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Antes de mais nada, é preciso não esquecer que o plano astral tem sete subdivisões, e cada uma destas tem um grau de materialidade que lhe é próprio e corresponde a um certo estado de agregação de matéria. Embora, por causa da pobreza da nossa linguagem, sejamos forçados a chamar a esses subplanos “superiores e inferiores”, não se julgue que esses subplanos (ou antes os planos maiores de que estes, são apenas subdivisões) são localidades separadas no espaço, uns por cima dos outros como as prateleiras de uma estante, ou uns exteriormente aos outros como as camadas de uma cebola. Não: A matéria de cada um deles interpenetra a matéria do imediatamente superior, de modo que aqui à superfície da terra existem todos no mesmo espaço, embora as variedades superiores de matéria se estendam para mais além da terra física do que as inferiores. Assim, quando se diz que um homem se eleva de um plano para outro, não queremos de modo nenhum dizer que haja uma mudança de lugar no espaço, mas, sim, uma transferência do foco da consciência de um nível para o outro .O homem vai-se tornando, por assim dizer, opaco às vibrações de uma ordem de matéria e adquirindo uma sensibilidade crescente para as de uma ordem mais elevada. Desta forma, o primeiro mundo vai-se desvanecendo a pouco e pouco da consciência, com os seus habitantes e paisagens, dando lugar a outro de ordem mais elevada, que se vai tornando sucessivamente mais nítido. No entanto, há um ponto de vista segundo o qual há certa justificação para o uso dos termos “superiores”e “inferiores”, e a comparação dos planos e subplanos a camadas concêntricas. A matéria de todos os subplanos tem de encontrar-se aqui na superfície da terra, porém o plano astral e muito maior do que o físico, e estende-se alguns milhares de quilômetros acima da sua superfície.
A lei de gravitação opera na matéria astral, e se fosse possível deixá-la inteiramente imperturbada, provavelmente ela se estabeleceria em camadas concêntricas. Mas a terra está em movimento perpétuo, tanto de rotação como de revolução, e todas as espécies de influências e forças estão em contínua precipitação; assim, esta condição de repouso ideal jamais é alcançada, e há muita mistura. Todavia, é certo que quanto mais ascendemos tanto menos matéria densa encontramos. Temos uma boa analogia no plano físico. Terra, água e ar — o sólido, o líquido e o gasoso — todos existem na superfície, porém, amplamente falando, é exato dizer-se que a matéria sólida na base, a líquida logo acima dela, e a gasosa acima de ambas. A água e o ar interpenetram a terra numa pequena extensão; a água também se ergue no ar sob a forma de nuvens, mas apenas até uma altura limitada; a matéria sólida pode ser arremessada ao ar por violentas convulsões, como na grande erupção da ilha de Cracatau, Indonésia, em 1883, quando a lava vulcânica atingiu a altura de dezessete milhas, e levou três dias para depositar-se de novo; mas deposita-se finalmente, tal como a água atraída para o ar por vaporação retorna a nós como chuva.
Quanto mais alto nos elevamos, mais rarefeito se torna o ar, e a mesma verdade se aplica à matéria astral. As dimensões de nosso mundo astral são consideráveis e podemos determiná-las com alguma aproximação de exatidão do fato de que nosso mundo astral toca o da lua no perigeu, porém não no apogeu; mas naturalmente o contato se confina ao mais elevado tipo de matéria astral. Retornando à consideração destes subplanos e numerando-os desde o mais elevado e menos material para baixo, notamos que compreendem naturalmente três classes: as divisões l, 2 e 3 formando uma dessas classes, e 4, 5 e 6 a outra, ao passo que a sétimae ínfima de todas constitui a terceira. A diferença entre a matéria de uma destas classes e a imediatamente superior seria comensurável com a entre um sólido e um líquido, enquanto que a diferença entre a matéria das subdivisões de uma mesma classe se assemelharia à existente entre duas espécies de sólido, como, digamos, aço e areia. Abstraindo, por enquanto a divisão 7, podemos dizer que o fundo das divisões 4, 5 e 6 do plano astral é formado por este plano físico, em que vivemos, e por tudo o que lhe é acessório. A vida na sexta divisão é em tudo semelhante à vida na terra, com a diferença, é claro, de que não existe o corpo físico,e portanto, não se sentem as respectivas necessidades; enquanto que, à medida que ascende através da quinta e quarta divisões, a vida se torna sucessivamente menos material e menos dependente do nosso mundo inferior e seus interesses. Portanto, o cenário das divisões inferiores é o da terra, nossa conhecida; mas é ainda mais, porque, ao contemplá-lo com vista astral, todos os objetos, mesmo os pensamentos físicos, tomam um aspecto diferente. Como já se disse, os olhos astrais vêem um objeto, não só sob um certo ponto de vista, mas por todos os lados ao mesmo tempo — idéia, que em si é bastante confusa. Sc acrescentarmos, ainda, que todas as partículas existentes no interior de um corpo sólido se apresentam tão nitidamente visíveis como as da superfície, compreenderemos facilmente que mesmo os objetos que nos são mais familiares apresentem uma aparência que os torna inteiramente irreconhecíveis. Contudo, refletindo um momento, veremos que esta visão está mais próxima da verdadeira percepção do que a vista física.
