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O Equilíbrio Mágico – Dogma e Ritual da Alta Magia

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6 – F

TIPHERETH – UNCUS

A inteligência suprema é necessariamente razoável. Deus, em filosofia, pode não ser mais do que uma hipótese imposta pelo bom senso bom à razão humana. Personificar a razão absoluta é determinar o ideal divino.
Necessidade, liberdade e razão, eis o grande do e supremo triângulo dos cabalistas, que chamam a razão Kether , a necessidade Hocmah e a liberdade Binah , no seu primeiro ternário divino.

Fatalidade, vontade e poder, tal é o ternário mágico que, nas coisas humanas, corresponde ao triângulo divino.
A fatalidade é o encadeamento inevitável dos efeitos e causas numa ordem, dada.

A vontade é a faculdade diretora das forças inteligentes para conciliar a liberdade das pessoas com a necessidade das coisas.

O poder é o sábio emprego da vontade, que faz servir a própria fatalidade à realização dos desejos do sábio.
Quando Moisés fere a rocha, não cria a fonte de água; ele a revela ao povo, porque uma ciência oculta lha revelou a ele próprio por meio da baqueta adivinhatória.

O mesmo acontece com todos os milagres da magia: existe uma lei, o vulgo a ignora, o iniciado serve- se dela.
As leis ocultas são, muitas vezes, diametralmente opostas às leis comuns. Assim, por exemplo, o vulgo crê na simpatia dos semelhantes e na guerra dos contrários; é a lei oposta que é verdadeira.

Diziam outrora: a natureza tem horror ao vácuo; era preciso dizer: a natureza é amante do vácuo, se o vácuo não fosse, em física, a mais absurda das ficções.

O vulgo toma, habitualmente, em todas as coisas, a sombra pela realidade. Volta as costas à luz e se mira na obscuridade que projeta.

As forças da natureza estão à disposição daquele que lhes sabe resistir. Se sois tão senhor de vós mesmo para nunca ficar bêbado, disponde do terrível e fatal poder do embebedamento. Se quiserdes embebedar os outros, dai – lhes de beber à vontade, mas não bebais.

Dispõe do amor dos outros, quem é senhor do seu. Quereis possuir, não vos deis. O mundo está imantado da luz do sol, e estamos imantados da luz astral do mundo. O que se opera no corpo do planeta se repete em nós. Há, em nós, três mundos análogos e hierárquicos, como na natureza inteira.

O homem é o microcosmo ou pequeno mundo, e conforme o dogma das analogias, tudo o que está no grande mundo se reproduz no pequeno. Há, pois, em nós, três centros de atração e de projeção fluídica: o cérebro, o coração ou o epigastro e o órgão genital. Cada um destes órgãos é único e duplo, isto é: nele se encontra a idéia do ternário. Cada um destes órgãos atrai de um lado e repele do outro. É por meio desses aparelhos que nós nos pomos em comunicação com o fluido universal, transmitido em nós pelo sistema nervoso. São Também estes três centros que são a sede da tríplice operação magnética, como explicaremos alhures.

Quando o mago chegou à lucidez, quer por intermédio de uma pitonisa ou sonâmbula, quer por seus próprios esforços, comunica e dirige à vontade vibrações magnéticas em toda a massa da luz astral, cujas correntes adivinha com o auxílio da baqueta mágica, que é uma baqueta adivinhatória aperfeiçoada. Por meio destas vibrações, influi no sistema nervoso das pessoas submetidas à sua ação, precipita ou suspende as correntes da vida, acalma ou atormenta, cura ou faz adoecer, mata, enfim, ou ressuscita… Mas, aqui paramos, diante do sorriso da incredulidade. Deixemos – lhe o triunfo fácil de negar o que não sabe.

