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As Três Supremas – Cabala Mística (7 de 26)

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1. Tendo considerado em linhas gerais o desenvolvimento das três primeiras Emanações Divinas, estamos agora em posição de compreender lhes mais profundamente a natureza e o significado, pois podemos estuda-las em seu relacionamento mútuo. Esse é o único meio de estudar as Sephiroth, pois uma única Sephirah, considerada em separado, carece de sentido. A Árvore da Vida é essencialmente um esquema de relações, tensões e reflexos (Diagrama 11).
2. Os livros rabínicos atribuem muitos nomes curiosos às Sephiroth, e muito aprendemos ao considerá-las, uma vez que toda palavra, nesses livros, tem um significado importante, a nenhuma delas é utilizada superficialmente ou com vistas à mera fantasia poética; todas têm a precisão dos termos científicos, o que, de fato, são.
3. O significado da palavra Kether, como já observamos, é Coroa. Chokmah significa Sabedoria a Binah, Compreensão. Mas, pendente dessas últimas Sephiroth, existe uma Terceira Sephirah, curiosa a misteriosa, que nunca é representada no hieróglifo da Árvore; trata-se da Sephirah invisível Daath (Conhecimento), que resulta da conjunção de Chokmah a Binah e que atravessa o Abismo. Afirma Crowley que Daath é uma outra dimensão das demais Sephiroth, constituindo o vértice de uma pirâmide cujos ângulos básicos correspondem a Kether, Chokmah a Binah. A meu ver, Daath representa a idéia da compreensão a da consciência.
4. Tentemos, agora, elucidar as Três Supremas de acordo com o método da Cabala mística, que consiste em prover a mente com todas as correspondências a símbolos conferidos às Esferas, deixando à contemplação o trabalho de estabelecer as devidas relações.
S. Teremos a oportunidade de observar que essas três Sephiroth, acrescidas de uma quarta Sephirah misteriosa, apresentam o simbolismo relativo à cabeça, que, no homem arquetípico, representa o nível mais elevado de consciência. Se buscarmos na literatura rabínica outros nomes que se lhes possam aplicar, descobriremos muitos outros símbolos referentes à cabeça aplicados a Kether; esses símbolos, embora não se refiram especificamente às demais Sephiroth, abrangem também as outras duas Esferas Supremas, pois estas representam aspectos de Kether num plano inferior.
6. Os rabinos conferem a Kether, entre outros títulos, que não precisamos analisar no momento, os seguintes: Arik Anpin, o Rosto Imenso, A Cabeça Branca, A Cabeça que Não É. 0 símbolo mágico de Kether, de acordo com Crowley, é um velho rei barbado visto de perfil. Diz MacGregor Mathers: “0 simbolismo do Rosto Imenso diz respeito a um perfil graças ao qual só podemos ver uma face do rosto; ou, como se diz na Cabala, `Nele tudo é lado direito’.” 0 lado esquerdo, voltado para o Imanifesto, é para nós como o lado escuro da Lua.
7. Mas Kether é, em primeiro lugar, a Coroa. Ora, a Coroa não é a cabeça, mas repousa nela a sobre ela. Por conseguinte, Kether não é a consciência, mas sim o material rude da consciência, do ponto de vista microcósmico, e o material rude da existência, do ponto de vista macrocósmico. Como já observamos, podemos considerar a Árvore da Vida de duas maneiras; podemos concebê-la como sendo o universo ou a alma do homem, e esses dois aspectos se iluminam mutuamente. Nas palavras da Tábua de Esmeralda, de Hermes: “Como é em cima, tal é embaixo.”
8. Kether diferencia-se em Chokmah a Binah antes de alcançar a existência fenomenal, a os cabalistas chamam essas duas Sephiroth de Abba, o Pai Supremo, a Ama, a Mãe Suprema. Binah recebe também o nome de Grande Mar, a Shabathai, a Esfera de Saturno. Na seqüência de nosso estudo, descobriremos que as Sephiroth recebem sucessivamente os nomes das Esferas planetárias, mas Binah é a primeira das emanações a ser assim assinalada; Kether recebe o nome de Primeiro Remoinho, a Chokmah, a Esfera do Zodíaco.
