos podem reclamar para si uma grande variedade de vantagens, mas o “discernir espíritos” está evidentemente ausente desse catálogo de dons “espirituais”. Falando do “diakka”, que uma bela manhã ele tinha descoberto num recanto sombrio da “Summer Land”, A.J. Davis, o grande vidente americano, assinala: “Um diakka é um ser que experimenta um prazer insano em pregar peças, em fazer sortes com truques, em personificar caracteres opostos; para quem as orações e as palavras profanas têm o mesmo valor; dominado pela paixão por narrativas líricas (…) moralmente diferente, ele não tem nenhum sentimento de justiça, de filosofia ou de terna afeição. Ele nada sabe daquilo que os homens chamam de sentimento de gratidão; os objetivos do ódio e do amor são os mesmos para ele; seu lema é muitas vezes medonho e terrível aos outros – o EU é tudo na vida particular, e a aniquilação é exaltada com o fim de toda a vida particular. Ontem mesmo um deles, assinando-se como Swedemborg, disse a uma senhora médium o seguinte: “Tudo que é, foi e será, ou pode ser, SOU EU; e a vida particular não passa de fantasmas agregados de palpitações pensantes, correndo em sua elevação para o coração central da morte eterna!”
Porfírio, cujas obras – para emprestar a expressão de um fenomenalista irritado – “emboloram como qualquer outro refugo antiquado nos armários do esquecimento”, fala assim desse diakka – se tal é seu nome – redescoberto no século XIX: “É com a ajuda direta desses maus demônios que se realizam todos os atos de feitiçaria (…) é o resultado de sua operações, e os homens que injuriam seus semelhantes pagam freqüentemente grande tributo a esses demônios maus, e especialmente a seu chefe. Estes espíritos passam o tempo enganando-nos, com um grande aparato de prodígios vulgares e ilusões; sua ambição é a de serem tomados por deuses, e seu chefe reclama ser reconhecido como o deus supremo”
O espírito que se assina Swedenborg – citado do Diakka de Davis, e que sugere ser o EU SOU – assemelha-se singularmente a este chefe dos demônios maus de Porfírio.
Nada mais natural do que esse aviltamento dos teurgistas antigos e experiente por certos médiuns, quando encontramos Jâmblico, o expositor da teurgia espiritualista, proibindo estritamente todo esforço para produzir tais manifestações fenomênicas; a não ser depois de um longa preparação de purificação moral e física, e sob a orientação de teurgistas experientes. Quando, além disso, ele declara que, com pouquíssimas exceções, o fato de uma pessoa “surgir alongada ou mais espessa, ou elevar-se no ar” é uma marca segura de obsessão por demônios maus.
A experiências do Sr. Crookes é uma boa evidência de que muitos espíritos “materializados” falam com uma voz audível. Ora, nós demonstramos, com base no testemunho dos antigos, que a voz dos espíritos humanos não é e não pode ser articulada, pois é, como declara Emanuel Swedenborg, “um profundo suspiro”. Em qual dessas duas classes de testemunhos se deve acreditar sem medo de errar? É a dos antigos que tiveram a experiência de tantos séculos de prática teúrgicas, ou a dos espíritas modernos, que não têm nenhuma, e que não têm fatos em que basear qualquer opinião, exceto os que foram comunicados pelos “espíritos”, cuja identidade não têm meios de provar? Existem médiuns cujos organismos foram utilizados às vezes por centenas dessas pseudoformas “humanas”. No entanto, não lembramos de ter visto ou ouvido um só que tenha expresso outras coisas que não as idéias mais ordinárias. Este fato deveria certamente chamar a atenção dos espiritista menos crítico. Se um espírito pode falar, e se o caminho está aberto tanto aos seres inteligentes quanto aos não inteligentes, por que não nos dão eles comunicações que se aproximem em qualidade em algum grau remoto das comunicações que recebemos através da “escrita direta”? Se a mesma espécie de “espíritos” se materializa e produz a escrita direta, e ambas se manifestam através dos médiuns, e uma fala absurdos, ao passo que a outra nos dá com freqüência ensinamentos filosóficos sublimes, por que deveriam as suas operações mentais ser limitadas “pelo horizonte intelectual do médium” num caso mais do que no outro? Os médiuns materialistas – pelo menos até onde se estende a nossa observação – não são menos educados do que muitos camponeses e operários que em tempos diferentes deram, sob influência suprema, idéias profanas e sublimes ao mundo. Quando os espíritos se vêem dotados de órgãos vocais para falar, não lhes é muito difícil exprimir-se de um modo condizente com a hipotética educação, inteligência e posição social que tiveram em vida, em lugar de cair invariavelmente no diapasão monótono de lugares-comuns e, não muito raramente, de banalidades. Quanto à observação esperançosa do Sr. Sargent, de que “pelo fato de a ciência do Espiritismo esta ainda na infância, podermos esperar por mais luz a esse respeito”, tememos dever replicar que não é através desses “gabinetes escuros” que a luz algum dia recairá.