Assim, se olharmos, à luz astral, as faces de um cubo de vidro, elas nos parecerão perfeitamente iguais, como realmente o são, ao passo que no plano físico vemos a face mais afastada em perspectiva, e portanto, muito menor do que realmente o é, o que evidentemente não passa de uma ilusão do sentido visual. É esta característica da visão astral que concorreu para que este tipo de visão tenha sido chamado “vista na quarta dimensão” — expressão realmente muito sugestiva. No entanto, ainda há mais causas de erro: assim, esta vista superior distingue formas de matéria invisíveis em outras condições, como por exemplo, as partículas constituintes da atmosfera, todas as variadíssimas emanações que os corpos, que têm vida, constantemente libertam de si, e ainda mais quatro graus de uma ordem de matéria bem mais rarefeita, a que, por falta de designação distintiva, chamaremos etéricas. Estas fornecem, por si, uma espécie de sistema, que interpenetra livremente toda a outra matéria física. Bastaria a investigação da natureza das suas vibrações e a maneira como certas forças de ordem superior as afetam, para constituir um vasto campo de estudo cheio de interesse para qualquer homem de ciência dotado dos requisitos visuais necessários ao seu exame. Todavia, mesmo que o pouco que acaba de dizer-se esteja perfeitamente compreendido, ainda assim, não se pode avaliar bem a complexidade do problema que temos tentado abordar. Porque, além destas formas novas da matéria física, há ainda outras subdivisões, muito mais numerosas e mais misteriosas, da matéria astral. Em primeiro lugar, cada objeto material, cada partícula mesmo, tem o seu duplicado astral. Este duplicado, por vezes, não é um corpo simples; é um corpo extremamente complexo, constituído de várias espécies de matéria astral. Além disso, todos os seres vivos estão rodeados de uma atmosfera, que lhes é própria, vulgarmente chamada “aura”, que no caso do homem é um assunto de estudo extremamente fascinante. Esta aura humana tem o aspecto de um oval de vapor luminoso, de uma estrutura altamente complexa, e da sua forma deriva o nome por que geralmente é conhecida, de “ovo aúrico”. Podemos dar aos leitores de Teosofia a boa notícia de que, mesmo nos primeiros estágios da sua aprendizagem, quando começa a adquirir a visão completa, o discípulo tem já a faculdade de se certificar diretamente da exatidão dos ensinamentos apresentados pela nossa fundadora, Madame Blavatsky, acerca de, pelo menos, alguns dos “sete princípios do homem”. Ao contemplar um dos seus semelhantes, o discípulo vê mais do que a sua aparência exterior; envolvendo-lhe o corpo físico, vê claramente o duplo etérico, vê distintamente o fluído vital universal ser absorvido e espalhado pelo corpo, circular livremente sob o aspeto de uma luz rósea, e irradiar perpendicularmente do corpo da pessoa, quando se trata de um indivíduo em bom estado de saúde. Mas a aura mais brilhante e talvez mais fácil de distinguir, apesar de formada por matéria num grau ainda mais elevado de rarefação — a matéria astral — é a que exprime com os seus rápidose vivos relâmpagos de cor os diversos desejos que vertiginosamente atravessam o ser humano, de momento a momento. É isto o que forma o verdadeiro corpo astral. Atrás deste, e formado por um grau de matéria ainda mais sutil — a das formas do plano devachânico — está o corpo mental ou aura do eu inferior, cujas cores, mudando apenas gradualmente à medida que o homem vai vivendo a sua vida, mostram a linha geral do seu pensamento e a disposição e caráter da sua personalidade. Ainda acima, muito mais elevada e incomparavelmente mais bela, onde atingiu o seu completo desenvolvimento, está a luz viva do corpo causal, veículo do Eu superior, que mostra o exato grau de adiantamento a que chegou o Ego verdadeiro, na sua passagem de nascimento em nascimento, isto é, de vida em vida. Mas para ver estes corpos é necessário que o discípulo tenha adquirido a faculdade de ver com vista especial de cada um dos planos a que cada corpo pertence.