9. Ora, Saturno é o Pai dos Deuses; ele é o maior dos velhos deuses que precederam as divindades olímpicas governadas por Júpiter. Nos títulos secretos atribuídos às camas do Taro, o Caminho de Saturno chama-se, de acordo com Crowley, o Grande Senhor da Noite dos Tempos.
10. Kether diferencia-se numa potência ativa masculina, Chokmah, e numa potência passiva feminina, Binah, a ambas as potências situam-se no topo de duas colunas laterais formadas pelo alinhamento vertical das Sephiroth em seu enquadramento na Árvore da Vida. A coluna da esquerda chama-se Severidade; a da direita, sob Chokmah, chama-se Misericórdia; a do meio, sob Kether, chama-se Suavidade, a recebe também o título adicional de Coluna do Equilíbrio. Essas duas colunas representam os dois pilares
encontrados no Templo do Rei Salomão a também em todas as Lojas de Mistérios, constituindo o próprio candidato, quando permanece entre eles, a Coluna Medial do Equilíbrio.
11. Deparamos, aqui, com a idéia expressa por Mme. Blavatsky segundo a qual a manifestação não pode ocorrer antes da diferenciação dos Pares de Opostos. Kether diferencia seus dois aspectos como Chokmah a Binah, e é então que ocorre a manifestação. Temos, assim, nesse triângulo supremo, formado pela Cabeça Que. Não É, pelo Pai a pela Mãe, o conceito radical de nossa cosmogonia. Voltaremos muitas vezes a essa idéia, recebendo, em cada retorno, mais a mais iluminações. Estes capítulos iniciais não pretendem tratar exaustivamente de nenhum dos pontos, pelas razões já aduzidas, uma vez que o estudante que não esteja familiarizado com o assunto (e existem pouquíssimos estudantes que estão familiarizados com ele) ainda não tem o equipamento mental necessário que lhe permita apreciar o significado de um estudo mais detalhado; estamos, no momento, empenhados em reunir esses elementos; no devido tempo, começaremos a dispô-los num templo vivo e a estudá-los em detalhes.
12. Binah, a Mãe Superior (distinta de Malkuth, a Mãe Inferior, a Noiva de Microprosopos, a Isis da Natureza, a Décima Sephirah), apresenta dois aspectos, a estes distinguem-se como Ama, a Mãe Estéril Obscura, a Aima, a Mãe Fértil Brilhante. Já observamos que essa Sephirah se chama Grande Mar, Marah; a palavra Marah não significa apenas Amargo, mas é também a raiz de Maria, a aqui nos encontramos novamente com a idéia da Mãe, no início virgem, a depois com a criança concebida pelo Espírito Santo.
13. Pela associação de Binah com o mar, somos lembrados de que essa Sephirah se originou primordialmente nas águas; do mar nasceu Vênus, a mulher arquetípica. A associação a Saturno sugere a idéia da idade primordial: “Antes que os deuses que fizeram os deuses bebessem até fartar-se (…)”, a lembra as rochas mais antigas: “Na sombria quietude do vale (…) sentava-se Saturno, de cabelos cinzentos, quieto como uma pedra.” Max Heindel localiza os Senhores da Forma entre as fases mais antigas da evolução, a uma obra inspiracional em minha posse, Lhe Cosmic Doctrine, fala dos Senhores da Forma como as Leis da Geologia.
14. Considerando novamente o simbolismo das duas colunas laterais da Árvore, descobrimos que Chokmah a Binah representam a Força e a Forma, as duas unidades de manifestação.
15. Nada ganharíamos, por enquanto, penetrando mais profundamente nas ramificações sem fim desse simbolismo, pois ele nos levaria para além das três Sephiroth já estudadas. Consideraremos, porém, a misteriosa Sephirah Daath, que nunca aparece na Árvore e à qual não se atribui nenhum. nome divino ou coro angélico, visto que não possui nenhum símbolo cósmico planetário ou elemental, como as demais Esferas da Árvore.
16. Como já observamos, Daath resulta da conjunção de Chokmah e Binah. 0 Pai Supremo, Abba, desposa a Mãe Suprema, Ama, a Daath é o resultado dessa união. Como os cabalistas conferem curiosos nomes a Daath, será interessante observar alguns deles.