A LÂMPADA INEXTINGUÍVEL, SÃO OBRAS DA ALQUIMIA.
É fácil compreender que um fato ocorrido em 1731, que testificar um outro fato que aconteceu durante o papado de Paulo III, por exemplo, seja desacreditado em 1876. E quando os cientistas são informados de que os romanos mantinham luzes em seu sepulcro por anos incontáveis graças à oleosidade de ouro; e que uma dessas lâmpadas perpétuas foi descoberta queimando brilhantemente na tumba de Túlia, a filha de Cícero, não obstante a tumba ter estado fechada durante mil e quinhentos e cinqüenta anos – eles têm um certo direito de duvidar, e mesmo de descrer da afirmação, até se assegurarem, pela evidência de seus próprios sentidos, de que tal coisa é possível. Neste caso, eles podem rejeitar o testamento de todos os filósofos antigos e medievais. O enterro dos faquires vivos e a sua ressurreição subseqüente, após trinta dias de inumação, pode parecer-lhes suspeito. Assim também a auto-inflição de feridas mortais, e a exibição de suas próprias entranhas às pessoas presentes por vários lamas, que curam tais feridas quase instantaneamente.
Os faquires continuarão a ser enterrados e a ressuscitar, satisfazendo a curiosidade dos viajantes europeus; e os lamas e os ascetas hindus ferir-se-ão, mutilar-se-ão eviscerar-se-ão e achar-se-ão ainda melhores por isso; e as negações de todo o mundo não soprarão o suficiente para extinguir as lâmpadas perpétuas de algumas criptas subterrâneas da Índia, do Tibete e do Japão. Uma de tais lâmpadas é mencionada pelo Reverendo S. Mateer, da Missão Londrina. No tempo de Trivandrum, no reino de Travancore, sul da Índia, “há um profundo poço no interior do templo, no qual imensas riquezas são lançadas ano após ano, num outro lugar, uma cova coberta por uma pedra, uma grande lâmpada de ouro, que foi acesa há mais de 120 anos, ainda continua a queimar”, diz este missionário em sua descrição do lugar. Missionários católicos atribuem essas lâmpadas, como costuma acontecer, aos serviços obsequiosos do demônio. O pastor protestante, mais prudente, menciona o fato, e não faz nenhum comentário. O abade Huc viu e examinou uma dessas lâmpadas, assim como outras pessoas que tiveram a boa sorte de conquistar a confiança e amizade dos lamas e sacerdotes orientais. Não se podem negar mais as maravilhas vistas pelo capitão Lane no Egito; as experiências de Jacolliot em Benares e as de Sir Charles Napier; as levitações de seres humanos em plena luz do dia.
Entre as reivindicações da Alquimia está a das lâmpadas perpétuas. Se dissermos ao leitor que vimos muitas delas, poderão perguntar-nos – no caso de a sinceridade de nossa crença pessoal não ser questionada – como podemos dizer que as lâmpadas que observamos eram perpétuas, já que o período de nossa observação foi muito limitado? Simplesmente porque, como sabemos quais os ingredientes empregados, e a maneira de fazê-las, e a lei natural aplicável ao caso, confiamos em que nossa afirmação pode ser corroborada por investigações no local adequado. Onde se localiza este lugar e onde se pode aprender este conhecimento, nossos críticos devem descobri-lo, esforçando-se como nós o fizemos. Entrementes, citaremos alguns dos 173 autores que escreveram sobre o assunto. Nenhum deles, como lembramos, afirmou que essas lâmpadas sepulcrais queimariam perpetuamente, mas apenas por um número indefinido de anos, e exemplos se registram de sua contínua iluminação por muitos séculos. Não se negará que, se existe uma lei natural pela qual uma lâmpada pode queimar sem ser alimentada durante dez anos, não há razão por que a mesma lei não permita a combustão por cem ou mil anos.