Demonstraremos, mais tarde, que a morte é sempre precedida de um sono letárgico e só opera por graus; que a

ressurreição, em certos casos, é possível; que a letargia é uma morte real, mas não acabada, e que muitos mortos acabam de morrer depois do seu enterro. Mas não é disso que se trata neste capítulo. Dizemos, pois, que uma vontade lúcida pode agir sobre a massa da luz astral, e, com o concurso de outras vontades que absorve e arrasta, determinar grandes e irresistíveis correntes. Digamos também que a luz astral se condensa ou se rarifica, conforme as correntes a acumulam, mais ou menos, em certos centros. Quando falta energia suficiente para alimentar a vida, causa doenças de decomposição súbita, que fazem o desespero da medicina. O cólera -morbo, por exemplo, não tem outra causa, e as colunas de animálculos observados os supostos por certos sábios podem ser o efeito dele, antes que a causa. Era, pois, preciso tratar o cólera por insuflação, se, em tal tratamento, o operador não se expusesse a fazer com o paciente uma troca muito perigosa para o primeiro.

Todo esforço inteligente da vontade é uma projeção de fluido ou luz humana, e aqui importa distinguir a luz humana da luz astral, e o magnetismo animal do magnetismo universal.

Servindo – nos da palavra fluido, empregamos uma expressão generalizada e procuramos fazer- nos compreender por este meio; mas estamos longe de dizer que a luz latente seja um fluido. Tudo nos levaria, pelo contrário, a preferir, na explicação deste ente fenomenal, o sistema das vibrações. Seja como for, esta luz, sendo o instrumento da vida, se fixa naturalmente em todos os centros vivos. Ela se prende ao centro dos planetas como ao coração do homem (e por coração entendemos, em magia, o grande simpático), mas se identifica à vida própria do ser que anima, e é por esta propriedade de assimilação simpática que ela se divide sem confusão. Assim, ela é terrestre nas suas relações com o globo da terra e exclusivamente humana nas suas relações com os homens.

É por isso que eletricidade, o calórico, a luz e a imantação produzidas pelos meios físicos ordinários, não somente não produzem, mas, ao contrário, tendem a neutralizar os efeitos do magnetismo animal. A luz astral, subordinada a um mecanismo cego, e procedendo dos centros dados de autotelia, é uma luz morta, e opera matematicamente, conforme os impulsos dados ou conforme leis fatais; a luz humana, pelo contrário, só é fatal no ignorante que faz tentativas ao acaso; no vidente, ela é subordinada à inteligência, submetida à imaginação e dependente da vontade. É esta luz que, projetada sem cessar pela nossa vontade, forma o que Swedenborg chama as atmosferas pessoais. O corpo absorve o que o rodeia e irradia sem cessar, projetando seus miasmas e suas moléculas invisíveis; o mesmo acontece com o espírito, de modo que este fenômeno, chamado por alguns místicos o respiro , tem realmente a influência que lhe é atribuída, quer no físico, quer no moral. É realmente contagioso respirar o mesmo ar que os doentes, e achar- se no círculo de atração e expansão dos malvados.

Quando a atmosfera magnética de duas pessoas é de tal modo equilibrada que o atrativo de uma aspira a expansão da outra, produz – se uma atração que se chama a simpatia; então, a imaginação, evocando a ela todos os raios ou reflexos análogos ao que experimenta, se faz um poema de desejos que arrastam a vontade, e se as pessoas são de sexo diferente, produz – se nelas ou geralmente na mais fraca das duas um embebedamento completo de luz astral, que se chama a paixão propriamente dita ou amor.