17. No verso 38 do Book of Concealed Mystery (tradução inglesa de Mathers da tradução latina de Knorr von Rosenroth), lê-se: “Pois o Pai e a Mãe estão perpetuamente unidos em Yesod, o Fundamento (a nona Sephirah), mas ocultos sob o mistério de Daath, o Conhecimento”; a lemos, no verso 40, a propósito de Daath: “0 homem que diz, Sou o Senhor, esse cairá (…) Yod (a décima letra do alfabeto hebraico) é o fundamento do Conhecimento do Pai; mas todas as coisas chamam-se Byodo, ou seja, todas as coisas se aplicam a Yod, a quem esse discurso diz respeito. Todas as coisas se combinam na língua que está oculta na mãe. Ou seja, graças a Daath, o Conhecimento, por meio do qual a Sabedoria se combina com a Compreensão, e o Caminho da Beleza (Tiphareth, a Sexta Sephirah) com a sua noiva, a Rainha (Malkuth, a Décima Sephirah); a essa é a idéia oculta, ou alma, que penetra toda a Emanação. Daath abre-se para aquilo que dele procede; isto é, Daath é ele próprio o Caminho da Beleza, mas também o Caminho Interno, a que se referia Moisés; a esse Caminho está oculto na Mãe, e é o meio de sua conjunção.” Se observarmos que Yod é idêntico ao lingam do sistema hindu; a que Kether, Daath e o Caminho da Beleza, Tiphareth, a Sexta Sephirah, estão alinhados no Pilar Medial da Árvore, que equivale à espinha dorsal do homem, o microcosmo; a que Kundalini está enrolada em Yesod, também no Pilar Medial, descobriremos aqui uma importante chave para aqueles que estão equipados para utilizá-la.
18. Na obra Greater Holy Assembly, verso 566 (tradução de Mathers), lemos o seguinte, a respeito da Cabeça de Microprosopos, cujo corpo é considerado como um hieróglifo do cosmo: “Da Terceira Cavidade pro-
‘    vêm mil vezes mil conclaves a assembléias, a nessa Cavidade se localiza a morada de Daath, o Conhecimento. A abertura dessa Cavidade localiza-se entre duas outras cavidades, a todos esses conclaves estão repletos em ambos os lados. Eis o que lemos nos Provérbios: `E os conclaves estarão cheios de Conhecimento (Daath)’. E essas três cavidades se expandem sobre todo o corpo, por todos os lados, unificando o corpo, e o corpo está contido nelas, por todos os lados, a assim, por meio do corpo, elas se expandem a se difundem.”
19. Se recordarmos que Daath está situada no ponto em que o Abismo corta o Pilar Medial, a que no Pilar Medial se localiza o Caminho da Flecha, o caminho que a consciência trilha quando o sensitivo se eleva para os planos, a que nesse local também está Kundalini, observaremos que em Daath reside o segredo tanto da geração quanto da regeneração, a chave para a manifestação de todas as coisas por meio da diferenciação em pares de opostos a da sua união num terceiro elemento.
20. É assim que a Árvore revela seus segredos aos cabalistas.