Entre muitas personagens de renome que acreditavam firmemente e afirmaram energicamente que tais lâmpadas sepulcrais queimavam por vários centenas de anos, e que poderiam continuar a queimar talvez para sempre, se não tivessem sido extintas, ou os vasos quebrados por algum acidente, podemos incluir os seguintes nomes: Clemente de Alexandria, Hermolaus Barbarus, Apiano, Burattinus, Citésio, Célio, Foxius, Costaeus, Casalius, Cedrenus, Delrius, Ericius, Gesnerus, Jacobonus, Leander, Libavius, Lazius, Pico dela Mirandola, Eugênio Filaletes, Liceto, Maiolus, Maturantius, Batista Porta, Pancirollus, Scardeonius, Ludovicus Vives, Voltarranus, Paracelso, vários alquimistas árabes e, finalmente Plínio, Solinus, Kirches e Alberto Magno.
São os egípcios, esses filhos do País da Química, que lhes reclamam a invenção. Pelo menos eles foram o povo que utilizou tais lâmpadas mais do que qualquer outra nação, por causa de suas doutrinas religiosas. Acreditava-se que a alma astral da múmia permanecia sobre o corpo pelo espaço de três mil anos do ciclo de necessidade. Presa a ele por um fio magnético, que só podia ser quebrado por seu próprio esforço, os egípcio esperavam que a lâmpada perpétua, símbolo de seu espírito incorruptível e imortal, convenceria por fim a alma mais material a abandonar o seu domicílio terrestre e unir-se para sempre com o seu EU divino. É por isso que as lâmpadas eram penduradas nos sepulcros dos ricos. Tais lâmpadas são, com freqüência, encontradas nas cavernas subterrâneas dos mortos, e Liceto escreveu um grande infólio para provar que em seu tempo, sempre que um sepulcro era aberto, uma lâmpada ardente era encontrada na tumba, mas extinguia-se instantaneamente devido à profanação. Tito Lívio, Burattinus e Michael Schatta, em suas cartas a Kirches, afirmam que encontraram muitas lâmpadas nas cavernas subterrâneas da velha Mênfis. Pausânias fala da lâmpada de ouro no templo de Minerva, em Atenas, que ele afirma ser obra de Calímaco, e que queimava durante um ano inteiro. Plutarco afirma que viu uma no templo de Júpiter Amon, e que os sacerdotes lhe asseguraram que ela queimava continuamente há anos, e que, mesmo quando colocada ao ar livre, nem o vento nem a água podiam extingui-la. Santo Agostinho, a autoridade católica, também descreve uma lâmpada do templo de Vênus, da mesma natureza que as outras, inextinguível pelo vento mais violento ou pela água. Encontrou-se uma lâmpada em Edessa, diz Cedrenus, “que, oculta no topo de uma certa porta, queimou durante quinhentos anos”. Mas, de todas as lâmpadas, a mencionada por Maximus Olybius de Pádua é de longe a mais extraordinária. Ela foi encontrada nas proximidades de Ateste, e Scardeonius a descreve de maneira muito viva: “Numa ampla urna de argila havia uma outra menor, e nesta uma lâmpada ardente, que assim queimava há 1.500 anos, por meio de um licor puríssimo contido em duas vasilhas, uma de ouro e outra de prata. Estas estavam confiadas à guarda de Franciscus Maturantius, que as avaliava por um valor extraordinário”.
A lâmpada de Antióquia, que queimou mil e quinhentos anos, num lugar público e aberto, sobre a porta de uma igreja, foi preservada pelo “poder de Deus”, “que fez um número tão infinito de estrelas para queimar com luz perpétua”. Quando às lâmpadas pagãs, Santo Agostinho assegura-nos que elas eram obra do demônio, “que nos engana de mil maneiras”. Nada mais fácil para Satã do que representar um facho de luz, ou uma chama brilhante para aqueles que entraram em primeiro lugar numa tal caverna subterrânea. Isto foi sustentado por todos os bons cristãos durante o papado de Paulo III, quando, na abertura da tumba na via Ápia, em Roma, se encontrou o corpo inteiro de uma jovem nadando num licor brilhante que a preservou tão bem que a face era bela como se estivesse viva. A seus pés queimava uma lâmpada, cuja chama se apagou na abertura do sepulcro. Segundo alguns sinais gravados, descobriu-se que ela fora sepultada há mais de 1,500 anos e supôs-se que era o corpo de Tulliola, ou Tullia, filha de Cícero.