Estas auras não são simples emanações; são a manifestação real do Ego nos diferentes planos. Esta noção é importantíssima; a sua aquisição poupará ao estudante muitas dificuldades e o libertará de muitos erros. O ovo áurico é que é o homem, e não o corpo físico que na vida terrena se cristaliza dentro dele. Enquanto o Ego reencarnante permanece no plano que é a sua verdadeira morada nos corpos “sem forma”, ele habita no corpo causal — e este é o seu veículo — mas à medida que ele desce para os corpos “com forma”, vê-se obrigado, para poder funcionar no novo plano, a revestir-se da matéria deste. E é a matéria que ele assim atrai a si que lhe fornece o corpo devachânico, ou o corpo mental. Analogamente, ao descer para o plano astral, reveste-se do corpo astral, ou corpo de desejos. Mas, é claro, os outros corpos superiores, de que se foi sucessivamente revestindo nas suas passagens de plano para plano, permanecem todos, até que em sua última descida para o plano físico, se reveste finalmente do corpo mais grosseiro, o nosso de carne e osso, que se forma no seio do Ovo áurico. E assim temos o homem completo, encerrado no Ovo áurico. Quem quiser mais amplos detalhes a respeito das auras, pode encontrá-los nos Anais da Loja de Londres ou em meu livro O Homem Visível e Invisível. Mas o que acabo de dizer basta para mostrar que todas as auras ocupam o mesmo espaço, as mais sutis penetrando as mais grosseiras, de modo que o neófito carece de muito estudo e de muita prática para as poder distinguir ao primeiro golpe de vista. No entanto, a aura humana, pelo menos em parte, é geralmente o primeiro objeto puramente astral percebido pelo ignorante e, como é natural, sempre mal interpretado e pessimamente compreendido. Apesar de ser a aura astral, em virtude do brilho dos seus relâmpagos de cor, a que mais salta à vista, o éter do sistema nervoso e o duplo etérico são realmente formados de matéria mais densa, visto estarem dentro dos limites do plano físico, conquanto invisíveis aos olhos vulgares. Se examinarmos, por meio da faculdade psíquica, o corpo de um recém-nascido, veremos que está interpenetrado, não só por matéria astral de todos os graus de densidade, mas também pêlos diversos graus de matéria etérica. E se nos dispusermos a remontar até à origem, veremos que é deste último que os agentes dos Senhores do Karma formam o duplo etérico, que é o molde segundo o qual se organiza o corpo físico, ao passo que a matéria astral vai sendo recolhida automática e inconscientemente pelo Ego na sua passagem pelo plano astral. Na composição do duplo etérico entram todos os diferentes graus da matéria etérica, mas é muito variável a proporção em que cada um entra, por ser função de vários fatores, tais como, a raça, a sub-raça, o tipo do indivíduo, além do Karma que lhe é próprio.
Se juntarmos a isto a consideração já sabida de que estas quatro subdivisões de matéria são constituídas por inúmeras combinações que, por sua vez, formam agregados constituintes do “átomo” do chamado “elemento” químico, poderemos avaliar a extrema complexidade deste segundo princípio do homem, a infinidade das suas variações possíveis. Compreende—se, pois, que por mais complexo que seja o Karma de qualquer indivíduo àqueles a cuja jurisdição pertencem essas funções é sempre possível fabricar um molde perfeitamente adaptável ao corpo a que se destina. Quem quiser mais ampla informação a este respeito, poderá consultar com vantagem a sugestiva obra de Annie Besant o Karma. Ainda a respeito da aparência tomada pela matéria física quando vista à luz astral, outro ponto há que merece menção: é o fato de esta visão superior astral ter o poder de aumentar os objetos, levando qualquer partícula, por minúscula que seja, à grandeza que se deseje, tal qual um excelente microscópio, se nos é permitida tão grosseira comparação, pois na realidade não há nem poderá haver nenhum desses instrumentos, capaz de possuir um poder de aumento tão extraordinário. A molécula e o átomo, criações hipotéticas para o homem de ciência, são para o ocultista realidades visíveis, e de uma complexidade intrínseca muito maior do que para os físicos e químicos do nosso mundo. É antes um vastíssimo campo de estudo do mais absorvente interesse, cuja análise mereceria um volume.
