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É possível que um pai tenha um filho favorito? Existirá um entre todos os demais que secretamente ele sinta ser a menina de seus olhos? Com maior freqüência que o caso negativo, a despeito de todos os protestos em contrário, certamente existe .
Pois é isso que ocorre comigo. Ao me pedirem que escrevesse uma introdução para esta nova edição de A árvore da vida, senti um entusiasmo interior que combina muitas emoções bem distintas. Este livro tem um significado especial para mim que nenhum dos meus outros escritos jamais teve. Primeiramente, há o fato elementar de ele ter sido o primeiro livro que emergiu de meu espírito em botão. A garden of pomegranates [Jardim das romãs], publicação anterior, simplesmente se desenvolveu a partir de um conjunto de notas cabalísticas que eu guardara por vários anos – e isto é tudo o que sempre foi .
Comentou-se ser A árvore da vida a mais abrangente introdução disponível aos numerosos, complexos e por vezes obscuros escritos místicos de Aleister Crowley. Ambos os livros mencionados foram a ele dedicados, para quem trabalhei como secretário durante muitos anos. Simbolicamente, esses dois livros vieram a representar a minha independência dele .
A árvore da vida gerou também uma correspondência pelo mundo todo que resultou em várias amizades profundas e duradouras, pelas quais me sinto sumamente grato .
Embora este livro apresente muitos erros tipográficosde menor importância – devidos, sobretudo, à pressa e o descuido da juventude – tem sido considerado útil como um guia para o extenso, complicado e maravilhoso sistema de iniciação Golden Dawn [Aurora Dourada], cuja gratidão que sinto por ele precisa ser aqui registrada. Alguns aprendizesalegam que os dois volumes de The Golden Dawn (Llewellyn Publications, St. Paul, Minn. 1970) contêm uma tal massa diversificada de informações que um guia dotado de clareza constitui pré-requisito para abrir uma senda inteligível através de seus documentos, rituais e instruções. Esta nova edição deve vir a servir a tal finalidade .
Escrevendo A árvore da vida aprendi muito. Este livro combinou muitos fragmentos isolados de conhecimento e experiência desconexos. A correspondência indicou que serviu a outros igualmente bem .
A despeito de sua extravagância e pendor para o emprego excessivo de adjetivos, que foram as marcas de minha juventude – trinta e cinco anos transcorreram desde que foi escrito – afirmou-se como um guia sincero e simples para uma arte intricada e, em outros aspectos, obscura. Um psiquiatra britânico foi amável a ponto de admitir um sentimento de espanto e real admiração pelo fato de alguém de vinte e poucos anos de idade ter sido capaz de demonstrar a compreensão espiritual e capacidade para síntese evidenciadas neste livro. Se essa avaliação for válida, dever-se-á muito a Aleister Crowley, a quem muito devo. À sua derradeira defesa da estupidez de biógrafos e jornalistas sensacionalistas devotei muitos anos de minha vida. Sua obra jamais perecerá, permanecendo como uma inspiração aos aprendizesde um futuro remoto, como o foi para mim .
Crédito é devido também ao meu Gênio superior e divino – para usar a bela linguagem da Golden Dawn – pois sem essa diretriz interna nenhuma literatura, mesmo profunda, atraente e arrebatadora, significaria muita coisa. Visto que a orientação obtida posteriormente da Hermetic order of the Golden Dawn resultou da publicação de A árvore da vida, sua redação não foi influenciada pela Ordem. Mais tarde, todavia, a Ordem desempenhou efetivamente um papel preponderante no meu desenvolvimento íntimo e na redação de livros mais posteriores .
Rememorando, este testemunho de minha independência de Crowley resultou numa carta do chefe de uma seção da Golden Dawn condenando tanto a mim quanto ao livro em termos nada indefinidos. Por outro lado, resultou num convite, que partiu de um chefe de outra unidade da Ordem, para que eu me tornasse membro dela. Aceitei esse convite, embora os anos posteriores tenham produzido uma separação da Ordem, hoje eu lamento minha presunção e arrogância juvenis. Contudo, o destino deve ter interferido, resultando numa reedição dos ensinamentos secretos da Ordem, a primeira exposição de tal reedição tendo sido ensaiada logo antes da Primeira Guerra Mundial por Crowley no Equinox .
Com o devido respeito ao imenso gênio de Crowley, foi dito que minha apresentação fez mais justiça à Ordem do que a sua. Vale a pena reiterar pela segunda vez que esta nova edição de A árvore da vida propiciará ao aprendizuma visão geral da tradição mágica ocidental. Nesse sentido, a despeito de desvios doutrinais e ritualísticos menores, Crowley se enquadra numa linhagem direta de descendência dos Adeptos da Golden Dawn; nada que ele tenha escrito pode ser compreendido sem referência aos ensinamentos da Ordem. Tanto a Golden Dawn quanto Aleister Crowley ganham em estatura e profundidade se o principiante nesses estudos lograr primeiramente uma visão sinóptica de A árvore da vida .
Finalmente, uma antiga observação se faz ainda essencial. Há muito compreendi que a análise psicológica moderna deveria ser associada aos métodos da Grande Obra – uma tarefa ainda a ser plenamente realizada. Recomenda-se incisivamente que o aprendizsério se submeta a um processo de alguma modalidade de tratamento psicoterapêutico antes de aprofundar-se nessas práticas. No mínimo, terá com isso conquistado autoconsciência e eliminado algumas tensões corporais e emocionais exacerbadas pela arte mágica .
Assim, para esta nova edição de A árvore da vida, só me resta dizer com humildade, sinceridade e convicção: vá em frente e propague a palavra. Ela expõe um bom ensino, uma nobre filosofia e um sistema arcaico porém prático de se atingir alturas embebidas de sol para as quais toda a espécie humana finalmente terá de se elevar e repousar. Que possam todos os leitores obter toda a satisfação, ajuda e conforto espirituais e esclarecimento que eu obtive na redação inicial deste livro e nos anos que se seguiram .
Adeus! Israel Regardie 12 de maio de 1968 .
Studio City, Califórnia, 91604
A Árvore da Vida – Um Estudo sobre Magia
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