Químico e físicos negam que lâmpadas perpetuas são possíveis alegando que tudo que é transformado em vapor ou fumaça não pode ser permanente, mas deve consumir-se; e como a alimentação de óleo de uma lâmpada acesa é exalada como o vapor, o fogo, por esse motivo, não pode ser perpétuo, pois necessita de alimento. Os alquimistas, por outro lado, negam que toda a alimentação do fogo ateado deve necessariamente converter-se em vapor. Eles dizem que há coisas na Natureza que não só resistem à ação do fogo e permanecem inconsumíveis, mas também se mostram inextinguíveis pelo vento ou pela água. Numa antiga obra química do ano de 1.705, intitulada Nekpornoeia, o autor dá numerosas refutações às pretensões de vários alquimistas. Mas, embora negue que se possa fazer um fogo queimar perpetuamente, ele está propenso a acreditar na possibilidade de uma lâmpada queimar por vários séculos. Além disso, temos numerosos testemunhos de alquimistas que devotaram anos a essas experiências e chegaram à conclusão de que isso era possível.
A INDESTRUTIBILIDADE DA MATÉRIA
A descoberta da indestrutibilidade da matéria e a da correlação de forças, especialmente a última, são proclamadas como um de nossos grandes triunfos. É a “mais importante descoberta do presente século”, como expressou Sir William Armstrong em sua oração como presidente da Associação Britânica. Mas esta “importante descoberta” não é em suma uma descoberta. Sua origem, deixando de lado os traços inegáveis encontrados nos filósofos antigos, perde-se nas densas trevas dos dias pré-históricos. Seus primeiros vestígio descobrem-se nas especulações sonhadoras da teologia védica, na doutrina da emanação e da absorção, do Nirvana, em suma. Scoto Erígena esboçou-a em sua audaciosa filosofia do século VIII, e convidamos o leitor a ler sua De divisione naturae, para convencer-se desta verdade. A Ciência diz-nos que quando a teoria da indestrutibilidade da matéria (entre parênteses, uma antiquíssima idéia de Demócrito) foi demostrada, tornou-se necessário estendê-la à força. Nenhuma partícula material pode jamais perder-se; nenhuma parcela de força que existe na Natureza pode desaparecer; portanto, a força mostrou-se igualmente indestrutível, e suas várias manifestações ou forças, sob diversos aspectos, revelaram ser mutuamente conversíveis, e apenas modos diferentes de movimento das partículas materiais. E assim se redescobriu a correlação de forças. O Sr. Grove, já em 1824, deu a cada uma dessas forças, como calor, eletricidade, magnetismo e luz, o caráter de conversibilidade, tronando-as capazes de ser num instante uma causa e no próximo um efeito. Mas de onde vêm estas forças e para onde vão, quando as perdemos de vista? Sobre este ponto, a Ciência cala-se.
A ANTIGUIDADE E A TEORIA DAS CORRELAÇÕES DE FORÇAS.
À teoria da “correlação de forças”, embora possa ser nas mentes de nossos contemporâneos “a maior descoberta de nosso século”, não pode explicar nem o começo nem o fim de tais força: e não pode indicar-lhes a causa. As forças podem ser conversíveis e uma pode produzir a outra, mas nenhuma ciência exata é capaz de explicar o alfa e o ômega do fenômeno. E, assim parafraseado por Jowett: “Deus conhece as qualidades originais das coisas; o homem só pode esperar chagar à probabilidade”. Os antigos hindus baseavam sua doutrina da emanação e absorção precisamente nessa lei. Tò “Ov, o ponto primordial num círculo infinito, “cuja circunferência está em parte alguma, e o centro em toda parte”, que emana de si todas as coisas, e que as manifesta no universo visível sob formas multifárias. As formas alternam-se, misturam-se e, depois de uma gradual transformação do espírito puro (ou o “Nada” búdico) na matéria mais grosseira, começam a se retrair e também gradualmente a reemergir em seu estado primitivo, que é a absorção no Nirvana – o que é então isso senão a correlação de forças?
A Ciência diz-nos que o calor desenvolve a eletricidade, e a eletricidade produz calor; e que o magnetismo produz eletricidade, e vice-versa. O movimento dizem-nos, resulta do próprio movimento, e assim por diante, ad infinitun. Este é o ABC do ocultismo e dos primeiros alquimistas. Descobrindo-se e provando-se a indestrutibilidade da matéria e da força, o grande problema da eternidade está resolvido. Que necessidade temos então do espírito? Sua inutilidade está doravante cientificamente demonstrada!