Qualquer investigador científico que conseguisse adquirir uma vista astral perfeita, não só veria facilitarem-se-lhe enormemente as suas experiências sobre os fenômenos vulgares, já conhecidos, mas veria diante de si um campo novo de conhecimentos para cujo estudo rigoroso não chegaria a curta vida humana na terra. Por exemplo, uma das mais curiosas novidades que se lhe revelaria, seria a existência de mais cores, perfeitamente visíveis além daquelas que ele pode ver no espectro, como os raios ultra— vermelhos e ultravioletas, que a ciência descobriu por meios indiretos e que para o ocultista dotado de vista astral são perfeitamente visíveis. Mas não nos deixemos fascinar por estes interessantíssimos atalhos e prossigamos em nosso objeto de dar uma idéia geral da aparência do plano astral. Do que acabamos de dizer compreende-se que, embora sejam realmente os objetos vulgares do mundo físico que formam o fundo do cenário do plano astral, aparecem, contudo, com um aspecto tão diferente, pelo muito mais que deles se vê, que se nos tornam quase irreconhecíveis e julgamos estar em presença de objetos novos, tanto e tão profundamente modificados, na infinita variedade dos seus pormenores, nos aparecem os objetos nossos conhecidos. Para melhor compreender a nossa afirmação, tomemos um exemplo, qualquer coisa de muito conhecido e de muito simples, seja uma rocha. Olhada com vista astral, essa rocha deixa de ser um corpo inerte e imóvel. Vê-se-lhe toda a matéria física e não apenas uma pane. Percebemse todas as vibrações das partículas físicas que a formam. Verifica-se a existência de um duplicado composto de vários graus de matéria astral, rigorosamente igual ao físico, cujas partículas- estão igualmente em movimento. Através da sua massa sente-se palpitar a vida universal. Torna-se visível a aura envolvente, embora esta não tenha a extensão nem a complexidade das auras que cercam os corpos dos reinos mais elevados.
Finalmente, percebe-se, ativa e flutuante, a essência dementai que lhe é própria. £ tratamos de uma rocha; se em vez de um bloco de pedra escolhêssemos um exemplo do reino vegetal, animal ou humano, a complexidade dos fenômenos observáveis seria muito maior e, sem dúvida, muito mais interessante. Poderão alguns leitores objetar que nenhum desses fenômenos apareceu até agora descrito com esses pormenores de complexidade, pela maior parte dos investigadores que dizem ter tido algum vislumbre do mundo astral, nem nas sessões espíritas jamais qualquer médium recebeu comunicação a tal respeito. O fato tem sua explicação. Poucas pessoas, vivas ou mortas, chegam a ver as coisas como elas são, a não ser depois de longa experiência. Mesmo as que já sabem ver, sentem-se muitas vezes perplexas e confusas, incapazes de compreender ou de recordar o que viram. E a pequeníssima maioria dos que não só vêem, mas recordam, acha-se impotente para traduzir as suas impressões na linguagem do nosso plano, tanto mais que a maior parte dos observadores esquece o lado científico da questão e pode, portanto, obter uma impressão correta, às vezes, mas, e geralmente, completamente errônea. Em abono desta última hipótese, basta tomar em consideração as “partidas” que os cidadãos do outro mundo têm gosto em pregar nas sessões espiritistas, sem que os observadores pouco práticos tenham meio de se defender contra a “graça” dos evocados. Além disso, não se deve esquecer que os habitantes regulares do mundo astral, sejam humanos ou dementais, apenas têm, em geral, consciência dos objetos do seu plano, passando-lhes despercebida a matéria física, precisamente como aos habitantes do mundo físico passa despercebida a matéria astral. Parece, à primeira vista, que esta distinção é supérflua, visto termos dito que cada objeto físico tem o seu duplicado astral que o habitante deste plano deve ver, mas não podemos deixar de fazê-la, por ser uma parte essencial da concepção simétrica do assunto. Se, contudo, uma entidade astral se serve constantemente de um médium, os seus sentidos astrais podem embotar-se gradualmente a ponto de se tornarem insensíveis aos graus mais elevados de matéria do seu próprio plano, e incluírem no seu domínio, em vez do mundo astral, o mundo físico tal qual nós o vemos. E no que diz respeito aos habitantes da terra, apenas os muito exercitados, que tenham consciência absoluta nos dois planos, podem ter a certeza de ter simultaneamente tanto em um como no outro, com clareza e perfeição. Fique, pois, bem assente que essa espantosa complexidade existe realmente, e que só depois de muito bem compreendida e, por assim dizer, cientificamente destrinçada, é que podemos ter uma garantia perfeita contra erros e decepções. O nosso mundo físico, pode dizer-se, forma o fundo da sétima subdivisão do plano astral — apesar de tudo que se vê formar apenas uma parte dele, — onde as coisas aparecem deformadas, visto que tudo que é luminoso, bom e belo, parece invisível. Há mais de 4000 anos descreveu-a assim, num papiro egípcio, o escriba Ani: Que espécie de lugar é este, em que me encontro, sem ar, sem água, profundo, insondável, negro como a morte mais negra, onde erram miseravelmente os homens? Em tal lugar nenhum homem pode viver de coração tranqüilo. Para o desgraçado ser humano nesse plano, é certo que “toda a terra está cheia de trevas e de moradas cruéis”.