O amor é um dos grandes instrumentos do poder mágico; mas é formalmente interdito ao mago, ao menos como embebedamento ou como paixão. Desgraçado do Sansão da Cabala, se deixar adormecer por Dalila! O Hércules da ciência, que muda o seu cetro real contra o fuso de Omphale, sentirá logo as vinganças de Dejanira, e só lhe restará a fogueira do monte Eta para escapar ao apertamento devorador da túnica de Nesso. O amor sexual é sempre uma ilusão, porque é o resultado de uma miragem imaginária. A luz astral é o sedutor universal, figurado pela serpente do Gênese. Este agente sutil, sempre ativo, sempre luxuriante de seiva, sempre florido de sonhos sedutores e inebriantes imagens; esta força cega por si mesma e subordinada a todas as vontades, quer para o bem, quer para o mal; este circulus sempre renascente de vida indômita que dá vertigem aos imprudentes; este corpo ígneo; este éter impalpável e presente em toda parte; esta imensa esta sedução da natureza, como defini – la inteiramente e como qualificar a sua ação? De algum modo indiferente por si mesma, ela serve para o bem como para o mal; ela leva a luz e propaga as trevas; pode – se chamá- la igualmente Lúcifer e Lucífugo: é uma serpente, mas pode pertencer aos tormentos do inferno como às oferendas de incenso prometidas ao céu. Para apoderar- se dela, é preciso, como a mulher predestinada, pôr o pé sobre sua cabeça.

O que corresponde à mulher de cabalística, no mundo elementar, é a água, e o que corresponde à serpente é o fogo. Para dominar a serpente, isto é, para dominar o círculo da luz astral, é preciso chegar a pôr- se fora das suas correntes, isto é, isolar- se. É por isso que Apolônio de Thyana se envolvia inteiramente num manto de lã fina, no qual punha os pés, e cuja ponta punha em cima da cabeça; depois, arcava em semicírculo a sua coluna vertebral e fechava os olhos, após ter realizado certos ritos de deviam ser passes magnéticos e palavras sacramentais, tem por fim fixar a imaginação e determinar a ação da vontade. O manto de lã é de grande uso em magia, e é o veículo ordinário dos feiticeiros que vão ao sabbat , o que prova que os feiticeiros não iam realmente ao sabbat, mas sim que o sabbat vinha achar os feiticeiros isolados nos seus mantos e trazia ao seu translúcido as imagens análogas às suas preocupações mágicas, misturadas com os reflexos de todos os atos do mesmo gênero que se tinham realizado antes deles no mundo.

Esta corrente da vida universal é também figurada, nos dogmas religiosos, pelo fogo expiatório do inferno. É o instrumento da iniciação, é o monstro a dominar, é o inimigo a vencer; é ela que envia às nossas evocações e conjurações da goecia tantas larvas e fantasmas; é nela que se conservam todas as formas cujo conjunto fantástico e fortuito povoa nossos pesadelos de tão abomináveis monstros. Deixar- se arrastar para baixo por este rio que dá viravoltas é cair nos abismos da loucura, mais terríveis que os da morte: afastar as sombras deste caos e fazer- lhe dar formas perfeitas aos nossos pensamentos é ser homem de gênio, é criar, é ter triunfado do inferno!

A luz astral dirige os instintos animais e dá combate à inteligência do homem, que tende a perverter pelo luxo de seus reflexos e a mentira das suas imagens; ação fatal e necessária, que os espíritos elementares e as almas sofredoras dirigem e tornam mais funestas ainda, com suas vontades inquietas, que procuram simpatias nas nossas fraquezas e nos tentam, menos para nos perder do que para adquirir amigos.

Esse livro das consciências que, conforme p dogma cristão, deve ser manifestado no último dia, não é outro senão a luz astral, na qual se conservam as impressões de todos os verbos, isto é, de todas as ações e de todas as formas. Os nossos atos modificam o nosso respiro magnético, de modo que um vidente pode dizer, aproximando – se de uma pessoa pela primeira vez, se esta pessoa é inocente ou culpada, e quais suas virtudes e seus crimes. Esta faculdade, que pertence à adivinhação, era chamada, pelos místicos cristãos da Igreja primitiva, o discernimento dos espíritos.

