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Depois da Revolução Francesa, entre os inconformados com o fim da monarquia, havia aqueles que fundaram uma seita, “Os salvadores de Luiz XVII”. Luiz XVII, deveria ser o sucessor de Luiz XVI, destronado e condenado à morte pelos revolucionários. Preso com a família em 1792, dado como morto aos dez anos, segundo a lenda, na verdade teria escapado e outra criança fora condenada em seu lugar. Durante muito tempo, monarquistas esperaram o ressurgir do herdeiro, “O infante desaparecido”. É desta seita e de seus visionários, os crentes da volta do rei, que Levi se ocupa neste capítulo.
Em 1840, os “Salvadores de Luiz XVII” resolveram [inventar um profeta que proclamasse o retorno do rei e a restauração da monarquia]… Eles lançaram os olhos sobre um operário devoto, de caráter exaltado e cabeça fraca: Eugênio Vintras. Forjaram, então, uma carta dirigida ao príncipe, isto é, ao pretenso , Luiz XVII. Encheram essa carta de promessas enfáticas do reino futuro, expressões místicas capazes de impressionar mentes simplórias e fizeram cair esta carta nas mãos do operário nas circunstâncias que o próprio Vintras descreve:
Eugênio Vintras
“Cerca de 9 horas, eu estava ocupado a escrever. Batem à porta. Julgando que era um operário que tinha negócios comigo, respondi bruscamente:”Entrai”. Fiquei surpreendido: em vez do operário, era um velho em andrajos. Perguntei-lhe o que queria. Ele respondeu: “Não vos incomodeis, Pierre Michel – nome pelo qual ninguém me chama. Em todo país chamam-me Eugênio e mesmo quando assino alguma coisa, nunca ponho estes dois prenomes. Senti inquietação e isso aumentou quando o velho me disse: “Estou cansado; onde quer que eu me apresente encaram-me com desprezo ou como um ladrão”. Estas últimas palavras aterrorizaram-me muito, ainda que ditas com ar triste e infeliz.
Levantei-me. Pus-lhe na mão uma moeda, dizendo-lhe: eu não o tomo por isto, meu bom homem. E assim dizendo, fiz-lhe perceber que eu queria despedi-lo cortesmente. Ele compreendeu e virou-me as costas e saiu tristemente.Mal pôs os pés no último degrau, puxei a porta e tranquei-a à chave. Não ouvia o velho descer. Chamei o operário, pedi que subisse ao meu quarto. Aí, sob pretexto de negócios, fiz percorrer comigo todos os lugares onde julgava possível ocultar-se o velho, pois não o vira sair. Saí do quarto com o operário. Fechei o aposento com chave. Percorremos todos os cantos. Nada vi. Ia, então, para a fábrica quando ouvi os sinos que chamavam para a missa. Resolvi ir e fui ao quarto correndo apanhar o livro de orações mas detive-se pois deparei-me com uma carta sobre a escrivaninha. Era uma carta ao duque de Normandia [pretenso Luiz XVII] e falava de grandes verdades da nossa santa religião Católica, Apóstolica, Romana. Sobre a carta, estava a moeda que eu dera ao velho.
[Eis aí: Eugênio Vintras com espírito agitado] – dedicado a Liz XVII, ei-lo visionário pelo resto da vida, porque a imagem do velho não o deixou mais. Os alucinados da seita de Luiz XVII [fizeram] dele, em um só instante, um iluminado e profeta. [Aquela seita compunha-se] …sobretudo de antigos servidores da realeza… Vintras, tornado seu médium, é o reflexo fiel de todas as fantasias cheias de lembranças romanescas de um misticismo envelhecido. [O novo profeta vê lírios banhados em sangue] …Vintras tem suores de sangue… Sacerdotes chamados a constatar estes prodígios são arrebatados na corrente do entusiasmo. …Vintras, que os seus sectários tomavam como um novo Cristo, teve também seus Iscariotes: dois membros da seita. Alexandre Geoffroi e Gozzoli publicaram contra ele as revelações mais odiosas. Em 1843, o Papa Gregório XVI condenou formalmente a seita de Vintras.
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