Mas essas terras vêm do seu íntimo e são elas que lhes rodeiam a existência de uma noite perpétua de mal e de terror, —• verdadeiro inferno, realmente, mas um inferno, como todos os outros, únicae simplesmente criado pelo próprio homem. A maior parte dos estudantes de ocultismo considera a exploração desta região uma árdua tarefa, porque nela se sente como que uma sensação de densidade e de materialidade grosseira que se torna imensamente repugnante ao corpo astral, que alcançou a libertação. Um corpo nessas condições tem a impressão de ter de abrir à força um caminho através de uma espécie de fluído, negro e viscoso, rodeado de habitantes e influências extremamente desagradáveis. A primeira, segunda e terceira subdivisões, apesar de ocuparem o mesmo lugar no espaço, dão, contudo, a impressão de um maior afastamento do mundo físico e, portanto, parecem ter materialidade muito menor. As entidades que as habitam perdem de vista a terra e as coisas terrestres; encontram-se, em geral, profundamente absorvidas em si mesmas, e criam, até certo ponto, o seu ambiente, ambiente que, contudo, é suficientemente objetivo para se dar a perceber às outras entidades e também à visão do clarividente. Esta região é sem dúvida a “Summerland”, de que tanto estamos habituados a ouvir falar nas sessões espíritas americanas, e aqueles que de lá vêm e dela nos falam, decerto a descrevem com verdade, pelo menos, tanto quanto o seu conhecimento lhes permite. É nestes planos que os “espíritos” chamam a uma existência temporária as suas casas, escolas e cidades. Temporária porque, se é certo que estas coisas aparecem por algum tempo com um caráter de realidade, quaisquer olhos mais habituados a ver, achá-las-ão sem dificuldade tristemente diferentes daquilo que os seus entusiásticos criadores julgam que o são. Contudo, muitas das criações fantasistas que aí tomam forma, são de uma beleza real, embora temporária, e qualquer visitante que não conhecesse nada de superior, passaria bastante agradavelmente o seu tempo vagueando pelas florestas e montanhas, lagos e aprazíveis jardins floridos, bem mais belos do que tudo o que existe no mundo físico. E poderia mesmo dar largas à sua fantasia, que ela própria faria desenrolar diante de si todas essas paisagens. Quando tratarmos em particular dos habitantes desses três subplanos superiores, entraremos nos detalhes relativos às diferenças existentes entre eles.
Para não deixar incompleta esta descrição, embora rápida, do cenário do plano astral, não podemos deixar de nos referir àquilo a que muitas vezes se tem chamado, embora erradamente, os Registros da Luz Astral. Estes registros, arquivos, ou memórias (que são afinal uma espécie de materialização da memória Divina — fotografias animadas de todos os acontecimentos passados) vão-se imprimindo indelevelmente num plano muito superior, de forma que é apenas de maneira instável, por assim dizer, espasmódica que eles se refletem no plano astral. Daí resulta que apenas aqueles cujo poder de visão se eleve acima do correspondente a este plano, é que podem obter uma impressão seguida e conexa desta espécie de filmes; os outros pouco mais obterão que uma série de quadros ilógicos e desconexos. Todavia, estas imagens, que refletem todos os acontecimentos passados, seja qual for a sua espécie, são objeto de uma representação constante no plano astral, e nele formam uma parte importante do ambiente do explorador. No meu livro Clarividência, capítulo VII, encontra-se mais detalhadamente feito o estudo deste assunto, que por falta de espaço não posso desenvolver neste manual.
C. W. Leadbeater
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