Portanto, pode-se dizer que os filósofos modernos não deram um passo além do que os sacerdotes da Samotrácia, os hindus, e mesmo os gnósticos cristãos tão bem conheciam. Os últimos demostraram-no no mito maravilhosamente ingênuo dos dioskuri, ou “os filhos do céu”, os irmãos gêmeos a respeito dos quais diz Schweigger “que morrem constantemente e voltam à vida juntos, pois é absolutamente necessário “que um morra para que o outro possa viver”. Eles sabiam tão bem quanto os nossos físicos que, quando uma força desaparece, ela simplesmente se converte numa outra força. Embora a Arqueologia não tenha descoberto nenhum aparelho antigo para tais conversões especiais, pode-se, não obstante, afirmar com perfeita razão e com base em deduções analógicas que quase todas as religiões antigas se fundavam em tal indestrutibilidade da matéria e da força – mais a emanação do todo a partir de um fogo etéreo, espiritual – ou o Sol Central, que é Deus ou Espírito, em cujo conhecimento se baseia potencialmente a antiga Magia Teúrgica.
No comentário manuscrito de Proclus sobre a Magia, ele dá a seguinte explicação: “Do mesmo modo que os amantes avançam gradualmente da beleza que é aparente em formas sensíveis para aquela que é divina, assim os sacerdotes antigos, quando pensavam que há uma certa aliança e simpatia entre as coisas naturais, entre as coisas visíveis e as forças ocultas, e descobriram que todas as coisas subsistem em tudo, edificaram uma ciência sagrada com base em sua simpatia e similaridade mútua. Portanto, eles reconheciam nas coisas subordinadas as coisas supremas, e, nas supremas, as secundárias; nas regiões celestes, as propriedades terrestres subsistindo de maneira causal e celestial, e na terra, as propriedades celestes, mas de acordo com a condição terrestre”.
Proclus assinala certas peculiaridades misteriosas das plantas, dos minerais e dos animais, todas as quais são muito bem-conhecidas por nossos naturalistas, mas nenhuma é explicada. Tais são o movimento rotatório do girassol, do heliotrópio, do lótus – que, antes de o Sol se levantar, dobram as folhas, guardando-as consigo, por assim dizer, e as expandem então gradualmente quando o Sol se levanta, para recolhê-las novamente quando este se põe -, das pedras solares e lunares e do hélio-selene, do galo e do leão, e outros animais. “Ora, os antigos”, diz ele, “tendo contemplado a mútua simpatia das coisas celestes e terrestres, aplicaram-na para propósitos ocultos, de natureza celeste e terrestre, por cujo intermédio, graças a certas semelhanças, deduziram as virtudes divinas nesta morada inferior.(…) Todas as coisas estão repletas de naturezas divinas; as naturezas terrestres recebem a plenitude das que são celestes, e as celestiais das essências supercelestiais, ao passo que cada ordem de coisas procede gradualmente de uma bela descida do mais alto ao mais baixo. Pois tudo que se reúne acima da ordem das coisas dilata-se em seguida descendo, as diversas almas distribuindo-se sob a conduta de suas diversas divindades”.
Evidentemente, Proclus não advoga aqui simplesmente uma superstição, mas uma ciência ; pois não obstante ser oculta, e desconhecida de nossos eruditos, que lhe negam as possibilidades, a magia ainda é uma ciência. Ela se baseia solidamente e unicamente nas misteriosas afinidades existentes entre corpos orgânicos e inorgânicos, nas produções visíveis dos quatro reinos, e nos poderes invisíveis do Universo. O que a ciência chama de gravitação, os antigos e os hermetistas medievais chamavam de magnetismo, atração, afinidade. É a lei Universal, que foi compreendida por Platão e exposta no Timeu como a atração dos corpos menores pelos maiores, e dos corpos semelhantes pelos semelhantes, estes últimos exibindo antes um poder magnético do que a lei da gravitação. A fórmula antiaristotélica de que a gravidade força todos os corpos a caírem com igual rapidez, sem relação com o seu peso, sendo a diferença causada por alguma outra desconhecida, aplicar-se-ia ao que parece com mais adequação antes ao magnetismo do que à gravitação, pois o primeiro atrai antes em virtude da substância do que do peso. Uma completa familiaridade com as faculdades ocultas de tudo que existe na Natureza visíveis e invisíveis; suas relações, atrações e repulsões mútuas; a causa desta,
remonta até o princípio espiritual que penetra e anima todas as coisas; a habilidade para fornecer as melhores condições para que este princípio se manifeste, noutras palavras, um profundo e exaustivo conhecimento da lei natural – tal foi e é a base da Magia.