As pessoas que renunciam ao império da razão e gostam de desviar sua vontade em perseguição dos reflexos da luz astral, estão sujeitas a alternativas de furor e tristeza que fizeram imaginar todas as maravilhas da possessão do demônio; é verdade que, por meio destes reflexos, os espíritos impuros podem agir sobre tais almas, fazer delas instrumentos dóceis e mesmo habituar – se a atormentar o seu organismo, no qual vêm residir por obsessão ou embrionato . Estas palavras cabalísticas são explicadas no livro hebreu da Revolução das Almas, de que nosso décimo terceiro capítulo conterá a análise detalhada.

É, pois, extremamente perigoso divertir – se com os mistérios da magia; é, principalmente, temerário praticar seus ritos por curiosidade, por ensaio e como que para tentar as forças superiores. Os curiosos que, sem serem adeptos, se preocupam de evocações ou magnetismo oculto, parecem crianças que brincam com fogo perto de um barril de pólvora fulminante; serão, mais cedo ou mais tarde, vítimas de alguma terrível explosão.

Para isolar- se da luz astral, não basta rodear- se de pano de lã; é preciso ainda, e principalmente, ter imposto uma quietação absoluta ao seu espírito e ao seu coração, ter saído do domínio das paixões e estar seguro na perseverança dos atos espontâneos de uma vontade inflexível. É preciso também reiterar muitas vezes os atos desta vontade, como veremos na nossa introdução Ritual , a vontade fica certa de si mesma só por atos, como as religiões só têm império e duração pelas suas cerimônias e seus ritos.

Existem substâncias inebriantes que, exaltando a sensibilidade nervosa, aumentam o poder e por das representações e, por conseguinte, das seduções astrais; pelos mesmos meios, mas seguindo uma direção contrária, pode – se amedrontar e perturbar os espíritos. Estas substâncias, magnéticas por si mesmas e magnetizadas ainda pelos práticos, são o que se chamam filtros ou beberagens encantadas. Mas não trataremos desta perigosa aplicação da magia envenenadora. Não existem mais, é verdade, fogueiras para os feiticeiros, mas há sempre, e mais do que nunca, castigos para os malfeitores. Limitemo -nos, pois, a constatar, na ocasião, a realidade deste poder.

Para dispor da luz astral é preciso também compreender a sua dupla vibração e conhecer a balança das forças, que se chama o equilíbrio mágico, e que, em Cabala, se exprime pelo senário.

Este equilíbrio, considerado na sua causa primeira, é a vontade de Deus; no homem, é a liberdade, na matéria, é o equilíbrio matemático.

O equilíbrio produz a estabilidade e a duração.

A liberdade produz a imortalidade do homem, e a vontade de Deus põe em ação as leis da razão eterna.
O equilíbrio é rigoroso. Se for observada a lei, ele existe; se for violada, por mais levemente que seja, ele não existe mais.

É por isso que nada é inútil ou perdido. Toda palavra e todo movimento são pró ou contra o equilíbrio, pró ou contra a verdade; porque o equilíbrio representa a verdade, que se compõe de pró e do contra conciliados, ou, ao menos, mutuamente equilibrados.

Dizemos, na introdução do Ritual , como o equilíbrio mágico deve ser produzido, e por que ele é necessário para o sucesso em todas as operações.

A onipotência é a liberdade mais absoluta. Ora, a liberdade absoluta não poderia existir sem um equilíbrio perfeito. O equilíbrio mágico é, pois, uma das condições primárias do sucesso nas operações da ciência, e deve – se procurá – lo até na química oculta, aprendendo a combinar os contrários sem os neutralizar um por outro.

É pelo equilíbrio que se explica o grande e antigo mistério da existência e da necessidade relativa do mal.
Esta necessidade relativa dá, em magia negra, a medida do poder dos demônios ou espíritos impuros, aos quais as virtudes que são praticadas na terra dão mais furor, e, em aparência, até mais força.

Nas épocas em que os santos e anjos fazem abertamente milagres, os feiticeiros e diabos fazem, por sua vez, maravilhas e prodígios.

È a rivalidade que, muitas vezes, faz o sucesso; sempre se acha apoio no que resiste.


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