21.0 Segundo Triângulo na Árvore da Vida é constituído pelas Sephiroth Chesed, Geburah a Tiphareth. Chesed forma-se pelo desdobramento de Binah, estando localizada no Pilar da Misericórdia, à direita, imediatamente abaixo de Chokmah; o ângulo do Relâmpago Brilhante, que é utilizado para indicar o curso das emanações na Árvore, dirige-se para baixo, cruzando o hieróglifo à direita, de Binah no topo do Pilar da Severidade até Chesed, que ocupa a seção média do Pilar da Misericórdia. 0 Relâmpago volta-se novamente a dirige-se na horizontal, através do hieróglifo, em direção ao Pilar da Severidade, em cuja seção média se encontra a Sephirah Geburah. 0 símbolo da força emanante desce uma vez mais para baixo e à direita, constituindo a Sephirah Tiphareth, que ocupa o centro mesmo da Árvore no Pilar da Suavidade ou do Equilíbrio. Essas três Sephiroth constituem o triângulo funcional seguinte que devemos considerar, a embora não pretendamos penetrar profundamente em seu simbolismo antes de completarmos nossa observação esquemática de todo o sistema, cumpre dizer algumas palavras para esclarecer-lhes o significado a conferir-lhes um lugar no conceito que estamos formulando. Esse conceito é tão vasto a tão complexo em seus detalhes que a tentativa de ensiná-lo exaustivamente de A à Z resultaria em confusão. Seu significado só é revelado ao estudante gradualmente, pois um aspecto interpreta o outro. Meu método de ensinar a Árvore pode não ser o ideal do ponto de vista do pensamento sistemático, mas acredito que ele é o único que capacitará o iniciante a “pegar o jeito” do assunto. Foi na Árvore que obtive meu próprio treinamento místico, a vivi a respirei em sua companhia por’muitos a muitos anos, de modo que me sinto competente para falar dela do ponto de vista do misticismo prático, pois conheço, por minha própria experiência, as dificuldades de dominar o sistema cabalístico, aparentemente tão intrincado, abstrato a volumoso e, no entanto, tão compreensível e satisfatório quando temos as chaves de sua interpretação.
22. Antes de considerarmos o Segundo Triângulo da Árvore como uma unidade, devemos conhecer o significado das Sephiroth que o compõem. Chesed significa Misericórdia ou Amor; pode chamar-se também Gedulah. Grandeza ou Magnificência, e a ela se atribui a Esfera do planeta Júpiter. Geburah significa Força a recebe também o título de Pachad, Temor; a ela se atribui a Esfera do planeta Marte. Tiphareth significa Beleza, e a ela se atribui a Esfera do Sol. Quando os deuses dos diversos panteões pagãos são correlacionados com as Esferas na Árvore, os deuses sacrificados referem-se a Tiphareth e, por essa razão, a Cabala cristã a chama de Centro Cristológico.
23. Temos agora material suficiente para fazer uma observação a respeito do Segundo Triângulo. Júpiter, o governante e legislador benéfico, é contrabalançado por Marte, o Guerreiro, a força ígnea a destrutiva, a ambas as esferas são equilibradas em Tiphareth, o Redentor. No Triângulo Supremo, temos a Sephirah primária emanando um par de opostos que expressam os dois lados de sua natureza, Chokmah, Força, a Binah, Forma, Sephiroth masculina a feminina, respectivamente. No Segundo Triângulo, temos os pares de opostos que encontram seu equilíbrio num terceiro elemento, localizado no Pilar Medial da Árvore. Deduzimos disso que o Primeiro Triângulo deriva seu significado da esfera que o antecede a que o Segundo Triângulo deriva seu significado daquilo que o triângulo anterior emana. No Primeiro Triângulo, encontramos uma representação das forças criativas da substância do universo; no Segundo, temos uma representação das forças que governam a vida em evolução. Em Chesed reside o rei sábio a bondoso, o pai de seu povo, que organiza o reino, constrói as indústrias, promove a instrução a implanta os benefícios da civilização. Em Geburah temos um rei guerreiro, que conduz o seu povo à guerra, defende o reino dos assaltos dos inimigos, estende-lhe os limites por meio da conquista, pune o crime e aniquila os malfeitores. Em Tiphareth, temos o Salvador, sacrificado na Cruz para a salvação de seu povo, colocando, assim, Geburah em equilíbrio com Gedulah, ou Chesed. Descobrimos, aqui, a esfera de todos os deuses solares e deuses curadores benéficos. Vemos, assim, que as misericórdias de Gedulah e as severidades de Geburah se unem para a cura das nações.
24. Atrás de Tiphareth, atravessando a Árvore, estende-se Paroketh, o Véu do Templo, que corresponde, num plano inferior, ao Abismo que separa as Três Supremas do resto da Árvore. Como o Abismo, o Véu marca uma cisão na consciência. 0 modo de mentalização num lado da cisão difere, em espécie, do modo de mentalização que prevalece no outro. Tiphareth é a Esfera superior, à qual a consciência humana normal pode elevar-se. Quando Felipe disse ao Mestre, “Mostra-nos o Pai”, Jesus replicou, “Aquele que viu a Mim viu também ao Pai”. A mente humana só pode conhecer de Kether aquilo que se reflete em Tiphareth, o Centro Cristológico, a Esfera do Filho. Paroketh é o Véu do Templo, que se rasgou no instante da Crucificação.