A UNIVERSALIDADE DA CRENÇA NA MAGIA.
A Magia era outrora uma ciência universal e estava inteiramente nas mãos do sábio sacerdote. Embora o foco fosse zelosamente guardado nos santuários, seus raios iluminavam toda a Humanidade. Como explicaríamos de outro modo a extraordinária identidade de “superstições”, costumes, tradições e mesmo de adágios, repetidos nos provérbios populares tão espalhados de um pólo a outro que encontramos as mesmas idéias entre os tártaros e os lapões como entre as nações meridionais da Europa, os habitantes das estepes russas, e os aborígenes da América do Norte e do Sul? Tylor demonstra, por exemplo. que uma das antigas máximas pitagóricas, “Não ateie o fogo com uma espada”, é popular entre várias nações que não têm a menor conexão entre si. Ele cita De Plano Carpini, que descobriu que esta tradição prevalecia entre os tártaros já em 1246. Um tártaro não consentirá por preço algum em jogar uma faca ao fogo, ou tocá-lo com qualquer instrumento afiado ou pontiagudo, pois teme cortar a “cabeça de fogo”. Os kamachadals do noroeste asiático consideram um grande pecado fazê-lo. Os índios Sioux da América do Norte não ousaram tocar o fogo com agulha, faca ou instrumento pontiagudo. Os kalmucks compartilham desse mesmo medo; e um abissínio preferiria colocar os braços nus até os ombros num braseiro a utilizar uma faca ou um machado perto dele.
Todos os provérbios de Pitágoras, como muitos dos adágios antigos, têm um duplo significado; e, enquanto têm um significado físico oculto, expresso literalmente em suas palavras, encarnam um preceito moral, que é explicado por Jâmblico em sua Vida de Pitágoras. Este “Não revolta o fogo com uma espada” é o nono símbolo no Protréptico desse neoplatônico. “Este símbolo”, diz ele, “exorta à prudência”. Ele mostra “a propriedade de não opor palavras mordazes a um homem cheio de fogo e de cólera – de não lutar com ele. Pois freqüentemente por palavras impolidas agitareis e irritareis um homem ignorante, e sofrereis por isso. (…) Heráclito testemunha também a verdade desse símbolo. Pois, diz ele, ‘É difícil lutar com cólera, pois não se pode mais fazer o que é necessário para redimir a alma’. E ele tem razão em dizê-lo. Pois muitos, deixando-se levar pela cólera, modificaram a condição de suas almas, e tornaram a morte preferível à vida. Mas governando a língua e calando-se, a amizade nasce do conflito, pois o fogo da cólera se extingue, e vós não parecereis desprovidos de inteligência”.
O grande corpo dos antigos materialistas, por mais cépticos que nos pareçam hoje, pensava de outra maneira, e Epicuro, que rejeitava a imortalidade da alma, acreditava, no entanto, num Deus, e Demócrito admitia plenamente a realidade das aparições. A maior parte dos sábios da Antigüidade acreditava na preexistência e nos poderes divinos do espírito humano. A magia da Babilônia e da Pérsia baseava nisso a doutrina de seus machagistia. Os Oráculos caldeus, que Pleto e Pselo tanto comentaram, expuseram e ampliaram constantemente o testemunho daqueles. Zoroastro, Pitágoras, Epicuro, Empédocles, Cebes, Eurípedes, Platão, Euclides, Fílon, Boécio, Virgílio, Cícero, Plotino, Jâmblico, Proclus, Pselo, Sinésio, Orígenes e finalmente o próprio Aristóteles, longe de negarem a nossa imortalidade, sustentaram-na muito enfaticamente. Como Cardan e Pomponazzi, “que não eram partidários da imortalidade da alma”, como diz Henry More, “Aristóteles conclui expressamente que a alma racional é um destino da alma do mundo, embora a mesma essência, e que ela preexiste antes de habitar o corpo”.
Isis Sem Véu – VOLUME I – CIÊNCIA I
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