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Helena Petrovna Blavatsky, 1888
A Doutrina Secreta é a obra prima da grande ocultista do século XIX, Helena Petrovna Blavatsky. Não se trata de apenas um livro, mas de uma coleção deles que pretende ser uma coletânea de todo o conhecimento teosófico, ou seja, uma síntese dos saberes científicos e esotéricos por trás das religiões e das escolas de mistérios das antigas civilizações, como Índia, Tibete e China. Verdade seja dita, esta não é uma obra essencial para nenhum praticante de magia, é possível chegar a grandes resultados sem nunca ter ouvido falar da obra ou de sua autora. Mas isso pode ser dito de qualquer outro livro de nossa coleção, e como todo eles, a Doutrina Secreta pode ser absurdamente enriquecedor, mesmo sem ser essencial, e mesmo não sendo um livro prático, não contendo nenhuma instrução ou procedimento mágico, foi alvo de uma votação esmagadora por aqueles consultados para compor nossa lista dos livro essenciais deste campo do conhecimento humano. Isso ocorre porque enquanto livros como Sistemagia e A Cabala Mística oferecem uma base para se organizar e se correlacionar todo o simbolismo mágico para ser utilizado em trabalhos e rituais, esta obra oferece uma base de organização da filosofia e mitologia mística e religiosa, é uma enorme base de dados de origem do simbolismo adotado por religiões e, posteriormente, pelos magos.
Esta obra por si só possui uma aura de mistério em torno de si que a destaca em nossa lista. Seu texto foi desenvolvido como um comentário de um livro obscuro chamado ‘As Estâncias de Dzyan’ , uma espécie compilação sagrada de obras tântricas que circula entre os monges tibetanos. Até ai, nada de novo, o fim do século XIX e início do século XX foram conhecidos, no ocultismo, como um grande “revival” da cultura misteriosa do oriente distante, mas o que causou espanto foram as afirmações relativas à origem deste livro. Hoje está perdido no tempo o nome da primeira pessoa que fez menção ao livro trazido aos indianos vindo direto do planeta Vênus. A menção mais antiga a tal obra parece, hoje, ser atribuída ao astrônomo francês Bailly, no fim do século XIII, mas o livro apenas recebeu seu nome atual no século XIX, batizado por Louis Jacolliot. Este livro parece também trazer uma maldição consigo, existem inúmeras lendas dos destinos ingratos das pessoas que se disseram possuidoras do tomo.
Apesar de hoje este tipo de afirmação parecer ridícula, os estudiosos de magia sabem que elas não são novas nem originais. Inúmeras são as ordens que afirmam ter recebido escritos de mestres invisíveis, deuses, demônios e até mesmo alienígenas. Só para citar alguns casos modernos, do Livro da Lei de Crowley ao Livro de Urântia existem um sem número de tomos cuja origem pode ser apontada do inferno ao outro ponto da galáxia conhecida – e mesmo aos espaços desconhecidos entre as galáxias. Depois este livro teria chegado ao ocidente pelas mãos de Apolônio de Tiana. Após seu casamento Blavatsky teria viajado o mundo e no Egito conhecido um mágico mulçumano de origem copta que lhe revelou a existência do livro misterioso, escrito em sânscrito e lhe ensinou a consultá-lo por clarividência. O original se encontrava em um mosteiro do Tibet na forma de um manuscrito arcaico, escrito em uma coleção de folhas de palma, resistentes à água, ao fogo e ao ar, devido a um processo de fabricação desconhecido. Mas a origem do livro em si não é tão importante quanto seu conteúdo.
Originalmente a obra foi publicada em dois volumes, depois de 4 anos sendo escrita. O primeiro volume dedicado à cosmogênese e a segunda parte à antropogênese. Basicante explicando como foi a origem do universo e criação da vida do homem. O livro quando escrito possuía uma ambição bem grande: ser a coletânea do pensamento científico, filosófico e religioso existentes.
Quando começou a escrevê-la, ou compilá-la dependendo de qual a sua origem real, Blavatsky afirmou que este livro era uma obra que ampliaria as informações contidas em sua grande obra anterior, Ísis Sem Véu. Talvez dai a sua preferência pelos magos: esta é uma obra capaz de dar ao adepto uma visão global de seu conhecimento. Como um mapa, ele não é necessário para saber onde estamos, mas pode dar uma perspectiva maior de nosso posicionamento, de onde viemos e de onde queremos chegar.
Posteriormente, após a morte de Blavatsky a obra recebeu uma terceira parte composto de coletâneas de artigos escritos por ela. A edição em português é dividida em seis volumes, a saber:
* Volume I – Cosmogênese
* Volume II – Simbolismo Arcaico Universal
* Volume III – Antropogênese
* Volume IV – O Simbolismo Arcaico das Religiões do Mundo e da Ciência
* Volume V – Ciência, Religião e Filosofia
* Volume VI- Objeto dos Mistérios e Prática da Filosofia Oculta
A obra exige bastante do leitor e oferece um desafio que pode durar a vida inteira não apenas pela quantidade enorme de referências a palavras e conhecimentos de difícil acesso ao ocidental comum, mas principalmente pela forma velada como foi escrito. Se em Isis Sem Véu o crítico inglês, William Emmett Coleman, conta que Madame Blavatsky cita perto de 1.400 livros, não podemos supor a abrangência real desta obra em particular. Entretanto, por difícil que seja, sua leitura é recompensada.
Alguns magistas nasceram em um cenário católico, outros budistas, outros hindus, e outros judeus. Outros crescem em ambientes desprovidos de qualquer religiosidade, mas na vida adulta deparam com as mais diversas tradições. Independente de onde tenha nascido, todo magista acaba sempre confrontado com o problema da religião. As normas e tabus tribais de sua sociedade versus sua experiência pessoal com a realidade mágica. Como lidar com elas? Como o adepto deve lidar com estas tradições? Uma abordagem é se aprofundar em sua própria fé, até encontrar suas pérolas ocultas. Sufismo para muçulmanos, Cabala para judeus, gnosticismo para cristãos. Mas Madame Blavatsky nos apresenta uma abordagem mais universalista.
A Doutrina Secreta é antes de tudo uma cosmo visão abrangente capaz de unir as mais diferentes crenças e as mais intrincadas metafísicas em uma visão sólida e com coerência interna. Ou melhor ainda ela oferece um universo onde a metafísica não se baseia em uma origem religiosa conhecida ou carimbada, assim não há um ranço em seus textos que possam ser ligados a esta ou àquela crença. Ela destrincha o sentido por trás do simbolismo sagrado em busca de sua essência mais pura, de modo que todas as antigas tradições místicas sejam unificadas. Esta é a virtude maior do livro: encontrar a pureza oculta por trás da miríade de interpretações espirituais que a realidade se permite. Se isso não é magia, o que mais é?
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