25. Chegamos, agora, em nossa breve observação preliminar, ao Terceiro Triângulo, composto das Sephiroth Netzach, Hod a Yesod. Netzach é a Sephirah básica do Pilar da Misericórdia, Hod é a Sephirah básica do Pilar da Severidade, a Yesod é o Pilar Medial da Suavidade ou do Equilíbrio, em alinhamento direto com Kether a Tiphareth. Assim, o Terceiro Triângulo é uma réplica exata do Segundo Triângulo num arco inferior.
26. O significado de Netzach é Vitória, e a ela se atribui a Esfera do planeta Vênus; o significado de Hod é Glória, e a ela se atribui a Esfera do planeta Mercúrio; o significado de Yesod é Fundamento, e a ela se atribui a Esfera da Lua.
27. Na medida em que se pode chamar o Segundo Triângulo, com alguma propriedade, de Triângulo Ético, pode-se muito bem chamar o Terceiro Triângulo de Triângulo Mágico; e, se atribuirmos a Kether a Esfera do Três em Um, a Unidade indivisa, e a Tiphareth a Esfera do Redentor ou Filho, poderíamos justificadamente referirmo-nos a Yesod como a Esfera do Espírito Santo, o lluminador; essa é uma atribuição da Trindade Cristã que se enquadra melhor ao contexto da Árvore do que a sua atribuição às Três Supremas, que coloca o Filho no lugar de Aba, o Pai; e o Espírito Santo no lugar de Ama, a Mãe, e é obviamente irrelevante a motivo de inúmeras discrepâncias nas correspondências a nos simbolismos. Temos, aqui, um exemplo do valor da Árvore como um método de meditação probatória; as atribuições corretas adornam a Árvore por meio de ramificações infindas de simbolismo, como vimos quando consideramos Binah como a Mãe; o simbolismo errôneo incorreto desintegra-se a revela as suas bizarras associações quando se tenta seguir uma cadeia de correspondências. É assombrosa a multidão de ramificações de cadeias associativas que se podem seguir quando a atribuição é correta. É como se apenas a extensão de nosso conhecimento pudesse limitar a extensão das cadeias associativas; estas abrangem a ciência, a arte, a matemática, as épocas da história, a ética, a psicologia e a fisiologia. Foi esse método peculiar de utilizar a mente que, com toda a probabilidade, deu aos antigos o seu prematuro conhecimento da ciência natural, conhecimento cuja confirmação precisou esperar a invenção de instrumentos de precisão. Temos indícios desse método na análise de sonhos da psicologia analítica. Poderíamos descrevê-lo como o poder da mente subconsciente de utilizar símbolos. Constitui uma experiência instrutiva tomar uma massa confusa de símbolos a observá-los ajustarem-se durante a meditação sobre a Árvore, elevando-se à consciência, em longas cadeias de associação, tal como numa análise de sonhos.
28. Netzach é a Esfera da Deusa da Natureza, Vênus. Hod é a Esfera de Mercúrio, o análogo grego do Thoth egípcio, Senhor dos Livros a da Sabedoria. Da oposição de ambos, resulta um terceiro elemento em equilíbrio, que vem a ser Yesod, a Esfera da Lua. Temos, assim, um Triângulo composto pela Senhora da Natureza, pelo Senhor dos Livros a pela Senhora da Feitiçaria; em outras palavras, a subconsciência e a superconsciência correlacionadas no psiquismo.
29. Quem quer que esteja familiarizado com o misticismo prático, sabe que são três os caminhos da superconsciência – o misticismo devocional, que corresponde a Tiphareth; o misticismo natural, de raízes dionisíacas, que corresponde à Esfera de Vênus, Netzach; e o misticismo intelectual, de vinculação ocultista, que corresponde a Hod, a Esfera de Thoth, Senhor da Magia. Tiphareth, como veremos no diagrama da Árvore, pertence a um plano mais elevado do que o dos componentes do Terceiro Triângulo; Yesod, por outro lado, está muito perto da Esfera da Terra.
30. Atribuem-se a Yesod todas as divindades de simbolismo lunar: a própria Luna; Hécate, que rege a Maria Negra; a Diana, que governa os partos. A Lua física, Yesod em Assiah, como diriam os cabalistas, com seu ciclo de vinte a oito dias, corresponde ao ciclo reprodutivo da fêmea humana. Se o simbolismo da Lua crescente fosse investigado em vários panteões, descobrir-se-ia que as divindades a eles associadas são predominantemente femininas; é interessante notar – corroborando a nossa atribuição do Espírito Santo a Yesod – que, de acordo com MacGregor Mathers, o Espírito Santo é uma força feminina. Diz ele (Kabbalah Unveiled, p. 22): “Ouvimos com freqüência que o Espírito Santo é masculino. Mas a palavra Ruach, `Espírito’, é feminina, como se depreende da seguinte passagem da Sepher Yetzirah: Acha (feminino, não Achad, masculino) Ruach Elohim Chüm: o Um é ela, o Espírito do Elohim da Vida’.” Quando considerarmos o Pilar Medial relativamente aos níveis de consciência, teremos uma confirmação adicional desse ponto de vista.
31. Resta-nos considerar, por fim, a Sephirah Malkuth, o Reino da Terra. Essa Sephirah difere das demais em vários aspectos. Em primeiro lugar, ela não integra qualquer triângulo equilibrado, mas é o receptáculo das influências dos triângulos anteriores. Em segundo lugar, é uma Sephirah decaída, pois a Queda a separou dos demais componentes da Árvore, a as espirais do Dragão Inclinado que se ergue do Mundo das Conchas, os Reinos da Força Desequilibrada, assinalam essa separação. Por trás dos ombros da Rainha, a Noiva de Microprosopos (Malkuth), a Serpente levanta sua cabeça, e é nesse local que ocorrem os julgamentos mais severos. A Esfera de Malkuth estende-se até os Infernos das Sephiroth Malignas, as Qliphoth, ou demônios maus. Ela é o firmamento de onde Elohim efetuou a separação entre as águas supremas de Binah a as águas infernais do Leviana.
32. Consideraremos em seu devido tempo o significado das Qliphoth, mas, como nos referimos aqui a elas a fim de explicar a posição de Malkuth, devemos dizer algumas palavras que tornem a explicação inteligível.
33. As Qhiphoth (no singular, Qliphah, mulher indecente, meretriz) são as Sephiroth Malignas ou Adversas, cada uma das quais uma emanação ou uma força desequilibrada oriunda de sua correspondente Esfera da Árvore Sagrada; essas emanações ocorrem durante os períodos críticos de evolução, quando as Sephiroth se encontram em desequilíbrio. É por essa razão que os textos se referem a elas como os Reis da Força Desequilibrada, os Reis de Edom, “que governaram antes que houvesse um rei em Israel”, segundo relata a Bíblia, ou, conforme as palavras da Siphrah Dzenioutha, o Book of Concealed Mystery (tradução de Mathers): “Pois antes do equilíbrio, o rosto não via o rosto. E os reis dos tempos antigos estavam mortos, e suas coroas não mais foram encontradas, e a terra estava desolada.”
34. Completamos, assim, o nosso exame preliminar da Árvore da Vida e da disposição das Dez Sagradas Sephiroth; tendo estudado, em linhas gerais, o significado das Esferas a sugerido a maneira pela qual opera a mente quando utiliza os símbolos cósmicos em suas meditações, podemos agora assinalar a cada nova informação o seu enquadramento correto em nosso esquema. Construiremos nosso quebra-cabeça conhecendo as linhas gerais do quadro. Crowley comparou com propriedade a Árvore a um fichário, em que cada um dos símbolos é uma gaveta. Eis uma comparação praticamente irretocável. No curso de nossos estudos, utilizaremos essas gavetas procurando descobrir-lhes o sistema de indexação sugerido pela utilização de um mesmo símbolo em diversas associações.

A Cabala Mística – Dion Fortune


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